2.5 out of 5.0 stars
Anotação em 2009: Este O Peso da Água é um filme extremamente bem feito, bem produzido, bem realizado – mais do que propriamente um bom filme. Não sei se vou conseguir me explicar, mas foi isso o que achei.
O visual, a fotografia, a reconstituição de época, a câmara, as interpretações do bom elenco, tudo é de uma competência extrema. As cenas de violência são fortes, bem feitíssimas, assim como as da tempestade no mar, no final. Tudo isso, a coisa técnica, acaba sendo mais impressionante do que a história e o conjunto geral que constitui o filme.
O filme se baseia no livro da escritora Anita Shreve, que foi um best-seller nos Estados Unidos. São, na verdade, duas histórias sendo contadas paralelamente, separadas por mais de um século uma da outra, mas ocorrendo no mesmo lugar, as Ilhas Shoah, no litoral do Estado de New Hampshire, e seus arredores. A primeira história aconteceu em 1873: duas mulheres foram brutalmente assassinadas, a golpes de machado, numa casa numa das ilhas; um suspeito, Louis Wagner (Ciarán Hinds) – que havia sido hóspede na casa durante um tempo – foi preso. O testemunho da dona daquela casa, Maren (a talentosa Sarah Poley, excelente como sempre), que conta que conseguiu fugir do assassino, é definitivo para que ele seja condenado pelos crimes.
Na outra história, uma repórter fotográfica, Jean (Catherine McCormack, a linda atriz inglesa), está trabalhando, mais de cem anos depois, numa reportagem sobre aquele caso de duplo assassinato; há dúvidas sobre o caso, suspeita-se de que o acusado pode na verdade ter sido inocente. Jean viaja então para a região com o marido, Thomas (Sean Penn), um poeta famoso; o irmão de Thomas, Rich (Josh Lucas), tem um barco, e nele os três irão visitar a ilha onde ocorreram os crimes. Junto com eles irá a nova namorada de Rich, Adaline (outra inglesa deslumbrante, Elizabeth Hurley, a ex-senhora Hugh Grant).
O casamento de Jean e Thomas não vai bem – e uma das pontas soltas do filme é exatamente não se explicar o que exatamente está acontecendo entre eles. Mas o casamento não vai bem, e a presença de Adaline no barco – sempre muito sedutora, sempre muito oferecida, tomando sol só com a calcinha do biquíni – não ajuda em nada.
Jean levou para a viagem muito material publicado na imprensa a respeito dos crimes, que marcaram a história do lugar. Ela fará também pesquisas nos documentos originais sobre o julgamento do acusado, e se verá obcecada pela história daquelas mulheres que viveram a tragédia um século antes, naquele mesmo lugar – Maren, a que conseguiu escapar e foi a principal testemunha contra o acusado, sua irmã Karen (Karin Cartlidge) e sua cunhada Anethe (Vinessa Shaw), irmã de seu irmão Evan (Anders W. Berthelsen), as duas vítimas.
O roteiro trabalha bem a junção das duas histórias, que vão sendo apresentadas ao espectador paralelamente. A história do passado vai se demonstrar absolutamente horripilante. Já na história dos dias atuais, o roteiro tropeça, deixa lacunas, não consegue ligar as diversas pontas – ou, ao menos, foi o que me pareceu.
A diretora Kathryn Bigelow foi elogiada por um filme sobre vampiros no deserto, Quando Chega a Escuridão/Near Dark, de 1987. Dirigiu episódios da série de TV Homicide: Life in the Streets, e fez outro filme policial, Caçadores de Emoção/Point Break. É dela também K19, The Widowmaker, de 2002, com Harrison Ford e Liam Neeson, sobre a tragédia com um submarino nuclear soviético em sua viagem inaugural. No seu Dicionário, Jean Tulard diz que a diretora tem um estilo violento: “Raramente se foi tão longe no horror como no curiosíssimo filme de vampiros intitulado Quando Chega a Escuridão, e os fuzilamentos de Jogo Perverso, cujo personagem principal é uma mulher, Jamie Lee Curtis.”
Neste aqui, de novo há cenas de grande violência.
Fiquei com a impressão, depois de ver o filme e dar uma olhada no currículo de Kathryn Bigelow, que o estilo e os temas dela são muito mais masculinos que femininos: policiais, vampiros, submarino nuclear pifando, assassinatos. Comentei isso com Mary, mas ela não concordou; diz que o filme todo é visto pela ótica feminina, pelos olhos de duas mulheres – Maren, na história do passado, e Jean, na história atual. Como diria o Ancelmo Goes, é, pode ser.
O Peso da Água/The Weight of Water
De Kathryn Bigelow, EUA-França, 2000
Com Catherine McCormack, Sarah Poley, Sean Penn, Elizabeth Hurley, Josh Lucas, Ciarán Hinds, Karin Cartlidge, Vinessa Shaw, Anders W. Berthelsen
Roteiro Alice Arlen e Christopher Kyle
Baseado no livro de Anita Shreve
Música David Hirschfelder
Produção StudioCanal
Cor e P&B, 113 min.
**1/2
Título na França: Les Poids de l’eau
Você se esqueceu de citar o surpreendente
filme Estranhos Prazeres(Strange Days)da diretora Kathryn Bigelow.
Se ainda não viu,veja correndo,pois vale muito a pena.
Angela Basset e a minha musa Juliette Lewis encabeçam o elenco.
Sérgio, concordo com vc q a trama atual ficou confusa,até sem explicar a razão do afastamento do casal; eu, inclusive, não consegui entender direito nem o final. Em compensação, a história do passado é muito bem encadeada, não achei assim tão violenta pois os assassinatos q a Maren cometeu ocorreram, como ela mesma teve consciência depois, num momento de raiva extremada, em q os juízes costumam até absolver o assassino, alegando q ele estava fora de seu juízo normal ou algo do tipo.É interessante q ela mesma, depois de perpetrar aquele morticínio, em q sobrou até p a cunhada, de quem gostava muito, questiona, ela mesma, a sua raiva e seu poder destruidor.
E discordo de vc, dando razão a Mary, de q o estilo da diretora é masculino; realmente, são as 2 muheres, Maren no passado e Jean no presente, as personagens principais das duas histórias, q as contam do ponto de vista feminino, sem dúvida alguma.
Guenia Bunchaft
http://www.sosesquisaerorschach.com.br
Adorei saber que existia a versão cinematográfica de um livro ao qual eu adorei ler.
Mas não entendi porque tiraram a Billie (filha de Thomas e Jean) da história.No livro ela até morre..