1.0 out of 5.0 stars
Anotação em 2002, com acréscimo em 2008: Eu nunca tinha visto esse classicão, que todo o mundo, sem exceção, considera um dos melhores filmes da história. E foi um dos meus maiores desencontros com um grande clássico. Sim, tem os elementos de um grande filme – as grandes panorâmicas, o cenário vasto, a fotografia deslumbrante, a música grandiosa do Dimitri Tiomkin (um tanto grandiloquente demais, talvez).
A questão é o tema, o argumento, a história, o roteiro – tudo absolutamente sem qualquer tipo de lógica ou razão. Naturalmente, para se ver um western, esse gênero tão cinematográfico, que é muitas vezes o próprio cinema, é preciso ter um certo distanciamento; é preciso abandonar a lógica comum e entrar numa outra esfera de lógica. Mas, mesmo dentro da lógica do western, essa é uma história fantasticamente ilógica.
E a pretensão – meu Deus, como o filme é pretensioso! Quer ter o – como é que os críticos dizem mesmo? – pathos da tragédia grega, o conflito pai-filho, o choque de vontades sobre-humanas, a vontade de mudar o destino. E acaba tendo momentos sublimemente ridículos, como o encontro do personagem de John Wayne com a mulher por quem o personagem do quase filho se apaixonou – e de repente lá está ele, sem a mínima lógica, pedindo a ela que tenha um filho dele! E todo o encerramento, John Wayne vindo enfrentar Montgomery Clift (um dia depois da chegada da moça que vinha junto mas de repente se apressou para chegar antes), e os dois acabando numa luta grotesca, para concluírem que se amam perdidamente.
Me lembrei da grandeza digna e imensamente menos pretensiosa e imensamente mais carregada de sentido e força que é Pistoleiros do Entardecer, possivelmente o melhor Sam Peckinpah, e certamente o menos endeusado pela crítica.
Acho que este Red River é possívelmente um dos melhores exemplos de como a história do cinema construiu mitos em cima de alicerces absolutamente frágeis.
Anotação em 2008: Descubro só agora, no IMDB, um detalhezinho fascinante. Shelley Winters faz uma pontinha neste filme, não creditada, como uma garota de dance hall que aparece num vagão de trem. Só o fato de Shelley Winters ter feito ponta não creditada neste filme de 1948 já é muito interessante – mas o fascinante é que, apenas três anos mais tarde, em 1951, ela faria um papel pequeno, mas importantíssimo, em Um Lugar ao Sol, de George Stevens, também ao lado de Montgomery Clift; ela é a moça pobre que o personagem de Monty namora, engravida e assassina, na adaptação do extraordinário romance Uma Tragédia Americana, de Theodore Dreiser, que Sergei Mikhailovitch Eisenstein tentou filmar e não conseguiu.
Rio Vermelho/Red River
De Howard Hawks, EUA, 1948.
Com John Wayne, Montgomery Clift, Walter Brennan, Joanne Dru, John Ireland
Roteiro Borden Chase e Charles Schnee
Baseado em história de Borden Chase publicada no Saturday Evening Post
Música Dimitri Tiomkin
P&B, 133 min.
Como muitos críticos, não o considero uma das mais perfeitas obras, embora seja uma excelencia de filme. Não o colocaria entre os meus 10 mais. Entre os 20, com certeza.
Resslvemos as interpretaççoes de Wayne e Cliff, assim como a direção sempre segura de Hawk’s.
É um filme pára se ver. Muito bom.
Jurandir Lima
Absurdamente um dos grandes filmes da história do gênero. O termo da Kael, “ópera a cavalo”, não poderia ser mais correto, e poucas vezes alguém fez tão bem a alusão a alguns alicerces da marcha para o oeste e do próprio gênero. Acho que o Hawks, inclusive, nunca mais conseguiu criar fotogramas tão belos como em Red River. Wayne, a bem da verdade, está muito mais à vontade aqui do que em outros filmes em que ele se relaciona com mulheres com diálogos sofríveis. O próprio Rio Bravo é um exemplo de uma relação completamente inodora, que no entanto não diminui em nada o filme.
Fabio, muito obrigado pelo seu comentário. É uma maravilha ter aqui outras opiniões, muitas vezes completamente diferentes das minhas, como a sua e do Jurandir – este site fica muito rico com elas.
Um abraço.
Sérgio
Nunca fui muito fã de Westerns, mas adorei esse, aliás se tornou um dos meus filmes favoritos. Outros Westers que eu gosto são Stagecoach, ( Nos tempos da Diligêcia de John Ford; High Noon), (Matar ou Morrer de Fred Zinnemann) e Sahne, ( Os brutos também amam, de George Stevens). Acho o Rio Vermelho belo e sensível e ainda tem humor. Adoro Howard Hawks, um diretor muito subestimado. Que pena que você não gostou, mas gosto é que nem nariz cada um tem o seu.
Gosto muito do seu blog, é muito gostoso de ler. Parabéns!