3.0 out of 5.0 stars
Anotação em 1999: É interessante que o diretor George Roy Hill – mais conhecido por filmes alegres, divertidos, como Golpe de Mestre e Butch Cassidy – seja o autor deste filme denso, pesadíssimo, baseado no livro de Kurt Vonnegut Jr.
Bem para o final do filme, o personagem central, Billy Pilgrim, já velho, diz, referindo-se ao planeta que ele inventou e onde vive em paz com seu grande amor imaginário, uma antiga estrela sem grande importância de Hollywood: “Em Tralfamadore, você aprende que o mundo é só uma coleção de momentos reunidos em uma bela ordem aleatória. Se vamos sobreviver, devemos nos concentrar nos momentos bons e ignorar os ruins”.
Eu já tinha ouvido falar do filme, mas não tinha idéia do que se tratava – ou, se já soube alguma coisa, não me lembrava mais. A revista da Net diz que ganhou prêmio em Cannes; nota em um dos livros de Vonnegut confirma que ele ganhou um prêmio especial em Cannes 1972. Gostei muito – e sinto que vou gostar ainda mais numa revisão.
É uma visão extremamente cruel da falta de sentido da guerra, e de como as memórias dos horrores dela – em especial as de Dresden destruída pelas bombas dos aliados na Segunda Guerra Mundial – vão permeando para sempre a vida do personagem. Não tenho idéia de como é a estrutura do livro do Vennegut, mas o filme segue a descrição feita por Billy Pilgrim – uma coleção de momentos reunidos em uma bela ordem aleatória. Ele alterna – numa ordem só aparentemente aleatória, é claro, na verdade uma ordem cuidadosamente estudada – diversos momentos da vida do personagem: antes da guerra, durante, logo depois, muito depois, suas visões do planeta Tralfamadore.
As idas e vindas no tempo são absolutamente constantes, toda a narrativa é uma colcha de pequenos retalhos de épocas diferentes. É, possivelmente, o filme americano mais descosturado, em termos de ordem cronológica – me lembrei até do Ano Passado em Marienbad, de Alain Resnais, a maior expressão de descostura do tempo da história do cinema, se não estou enganado.
A costura dessa descostura no roteiro e na montagem é brilhante, feita de paralelos, de situações por algum motivo análogas. Um belíssimo trabalho de roteiro e de montagem.
Ah, sim, uma curiosidade: na apresentação aparece – Música Glenn Gould. Fica parecendo que o grande pianista é o compositor. Todas as obras executadas no filme por Gould são de Bach – é a especialidade dele.
Matadouro 5/Slaughterhouse-Five
De George Roy Hill, EUA, 1972.
Com Michael Sacks, Ron Leibman, Eugene Roche, Sharon Gans, Valerie Perrine
Roteiro Stephen Geller
Baseado no livro de Kurt Vonnegut Jr.
Música J. S. Bach, por Glenn Gould
Cor, 104 min.
O livro fala de linhas do tempo, tudo acontece, e aconteceu e está acontecendo a todo instante, por isso a ordem aleatória, pois Pilgrim, fica viajando pela sua própria vida. Leiam o livro, rápido de ler, além de muito bom!