2.5 out of 5.0 stars
Anotação em 2009: O título brasileiro revela mais o lado babaca desta comedinha romântica do que o título original. Sim, é uma comedinha romântica, que, como quase todas, tem um lado bem babaquinha. E, no entanto, que maravilha que este filme exista.
É um filme previsível, não-sério (não trata dos grandes problemas do mundo, a fome, a miséria, a injustiça, o expansionismo sionista, a absurda falta dos direitos fundamentais das mulheres no mundo muçulmano), cor-de-rosa, tem happy-ending (filme sério não pode ter happy-ending, nos ensinaram todos os teóricos de cinema de alguma forma associados ao marxismo, porque isso transforma o espectador num conformista, e não num lutador pelas mudanças sociais).
É, em suma, um “filminho americano”, a expressão entre aspas dita com aquele tom com que os neguinhos muito intelectuais rejeitam todas as 500 produções feitas anualmente no Império como se fossem todas de um jeito só, uma escola só, de um único jeito de ver o mundo.
E no entanto… Duzentas milhões de vezes melhor que existam filmes como este, sobre a vida o amor a morte, sobre a vida em família, sobre gente como a gente, sobre gente normal, igual a 99% das pessoas que existem no mundo, do que filmes como, por exemplo, só para citar um que vi no mesmo dia, Sob Controle/Surveillance, de Jennifer Lynch, feito na mesma época e no mesmo Império, em que há 15 assassinatos brutais.
O protagonista da história é o Dan do título original, interpretado por Steve Carell. É um personagem bem construído pelos roteiristas Pierce Gardner e Peter Hedges, este último também o diretor. Dan é viúvo, tem três filhas, a mais velha com uns 17 anos, a mais nova com uns sete ou oito; é escritor e jornalista; já publicou um romance, e escreve uma coluna meio de auto-ajuda para um jornal de New Jersey. Assumiu todas as tarefas da casa, é um pai dedicado, mas a convivência com as filhas não é fácil, em especial com a do meio, em plena crise de aborrescência e namorando um garoto da escola, o que deixa Dan absolutamente irritado.
Quando a ação começa, Dan está indo com as filhas para a casa dos pais (interpretados por John Mahoney e Dianne Wiest) em Rhode Island para passar um feriadão prolongado. A família é grande – Dan tem vários irmãos e irmãs, três ou quatro, nem sei ao certo, alguns deles com filhos – e feliz. Todos se gostam, todos se preocupam com Dan e sua solidão quatro anos após a morte da mulher. Na primeira manhã na casa dos pais, ele vai a uma livraria, e lá fica conhecendo Marie (o papel de Juliette Binoche); começam a conversar, vão tomar um café, ficam horas falando. Coup de foudre, paixão à primeira vista.
Logo depois que os dois se despedem, o irmão solteiro de Dan, Mitch (Dane Cook), apresenta a nova namorada à família – sim, claro, é Marie. Nenhum dos dois conta para a família que haviam se conhecido. Ficarão todos juntos, na casa grande, cheia de gente, e surgirá a partir daí todo tipo de situação engraçada, esquisita, algumas bem bobocas, como eu disse lá em cima, outras gostosas, bem boladas.
Exemplo de uma situação boboca: Dan entra no quarto que a família separou para Marie, quer conversar sobre a situação; chega uma das filhas dele, quer conselhos de Marie sobre algum assunto, e então Dan entra no banheiro próximo e se esconde atrás da cortina do chuveiro; enquanto conversa com a garota, Marie diz que tem que tomar um banho, entra no chuveiro.
Exemplo de uma situação gostosa, bem bolada: no jantar da família, aquele monte de gente em torno da grande mesa, Dan, tomado pelo ciúme, começa a enumerar as outras namoradas que o irmão Mitch havia trazido antes para a família conhecer; a situação vai ficando cada vez mais desagradável, faz-se um silêncio pesado; ao final do jantar, a mãe diz para Dan: “Hoje você vai lavar a louça sozinho”.
Não vi muitos filmes com esse Steve Carell, um ator extremamente popular nos Estados Unidos, mas achei que ele está muito bem no papel do viúvo boa gente; não é careteiro, não faz gestos largos; é uma interpretação contida, suave, competente.
E a Binoche… Bem, a Binoche é uma maravilha, um esplendor. Ela ilumina a tela. Aos 43 anos, consegue estar ainda mais bela que no barra pesadíssima e ousado Perdas e Danos/Damages, de Louis Malle, quando tinha 28.
(Alguns dias depois que escrevi esta anotação, vi na revista Studio duas cartas de leitores falando sobre o filme, que na França se chamou Coup de Foudre à Rhode Island – coup de foudre é a expressão mais próxima do nosso amor à primeira vista. Nas duas cartas, a Binoche é chamada de sublime. Numa delas o leitor escreve subliiiiime, com um montes de is. E é isso mesmo.)
A trilha sonora do filme é muito boa, gostosa – em muitos momentos, um suave violão folk; em outros, canções igualmente suaves, com clara influência do folk americano. Nunca tinha ouvido falar no compositor: Sondre Lerche. É um norueguês, tido como criança prodígio: tinha 19 anos quando lançou um disco por uma grande gravadora, mas já era, então, bem conhecido, segundo informa o AllMusic. Na resenha do disco da trilha sonora, o site informa que, desde o início do projeto do filme, o diretor Peter Hedges procurava um compositor que funcionasse para este Dan In Real Life assim como Cat Stevens para Aprendendo a Viver/Harold and Maude, ou Simon & Garfunkel para A Primeira Noite de um Homem/The Graduate, “alguém para filtrar o significado e o sentimento do filme através de suas canções”. E escolheu Sondre Lerche.
Bem, o filme não chega a ser um brilho como os dois citados, e não sei se algum dia Sondre Lerche vai chegar perto do cocô do cavalo de Cat Stevens ou Simon & Garfunkel, mas é uma gostosa trilha; de fato, ela ajuda a dar o clima, o tom do filme.
Eu, Meu Irmão e Nossa Namorada/Dan in Real Life
De Peter Hedges, EUA, 2007
Com Steve Carell, Juliette Binoche, Dane Cook, John Mahoney, Dianne Wiest, Emily Blunt
Roteiro Pierce Gardner e Peter Hedges
Música Sondre Lerche
Produção Focus Features e Touchstone. Estreou em SP 31/10/2008
Cor, 98 min
**1/2
Título em Portugal: O Amor e a Vida Real
Acho que as vezes precisamos de filmes assim, que nos acalmam e que mostra que o mundo pode sim ser um pouco mais cor-de-rosa do que tem sido. E que ainda existem pessoas felizes e sem culpa do outro lado da porta.
Adorei Juliette Binoche toda linda seduzindo os dois irmãos e a família toda.
Gosto muitos dos seus posts!!!!
Eu não gostei desse filme, achei tudo chato, as crianças que geralmente dão leveza aos filmes, tb achei chatas e a Juliette Binoche não achei que atuou bem. Algumas cenas que eram pra ser leves ou divertidas acabaram sendo patéticas. E onde já seu viu ir jogar boliche depois de toda aquela situação na casa e de um encontro finalmente a sós? Ceninha bem ridícula. Só gostei mesmo das músicas, só elas salvam o filme.
Otimo filme. Acho que essa tal Jussara ai de cima está totalmente errada e em resposta a tal pergunta do boliche, digo que, primeiro, a confusão na casa só foi causada exatamente porque eles queriam estar a sós e acharam essa oportunidade no Boliche, segundo, que eles desde que se conheceram apenas se deram bem, você acha que eles deviam sair logo se agarrando? Isso é um filme americano.
Cheguei a pensar em impedir a publicação do comentário acima do Gabriel, por causa da forma deseducada com que ele se refere à Jussara. Mas, afinal, a mensagem não chega a ser ofensiva – é deseducada, grosseira, mas não é ofensiva. Então aí está ela.
Sérgio
Gabriel de tal*,
Aqui é a Jussara. Realmente eu não entendo nada de cinema. Pelo “ótimo” que vc deu ao filme percebi que quem entende de cinema é vc. Um super entendedor, fiquei de queixo caído com a maravilha do seu comentário. Vc é tão bom que deveria tb ter um site sobre filmes.
No mais, nem deveria perder meu tempo te respondendo, já que vc entende muito, muuito mesmo de cinema, mas desconhece as normas básicas da educação. Ah, vc jura que o filme é americano? Que coisa, pensei que fosse asiático! Fique então com o seu filmão.
*Vc gosta tanto da palavra tal que acho que esse é o seu sobrenome, não?
Jussara e Gabriel tolos, ficam brigando aí por besteira, hahaha
Gostei do filme. Gostei pra caramba…
Me atrevo dizer que me identifiquei, de certo modo, com a personagem Dan. (Não conta pro meu amigo)
Não sou crítico de cinema, mas a atuação de Steve Carell me pareceu impecável. Perfeita.
Não é um filme “chato”. Há momentos e momentos do espectador. Você, quando muito triste, não bota um música extremamente animada. Quando eufórico, não bota uma música calma. O “estado de espírito”, ou estado emocional, como achar melhor, influencia bastante.
O filme tem um clima calmo. Não chato.
Reparei que, atualmente, a procura por filmes é de comédias de se rasgar de rir; terror de se assustar durante a noite; e grandes explosões com gente voando e tal.
Acho que o público que “entende” filmes como esse, em pauta, é menor.
Obrigado. =)
Por favor alguem sabe o nome da musica que o personagem do Steve Carell toca no violão?
É iteressante. A vida em família traz muito valor ao filme. Aquele jeito de aceitar as coisas (dormir na lavanderia) demostra como estava sofrido na viuvez. Foi, portanto, um bom encontro com a querida Binoche, fiquei torcendo por ele. Os detalhes dos encontros, no boliche ou fortuitos na casa paterna, são apenas detalhes. O encontro de um novo amor ensinou-o a aceitar melhor os sentimentos ds filhas.A Binoche já perdeu muito de sua beleza, nós que a vemos há tanto tempo, mas continua sendo “aquela” atriz
gostei muito assistiria novamente , um filme bem humorado , quem entende o filme gosta agora quem não entende critica(Jussara)kkkk.
Como as pessoas se importam com a minha opinião, hein?! Não têm vida própria e ainda acham que todos devem pensar como elas.