Anotação em 2009: Faz um bom tempo que ouço falar aqui e ali sobre a qualidade dos filmes de ação, policiais, thrillers, feitos em Hong Kong. Este filme Os Vigilantes, que esteve na programação da TV a cabo, é uma prova cabal de que isso que se fala é a mais pura verdade dos fatos.
Não sou propriamente um fã de filmes de ação, mas gosto de bons filmes, e também de surpresas, de filmes sobre os quais não sei absolutamente nada – e aí resolvi ver Os Vigilantes para experimentar. Tem talento e competência de sobra.
Além de comprovar que o povo da ex-colônia britânica encravada no planeta China domina bem esse tipo de artesanato, Os Vigilantes é outra prova de que aquilo ali de fato é outro mundo, muito distante do nosso. A história se passa na Hong Kong de hoje (o filme é bem recente, de 2007), mas é como se estivéssemos vendo uma ficção científica. É tudo futurista; os diversos departamentos policiais de Hong Kong são o futuro que ainda não chegou de fato ao planeta Terra. Tudo, absolutamente tudo, cada rua, cada beco, tudo é constantemente vigiado, monitorado por câmaras, microfones. Os serviços de inteligência fazem jus ao nome – sabem de tudo.
Tem coisas de 1984, o Grande Irmão da distopia do inglês George Orwell – mas o filme não está aí para discutir sobre o direito à privacidade, o governo ditatorial que sabe de tudo; é só um filme policial, de ação, um thriller.
Quem viu qualquer uma das três partes da Trilogia Bourne, com Matt Damon, pode se impressionar com a visão que os filmes passam, de que a CIA, o serviço de espionagem e inteligência do Império mais poderoso da História, sabe tudo, acompanha tudo, pode tudo. Pois a onisciência da CIA mostrada nos filmes Bourne é fichinha perto do que sabem fazer os serviços de inteligência e vigilância da Hong Kong de hoje.
É quase como se fosse assim o mundo do futuro que Spielberg mostrou em Minority Report, de 2002, em que a unidade policial em que trabalha o personagem de Tom Cruise vê numa tela os crimes que ainda estão para ser cometidos.
Com uma diferença extraordinária: em Os Vigilantes não há super-heróis. Há uma incrível, sensacional, inimaginável rede de câmaras que filmam tudo, gravam tudo, vêem tudo – mas a ação cabe aos diversos tipos de policiais, e eles são humanos, não são heróis. Têm dúvidas, medos, angústias; às vezes falham.
O sargento experiente e a novata bonitinha
Tá bom, tá bom, mas qual é a história, pô?
A história gira em torno de um bandido e dois vigilantes, policiais encarregados de vigiar criminosos. O bandido chama-se Shan (Tony Leung Ka Fai); é o chefe de uma quadrilha especializada em assaltar joalherias, e é extremamente competente no que faz. O planejamento dos assaltos leva tempo, é cuidadoso, detalhista.
Do lado da lei, os dois personagens seguem aquele modelo clássico que contrapõe uma pessoa experiente, o sargento que é conhecido como Dog Head (Simon Yam, ótimo ator), e um novato, no caso uma novata, a quem o sargento apelida de Piggy – assim mesmo, Dog Head e Piggy, em inglês. Aqueles chinas, afinal de contas, até uma década atrás viviam numa possessão britânica. Volta e meia falam umas frases em inglês. Piggy é interpretada por uma garotinha chamada Kate Tsui, bonita e de grande talento.
A abertura do filme é de tirar o fôlego, de dar vontade de apertar a tecla de rewind e ver de novo uma, duas vezes. É brilhante, e longa, toda a seqüência de abertura. Uma câmara agitada vai nos mostrando diversos personagens que ainda não conhecemos, diversas ações simultâneas, nas ruas superpovoadas de Hong Kong, numa competência artesanal impressionante.
Fala-se pouco, como nos western-spaghettis
Levamos algum tempo para perceber exatamente o que está acontecendo, quem está seguindo quem. Não há diálogos – ao longo de todo o filme, fala-se pouco, o mínimo necessário; tudo é ação, com poucas palavras, algo que lembra um pouco os melhores western-spaghettis.
Aos poucos, no entanto, vamos compreendendo a ação – a câmara é rápida, ágil, agitada, mas, ao contrário de tantos filmes de ação de Hollywood, aqui não se procura uma narrativa enrolada para confundir o espectador. Um grupo se prepara para o assalto a uma joalheria. Paralelamente, um policial mais velho – veremos depois que é Dog Head – está sendo seguido por uma jovenzinha – saberemos depois que ela é Piggy. Na primeira seqüência do filme, estão os dois dentro de um ônibus-bonde – e lá está também o homem que depois saberemos que é Chan, o chefe da quadrilha. Chan senta-se ao lado de Piggy. Quando ele desce, Piggy desce também – mas ela não está seguindo Chan, está seguindo Dog Head. É um teste: com uns dez minutos de filme, vigilante experiente e jovem candidata a vigilante vão se encontrar em um bar e ele vai submetê-la a um interrogatório, checar que detalhes ela notou no bonde-ônibus, na rua, que detalhes ela deixou de notar. É o vestibular de Piggy – e ela passa.
Paralelamente, está acontecendo o assalto à joalheria.
Dog Head e Piggy serão destacados para ir atrás dos assaltantes, segui-los, vigiá-los. Com base no que foi gravado pelas câmaras da joalheria, das ruas próximas, os serviços de inteligência da polícia têm várias informações a partir das quais trabalhar.
É uma beleza de roteiro, e uma direção de grande talento. Aprendo no AllMovie que este filme foi a estréia na direção de Yau Nai-hoi (o iMDB grafa Nai-Hoi Yau), um veterano roteirista.
O filme – informa o iMDB – ganhou cinco prêmios e teve outras 19 indicações, todas em festivais asiáticos.
Danado de difícil acompanhar esses nomes – Yau Nai-hoi ou Nai-Hoi Yau? Nem todos os diretores chineses de Hong Kong são John Woo ou Wayne Wang e vão trabalhar no cinemão de Hollywood. Difícil distinguir o nome do ator Tony Leung Ka Fai, que faz o chefe da quadrilha, do de Tony Leung Chiu Wai, de In the Mood for Love e Desejo e Perigo. O planeta China é difícil – além de tudo, tem um pé na Idade Média, um pé no século XIX e outro no XXII. Mas, mesmo para não-iniciados, como eu, traz belas surpresas. Os Vigilantes é um belo filme. Hollywood consegue fazer poucos tão bons quanto ele – e olha que este é um gênero que Hollywood adora.
Os Vigilantes/Gun chung/Eye in the Sky
De Nai-Hoi Yau, Hong-Kong, 2007
Com Simon Yam (sergento Wong Man Chin, Dog Head), Tony Leung Ka Fai (Chan Chong Shan), Kate Tsui (Constable Ho Ka Po, Piggy), Suet Lam (Ng Tung, Fatman), Maggie Siu (Madame Fong)
Argumento e roteiro Nai-Hoi Yau e Kin-Yee Au
Produção Sundream Motion Pictures, Milk Way Image Company
Cor, 90 min
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Boa tarde como faço para comprar a película OS VIGILANTES.Obrigado desde já.
Boa noite! aonde posso encontrar este filme? Obrigada.
Edjane
Gostaria de baixar esse filme para assitir como poderia fazer isso ?
Gostaria de assistir esse filme
Gostaria de acessar este filme (os vigilantes, 2007) na íntegra, como faço?
Olá, Nivaldo.
Rapaz, infelizmente não vou conseguir ajudar. Vi o filme em 2009, no Max Prime, mas não sei onde ele estaria disponível hoje. Sinto muito!
Sérgio