Este thriller produzido em 2013 para a TV americana entrega já no título o que só acontece lá quase pela metade da narrativa: por ele ficamos sabendo que Sophie Parker será tomada, sequestrada.
Nas primeiras imagens, vê-se a paisagem da Praça Vermelha, em Moscou, à noite, e letreiros falam dos números – altíssimos, assustadores – de pessoas que a cada ano são raptadas, em grande parte por quadrilhas que transformam mulheres em escravas numa indústria criminosa de exploração sexual.
A Sophie Parker do título é uma garota de 18 anos, bela, longos cabelos louros, que, nas primeiras seqüências do filme, está sendo acordada pela mãe três horas antes do horário de seu vôo de Nova York, onde as duas moram, para Moscou. A mãe de Sophie, Stevie Parker (Julie Benz), é tenente da polícia de Nova York; viúva, cuida sozinha da filha única – eventualmente com a ajuda de seu parceiro na delegacia, Jimmy Devlin (Jeffrey Meek). É Jimmy que leva as duas de carro até o aeroporto, e quem se encarrega de fazer o check in, enquanto Sophie se encontra com sua grande amiga que será a companheira da viagem à Rússia, Janie Hillman (Jemma Dallender).
Stevie faz todas as recomendações à filha. Entrega a ela um telefone celular já devidamente preparado para ligações internacionais, pede que ela tenha cuidado, que não fique na rua até tarde, aquelas coisas todas que pais e mães têm obrigação de dizer aos filhos.
A rigor, talvez ela nem precisasse ficar tão preocupada: afinal, Janie, a grande amiga de Sophie, é filha de ninguém menos que o embaixador dos Estados Unidos na Rússia. As duas vão ficar hospedadas, durante aquele período de férias escolares, na residência oficial do embaixador, dentro do complexo da embaixada – ou seja, em firme solo americano. Ao receber a filha e a maior amiga dela no aeroporto de Moscou, o embaixador as apresenta a Nadia (Amy Bailey), agente da CIA que trabalha na embaixada e, durante a estadia das duas garotas, ficará na cola delas.
Acontece de uma determinada noite ser folga de Nadia. Era a noite de uma recepção festiva na embaixada, e as garotas estavam sob as vistas do pai de uma delas. Mas Janie é aventureira, muito mais que Sophie, e é dela a idéia de dizerem que vão dormir – e escapar da embaixada, para um passeio até uma boate cujo cartão de visitas um garotão de boa pinta, Bobby, havia deixado com as garotas durante um passeio delas à Praça Vermelha.
E aí – estamos com, creio, meia hora de filme – acontece o que o título já havia antecipado. As duas garotas são emboscadas e raptadas.
Claro que imediatamente a tenente durona da polícia de Nova York viajará para Moscou para, à la Rambo, à la John Wayne, enfrentar toda a incompetência e corrupção da polícia de Moscou e o poderio das máfias russas e chechenas.
Poderia ser um filme regular. Mas é simplista, e previsível demais
Poderia ser um filme regular: o tema inicial é sério – os perigos a que estão expostas jovens que resolvem se aventurar onde todos sabem que é arriscado. Os letreiros dizem que o filme se inspira em fatos reais. Parte das filmagens foi em Sofia, na Bulgária, onde a produção encontrou locais que se passam bem por Moscou. Poderia ser um filme regular, mas é muito fraco. É simplista, é previsível demais em todos os aspectos. Sempre digo que não há nada contra uma comédia romântica ser previsível, mas de um thriller policial espera-se, sim, alguma surpresa.
Os atores têm quase uniformemente atuações fracas. Não são atuações propriamente pavorosas – são apenas fracas, inconvincentes.
Julie Benz está tão bela quanto fraquinha no papel central. Para quem não se lembra, Julie Benz é a atriz que interpretou a Rita Bennett da série Dexter – a namorada e depois mulher do policial-serial killer.
A única atuação que me pareceu competente foi a de Jeffrey Meek no papel do detetive Jimmy Devlin – aliás, ele também o personagem mais bem construído, na minha opinião. Jimmy é absolutamente apaixonado pela pareceira Stevie, que ainda está apegada à paixão pelo ex-marido morto; Jimmy e Stevie estão sempre juntos, no trabalho e em parte das horas de folga, se dão bem, eventualmente trepam, mas Jimmy quer mais, quer compromisso firme – que a outra não está disposta a oferecer.
Algum amigo meu que eventualmente chegar a esta anotação poderá se preocupar ou com a saúde deste site ou a de seu autor: por que raios um sujeito que ainda não botou sequer Os Incompreendidos, Blade Runner ou West Side Story no 50 Anos de Filmes perde tempo com essa bobagem? Ahá, tenho a explicação: no final de madrugada insone, todos os filmes da TV a cabo são um tanto pardos, que nem os gatos.
Anotação em setembro de 2014
À Procura de Sophie Parker/Taken: The Search for Sophie Parker
De Don Michael Paul, EUA, 2013
Com Julie Benz (Stevie Parker), Amy Bailey (Nadia), Jeffrey Meek (Jimmy Devlin), Naomi Battrick (Sophie Parker), Andrew Byron (Mikhail), Jemma Dallender (Janie Hillman), Valentin Ganev (chefe de polícia Mirov)
Roteiro Ellis Black e Rafael Jordan
Fotografia Alexander Krumov
Música Frederik Wiedmann
Montagem Cameron Hallenbeck
Produção Lifetime.
Cor, 85 min
*1/2