4.0 out of 5.0 stars
Anotação em 2007, com complemento em 2008: A duríssima vida de quatro famílias de camponeses na Lombardia do início do século XX, num filme esplêndido, cheio de simpatia pela humanidade, como só o cinema italiano poderia produzir.
É um delicadíssimo trabalho de ourivesaria – como uma canção de Dorival Caymmi, ou Paul Simon. A sensação que se tem é de que o diretor e roteirista Ermanno Olmi trabalhou muito, muito, muito, mas muito, com todo o cuidado do mundo, para atingir uma perfeição que dá a aparência de simplicidade, de que foi tudo quase espontâneo.
O filme parece quase um documentário. E ele dá a impressão de que poderia perfeitamente ter sido feito no auge do neo-realismo, após a Segunda Guerra, quando, com o país empobrecido, quase destruído, um bando de jovens diretores, roteiristas e técnicos soube usar a própria falta de recursos para fazer filmes que retratavam a vida das pessoas do povo – nas ruas, em cenários reais, sem estúdio, sem muita iluminação artificial, sem muita maquilagem, em geral usando atores não profissionais.
O movimento iria influenciar quase tudo o que se fez depois no cinema – a nouvelle vague francesa, o novo cinema inglês do início dos anos 60, o cinema novo brasileiro, o cinema independente americano e, meio século depois, nos anos 90, o novo cinema iraniano.
Ermanno Olmi fez um filme quase neo-realista – a única diferença é que em cores.
Como nos filmes P&B do pós-guerra, aqui os atores não são profissionais. São gente do campo ou de pequenos vilarejos, gente que trabalha na terra, ou com as mãos – como se fossem autênticos descendentes dos descendentes dos descendentes dos personagens mostrados no filme.
“Alguns dos grandes eventos das vidas dos personagens”, diz o livro Off-Hollywood Movies, com muita propriedade, “são a vaca da viúva ficando doente, um fazendeiro compreendendo que o cocô das galinhas é melhor do que esterco de gado para os seus tomates, e um pai cortando um elmo para fazer tamancos para que o filho possa ir à escola. O que os une é seu trabalho duro, os valores familiares e Deus.”
Apresentado no Festival de Cannes de 1978, esta maravilha levou a Palma de Ouro e o Prêmio Ecumênico do Júri. Além desses, ganhou ainda 12 prêmios, vários deles importantes, como o César francês e o David di Donatello italiano. Ganhou até – sensacional – o Bafta de documentário!
A Árvore dos Tamancos/L’Albero degli Zoccoli
De Ermanno Olmi, Itália-França, 1978.
Com Luigi Ornaghi, Francesca Moriggi
Roteiro Ermano Olmi
Produção Istituto Luce
Cor, 186 min.
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