Anotação em 2009: Pobre Tim Robbins, esse ótimo ator, diretor bilhante de poucos mas extraordinários filmes. Devia estar precisando demais de dinheiro, devia estar com a hipotecada da casa bem atrasada, para se sujeitar a trabalhar nesta comédia panaca, que beira a debilidade mental.
O parágrafo acima é uma cópia descarada da abertura do texto que fiz sobre o filme Em Pé de Guerra/Mr. Woodcock. Só troquei o nome de Susan Sarandon pelo de Tim Robbins e acrescentei que ele é também diretor. O abacaxi azedo estrelado pela maravilhosa Susan Sarandon é de 2007; esta comédia panaca aqui é de dez anos antes, 1997; o casal Tim Robbins-Susan Sarandon, que está junto desde que se conheceram durante as filmagens de Sorte no Amor/Bull Durham, em 1988, deve ter comprado uma casa bem cara. Ou a escola dos dois filhos do casal está custando uma fortuna.
Mas vamos lá. Nada a Perder, filme de 1997. Estava começando na TV a cabo na madrugada, tinha Tim Robbins, pensei: vou ver o começo.
É assim: Nick Beam (Tim Robbins) e Ann (Kelly Preston) são um feliz casal de Los Angeles, bem posto na vida – ele é um publicitário bem sucedido, número 2 na firma grande do patrão. Casal feliz, alegre: gostam de fazer brincadeiras de falar frases de sinal invertido. Ele diz, por exemplo, na seqüência de abertura do filme, que a odeia. No começo, até que gostava dela, mas parou de gostar quando descobriu que ela é profundamente estúpida. Aí os dois caem na gargalhada, e é a vez de Ann contar uma grande mentira. Diz que está transando com vários homens ao mesmo tempo, descreve as características de cada um, fala que está dando para o pai de Nick – e aí os dois caem na gargalhada.
Um casal bobo de tão feliz.
Com uns dez minutos de filme, feliz Nick volta para casa mais cedo porque o compromisso de trabalho foi cancelado e – feliz Ann está trepando adoidado na cama do casal.
Profundamente infeliz Nick sai de casa em estado de choque.
Epa, poderia até vir coisa boa daí. Já houve filmes interessantes a partir desse início de trama. Mas deste mato aqui não sai coelho algum.
Profundamente infeliz em estado de choque Nick sai dirigindo seu baita carrão desses que parecem utilitários, jipões, a esmo por Los Angeles, cai num bairro pobre. Quando pára num sinal fechado, um sujeito bota um revólver na janela do carrão. Nick diz uma frase uma boa: – “Pegou o sujeito errado, na hora errada”. Bota o assaltante pra dentro do carro, e sai com o carro em disparada, quase matando o outro do coração. Passa por aquelas supervias de Los Angeles, anda, anda, pega estrada. Daí a pouco já está entrando no Arizona, no meio do deserto.
O assaltante é interpretado por um tal Martin Lawrence; fiquei imaginando que ele provavelmente era um ator de TV muito famoso, de programas assim inteligentes e profundos tipo A Praça é Nossa ou o pior do que os Trapalhões já fizeram na vida. Para mim, o cara não tinha graça nenhuma. Bem, chequei agora, enquanto escrevia esta anotação, e é isso mesmo: comediante de grande sucesso na TV americana.
Temos então agora Nick publicitário bem de vida branco chifrado pela mulher e Terence Paul Davidson pobretão que virou assaltante negro dando uma de Didi e Dedé no deserto do Arizona.
Depois que eles trocam sopapos, sentam de novo num bar de beira da estrada para comer e tratar dos ferimentos, vem o inevitável: Terence Paul Davidson assalta um posto de gasolina, o dono do posto vem atrás deles com uma espingardona…
Desliguei a TV.
Arrumei umas coisas na casa, sentei para ler. Meia hora de leitura depois, com um pouco de sono, cometo a besteira de ligar de novo a TV para ver onde estava o pobre Tim Robbins em seu dia de Didi. Vi a meia hora final, porque sou doido, maluco, de internar com camisa de força dupla. É um horror, um pavor. O filme tem o Q.I. de uma ostra especialmente burra.
Fico sabendo agora que o diretor Steve Oedekerk tem uma folha corrida que inclui o roteiro de várias comédias de títulos conhecidos, que vejo de longe nas prateleiras da locadora: Ace Ventura, O Professor Aloprado (a refilmagem de 1996, mais a continuação de 2000), Jimmy Neutron, Todo Poderoso, A Volta do Todo Poderoso.
Além de roteirista, o rapaz também é ator e produtor; como diretor, é menos reincidente: assina oito filmes, segundo o iMDB.
Vejo também no iMDB que é o próprio diretor Steve Oedekerk que faz o papel do guarda de segurança maluco que fica dançando numa sequência débil mental em que Didi e Dedé, quer dizer, Nick e Terence Paul fazem uma visita noturna à agência de publicidade onde Nick trabalha.
Credo.
Nada a Perder/Nothing to Lose
De Steve Oedekerke, EUA, 1997
Com Tim Robbins, Martin Lawrence, Giancarlo Sposito, Kelly Preston
Argumento e roteiro Steve Oedekerke
Produção Touchstone Pictures
Cor, 98 min
1/2
Esse crítico exagerou, nós outros sites 80% das pessoas gostaram do filme. Além do mais envolver vida pessoal, prá criticar e analisar possível fracasso do filme, é no mínimo desrespeitoso.