2.0 out of 5.0 stars
Anotação em 2007, com complemento em 2008: Pelo jeito, essa Carson McCullers é uma fiel seguidora do estilo Tennessee Williams: sexo vem sempre acompanhado de um clima mórbido, sombrio, doentio, pecaminoso.
O ambiente é uma cidadezinha do Sul Profundo, onde há uma base militar; a personagem de Liz trai o marido oficial (Brando) praticamente às encancaras com um vizinho e amigo deles; o marido, apesar de casado com uma Liz Taylor no auge da beleza, não quer saber de mulher – é um homossexual enrustido, narcisista e doente da cabeça e do pé.
Com um elenco desses (que tem ainda a ótima Julie Harris, como a mulher histérica do oficial que come a personagem de Liz Taylor), e John Huston na direção, claro que o resultado é um filme forte, poderoso. Mas não é nada agradável – muito ao contrário. É uma coisa doentia demais, repugnantemente doentia.
Pauline Kael, sempre cáustica e exigente, gostou do filme: “John Huston dirigiu esta versão sensual e intensa da novela de 1951 de Carson McCullers, passada na Geórgia; o estilo visual, que sugere pinturas feitas a partir de fotos, tem um lirismo comedido. (…) O homossexualismo reprimido do major Penderton de Brando, um oficial preso ao dever, é grotesco e mortificante. É uma das mais ousadas interpretações dele: o major gordo e horroroso (…) é tão digno de pena, e contudo tão horrível, que algumas pessoas da platéia se defendem dele com risadas. Taylor está atraente como a mulher do major, a “dama” sulista tola e fogosa, que faz amor com Keith num canteiro de amoras. (…) A história foi renovada com fetiches extras, como se o material de McCullers já não fosse suficientemente sulista e gótico.”
Pauline Kael ainda acrescenta uma informação interessante, que também está no iMDB: “As cópias do primeiro lançamento eram num processo de cores ‘dessaturadas’ – um tom dourado, com delicadas tonalidades sépia e rosa; quando o filme não se deu bem nas bilheterias, puseram a culpa nessa cor estilizada, e ele perdeu sua atmosfera mítica e onírica”.
John Huston fala sobre essa coisa da cor em sua autobiografia Um Livro Aberto/An Open Book, lançado no Brasil pela L&PM em 1987. Diz que brigou o quanto pôde com o povo da Warner para que o filme fosse lançado com aquela cor especial. “O estúdio concordou em fazer 50 cópias na cor de âmbar e em lançá-las em primeira mão nos cinemas das principais cidades americanas. As reestantes seriam feitas tem tecnicolor padrão.”
Huston diz que gosta do filme, que ele é um dos seus preferidos. “O elenco inteiro teve desempenhos admiráveis. E o filme tem ótima estrutura. Cena por cena – na minha humilde opinião -, é difícil descobrir algum defeito.”
É. É um perfeito filme sobre pessoas doentes, desagradáveis, nojentas.
O Pecado de Todos Nós/Reflections in a Golden Eye
De John Huston, EUA, 1967.
Com Marlon Brando, Elizabeth Taylor, Julie Harris, Brian Keith
Roteiro Gladys Hill e Chapman Mortimer
Baseado em novela Carson McCullers
Produção Warner e Seven Arts.
Cor, 108 min.
Sexualidade,traições,obsessão,tragédia.Achei o filme polêmico para a sua época.Sempre gostei muito de ver Brando atuar.Ele está maravilhoso,magnifíco,soberbo.Uma atuação ímpar.Liz Taylor tbm maravilhosa e muito linda.Que presença,da Julie Harris …
Apatia/Obsesão-Lascívia/Repulsa=Brando/Liz.
Certo ou errado eu achei a fotografia muito bonita,penso que foi ela que deu um “que” diferente ao filme.
Isto pode ser spoiler:cenas que ficam na lembrança,a “agressão” de Liz em Brando ao subir nua as escadas e a outra agressão sem aspas,ao dar chicotadas em seu rosto na festa.E,foi a partir daí que a vida do Major
Penderton desabou de vez.
Dizes lá no começo do teu texto,sôbre a forma claríssima da traição da Liz e,aqui me lembrei que em “Caçada Humana”,as traições tbm são escancaradas.
ISTO É SPOILER
O major arrumando os cabelos em frente ao espelho esperando o soldado entrar em seu quarto.Esta sequência é o ponto alto do filme
E pensar que a atração do soldado pela mulher do major,era uma coisa platônica.
Que situação , quem diría . . .