3.0 out of 5.0 stars
Anotação em 2001 e 2008, com complemento em 2009: Eis aí um filme interessante. Tem uma atmosfera, mais que noir, dark – lúgubre, pessimista, densa, pesada, uma dessas visões bem de esquerda inglesa sobre as hipocrisias da sociedade, em especial das classes altas. Os atores às vezes são meio exagerados, é verdade. Mas a idéia da qual se parte é que é fantástica, nesse terreno já tão explorado que é a gênese da genialidade do personagem Sherlock Holmes – afinal, já teve até uma aventura juvenil produzida pelo Spielberg em 1985, O Enigma da Pirâmide/Young Sherlock Holmes.
O que temos aqui é uma visão da adolescência de Arthur Conan Doyle (Robin Laing) e a fase da vida dele em que começa a aprender medicina em uma faculdade escocesa. Lá ele conhece um mestre muito à frente de seu tempo, o doutor Bell (Ian Richardson), que faz deduções a partir de dados da realidade que só ele consegue perceber. O doutor Bell – a gente vai vendo – é a pessoa real que inspiraria Conan Doyle, adulto, a criar o personagem que lhe daria uma tremenda, descomunal fama, e acabaria por infernizar sua vida.
Muito tempo depois de assistir a o filme, vi que este foi o primeiro de uma série de filmes feitos pela TV inglesa com estes personagens – o doutor Bell e o jovem Arthur Conan Doyle, entre 2000 e 2001, com títulos originais que começam sempre com Murder Rooms, e sempre com os mesmos atores.
O ator que faz o doutor Bell, o escocês Ian Richardson (1934-2007) é tido como um dos maiores do teatro inglês do século XX, de estatura comparável à de Laurence Olivier, John Gielgud ou Ralph Richardson, embora sem a fama internacional que esses aí tiveram. O cara é tão importante que Helen Mirren dedicou a ele o Bafta que recebeu por sua atuação como Elizabeth II em A Rainha, de 2006. No cinema e na TV, Sherlock Holmes parece ter perseguido o grande ator: em 1983, ele trabalhou numa versão de O Cão dos Baskervilles.
Foi também muito tempo depois de ver o filme que fiquei sabendo que o doutor Bell realmente existiu; o personagem deste filme e da série foi, então, de fato inspirado em um personagem real. O jovem Arthur Conan Doyle estudou Medicina em Edimburgo de 1876 a 1881. Um de seus professores foi o dr. Joseph Bell, “cujas observações e deduções médicas assombravam seus colegas e impressionavam os jovens estudantes. Bell tinha 39 anos quando Conan Doyle começou a freqüentar suas preleções”, escreveu Leslie S. Klinger, um dedicado sherlockólogo, autor da Edição Definitiva – Comentada e Ilustrada dos textos de Conan Doyle em que aparece a figura do detetive, lançada em 2005 e publicada no Brasil pela Jorge Zahar Editor.
Diz o estudioso de Sherlock Holmes:
“Prestes a terminar o segundo ano, (Conan Doyle) foi escolhido por Bell para lhe servir de assistente em sua enfermaria. Isso lhe deu a oportunidade de observar a notável habilidade do médico em fazer rapidamente muitas deduções sobe os pacientes.”
Eis então algumas datas: até 1881, Conan Doyle fez o curso de Medicina; em 1887, foi publicado Um Estudo em Vermelho, a primeira novela com o personagem Sherloch Holmes; em 1890, saiu o Signo dos Quatro; em 1892, Conan Doyle enviou uma carta a Joseph Bell em que dizia:
“É sem dúvida ao senhor que devo Sherlock Holmes, e embora nas histórias eu tenha a vantagem de poder inserir (o detetive) em toda sorte de situação dramática, penso que o trabalho analítico que ele executa não é de maneira nenhuma um exagero de alguns efeitos que o vi produzir no ambulatório. Em torno do centro de dedução, inferência e observação que eu o ouvi inculcar, tentei construir um homem que levasse a coisa tão longe quanto possível – ocasionalmente, ainda mais…”
Sherlock Holmes – Como Tudo Começou/Murder Rooms: The Dark Beginnings of Sherlock Holmes
De Paul Seed, Inglaterra, 1999. Feito para a TV.
Com Robin Laing, Ian Richardson, Dolly Wells, Sean MacGinley, Alec Newman
Argumento e roteiro David Pirie
Cor, 102 min.
Gostaria de saber o nome da mãe de Sherlock Holmes e seu local de nascimento.
Muito grato
Hausen
Emque cidade da Europa nasceu Mama Holmes?
Carlos, não sou um especialista em Sherlock Holmes. Mas dei uma ollhada na melhor edição das obras de Conan Doyle de que tenho conhecimento, citada aí em cima no meu comentário, e achei a seguinte afirmação do autor, Leslie S. Klinger: “Nada se sabe sobre seus primeiros anos e ele mesmo mostra extraordinária reticência acerca de seus pais e sua infância”.
Recebi do Carlos Hausen a seguinte mensagem:
Olá Sérgio,
Parece que neste ponto eu conheço mais um pouco.
O pai de Sherlock Holmes chamava-se Siger Holmes e sua mãe chamava-se Violet (Vermet)
Sherrinford e sua avó era irmã de um poeta francês, Vermet donde se deduz que por sua mãe (de Violet) ser francesa ela também o era. Eu só queria ter certeza.
Como vês são sempre deduções conclusivas.
Um abraço,
Carlos Henrique Hausen
olá.
alguém poderia me informar como consigo a legenda em português para os filmes dessa série?
obrigado