2.5 out of 5.0 stars
Anotação em 2000, com complemento em 2008: Este filme aqui, assim como o que por coincidência vi dois dias atrás, Natal em Julho, são perfeitos exemplares de um tipo de cinema americano que se fazia na Grande Depressão – Frank Capra, que eu sempre conheci, mais esse Preston Sturges e esse Mitchell Leisen faziam estes fantásticos filmes mostrando o abismo social, os muito pobres e os riquérrimos, os ambientes de extremo luxo, o glamour que as pessoas buscavam na vida e só encontravam no cinema; o escapismo da miséria via sonho, já que na tela tudo é possível, a Cinderela existe ali na esquina. Claro que Capra tem mais camadas, mas esses dois senhores iam na cola dele, também.
Que fascinante material para estudo essas comédias do cinema americano na Grande Depressão. E é impossível não lembrar que Woody Allen fez a grande homenagem a esse tipo de cinema no maravilhoso A Rosa Púrpura do Cairo.
Edward Arnold trabalhou em muitos filmes do Capra – em vários deles, fazia o papel do milionário insensível, egoísta, mas que no final a pedra de gelo se desfazia e dava lugar ao coração, se convertia ao humanismo believer do diretor. Jean Arthur também era useira e vezeira atriz capriana: está em O Galante Mr. Deeds/Mr. Deeds Goes to Town, Do Mundo Nada Se Leva/You Can’t Take it With You, A Mulher Faz o Homem/Mr. Smith Goes to Washington.
Neste filme aqui, Edward Arnold faz o papel do ricaço (mais uma vez…) que, de saco cheio dos gastos absurdos de sua família, joga pela janela o casaco de pele caríssimo que a mulher tinha acabado de comprar. O casaco vai cair em cima de uma moça pobre que está passando bela rua, Mary Smith – e que beleza a obviedade do nome do personagem; faz lembrar o John Doe de outro filme de Capra, Meu Adorável Vagabundo – Maria da Silva, João da Silva, Zé Ninguém, Zé Povinho. Mary Smith, é claro, é o personagem de Jean Arthur.
Garota de Sorte/Easy Living
De Mitchel Leisen, EUA, 1937.
Com Jean Arthur, Edward Arnold, Ray Milland
Roteiro Preston Sturges
Baseado em história de Vera Caspary
P&B, 88 min.
Assisti esse filme hoje. Que fofura! Descobri que Arnold podia convencer tanto como mau caráter – Adorável Vagabundo, A Mulher Faz o Homem – como quanto ricaço ríspido mas com um fundo de bom coração – como em Dançando com o diabo, Do Mundo Nada se Leva e neste Garota de Sorte. Jean Arthur: ver e rever filmes com ela me fizeram sua admiradora. Ah, os atores e atrizes antigos… eles “tinham alguma coisa”.