1.0 out of 5.0 stars
Anotação em 2009: O tema é importante, eterno: homem casado, pai de vários filhos, religioso, vivendo em comunidade rígida, apaixona-se por outra mulher.
Dirá à esposa: “Lutei com todas as minhas forças (para não ver mais a amante). Não consegui”.
A comunidade em que Johan (Cornelio Wall) vive o drama do triângulo amoroso com a mulher Esther (Miriam Toews) e a amante Marianne (Maria Pankratz) é interessante, porque muito pouco conhecida – eu nunca tinha ouvido falar nela. São os menonitas que vivem no México; menonitas, diz a Wikipedia, são um ramo dos anabatistas, movimento religioso surgido na época da Reforma protestante em países europeus – Suíça, a antiga Prússia, Áustria e Holanda. Diz lá: “Os menonitas tiveram durante a sua história diversos pontos de discórdia entre si, o que sempre acabou levando a divisões e novas denominações entre eles, como por exemplo os amish. Durante o século XVI os menonitas e outros anabatistas foram duramente perseguidos, torturados e martirizados. Por isso muitos deles emigraram para os Estados Unidos, onde ainda hoje vive a maior parte dos menonitas. Eles estão entre os primeiros alemães a imigrarem para os Estados Unidos.”
A Wikipédia não diz, mas então existe também – conforme mostra este filme – uma comunidade menonita no México. Falam um dialeto do alemão, casam-se entre eles, mas mantém relações normais com os mexicanos da região em que vivem.
O filme coleciou um monte de prêmios em festivais – 25 ao todo, segundo o iMDB, inclusive o Prêmio do Júri de Cannes em 2007 para o diretor Carlos Reygadas, empatado com o diretor da animação Persepolis.
Foi o terceiro filme desse Reygadas; os anteriores, Japón, de 2002, e Batalla en el Cielo, de 2005, também amealharam prêmios mundo afora – com três filmes, Reygadas juntou 34 prêmios.
Pois para mim e para Mary, o filme pareceu insuportavelmente chato. Chatamente insuportável. Chato, chato, chato, chato.
É aquele tipo de cinema feito para agradar crítico, jurado de festival e o povo papo-cabeça da Mostra Internacional de São Paulo. Reygadas tem os maneirismos do Dogma 95, o movimento dos dinamarqueses que queriam “purificar” o ato de filmar e livrar os filmes dos orçamentos caros e dos efeitos especiais, defendiam o uso exclusivo da câmara de mão e proibiam o uso de iluminação especial. Como nos filmes daqueles dinamarqueses, este dá dor de cabeça no espectador, de tanta câmara de mão, tanta imagem propositadamente mal iluminada.
E, nessa tentativa de “purificação”, de desglamourização, deshollywoodização, não há música, não há trilha sonora. O que se ouvem são os ruídos naturais – grilos, barulhinho disso, barulhinho daquilo.
Mas não é só isso. Reygadas faz tudo leeeeeeeeeeeeeeentamente. Os planos são looooooooooooongos; há planos de dois minutos, três, em que não acontece absolutamente nada. É o que a minha amiga Andrea Miranda chama de cinema tai chi chuan.
Não sou a favor do contrário disso, o cinema MTV, de mil imagens rápidas, cortes frenéticos, com que Hollywood nos abarrotou nos últimos anos. Mas este filme aqui abusa do tai chi chuan, e aí tudo fica chato, chato, chato, insuportavelmente chato.
Então é isso. Se algum eventual leitor for daqueles que adoram filme chato, pretensioso, pretensamente “de arte”, este aqui é uma pedida perfeita. Para quem não é dessa turma, eu sugeriria que se passe longe dele.
Luz Silenciosa/Stellet Licht
De Carlos Reygadas, México-França-Holanda-Alemanha, 2007
Com Cornelio Wall, Maria Pankratz, Miriam Toews
Argumento e roteiro Carlos Reygadas
Produção Mantarraya, BAC Films. Estreou em São Paulo 22/5/2008
Cor, 145 min. Houve versões de 127, 135, 136 min
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Alguém entendeu o final desse filme? (considerando que alguém conseguiu chegar ao final, porque é uma batalha, ahaaha, muito chato).
Realmente, sábias palavras, Diana.
eu tbm acho uma batalha chegar até o fim do filme. Que final ridículo. A mulher ressurge do ataque cardíaco???
Nossa, que filme sem noção.
ainda bem que não sou a única a achar podre de chato; tenho uma amiga que achou o filme excepcional. Vai entender.
Amei. O filme é lndo. Tem um clima beckettiano no tempos, nas pausas. os atores são ótimos vi ontem na tvbrasil e estou agora há mais de uma hora pesquisando a ficha técnica.
Para muitos o filme pode ser chato. Mas para quem é descendente do povo menonita o filme traz muitas mensagens. Esta é minha realidade. A parte das imagens longas, com pausas, etc o filme é muito bom pois retrata a mente deste povo e leva os menonitas a uma reflexão sobre seus princípios e valores.