Não Esqueça que Você Vai Morrer / N’Oublie pas que Tu Vas Mourir


Nota: ½☆☆☆

Anotação em 1997: Ganhou Grande Prêmio do Júri e o Prêmio Jean Vigo em Cannes em 1995. Talvez eu esteja ficando velho e careta; talvez se eu visse, digamos, Easy Rider hoje pela primeira, e não aos 18 anos, tivesse detestado. Mas achei o filme pretensioso e chato. Muito pretensioso e muito chato. Nada transmite sinceridade, honestidade; tudo é artificial, gratuito. A narrativa pretende chocar (muita cena de sexo, droga e autodestruição), mas para mim só transmitiu distanciamento e falta de emoção.

A história é descosturada, desleixadamente descosturada. Pretende ser um tributo ao romantismo do século XIX, aos atos extremados, ao entregar-se a todos os tipos de emoção e prazer já que a vida é curta e o personagem principal está condenado à morte. Mas não passa de uma história descosturada, desleixada, pretensiosa e chata.

Benoit, o personagem principal, interpretado pelo jovem diretor, é estudante de História da Arte, filho de pequenos burgueses de Paris. Todas as opções que faz na vida são as mais erradas, as mais autodestrutivas. Na primeira cena, está conversando com um grupo de amigos, tudo gente normal, nada desajustada – recebeu a convocação para o serviço militar (não sei como, aos 30 e tantos anos de idade) e quer fugir dele por qualquer meio possível. Os amigos aconselham que ele se drogue durante uma semana antes de se apresentar. Ele consulta um psiquiatra, que o desaconselha de se drogar porque o psiquiatra do Exército desconfiaria; prescreve bolinhas, muitas bolinhas que o deixariam num estado meio hipnótico.

Os pais lembram que ele, devido aos estudos, pode optar pela escola de oficiais. Mas ele ignora isso. Vai para o Exército mesmo. Mente na ficha inicial que é toxicômano e homossexual. Corta a veia do braço – não se sabe se para se matar mesmo ou para atrair a atenção, para se livrar do serviço militar. Fazem exame de sangue, e o médico militar diz que tem uma notícia para ele. O espectador não ouve o diagnóstico de que ele é soropositivo – só vê a cena seguinte, em que ele vomita num bidê gritando “não”.

Isso do parágrafo acima dura os primeiros 10, 15 minutos do filme. Nos intermináveis 100 minutos seguintes, nosso herói vai se encher de bolinhas, desmaiar num museu e ir parar na prisão, onde conhece um traficante, um imigrante árabe, Oman; a partir daí, vai se drogar com heroína e cocaína; vai traficar drogas; depois vai, lúcido de repente durante alguns dias, viajar para Roma, onde de cara conhece uma jovem de beleza de deusa (Chiara Mastroianni), que se apaixona por ele; mas, depois de alguns dias de belo romance, de repente ele se percebe precisando de droga de novo; e de repente, sem que nem por que, está na guerra dos Bálcãs, onde finalmente, para alívio do espectador, leva um tiro e morre.

Argh.

For the record: a música, de John Cale, ex-parceiro de Lou Reed no Velvet Underground, com peças eruditas incrustradas, é muito boa – belos solos de piano. E é só. A fotografia me pareceu desleixada. A câmara é estática, inerte, bobona.

A capinha da fita traz um erro logo de cara: “Uma viagem autodestrutiva freada pelo amor”. Não foi freada pelo amor, conforme foi dito acima. E apela: “Versão original sem cortes. Cenas fortes e sexo explícito”.

Não esqueça que você vai morrer/N’oublie pas que tu vas mourir

De Xavier Beauvois, França, 1995.

Com Xavier Beauvois, Chiara Mastroianni, Roschdy Zem, Bulle Ogier, Jean-Louis Richard, Jean Douchet, Emmanuel Salinger

Roteiro Xavier Beauvois, Anne-Marie Sauzeau, Emmanuel Salinger e Zoubir Tligui

Música John Cale

Cor, 118 min

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