0.5 out of 5.0 stars
Anotação em 2007, com complemento em 2008: Um sério candidato a figurar na lista dos dez piores filmes de toda a história. Uma louca, imensa bobagem sobre um monstro, parecido com os antigos desenhos do diabo, que vive numa ilha e é encontrado por uma jovem e depois exposto ao mundo pela TV.
Não tem qualquer sentido, qualquer razão, qualquer explicação. É grotescamente idiota, idiotamente grotesco.
Bem, então por que estou perdendo tempo falando dele?
Em primeiro lugar, pelo jus esperneandi. Esse é um direito sagrado que o pobre espectador tem – ainda mais quando é um filme de diretor cult, queridinho da crítica, dos festivais e do povo do cinema papo-cabeça, como esse Hal Hartley.
Até o normalmente atento e cuidadoso Jean Tulard caiu na esparrela do cara. Diz, em seu Dicionário de Cinema – Os Diretores, que, junto com Jim Jarmusch e Quentin Tarantino, Hal Hartley forma o trio dos mais famosos realizadores independentes do novo cinema americano.
Tadinho do Jarmusch, autor de filmes espertos, sensíveis, inteligentes, gostosos – ele não mereceria a desonra de tal companhia.
Depois Tulard põe o dedo na ferida: “Seu estilo lembra um pouco Godard”. Aí eu sou obrigado a concordar plenamente: são dois chatos de galocha, o Godard e esse Hal Hartley.
Mas, além do jus esperneandi, há outro motivo para eu falar deste filme. É que ele foi o primeiro encontro entre Sarah Polley, a talentosíssima menina prodígio canadense, e Julie Christie, a deusa inglesa dos anos 60, que andou meio sumida um bom tempo. As duas voltariam a trabalhar juntas quatro anos depois, em 2005, no extraordinário A Vida Secreta das Palavras/The Secret Life of Words, da jovem catalã cineasta do mundo Isabel Coixet. E depois de novo em 2006, em Longe Dela, escrito e dirigido por Sarah, com Julie no papel principal, da mulher que sofre de Alzheimer.
Fiquei com a impressão que essa garota canadense em ascensão se apaixonou pela quase septuagenária atriz inglesa que andava meio esquecida – e chequei depois que é isso mesmo. Na revista Studio de abril de 2007, Sarah faz elogios com superlativos a Julie e diz, sobre Longe Dela: “J’ai écrit ce film pour elle, avant même de savoir si elle voulait en interpréter le role principal”.
E o IMDB comprova. Diz que Sarah tomou Julie como modelo do que ela queria fazer com sua carreira: “Os papéis que Julie Christie aceitou fazer tinham a ver com sua consciência social; ela aceitou por exemplo aparecer no primeiro longa-metragem de Sally Potter, The Gold-Diggers, uma parábola feminista feita inteiramente por mulheres, que receberam o mesmo salário.”
E depois: “Na década a partir de Afterglow (1997), ela (Julie Christie) trabalhou diversas vezes em papéis de coadjuvante. Como uma atriz que menospreza o status vulgar de estrela, Christie foi uma inspiração para (Sarah Polley), a atriz canadense com uma visão política de esquerda que também detesta Hollywood. De sua colega de elenco em No Such Thing (2001) e The Secret Life of Words (2005), Polley diz que Christie é absolutamente consciente do status dado a ela pela indústria cinematográfica e pela mídia nos anos 60. Não querendo ser reduzida a um produto, ela se rebelou e assumiu o controle de sua vida e sua carreira. Suas atitudes a transformaram num dos heróis de Polley.”
São duas mulheres fascinantes, Sarah Polley e Julie Christie. Realmente, não consigo entender por que aceitaram participar desta besteira.
No Such Thing
De Hal Hartley, Islândia-EUA, 2001
Com Sarah Polley, Julie Christie, Helen Mirren,
Argumento e roteiro Hal Hartley
Produção American Zoetrope
Cor, 102 min.
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