Um Skinhead no Divã / Tala! Det är så mörkt


3.5 out of 5.0 stars

Anotação em 1998, com complemento em 2008: A idéia de onde se parte é brilhante, aterrorizadora – e ela torna dificílimo para a diretora sueca Suzane Osten sair do buraco que ela própria cria: um psiquiatra judeu (Simon Norrthon) atende a um garoto neonazista (Etienne Glaser), na Europa de hoje, em que tantos jovens são atraídos pelo neonazismo e agridem estrangeiros, negros, homossexuais.

Na primeira cena, um grupo de skinheads está espancando um homem; dentro de um trem, um senhor acompanha a cena brutal; em seguida, um dos skinheads entra no mesmo vagão do trem; escorre sangue de sua testa. O senhor diz que pode ajudá-lo, pois é médico, oferece a ele uma gaze para estancar o sangue, e entrega um cartão.

Alguns dias depois, o rapaz procura o psiquiatra. E inicia-se aí uma relação penosa, difícil, tensa. Muitas vezes, ao longo do tratamento, o neonazista agride e ofende o psiquiatra judeu. Ao mesmo tempo, no entanto, ele não consegue deixar de tornar a procurá-lo. Os problemas psicológicos e afetivos dele são fortes demais, e de alguma forma obtusa, não consciente, ele percebe que o tratamento está fazendo bem a ele, ou pode vir a fazer.

Para o psiquiatra, é seu dever tratar o rapaz, e pronto, não há o que discutir. Em alguns momentos ele tem medo de que o jovem possa fazer algo violento contra ele, mas tenta se controlar. Só mais para o fim do filme, quando o neonazista contesta que alguém tenha sido morto em Auschwitz – o pai e uma irmã do médico foram assassinados lá – é que o psiquiatra entra em pânico, em parafuso, achando que não vai mais conseguir suportar a barra pesada, louca, maluca.

O filme vai se encaminhando para mostrar que o rapaz teve problemas sérios de abuso por parte do pai, na infância – ou seja: a opção pelo neonazismo seria o resultado de um trauma de infância. Mas, propositadamente, a diretora opta por não chegar a um final da história, uma saída para o impasse daquele encontro de personagens antagônicos, opostos, antípodas; ela deixa em aberto o que vai acontecer com o rapaz.

Os dois atores são especialmente talentosos. O que faz o médico tem uma atuação controlada, medida, como seria de se esperar; o ator que faz o jovem – um quase psicopata, sempre à beira de uma reação de violência física, sempre com respiração ofegante, os olhos esbugalhados, atormentado por demônios internos que o psiquiatra puxa para fora – dá um belíssimo show.

A diretora Suzanne Osten domina bem o ofício. Além de contar com dois atores excelentes e um tema fascinante, domina bem a narrativa. Vai, cada vez mais, num crescendo, colocando alguns planos fora da ordem cronológica. Isso dá um ritmo interessante, forte, inquieto, à narrativa, e realçando que vai ficando iminente o momento de o rapaz enfrentar os traumas do passado.

Só mais de um ano depois, em abril de 1999, eu ficaria sabendo da existência de um filme dos anos 60 que antecipa esse tema. Chama-se Tormentos d’Alma/Pressure Point, é de um diretor que eu não conhecia, Hubert Cornfield, e foi feito em 1962. Nele, Sidney Poitier interpreta um psiquiatra que, nos anos da Depressão, trata de um jovem racista, emocionalmente perturbado, com instintos agressivos, que vira nazista. O jovem é interpretado por Bobby Darin, mais cantor e showman do que ator, em um de seus, que eu saiba, pouquíssimos papéis dramáticos.

Um Skinhead no Divã/Tala! Det är så mörkt

De Suzanne Osten, Suécia, 1993.

Com Simon Norrthon (Jacob, o psiquiatra judeu), Etienne Glaser (Soren, o neonazista)

Argumento e roteiro Niklas Rådström

Cor, 83 min

***1/2

2 Comentários para “Um Skinhead no Divã / Tala! Det är så mörkt”

  1. filme brilhante, nota 10, pela narrativa e tb pela atuação dos personagens principais

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