3.0 out of 5.0 stars
Anotação em 1998: Gary Oldman é um ótimo ator, mas chegado a um exagero. Não poderia haver melhor ator para fazer o Drácula de Coppola, todo over, todo barroco, todo operístico. Só ele poderia fazer tão bem como fez o tira corrupto de Romeo Is Bleeding – e o espectador não perceber que é ele na primeira tomada, tão diferente sua cara fica do que se segue, ou, no caso, o que veio antes. É um ator de mil caras – o contrário de um Robin Williams ou um Jack Nicholson, que são sempre eles mesmos.
A veia exagerada de Gary Oldman é clara em seu primeiro filme como diretor, este Nil By Mouth. É um filme exageradamente anti-Hollywood, anti-glamour, anti-entretenimento. É exageradamente porrada no espectador. Os pobres personagens – um bando de pessoas da working class da periferia de Londres – exageram na infelicidade, exageram nas drogas e no álcool, exageram nos palavrões, exageram nos gritos, exageram na violência.
É um filme difícil de se ver, porque é uma experiência dolorosa demais, não há – a não ser bem no finalzinho – um segundo de descanso, é só porrada, infelicidade, violência, drogas, álcool, safadeza, palavrão. Em toda a primeira metade do filme – que é longo, 128 minutos – praticamente todas as tomadas são em câmara de mão, montagem rápida, cortes rápidos. Ninguém tem um minuto de felicidade – a não ser bem no fim, na penúltima seqüência, um breve momento de descanso quando a maior parte dos personagens vai a um bar e estão todos alegres, não estão se embebando e cheirando e falando palavrão sem parar, e a avó até canta.
Ao final, há a dedicatória: Em memória do meu pai.
Oldman diz, com a sua forma over e nada, mas nada, nada sutil, que a vida de pobre no seu país segue o mesmo círculo viciado: pai bêbado e violento, quando não assassino ou ladrão, filho carente que se torna pai bêbado e violento, quando não assassino ou ladrão; e mães abusadas, de uma forma dura (dupla jornada, toda a responsabilidade de casa, nenhuma ajuda ou conforto do marido) ou de uma forma ainda mais hard (tudo o anterior e mais porrada, muita porrada).
Os atores que fazem o casal central são extraordinários, dentro de um elenco totalmente irrepreensível. Ray (Ray Winstone) é filho de alcoólatra e mãe submissa; já esteve preso, se droga e bebe direto e reto, e bate na mulher, Val (Kathy Burke). Val é filha de pai assassino e irmã de ladrão, drogado e traficante. Essa Kathy Burke é um assombro de atriz.
Esquisito: material promocional diz que a atriz ganhou Cannes 1998. Mas a Première Special Cannes não traz o filme.
O IMDB confirma: Kathy Burke ganhou o prêmio de Melhor Atriz em Cannes por este filme.
Violento e Profano/Nil by Mouth
De Gary Oldman, Inglaterra, 1998.
Com Ray Winstone, Kathy Burke, Charlie Creed-Miles, Laila Morse, Edna Dore.
Argumento e roteiro Gary Oldman
Produção Luc Besson, Doulgas Urbanski e Gary Oldman
Fotografia Ron Fortunato
Música Eric Clapton
Cor, 128 min
boa tarde, gostaria de saber onde consigo comprar estes filmes:
Nil by mouth “violento e profano”.
las nueve reinas “as nove rainhas”.
irreversivel.
Att,
Jorge.