2.0 out of 5.0 stars
Anotação em 1995, com complemento em 2008: Este filme é bem um exemplo de que o inferno está de fato cheio de boas intenções. Os gringos querem mostrar um saudável exemplo da luta contra uma ditadura de direita lá no cu do quinto mundo. (Trata-se especificamente do Paraguai; nada de disfarces do tipo “algum país da América do Sul”; tudo explícito, com nome do Stroessner, com aviso de cara que é história real.)
Para tanto, chamam uma grande estrela argentina que já foi indicada para o Oscar (Norma Aleandro), uma atriz brasileira que já ganhou prêmio em Cannes (Fernanda Torres) e dão a direção para um brasileiro (Sérgio Toledo).
Aí temos um problema. Embora produzido no primeiro mundo, o filme sofre dos piores males do mau cinema brasileiro: direção de atores inexistente (até Hopkins está mal; Norma Aleandro e Fernandinha estão péssimas; todos estão perdidos); o roteiro e os diálogos são frouxos, imprecisos, quando não simplesmente ruins.
Vamos ver o que os críticos gringos têm a dizer. Bem. Dos críticos que estão no Cinemania, só o Leonard Maltin viu. Deu “Average”, porque é um filme feito para a TV, e não fez juízo de valor: “Drama sobre Joel Filartiga, o famoso médico e ativista paraguaio que tentou chamar a atenção do mundo para o desrespeito aos direitos humanos no Paraguai”.
Depois deste filme, silêncio
Incrível, incrível: só agora, em 2008, revendo a anotação original acima, feita em 1995, e fazendo uma pesquisinha, vejo que, depois deste filme de 1991, Sérgio Toledo não voltou mais a dirigir. Vi no iMDB:
“Anthony Hopkins criou tanto problema para o diretor Sérgio Toledo que, depois que o filme foi terminado, Toledo decidiu abandonar o cinema, embora seu primeiro filme, Vera, de 1987, tivesse recebido excelentes críticas em seu país, Brasil. Toledo nunca botou os pés num set novamente.”
Absurdo: eu não sabia disso! Nem acreditei muito no que dizia o iMDB – ah, os gringos não sabem bem o que se passa aqui neste país tão distante. Mas, no seu Dicionário de Cineastas, Rubens Ewald Filho confirma o fato, embora com um errinho de informação. Ele informa que Sérgio Toledo, nascido em 1956, filho da atriz Beatriz Segall, neto do pintor Lasar Segall, “acertou no longa Vera, que deu prêmio de atriz para Ana Beatriz Nogueira, no Festival de Berlim”. E prossegue: “Mas depois derrapou quando foi dirigir um filme para a TV americana (este é o errinho; ele dirigiu o filme para a TV inglesa) em A Guerra de um Homem (…), brigando com o ator e mal podendo finalizá-lo”.
A imensa Enciclopédia do Cinema Brasileiro, organizada por Fernão Ramos e Luiz Felipe Miranda, não fala da briga, mas atesta que ele não voltou a filmar. “Seu terceiro longa, A Guerra de um Homem – uma produção estrangeira encomendada pela televisão européia, com o ator inglês Anthony Hopkins e Fernanda Torres – ficou inédito nos cinemas brasileiros. É um filme dramático sobre as perseguições políticas a uma família na América Latina.”
A Guerra de um Homem/One Man’s War
De Sérgio Toledo, Inglaterra, 1991. Feito para a TV
Com Anthony Hopkins, Fernanda Torres, Norma Aleandro, Ruben Blades, Sergio Bustamonte, Leonardo Garcia, Rene Pereyra
Roteiro Michael Carter e Sérgio Toledo
Produção Channel 4
Um comentário para “A Guerra de um Homem Só / One Man’s War”