0.5 out of 5.0 stars
Anotação em 2009: Diversos nomes envolvidos na produção deste filme têm obras boas em seus currículos – o diretor de fotografia Nestor Almendros, o compositor Howard Shore, o diretor e roteirista Robert Benton, o ator Jeff Bridges, a atriz Kim Basinger, no estupor da beleza aos 34 anos. Pois este Nadine deve ser, seguramente, o pior trabalho de cada um deles.
Mesmo que se esforçassem muito, jamais conseguiriam a proeza de participar de outro filme tão tenebrosamente ruim quanto este aqui.
A idéia básica da qual parte a história criada por Benton até que é interessante. Em Austin, Texas (o Estado natal do diretor), em 1954, uma bela, simples e simplória mulher, Nadine (Kim Basinger, claro), vai ao escritório de um fotógrafo da cidade para tentar recuperar as fotos em que posou para ele alguns anos antes. Ela era solteira naquela época, e acreditou no fotógrafo quando ele disse que era amigo de Hugh Heffner e que as fotos dela em “poses artísticas” poderiam ser publicadas na Playboy e lhe render um bom dinheiro. Claro que era tudo mentira do fotógrafo. Agora, grávida, embora separando-se do marido, Vernon (Jeff Bridges), e trabalhando como manicure num salão de beleza, ela quer as fotos de volta, para impedir uma indesejada exposição de suas carnes jovens ao mundo.
Enquanto espera o fotógrafo no escritório dele, Nadine é surpreendida pelo fato de que o sujeito aparece com uma faca atravessada no peito, agonizante. Antes de fugir da cena do crime, ela pega o envelope em que está escrito seu nome. Só mais tarde, no salão de beleza, quando vai conferir o conteúdo do envelope, percebe que ali estão não suas fotos, e sim reproduções de um mapa que as autoridades locais mantinham como segredo de estado, e que revelam o traçado de uma futura rodovia que vai valorizar tremendamente os terrenos próximos.
Temos, então, dez minutos que parecem prometer algo interessante. Que nada. O que vem a seguir é um amontoado de asneiras, situações constrangedoramente ridículas, bandidos mais débeis mentais que os personagens de Jerry Lewis, e tudo o que não se quer ver numa tela – inclusive interpretações toscas, grosseiras, sem qualquer talento, tanto da bela Kim Basinger quanto de Jeff Bridges e de todo o elenco de apoio.
Ao fim desta comédia que não me provocou sequer um sorrisinho amarelo, estava com vergonha de mim mesmo por não ter desistido de ver a droga lá pelos 20, 30 minutos de ação.
Para justificar o que eu disse lá em cima:
Nestor Almendros (1930-1992) foi um dos grandes diretores de fotografia do cinema mundial; trabalhou com Truffaut, Eric Rohmer, depois com Terence Mallick (ganhou o Oscar pela extraordinária fotografia de Cinzas no Paraíso), e co-dirigiu documentários sobre a perseguição a homossexuais em Cuba, onde viveu depois de fugir da então fascista Espanha natal.
Howard Shore é autor da trilha sonora de mais de cem filmes, tendo criado música para obras de Martin Scorsese, Sidney Lumet, David Cronenberg, Al Pacino, Barbet Schroeder, e para O Silêncio dos Inocentes, Filadélfia, Uma Babá Quase Perfeita, para citar apenas alguns.
E Robert Benton, afinal de contas, assinou os roteiros de Bonnie & Clyde, de Arthur Penn, e O Perigoso Adeus, de Robert Altman; escreveu e dirigiu Kramer x Kramer, Oscar de direção e roteiro, e Um Lugar no Coração/Places in the Heart, Oscar de melhor atriz para Sally Field.
Aqui, simplesmente meteu os pés pelas mãos.
Em busca de outras opiniões, percebo que Leonard Maltin viu outro filme: diz que é uma comédia leve mas agradável, “com bom elenco, Basinger num surpreendente destaque”. Roger Ebert repara que este foi o segundo filme de Benton em seu Texas natal (o outro havia sido Um Lugar no Coração), e que ele “obviamente lida com um monte de nostalgia, e acerta nos detalhes: os carros, o ritmo das ruas, o jeito como os quartos são mobiliados. O que ele não acha aqui é um jeito de fazer rir. É uma comédia curiosamente plana, inacabada, sem energia”.
E Pauline Kael mata a cobra e mostra o pau: “O filme é como uma variante gentil do burlesco caipira sobre como é bom ser sortudo e imbecil. Basinger está peculiarmente emudecida como atriz e Bridges já não tem mais a espontaneidade juvenil que seu papel exige”.
Nadine – Amor à Prova de Balas/Nadine
De Robert Benton, EUA, 1987.
Com Kim Basinger, Jeff Bridges, Rip Torn, Gwen Verdon, Glenne Headley
Argumento e roteiro Robert Benton
Fotografia Nestor Almendros
Música Howard Shore
Produção TriStar Pictures
Cor, 78 min
1/2
Também achei o filme fraco. Poderia ser bem melhor, vide o que saia na década. Porém mesmo fraco consegue ser do nível de muitos filmes de hoje em dia.