Entre o Inferno e o Profundo Mar Azul / Between the Devil and the Deep Blue Sea


[Rating:2.5]

Anotação em 1997: O filme é sensível, sobre o encontro de um homem infeliz, inteiramente perdido na vida, com uma garotinha pobre, mendiga, criada no lumpen, e no entanto cheia de força, fé e esperança. Ele é um marinheiro, num navio que chega a Hong Kong; ela se oferece para trabalhar em navios em troca de dinheiro e comida.

Todo o pano de fundo da vida da garota é mostrado: ela vive com os avós, num barquinho, como milhares de pobres ali; o pai abandonou a família, ficou cego, vive numa espécie de asilo; a mãe abandonou a família, trabalha numa fábrica têxtil miserável, é casada com um canalha. Dele, o personagem central, interpretado pelo sempre bom Stephen Rea, mostra-se muito pouco. Tem uma mulher na Bélgica, que ficou grávida quando ele já estava viajando; por algum motivo, ele parou de escrever para ela; é viciado em ópio e absolutamente desperançado, um trapo, um sobrevivente, apenas, quase um vegetal. O encontro com a menininha o redime, e ele resolve voltar para a Bélgica.

É sensível, sim, mas é um tanto arrastado. Poderia durar meia hora menos. A coisa de não se mostrar a origem da tristeza dele – talvez para tornar a perdição dele, a dor dele universal, e não particular – incomoda, no entanto.

Brilhante mesmo é apenas a música, fantástica, que os imbecis classificariam como world, ou new age; o autor chama-se Wim Mertens.

Entre o Inferno e o Profundo Mar Azul/Between the Devil and the Deep Blue Sea

De Marion Hansel, Inglaterra-França-Bélgica, 1995.

Com Stephen Rea, Ling Chu

Cor, 92 min.

3 Comentários para “Entre o Inferno e o Profundo Mar Azul / Between the Devil and the Deep Blue Sea”

  1. Realmente, esse filme não é um dos que agrada a maioria das pessoas acostumadas ao estilo norteamericano… Ele é mais profundo…. mais lento.. no estilo europeu. Por outro lado lado, ele mostra como a convivência com certas pessoas pode ser tão significativa na vida de outras, a ponto de tirá-las de um transe negativo absurdo, do fundo do poço, como o do marinheiro do filme.

  2. Recentemente assisti o filme e me encantei…há no silêncio e mistério da verdadeira origem da tristeza do marinheiro…algo intrigante que se mistura a seu drifting de pensamento derivado ao uso do ópio! Tem algo especial e único neste filme…do sublime olhar da menina que encontra a beleza nas coisas mais simples e cotidianas…até à sublimação poética com que encara de forma responsável e adulta seu mofo de sobrevivência! Para bons observadores este contato social delicado e afetivo…é de uma ternura curativa.
    Me lembrou de certo modo o filme” Alice nas Cidades” de Win Wenders…mas cheio de um olhar ainda mais silencioso, poético e intimista. ACHEI UMA OBRA PRIMA DE DELICADEZA E BOM GOSTO!!!!

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