3.0 out of 5.0 stars
Anotação em 2007, com complemento em 2008: Um filme bom, sério, pesado. Tem a estrutura de um thriller, certamente porque thriller garante melhor bilheteria do que drama bom, sério e pesado – mas é isso que ele é.
Julianne Moore faz uma mulher absolutamente desajustada, vivendo num bairro habitado predominantemente por negros, que dá queixa à polícia de que seu carro foi roubado e o ladrão levou seu filho de uns quatro anos. Ela descreve o ladrão como sendo um negro – e as buscas da polícia num bairro negro desencadeiam um sério, amplo, geral e irrestrito conflito racial.
Samuel L. Jackson, como o policial incumbido do caso, ele mesmo com raízes naquele bairro, com muitos amigos ali, mas exatamente por isso cobrado pelos moradores que se queixam da violência contra os negros em um caso de desaparecimento de uma criança branca, está excelente, assim como Julianne como a mulher insegura, aparvalhada diante do que a vida apresenta para ela.
Interessante: não me lembro onde se passa a história. Minha lembrança é de que é Boston – possivelmente porque o clima de tensão racial e social lembra os dois filmes baseados nos livros de Dennis Lahane, Sobre Meninos e Lobos/Mystic River e Medo da Verdade/Gone Baby Gone -, mas nem o iMDB nem o AllMovies dizem que cidade é. Possivelmente foi proposital: a rigor, esta é uma história que poderia ter acontecido em qualquer grande cidade americana. Afinal, todas as grandes cidades são iguais, como dizia um hippie em Sem Destino/Easy Rider.
OK: o site oficial do filme diz que é New Jersey. Mas acho que isso não tira o que eu quis dizer: poderia ser qualquer lugar.
O diretor Joe Roth é uma figura ímpar, singular. É um anfíbio – meio artista, meio industrial, meio diretor mas mais produtor, mais executivo. Produziu dezenas de filmes, criou uma produtora, a Morgan Creek, e virou o primeiro trabalhador da indústria de cinema a chefiar grandes estúdios: foi o chefão da 20th Century Fox e depois da Disney. Aparentemente, voltou a dirigir depois de ter ganho rios de dinheiro como CEO de dois dos maiores estúdios do mundo – o que em si já é fascinante.
Antes deste filme aqui, tinha feito Queridinhos da América/America’s Sweetheart, de 2001, uma comediazinha romântica tendo Hollywood como pano de fundo, com uma gozação-homenagem a Hal Ashby, um diretor iconoclosta que era odiado pela indústria, pelos produtores e pelos CEOs. Interessante que, aos 58 anos, tenha resolvido dirigir um drama sério sobre conflitos raciais e sociais cheio de boas caracterizações de personagens.
Ah, sim. Acho que é desnecessário lembrar a ironia do nome do bairro que dá o nome do filme, Freedomland, a Terra da Liberdade.
Freedomland – A Cor do Crime/Freedomland
De Joe Roth, EUA, 2006.
Com Samuel L. Jackson, Julianne Moore, Edie Falco, William Forsythe
Roteiro Richard Price
Baseado em seu livro
Música James Newton Howard
Produção Scott Rudin, Revolution Studios, distribuição Columbia
Cor, 113 min
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