1.0 out of 5.0 stars
Anotação em 2008: Filme mais estranho, de moral mais maluca, ou melhor, de total falta de moral.
Nunca tinha ouvido falar dele; Marynha achou na prateleira dos clássicos da 2001, recém-lançado naquela Silver Screen Collection, de uma empresa pequena, dessas que pegam filmes que, por um motivo ou outro, não tem quem mantenha a posse dos direitos autorais, ficam no limbo.
Como o filme é de 1957, La Stanwyck estava com 50 anos bem vividos, já longe da sua juventude dos anos 30 e começo dos 40, mas mantinha intacta a força, o magnetismo. Ela mais uma vez interpreta uma mulher forte, no caso Kathy, uma jornalista muito bem sucedida em redação machista na San Francisco pré-revolução feminina. Até aí, tudo bem – La Stanwyck sempre fez mulheres fortes, mesmo décadas antes que o feminismo dos anos 60 mudasse a face do mundo para muito melhor.
A questão é que a personagem dela abandona a carreira e a cidade para se casar com Bill Doyle, o tenente da polícia de Los Angeles por quem se apaixona inapelavelmente – o personagem de Sterling Hayden. Casa-se, abandona a carreira, a cidade, e vira dona de casa servil do marido tira. Não fica feliz, é claro; afinal, é uma mulher forte.
Mas o que faz, então, Kathy, a mulher forte, forçada a conviver com mulheres servis a seus maridões tiras machistões? Revolta-se? Lidera uma campanha pela libertação feminina? Manda o marido à merda e volta para o jornal? Não, não, nada disso – apenas usa sua força e sua inteligência para se aproximar da mulher do chefão do marido, e depois do próprio chefão do marido, para facilitar a escalada profissional do dito cujo.
Ora, vá plantar batatas…
De qualquer forma, fiquei curioso em saber outras opiniões. Leonard Maltin dá 2,5 estrelas em 4 e mata o assunto em uma breve linha: “Stanwyck é áspera e durona como gananciosa esposa que fará qualquer coisa para impulsionar a carreira do maridão”.
Steven H. Scheuer dá a mesma cotação, 2,5 em 4, e é tão sucinto quanto Maltin: “A ambição de uma esposa por seu marido leva ao crime”.
Um leitor do iMDB, que assina sob pseudônimo, teve uma visão completamente diferente da minha e dos guias de filmes. Oposta, na verdade. Entendeu que o filme pretende exatamente denunciar o machismo que dominava o mundo nos anos 50: “Este filme mostra chocantemente o que acontece a uma mulher independente quando ela é sufocada pelas convenções de seu tempo, neste caso o final dos anos 1950, quando se esperava que as mulheres ficassem em casa cozinhando para seus maridos. (…) É um olhar fascinante sobre o início do feminismo. Deveria ser ensinado em todos os cursos de sociologia.”
Mas péra lá. Ninguém estava amarrando Kathy à vida de dona de casa. Foi ela que optou por aquilo, foi ela que jogou a carreira fora!
Da Ambição ao Crime/Crime of Passion
De Gerd Oswald, EUA, 1957.
Com Barbara Stanwyck, Sterling Hayden, Raymond Burr, Faye Wray, Stuart Whitman
Argumento e roteiro Jo Eisinger
Produção Robert Goldstein
P&B, 84 min.
*
Uma crítica de filme deve levar em conta roteiro, direção, fotografia,
música, atores etc etc. que são completamente ignoradas pelo colunista, por sinal muito azedo e, sempre, à procura dos defeitos dos filmes. Saudade de Antonio Moniz Vianna, Paulo Emílio Sales Gomes e Rubens Ewald Filho, Já ouviu falar? Cara, você é um chato!