1.0 out of 5.0 stars
Anotação em 2008: O mexicano Guillermo Arriaga conseguiu grande notoriedade como roteirista de Amores Brutos, de 2000, 21 Gramas, de 2003, Os Três Enterros de Melquíades Estrada, de 2005, e o extraordinário Babel, de 2006. Neste filme aqui, de 2007, ele deu com os burros n’água.
Toda a trama é ilógica, inverossímil, sem qualquer sentido. Os personagens não se sustentam. São, todos, tomados por uma gigantesca angústia existencial – cuja razão o pobre espectador desconhece por completo. Todas as ações deles resultam sempre, inevitavelmente, a pior escolha que eles poderiam fazer. A trilha sonora pesada, a fotografia – quase sempre escura, enevoada -, a câmara de mão, tudo conspira para tentar criar uma atmosfera sufocante, pesada. E o pobre espectador continua sem saber de onde vem tanta infelicidade e tanta falta de sentido.
Como em tantos outros filmes, o roteiro optou por contar a história dos personagens em duas épocas distintas, que vão sendo apresentadas paralelamente. Temos a ação nos dias de hoje, quando os personagens estão com algo em torno de uns 25 anos, e temos a ação alguns anos atrás, quando tinham uns 19, 20 – nunca se diz exatamente nada.
Então é assim: temos Gregorio (Gabriel González), um esquizofrênico que acaba de sair de um período num hospital psiquiátrico, e que, na primeira seqüência de ação (depois da apresentação em que vemos, em imagens confusas, difíceis de se distinguir, um búfalo ferido), é visitado pelo grande amigo Manuel (Diego Luna).
Com menos de dez minutos de filme, temos que Gregorio se mata com um tiro de revólver – e temos também que sua namorada, Tania (Liz Gallardo) o traía no passado e continua a traí-lo no presente com Manuel. Manuel, aliás, também come a irmã de Gregório, Margarita (Irene Azuela, acho) – como mais tarde veremos que também come Rebecca, que não tem nada a ver com o resto da história.
Quase nada é dito muito claramente, mas, desde o início, o filme pretende mostrar que todos culpam Manuel pelo suicídio de Gregorio. A questão é que ninguém sequer atribui a Tania ao menos parte da culpa da traição a Gregorio. É tudo como se Manuel tivesse roubado a namorada do amigo à força, mas o que vemos nos flashbacks é que ela é que procurou Manuel, desde o início. Aliás, bem no início do filme, nos primeiros 15 minutos, quando Manuel liga para Tania para tentar convencê-la a ir à cremação de Gregorio, ela diz: “O desgraçado está esfregando o sangue dele na nossa cara”. Ou seja: no começo do filme, até a própria Tania divide a culpa. Depois o roteiro e os personagens, até mesmo o da própria Tania, se esquecem disso, e a culpa da traição é só de Manuel.
Então, temos uma história que é no mínimo tão esquizofrênica quanto o personagem do suicida.
E há, o tempo todo, em todos os detalhes, aquela coisa irritante que eu chamo de Podendo-Complicar-a-Narrativa,-Por-que-Simplificar?
Em suma: uma bela porcaria.
O Búfalo da Noite/El Bufalo de la Noche
De Jorge Hernández Aldana, México, 2007
Com Diego Luna, Liz Gallardo, Gabriel González, Irene Azuela, Camila Sodi
Roteiro Jorge Hernández Aldana e Guillermo Arriaga
Baseado em história de Guillermo Arriaga
Cor, 90 min
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