1.5 out of 5.0 stars
Anotação em 2004: Os filmes muito ruins de antes dos anos 70 eram muito, mas muito melhores que os filmes muito ruins de hoje. Este aqui é um exemplo perfeito disso.
Jovem linda, gostosa e pura como água da fonte (Ann-Margret) oferece textos para uma revista de sexo, mas o que o editor-chefe e o proprietário, um velho inglês debochado e tarado, querem mesmo é que ela pose nua. Enfurecida, ela resolve escrever uma novelinha com todos os clichês das histórias de sacanagem dos piores livrinhos de bolso; quando o editor-chefe recusa a história por entender que ela não tem sentimentos reais, a moça resolve dizer que tudo aquilo que escreveu é fruto de sua vivência pessoal.
É ruim demais – seguramente é um dos piores filmes do George Sidney. A trama é uma idiotice completa, e as situações que ela cria são risíveis, ou, pior ainda, deixam o espectador envergonhado por estar vendo tamanha bobagem – por várias vezes, os homens ficam perseguindo as mulheres em volta de uma mesa, ou em um quarto; Ann-Margret, aquele avião, aquele Jumbo gostosérrimo, veste um negligé fatal, canta uma música sensual, e Anthony Franciosa resiste a ela fazendo exercícios físicos para tirar a tensão e o tesão. Tudo bem que Anthony Franciosa é um dos piores atores da história da humanidade, mas passar por uma cena dessas é uma humilhação que nem mesmo ele mereceria,
E, no entanto, tem coisas muito gostosas. Em primeiro lugar, é uma brincadeira safada mexendo com os conceitos puritanos da sociedade americana, que, naquela época – o filme, datadíssimo em tudo, deve ser de 1967 ou 1968 -, estava escandalizada com a falta de pudor dos hippies.
O filme brinca, joga com as (falsas) aparências, e nisso se aproxima um pouco do que Blake Edwards faria com talento em Victor/Victoria; mexe com essa dicotomia mulher pura/mulher puta, que Jules Dassin havia tentado (mal) em Nunca aos Domingos e Billy Wilder tinha resolvido maravilhosamente em Irma La Douce e voltaria a fazer com brilhantismo em Beije-me, Idiota.
E tem brincadeiras que funcionam. A abertura promete uma sátira arrasadora: a voz em off do proprietário da revista de sexo descrevendo as maravilhas de Los Angeles – cidade da cultura, do refinamento, do prazer dos gourmets – enquanto na tela vão surgindo, velozmente, imagens de fachadas de cinemas pornô, cartazes pornô e letreiros de lanchonetes e fast-food.
Depois, em duas ou três ocasiões, há slide shows, com uma velocidade frenética, de Ann-Margret em situações de consumismo desenfreado (numa loja da Saks) e de sonhos eróticos. E no fim ainda faz uma última gozação, mostrando um final errado – o casal morrendo em um desastre de carro -, para em seguida se corrigir, dar um rewind na cena errada e mostrar o encontro dos dois, que viveram felizes para sempre.
A apresentação é criativa, entre um Saul Bass bem-humorado e as apresentações da série Pantera Cor de Rosa. E dá um crédito grande para a eterna Edith Head, a mulher incansável que desenhou todos, literalmente todos, os figurinos dos filmes da Paramount durante as décadas de ouro do cinema de Hollywood.
E, claro, Ann-Margret, uma das muitas belezas suecas que Hollywood importou ao longo do século, apenas uma canastrona, está lindíssima e gostosíssima.
Um filme ruim demais e no entanto muito, muito interessante. Vou checar agora o que dizem dele.
Quase acertei na mosca o ano do filme. Eu disse 1967, 1968 – e é de 1966. O fenômeno da contracultura estava apenas começando, e o filme já mostra vida em comunidade e consumo de drogas.
Foi o penúltimo filme de George Sidney, um grande diretor de musicais, que, três anos antes, já havia trabalhado com Ann-Margret em Bye Bye Birdie, e, dois anos antes, em Viva Las Vegas, que eu, não sei bem por que, acho que foi um dos pouquíssimos filmes com Elvis Presley que são assistíveis.
Ann-Margret estava então com 25 anos, e já havia feito 12 filmes. O sobrenome de sua personagem aqui – Olsson – é o mesmo seu na vida real.
O filme é tão pouco considerado que o livro The Paramount Story só reserva para ele uma nota de rodapé, no meio de Outros Lançamentos de 1966: “Garota respeitável falsifica uma autobiografia apimentada para entrar no mundo das revistas”.
Falsa Libertina/The Swinger
De George Sidney, EUA, 1966.
Com Ann-Margret, Anthony Franciosa,
Argumento e roteiro Lawrence Roman
Produção Paramount
Cor, 81 min