[Rating:1.5]
Anotação em 1997: Nanni Moretti ganhou o prêmio de melhor direção em Cannes 1994 por este filme. Bem, o filme, que me tinha sido tão especialmente recomendado, bem o filme, não sei, não. É uma coisa minimalista. Mínimo de história, mínimo de situações, mínimo de piadas, mínimo de gente envolvida – Moretti escreveu, atuou, dirigiu. Em minimalismo, prefiro o Jarmusch de Downbylaw.
Tem uma câmara que não pára nunca; o trabalho de câmara, especialmente no primeiro dos três capítulos em que o filme se divide, no qual o autor-ator-diretor passeia de Vespa por Roma, é excepcional.
E, sim, tem um tom de irreverência, de crítica, quase de aberto anarquismo; um jeito de ser que vai contra a corrente, qualquer corrente, que tem fascínio.
E, no primeiro episódio, tem I’m your man com Leonard Cohen e o trecho ápice do Köhl Concert do Keith Jarrett.
Mas é o que tem.
O primeiro episódio chama-se Na Vespa; é o tal em que o autor-ator-diretor passeia de Vespa por Roma. Mostra diversos bairros, focaliza as casas, os prédios. Critica um filme italiano em que as pessoas de meia idade, entediadas, se lamentam por terem virado profissionais, burgueses, chatos; Moretti protesta contra o diálogo dizendo que ele tem 40 anos e está ótimo. Não há menção nos créditos a que filme seja este. Depois critica um filme americano de 1986, só lançado em 1990, chamado Henry: Portrait of a serial killer, que, segundo vejo no Cinemania, causou muita polêmica nos EUA pelo realismo cru. E critica violentamente os críticos que falaram bem do filme. Em seguida, Moretti vê uma série de recortes de jornais e revistas sobre o assassinato de Pasolini (é aí que Keith Jarrett começa a tocar); diz a frase: “Eu nunca tinha ido ao lugar em que Pasolini foi assassinado”; e a câmara vai seguindo a Vespa dele enquanto ele, sempre ao som do Köhl Concert, vai até o lugar em que Pasolini foi assassinado– que, por coincidência, eu vi há poucos dias, no filme Um Delito Italiano.
Não sei o que ele quis dizer com esse episódio.
Com o segundo e o terceiro, eu sei: ele não quis dizer muita coisa. Quis dizer quase nada.
O segundo chama-se Ilhas, e mostra quatro ilhas italianas. Tem umas três piadinhas, contadas de forma tão lenta que a gente fica com preguiça. Numa das ilhas, por exemplo, só há filhos únicos – e tome dez minutos para ouvir uma piada de uma nota só, a de que filho único é pentelho. De uma outra ilha, para onde Moretti vai com um amigo à procura de sossego, o amigo foge correndo porque lá não há TV.
O terceiro episódio, chamado Médicos, também é de uma piada só: os médicos não sabem o que fazem. Moretti tem coceira, vai a trocentos médicos, de todos os tipos, e nenhum resolve nada.
Sim, mas – e daí?
Caro Diário/Caro Diario
De Nanni Moretti, Itália-França, 1993.
Com Nanni Moretti, Renato Carpentieri, Antonio Neiwiller
Argumento e roteiro Nanni Moretti
Cor, 100 min.
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