A Canção da Estrada é uma beleza, um grande filme. Um retrato impressionante, emocionante, sobre a vida duríssima, miserável, triste, de uma família no interiorzão da Bengala Ocidental, nos anos 1920, quando todo o Subcontinente Indiano era possessão britânica. Um filmaço – mas é muito mais que isso.
É uma das grandes obras mais improváveis da História; é o início de uma trilogia brilhante; é o filme que lançou ao mundo um dos maiores mestres do cinema; e sua produção e tudo que a envolveu formam uma saga absolutamente fascinante, espetacular.
Uma obra improvável: no primeiro dia de filmagem, em 1952, o diretor nunca antes havia realizado qualquer coisa relacionada a um filme. O diretor de fotografia jamais havia filmado coisa alguma. E as crianças que atuariam em papéis importantes jamais haviam antes passado diante de uma câmara.
O diretor de fotografia chama-se Subrata Mitra. Havia sido escolhido porque era um bom fotógrafo, sabia manejar bem as máquinas fotográficas – embora não tivesse qualquer familiaridade com as câmaras de cinema. O realizador, um jovem mal passado dos 30 anos de idade, trabalhava numa agência de publicidade de sua cidade natal, Calcutá.
Satyajit Ray contaria numa entrevista: – “O primeiro dia era mais como um ensaio para nós, para nos acostumarmos. Para a maioria de nós, era um começo do zero. Havia 8 pessoas na nossa unidade, das quais apenas uma, Bansi (Bansi Chandragupta), o diretor de arte, tinha alguma experiência profissional.”
Ele levou três anos para concluir A Canção da Estrada – no original, Pather Panchali, que em bengali significa “canção da pequena estrada”. (A Índia é um país tão grande, tão complexo, que tem nada menos que 21 línguas oficiais; o bengali é uma delas.) Com metade do filme rodado, o dinheiro que o jovem realizador tinha simplesmente acabou. Uma experiência, aliás, bem semelhante à que tinha tido pouco antes outro grande mestre do cinema em seu filme inicial: o dinheiro que Luchino Visconti tinha para realizar La Terra Trema (1948) também acabou.
Visconti, nobre, conde, vendeu jóias da família para concluir seu filme. Ray, classe média para alta, filho de poeta e historiador, formado em Ciências e Economia pela Universidade de Calcutá, vendeu sua coleção de LPs e pediu à esposa, Bijoya, que penhorasse suas jóias – muito provavelmente menos valiosas que as da condessa italiana mãe de Luchino Visconti.
A ajuda que de fato permitiu que o filme fosse completado veio do governo de Bengala Ocidental. Consta que o dinheiro do empréstimo ao jovem diretor foi anotado nos livros de caixa daquele Estado indiano como “investimento em estradas” – uma referência ao título, canção da pequena estrada.
Esse detalhe pode ser lenda, mas o fato é que está lá na abertura do filme, no início dos créditos iniciais: “O governo de Bengala Ocidental apresenta”.
O realizador agradece por três eventos milagrosos
Bem depois de 1955, o ano do lançamento do filme (em que estava com 33 anos de idade), Satyajit Ray declararia que três milagrosas não ocorrências permitiram que Panther Panchali pudesse ser enfim concluído:
– “Um: a voz de Apu não quebrou. Dois: Durga não cresceu. Três: Indir Thakrun não morreu.”
São nomes de personagens do filme. Indir Thakrun é uma velhinha bem velhinha, que anda toda encurvada – é chamada de tia pelo casal central da história. A atriz que a interpreta é Chunibala Devi.
Durga é a filha mais velha do casal Harihar Ray e Sarbojaya Ray – os papéis, respectivamente de Kanu Bannerjee e Karuna Bannerjee.
Quando a ação começa, Durga é uma linda garotinha aí de uns 5, 6 anos de idade; Sarbojaya, a mãe, está grávida do segundo filho – que virá a ser Apu. Vemos Apu bebezinho em apenas uma sequência, e então há um corte de uns 6, 7 anos.
Apu de 6, 7 anos, é interpretado por Subir Banerjee, um garotinho encantador, de imensos olhos negros, um rosto absolutamente expressivo. A Durga lindinha do início do filme é o papel Runki Baerjee, e a Durga adolescente, aí de uns 12 anos, por Uma Das Gupta.
As duas meninas que interpretam Durga e o garoto que faz Apu, todos eles são lindos, expressivos, encantadores.
A família mora perto de um vilarejo perdido no interior daquela coisa gigantesca que é a Índia. A casa em que vivem pai, mãe e as duas crianças é absolutamente pobre, miserável mesmo. Fica próxima de uma outra igualmente miserável, em que mora a tia velhinha, Indir.
O pai, Harihar, é um sacerdote – mas, ao contrário dos religiosos cristãos das diversas vertentes, denominações, não é ligado a uma Igreja, uma instituição que garanta seu sustento. Recebe alguma ajuda dos fiéis pelas cerimônias que oficia – mas isso é quase nada. Uma pessoa otimista, esperançosa, mas nada prática, pragmática, Harihar escreve histórias, peças para companhias teatrais ambulantes. Dinheiro propriamente dito não ganha. Vive viajando para tentar encontrar algum emprego, algo com que possa prover a família das coisas básicas – mas a verdade é que Sarbojaya muitas vezes se vê sem comida alguma para dar aos filhos.
Uma adaptação bem livre da obra de um escritor
Aquele interiorzão de Bengala Ocidental que o filme mostra é tão miserável quanto o interiorzão do Nordeste brasileiro, e, embora lá chova muito, na verdade até demais da conta, bem ao contrário do que acontece na região mais pobre do Brasil, me lembrei muito – enquanto revia agora A Canção da Estrada – de Vidas Secas, as duas obras, o livro de Graciliano Ramos e o filme de Nelson Pereira dos Santos.
É muita miséria, muita miséria, muita miséria – e uma imensa, imensa, imensa tristeza.
Pai, mãe e filhos são os personagens centrais do filme – mas o garoto Apu acabará sendo o protagonista dos dois filmes seguintes do que ficou conhecido ao redor do planeta como A Trilogia de Apu. No ano seguinte ao de A Canção da Estrada, 1956, Satyajit Ray lançaria O Invencível/Aparajito. E em 1959 viria O Mundo de Apu/Apur Sansar.
A saga da família do interiorzão de Bengala Ocidental, que, nos dois filmes seguintes, prossegue na cidade sagrada de Benares (hoje conhecida como Varanasi), à beira do Rio Ganges, e na gigantesca metrópole que é Calcutá, foi uma criação – em boa parte autobiográfica – do escritor Bibhutibhushan Bandyopadhyay.
Bibhutibhushan Bandyopadhyay é tido como um dos mais importantes autores da literatura em língua bengali. Seu romance autobiográfico Pather Panchali foi lançado em 1945, quando o escritor, nascido em 1894, estava portanto na maturidade, com 51 anos. Morreria apenas 5 anos depois, em 1950 – Satyajit Ray trataria dos direitos de filmagem da história com a viúva dele.
É interessante verificar as datas. Entre o lançamento do romance e a morte do escritor, houve a independência da Índia do Império Britânico, em 1947, com a criação, ao mesmo tempo, do Paquistão.
Satyajit Ray fez, ele próprio, a adaptação do romance para o cinema – embora não tenha, a rigor, escrito um roteiro. A cada dia, antes de filmar determinadas cenas, ele mostrava para os atores desenhos que fazia, descrevia a situação e explicava o que eles deveriam dizer e fazer.
Ray não fez uma adaptação fiel do romance. Bem ao contrário. Manteve alguns acontecimentos básicos, mas desprezou muitos outros eventos e também um número altíssimo de personagens. “O livro tem mais de 300 personagens”, explica Mamoun Hassan, um estudioso da obra do realizador. “É um livro sobre a vila em que esses personagens vivem. Ray o tornou a história de uma família da vila.”
No interiorzão, não se fala dos ingleses, dos dominadores
Neste primeiro filme, Ray não explicitou em momento algum o onde e o quando. Fiquei com a sensação de que a ação se passava na época em que o filme foi feito, anos 50. Na verdade, a ação de A Canção da Estrada se passa ainda na segunda década do século XX, ali por 1917, 1918. Isso porque bem no início do segundo da trilogia, O Invencível, há um letreiro com o local e a data – Benares, 1920 – enquanto a câmara, colocada num trem, passa numa longa ponte sobre o Rio Ganges. Ali, naquele início de O Incrível, Apu já está com 10 anos de idade. A família acabava de se instalar na grande cidade. (Atualmente, Varanasi, ex-Benares, tem mais de 3 milhões de habitantes.)
Embora a família Harihar Ray e Sarbojaya Ray esteja em Bengala Ocidental, nos anos 20, não há, em A Canção da Estrada, qualquer menção aos ingleses, ao domínio britânico. É como se aqueles e aquilo não existissem. Há, a rigor, um único sinal da civilização britânica, mas o espectador menos atento poderá nem sequer fazer a ligação de uma coisa com a outra: a uma distância não muito longa da casa miserável da família, há uma linha férrea. Da casa, ouve-se o barulho dos trens passando. Em uma sequência tão visualmente bela quanto importante na narrativa, o garotinho Apu e sua irmã adolescente Durga caminham pela primeira vez até perto da linha para ver passar um trem – esse símbolo da civilização britânica.
Como é interiorzão, área rural, longe das cidades, antes do rádio, da TV, da luz elétrica, aquela família de Bengala Ocidental poderia estar em qualquer outra parte da Índia, ou do interiorzão de qualquer país africano, ou latino-americano. “La pobreza és la misma”, como dizia em sua milonga o uruguaio Daniel Viglietti.
Um realizador que estreou com narrativa simples
Quero registrar aqui muitas informações sobre a produção do filme e várias opiniões sobre ele, mas antes gostaria de comentar dois ou três pontos.
Bem diferentemente de muitos outros realizadores que começam a filmar bem novos, e fazem questão de se mostrarem inventivos, criativos, safos, diferentes, Satyajit Ray, neste filme de estréia que concluiu aos 33 anos de idade, não se demonstra encantado com fogos de artifício, criativóis, vejam-como-sou-genial-e-diferente. Bem ao contrário, sua narrativa é simples, direta, escorreita. Clássica. Quase acadêmica, diriam os críticos que adoram fogos de artifício e detestam as narrativas simples, diretas, escorreitas.
Acho fascinante isso: na verdade, embora jovem demais, e absolutamente inexperiente, Ray se mostra um realizador com surpreendente maturidade.
Há, no entanto, um momento de arrebatamento, de grande, fortíssimo impacto formal. Tem tudo a ver com o conteúdo: é um momento de clímax, de uma dor aguda, forte, lancinante: Harihar e Sarbojaya, pai e mãe, se abraçam chorando. O espectador sente que haverá um grito altíssimo. No entanto, não ouvimos o som que sai da boca do pai – é como se o microfone perto dele tivesse sido desligado. O que se ouve é uma nota aguda, alta, cortante, de um instrumento de sopro, que se prolonga numa melodia de tristeza imensa.
Uma sacada brilhante – o resultado do encontro de dois jovens de talento descomunal, Satyajit Ray e Ravi Shankar. Eram conterrâneos e contemporâneos os dois artistas que se transformariam, ao longo da segunda metade do século XX, no principal cineasta e no principal músico da Índia, de fama planetária. Shankar é de 1920, um ano antes do ano de Ray, 1921. Foi exatamente a partir de 1956 que Ravi Shankar passou a se apresentar em grandes cidades ocidentais, e, na Índia, a atuar como criador de trilhas sonoras e diretor musical de produções do cinema de seu país. Ele comporia também as trilhas dos dois outros filhos da Trilogia de Apu.
E é extraordinário como a música de Ravi Shankar é importante na narrativa do filme. Ela não apenas ajuda a criar o clima nos instantes mais importantes, mas pontua cada movimento, cada estado de espírito dos personagens, em especial das crianças, Durga e Apu.
Um detalhe no estilo de Ray e de seu diretor de fotografia Subrata Mitra: em diversos momentos do filme, acontece de a câmara ficar parada num determinado lugar, enquanto os personagens se movimentam, saem do quadro. A câmara não se movimenta atrás deles: fica parada, e quem se movimenta de volta para dentro do quadro são os personagens.
Uma estréia que teve reconhecimento internacional
Lembrei mais acima que Ray, assim como Luchino Visconti, teve imensas dificuldades para financiar seu primeiro filme. Há uma característica que o aproxima de outro gigante: da mesma maneira com que Orson Welles se tornou conhecido mundialmente com seu primeiro longa-metragem, Cidadão Kane (1941), Ray obteve reconhecimento internacional com este A Canção da Estrada, sua primeira obra.
Foi um sucesso tão grande quanto imediato. Na Índia, ganhou o prêmio nacional de melhor longa-metragem. Foi admitido para exibição no Festival de Cannes, um dos três mais importantes do mundo, ao lado dos de Berlim e Veneza, e lá obteve uma honraria especial, o Prêmio Internacional Documento Humano. Recebeu uma indicação ao Bafta, da academia britânica, na categoria de melhor filme.
O grande John Huston viu um copião do filme, apaixonou-se por ele e alertou Hollywood sobre a importância do realizador. Com a passagem do tempo, A Canção da Estrada só ganhou mais reconhecimento. Em um levantamento feito em 2005 pela revista Time, foi colocado entre os 100 melhores filmes de todos os tempos. Numa pesquisa entre críticos realizada pela BBC recentemente, em 2018, Pather Panchali ficou em 15º lugar entre os filmes falados em outro idioma que não o inglês. O filme está na lista dos Grandes Filmes do crítico Roger Ebert e no livro 1001 Filmes Para Ver Antes de Morrer.
Não rendeu dinheiro para seu realizador, mas o reconhecimento foi tão amplo que ele se sentiu seguro para deixar o emprego na agência de publicidade e passar a se dedicar completamente ao cinema.
De Akira Kurosawa, outro dos maiores mestres destes primeiros 120 anos de cinema, Satyajit Ray mereceu a seguinte frase:
“Não ter visto os filmes de Ray é ter vivido no mundo sem jamais ter visto a lua e o sol.”
Um cineasta que discute valores morais, princípios básicos
Por seus trabalhos posteriores, pelo conjunto de seus 37 títulos como diretor e 70 como roteirista, que lhe renderiam uma coleção de 46 prêmios e outras 19 indicações Satyajit Ray ficaria conhecido como um dos maiores humanistas do cinema, e um dos realizadores que foram mais fundo na discussão dos valores morais, do respeito a alguns princípios básicos, da necessidade de cada pessoa e cada grupo social lutar contra a corrupção.
Esse tema central de sua obra já está claramente presente em Pather Panchali. Aparece na primeira cena do filme: do terraço de sua casa, uma mulher rica do vilarejo vê a garotinha Durga roubar uma fruta de seu pomar, e esbraveja contra ela. A acusação dói profundamente em Sarbojaya, a mãe da menina. Roubar – mesmo que seja uma fruta de nada – é um crime terrível, é tudo que aquela mãe não deseja que um filho faça.
Numa das sequências mais fortes do filme, essa mulher rica irrompe na casa de Sarbojaya, acompanhada de suas duas filhas, para acusar Durga de haver roubado um colar de uma das meninas.
A mãe reage com uma violência desmesurada contra Durga, arrastando-a pelos cabelos para fora de casa. Durga garante de pé junto que não roubou o colar.
Bem perto do final do filme, o espectador ficará sabendo a verdade.
Valores morais, princípios básicos. Nenhum outro dos grandes mestres do cinema foi tão fundo na discussão desses temas.
Uma “dosagem sutil de realismo e lirismo”
O livro As Obras-Primas do Cinema, de Claude Beylie, selecionou apenas quatro filmes lançados em 1955 – um deles é A Canção da Estrada. O autor realça o fato de que o cinema indiano já era, naquela época, um dos férteis, prolíficos do mundo, rivalizando apenas com os Estados Unidos, com cerca de 700 títulos por ano. “A enorme produção da Índia (700 filmes realizados cada ano) deixou pouco espaço para a criação pessoal. Um só grande cineasta revelou-se: Satyajit Ray.”
E mais adiante: “Ritmado por uma música obsedante de Ravi Shankar (cítara, flauta e tabla), A Canção da Estrada impressiona por sua dosagem sutil de realismo e lirismo. Todas as coisas existem juntas, ‘numa globalidade em que a morte e a vida, o indivíduo e o cosmo, não podem mais, não devem mais ser distinguidos’ (Henri Agel). Isso é arte de altíssimo nível.”
Diz o livro 1001 Filmes Para Ver Antes de Morrer, de Steven Jay Schneider: “A direção de Ray é de uma grande delicadeza, capaz de expressar tanto emoções fortes quanto lirismo. Poucos esquecerão a sequência em que Apu e Durga ouvem o som do vendedor de doces ambulante. Embora não tenham dinheiro para comprar as guloseimas, os dois saem correndo atrás dele, seguidos por um cachorro curioso, enquanto a pequena procissão é refletida em uma lagoa. Auxiliado pela música maravilhosa de Ravi Shankar, A Canção da Estrada alcançou sucesso mundial, alçando Ray ao reconhecimento no Festival de Cannes em 1956.”
Diz o Guide des Films de Jean Tulard sobre La Complainte du Sentier, o lamento do caminho, que foi como os distribuidores franceses chamaram Pather Panchali: “Muito emocionante, comovente mesmo, sua linguagem é ao mesmo tempo universal e profundamente indiana. Simples e autêntico, ele é antes de tudo eficaz pela maestria técnica sem par de S. Ray. Seu estilo é do mais puro lirismo e trata com poesia a miséria e os dramas de uma família. O roteiro, a elaboração das sequências, a composição dos olhares e das atitudes transcendem um relato preciso, torna o filme ainda mais autêntico e nos permite estar em plena comunhão com os personagens, sua situação e sua evolução. Verdadeira crônica familiar, indo do nascimento à morte, ela assume diferentes tons: o da firmeza e de toda atenção de uma mãe quando se trata da educação dos filhos – uma encantadora discrição do nascimento de Apu; o da fineza e contenção nas atitudes dos pais nos eventos trágicos, como (aqui o texto apresenta um spoiler, que corto fora). Ray recusa todos os efeitos espetaculares e que cedem ao apelo comercial. Ele quer nos enternecer não pela escuridão da miséria, mas pelo que ela tem de respeitável e tocante.”
Que beleza de texto esse do Guide de Jean Tulard!
Poucos filmes indianos são lançados aqui
Embora a Índia seja o país que mais produz filmes em todo o mundo, com atualmente cerca de 1.000 títulos por ano (ante cerca de 800 da Nigéria, 450 dos Estados Unidos, 400 do Japão e 300 da China), o cinema indiano não tem muito espaço no Brasil. Creio que nunca teve. Só nos últimos anos, parece, alguns títulos de Bollywood – como é chamada a região que concentra boa parte da produção indiana, em Bombaim, hoje Mumbai – passaram a estar disponíveis para os assinantes da Netflix. Os lançamentos em circuito comercial são muito poucos.
Vi alguns filmes de Satyajit Ray na Cinemateca Brasileira; em 2002, o Telecine 5, antes de virar Telecine Cult, mas cult como nunca, apresentou um festival de filmes do realizador, inclusive os da Trilogia de Apu. Hoje em dia, com a internet, deve estar mais fácil localizar obras de Ray, assim como outros filmes indianos.
De qualquer forma, tem que ser elogiado o lançamento da caixa A Trilogia de Apu, com três DVDs, trazendo os filmes completamente restaurados, com imagem e som impecáveis, e ainda uma boa quantidade de extras, num total de mais de 3 horas. Os extras incluem entrevistas preciosas com o próprio Satyajit Ray, atores, colaboradores, como o músico Ravi Shankar. Há um excelente documentário de quase 50 minutos, The Apu Trilogy – A Closer Look wih Mamoun Hassan, o estudioso da obra do cineasta que já foi citado aqui. A caixa foi lançada na coleção Obras Primas, da empresa M.D.V.R., a mesma que trouxe, também em caixa caprichada, o Guerra e Paz de Sergei Bondarchuk, o filme mais caro da história da União Soviética.
Anotação em novembro de 2019
A Canção da Estrada/Pather Panchali
De Satyajit Ray, Índia, 1955
Com Karuna Bannerjee (Sarbojaya Ray, a mãe), Kanu Bannerjee (Harihar Ray, o pai), Chunibala Devi (Indir Thakrun, a velha tia), Uma Das Gupta (Durga adolescente), Runki Banerjee (Durga criança), Subir Banerjee (Apu Ray)
e Reba Devi (Seja Thakrun), Aparna Devi (a mulher de Nilmoni), Tulsi Chakraborty (Prasanna, o professor), Haren Banerjee (Chinibas, o vendedor de doces), Nibhanani Devi (Dasi Thakurun), Rama Gangopadhaya (Ranu Mookerjee), Roma Ganguli (Roma), Binoy Mukherjee (Baidyanath Majumdar), Harimohan Nag (médico)
Roteiro Satyajit Ray
Baseado no romance de Bibhutibhushan Bandyopadhyay
Fotografia Subrata Mitra
Música Ravi Shankar
Montagem Dulal Dutta
Direção de arte Bansi Chandragupta
Produção Governo de Bengala Ocidental. DVD M.D.V.R., Obras Primas.
P&B, 125 min (2h05)
R, ****
Título na França: La Complainte du Sentier. Em Portugal: O Lamento da Vereda.
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