2.5 out of 5.0 stars
Anotação em 2007, com complemento em 2008: Um filme menos conhecido, menos badalado, do inglês que fez carreira em Hollywood Ridley Scott. Ele dirigiu Os Duelistas em 1977, Alien em 1979, Blade Runner em 1982, A Lenda em 1985 e em seguida fez este policial aqui.
Não é um filme extraordinário – mas é bastante bom. Pertence ao que poderia ser chamado de subgênero “policial se envolve com mulher riquíssima” – à la Laura, o clássico perfeito que Otto Preminger fez em 1944.
Há coisas interessantes a se notar. O ritmo é suave – quase mais próximo ao ritmo pré-anos 60 do que o pós-MTV e videogames que já andava em voga na época. A trama é simples, sem grandes, surpreendentes reviravoltas; a parte propriamente policial da trama é até previsível, e o destaque maior é dado à vida pessoal de Michael (o personagem de Tom Berenger), recém-promovido a detetive numa área nobre de Manhattan, que é escalado para proteger a testemunha de um crime, uma mulher riquíssima, e evidentemente se envolve com ela, embora seja bem casado e feliz na sua casinha no Queens.
É exatamente como em Laura: a mulher é rica, elegante, culta, o policial é pobre, amarfanhado, inculto. Se houvesse alguma lógica na vida, no destino, essas pessoas jamais teriam qualquer tipo de envolvimento pessoal, tão água e óleo que são – mas são demais os perigos desta vida, e tudo pode acontecer, e então acontece.
Essa Mimi Rogers, que foi senhora Tom Cruise, é uma mulher bonita, tem uma natural elegância e é uma atriz bem razoável, bem melhor que Berenger, que faz caretas o tempo todo; não dá para entender por que ela não conseguiu destaque maior na profissão.
A canção que dá o título original do filme, de George e Ira Gershwin, é uma das mais conhecidas da Grande Música Americana – e é também onde o texto em geral sofisticado, pós-graduado com grande louvor de Ira resvala por imagens pueris (“sou uma pequena ovelha perdida na floresta, sei que poderia ser sempre boa para alguém que cuidar de mim”). Someone to Watch Over Me já foi gravada por todos os nomes grandes, nobres, respeitáveis do jazz. Aparece duas vezes no filme – e, como é um filme sobre um policial pobre, amarfanhado e inculto que vive feliz em uma casinha no Queens, não vem aqui com uma Ella Fitzgerald. Vem nas vozes pop primeiro de Sting, um inglês que quase tem voz de negro, e depois de Roberta Flack, a negra de voz mais branca da música americana. Ponto para quem cuidou da trilha sonora – não sei se foi o autor dos temas originais, Michael Kamen.
Pauline Kael detestou. Leonard Maltin deu três estrelas em quatro e gostou: “Thriller romântico sólido, contado de forma apaixonada e crível; o filme mais caloroso do diretor Scott até agora (e tão estiloso quanto todos os demais)”.
Perigo na Noite/Someone To Watch Over Me
De Ridley Scott, EUA, 1987.
Com Tom Berenger, Mimi Rogers, Lorraine Bracco, Jerry Orbach
Roteiro Howard Franklin
Música Michael Kamen
Produção Columbia.
Cor, 106 min
**1/2
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