3.0 out of 5.0 stars
Anotação em 2009: Estreou com brilho a diretora e roteirista Courtney Hunt. Este seu primeiro filme, Rio Congelado, estupendamente realizado, com uma atuação arrasadora da atriz Melissa Leo, ganhou um monte de prêmios e indicações – merecidamente.
Filme independente, que deve certamente ter tido um orçamento baixo para o padrão americano, ele teve duas indicações ao Oscar – melhor atriz para Melissa Leo e melhor roteiro original, da própria diretora Courtney Hunt, nascida em Memphis, em 1964. Ganhou o prêmio do grande júri no Festival de Sundance, a Cannes do cinema independente. Ao todo, foram 23 prêmios e 16 indicações.
É um filme de narrativa extremamente sóbria, sem qualquer enfeite ou glamour; é denso, pesado, triste; mostra uma realidade dura, sofrida. São uns poucos dias na vida de Ray (o personagem de Melissa Leo), uma mulher amarga, sofrida, no limite da pobreza. Ela mora numa pequena casa pré-fabricada no extremo Norte do Estado de Nova York, bem próximo à fronteira com o Canadá; quando a ação começa, num dia de dezembro, um frio de rachar, Ray acaba de saber que Troy, o marido viciado em jogo, fugiu com o dinheiro que estavam penosamente juntando para comprar uma outra casa pré-fabricada, maior e bem mais confortável.
Ray trabalha em um supermercado; tem dois filhos, um de 15 anos, Troy Jr. (Charlie McDermott, ótimo, uma grande promessa) e outro de cinco, Ricky (James Reilly).
O destino vai fazer com que Ray encontre Lila (Misty Upham), uma jovem índia – junto da cidadezinha em que elas vivem há uma reserva dos índios mohawks, que se estende até o outro lado da fronteira entre Nova York e o Estado canadense de Quebec – no limite entre os dois países há o rio congelado do título, o caudaloso St. Lawrence. Lila tem experiência numa atividade perigosa, ilegal, mas extremamente rentável: a de fazer entrar nos Estados Unidos imigrantes ilegais. Ray não resistirá à tentação de partilhar com Lila os riscos e o lucro.
É muito impressionante como a diretora Courtney Hunt, já no seu filme de estréia, domina com talento a arte de narrar bem e envolver o espectador na história que está contando. Sabemos que vai dar merda, que vai haver uma tragédia, e ficamos agoniados o tempo todo do filme.
Melissa Leo, uma nova-iorquina nascida em 1960, tem mais 80 filmes e/ou episódios de TV no currículo, embora nunca tenha chegado a ser uma estrela; não me lembro dela em outros filmes; dei uma olhada na sua filmografia do iMDB e só reconheci dois dos títulos, As Duas Faces da Lei/Righteous Kill, um policial com Robert De Niro e Al Pacino, e Em Pé de Guerra/Mr. Woodcock, uma imensa bobagem; nos dois filmes ela faz papéis pequenos.
Certamente o papel de Ray foi o melhor que já teve na vida – e com que competência ela o interpretou. Toda a sua expressão, todo o seu físico, todo o jeito de ela falar, andar, agir, tudo mostra uma mulher extremamente mal tratada pela vida, uma mulher amargurada, infeliz, solitária. Depois de uma vida inteira de trabalho duro, honesto, com pouquíssima recompensa por tudo isso, Ray aceita cruzar as duas fronteiras – a dos dois países, do rio congelado, e a da lei; o destino vai colocá-la numa situação limite, e ela vai optar pela saída mais dura.
Uma bela atriz, uma bela personagem, uma bela estréia de uma nova cineasta.
Rio Congelado/Frozen River
De Courtney Hunt, EUA, 2008
Com Melissa Leo, Misty Upham, Charlie McDermott, James Reilly
Argumento e roteiro Courtney Hunt
Música Peter Golub e Shahzad Ismaily
Produção Cohen Media Group, Off Hollywood Pictures. Estreou em SP 20/2/2009
Cor, 97 min
***
Realmente, ótima estréia da diretora e excelente atuação da Melissa Leo. É estranho o que a vida às vezes faz com certas pessoas, como foi o caso da personagem Ray, que como vc disse, trabalhou e deu duro a vida toda e teve o mínimo de retorno. Realmente ela optou pela saída mais dura, mas àquela altura quem não daria razão a ela? Acho que até a justiça nessas horas deveria ser mais parcial e levar em conta as circunstâncias…
O final surpreendeu, visto que ela era toda durona, amarga, senhora de si e se mostrou insensível com o episódio do bebê.
Um fato que achei interessante foi o pouco uso de maquiagem nos atores. Ao contrário de alguns filmes franceses que optam pelo “naturalismo” para simplesmente se opor ao cinema americano, aqui, a falta de maquiagem ajudou na composição dos personagens.
Gostei muito do filme.
P.S.: e que ótima forma física está essa atriz, hein?! Pena que ela esqueceu de usar o filtro solar, rs.
Ainda bem que a gente mora num país democrático e pode mudar de opinião, rs. Já era pra eu ter vindo aqui faz tempo me corrigir, mas sabe como é a preguiça de uma taurina… Acabei vendo o filme outra vez e pensando bem, o que ela fez foi grave, transporte de imigrantes ilegais, então a prisão foi merecida. Ainda que ela tivesse o sonho de comprar uma casa maior, que o marido a houvesse largado de tanga chupando manga, nada disso justificaria; além do mais ela usou arma de fogo, e mesmo quando não se sai ferido de uma situação dessas, só quem fica embaixo da mira de um revólver sabe o quão horrível é a sensação de poder perder a vida na mão de qualquer um. E a pena até que foi leve, rapidinho ela sairia, então retiro o que eu disse antes. Mas tb não a condeno pelo o que ela fez. Agiu sob o calor da emoção, da raiva, do ressentimento; pagou por isso e teve até que uma atitude digna no final. Só que ainda acho que em alguns casos o móvel da ação deveria ser levado em consideração, como no caso por exemplo, do filme “Tempo de Matar”, em que o personagem do Samuel L. Jackson mata os estupradores da filha dele.
Escrevi “realmente” duas vezes no comentário anterior. Que horror essa falta de vocabulário! rs.
Assisti ontém. Um filme simples e no entanto,
um filmaço, maravilhoso.
Atuação maravilhosa dessa atriz Melissa Leo.
A Ray,era uma mulher dura,”cascuda”,sofrida,e
muito forte e, para quem não era daquele ramo,ela tinha ações rápidas,não titubeava.
Um roteiro de fato,muito bom.Se este filme tem alguma coisa de errado,eu(no meu pouco saber),não vi.Nos prende o tempo todo de olho na tela,não tem como não viver todas aquelas emoções junto com elas.
A amizade delas nasceu naquela base da conveniência mas,depois já no final,virou real.Um fato que gostei de ver é que a Ray em momento algum considerou o fato de colocar o filho mais velho para trabalhar. Tinha de estudar.Aliás,gostei tbm desse menino.Em momento algum, duvidei que a Ray voltasse para buscar a mala com o bebê. Aliás,as duas.Também eram mães e sofriam e passavam por tudo aquilo,por uma vida melhor e,por seus filhos.Concordo com a Jussara com o uso da pouca maquiagem nos atores.E,acho que nossa querida amiga teclou duas letras por engano.A Ray,era amarga,dura,senhora de si,mas era tbm muito (sensível),por isso que voltou para pegar o bebê.
Duas mulheres guerreiras,que não queríam viver com luxo mas sim com o básico.Naquele gelo todo,uma casa quente,ter o que comer(não pipoca com suco)e,a presença dos filhos.
No final do filme há outra mostra de toda a sensibilidade da Ray,não vou fazer spoiler.
Um abraço na amiga Jussara e outro em ti,Sergio!
Só uma coisinha que esqueci. Bem que quería estar naquele local, bem frio, e, não aqui no Rio de Janeiro neste CALOR INFERNAL!!!!
Vi este filme e gostei. É simples sem pretensões mas está muito bem realizado e interpretado. Achei curioso que o filho de Lila não parece índio, tem o cabelo louro. Fiquei intrigado.