Para Gillian no seu Aniversário / To Gillian on ther 37th Birthday


Nota: ★★☆☆

Anotação em 1999: O filme é piegas, meio escancaradamente babaca, de um romantismo exasperado, exagerado, sentimental. Além disso, padece de um problema sério: embora o resto do elenco seja correto, incluindo a bela Michelle Pfeiffer, o tal do Peter Gallagher é muito ruim demais da conta. Mas, apesar desses senões, o filme tem suas qualidades.

Em primeiro lugar, trata de um tema sério – a perda, em circunstâncias trágicas, do grande amor da vida. Da dificuldade de enfrentar a perda, da vontade de preferir convivendo com o fantasma da morta do que tocar a vida pra frente. (Nisso, ele lembra o carinho com que trata esse assunto o belo e não reconhecido Além da Eternidade/Always, do Spielberg.) E a partir daí trata de outros temas sérios, a disputa pela guarda da filha entre o pai viúvo e a tia, o fracasso de um casamento, o da irmã da morta, que o casal é obrigado a enfrentar no fim de semana em que se passa a ação. E isso mesmo, o fato de a ação se passar toda em um único fim de semana que acaba se tornando decisivo para aquelas pessoas, a concentração das emoções e conflitos e brigas e descobertas e desafios em um único fim de semana, num único lugar, é interessante, é uma das grandes fórmulas narrativas do teatrão e que o cinemão volta e meia usa.

A sinopse é simples. David (o canastrão Gallagher) tem um casamento de sonho por 18 anos com a estonteante e alegre Gillian (Michelle Pfeifer, mais diáfana que nunca). No dia dos 35 de Gillian, estão todos passeando de barco (ela, ele, a filha linda, a irmã dela e o marido), junto à bela ilha de Nantucket, Massachusetts, e ela morre tragicamente. Resolve subir no mastro principal, rindo, alegre, lindíssima, radiante; “é meu aniversário, quero me divertir”, ela diz; “oh, que beleza”, ela diz; bate um vento forte, o mastro quebra, ela cai.

Isso é mostrado em rapidíssimo flashback, quando estamos com oito minutos de filme. A ação se passa exatamente dois anos depois, no dia em que Gillian faria 37 anos de idade. É 6 de setembro, Dia do Trabalho, feriado nacional.

Nesse feriado do ano em que se passa a ação, a cunhada Esther e seu marido Paul resolvem levar para a ilha onde mora David uma amiga bonita e divorciada. A idéia foi de Esther; Paul não concordava, mas não tentou discutir com a mulher. (Veremos que na verdade eles não são nunca francos um com o outro; mas serão, naquele fim de semana de feriado; farão uma avaliação negra, amarga, pesada, de seu próprio casamento.)

Todos eles perderam Gillian, dois anos antes. Mas foram em frente; sofreram, mas foram em frente. David, não. David abandonou o trabalho, ficou morando na ilha; não faz nada produtivo – conforme cobra no primeiro jantar a cunhada pentelha. Vê o fantasma da mulher toda noite, conversa com ele.

Num diálogo fortíssimo, lá para o fim do filme, Paul dirá para Esther algo como: “Você quer enfrentar a verdade? A verdade é que toda noite esse cara sai para a praia e dança com um fantasma e é feliz, e nós invejamos a felicidade dele porque nunca tivemos tanta felicidade na vida”.

Esther entende que faz mal para Rachel, a filha de Paul, viver com o pai; quer a guarda da menina; num primeiro momento, quando ela diz isso, no primeiro jantar com todos reunidos, o pai simplesmente pergunta pra filha o que ela quer e ela diz que quer viver com ele. Mas Esther está disposta a ir à Justiça, provar que ele está maluco e tirar a guarda da garota.

Os diálogos entre Paul e o fantasma, a diáfana e deslumbrante Michelle Pfeiffer, são ao mesmo tempo a coisa mais piegas do século e um carinhoso elogio ao amor e à necessidade que todos temos de um dia lutar para sobreviver a ele, quando ele morre e o mundo acaba.

Para Gillian no seu Aniversário/To Gillian on her 37th birthday

De Michael Pressman, EUA, 1996.

Com Peter Gallagher (David Lewis), Claire Danes (Rachel Lewis, a filha), Michelle Pfeiffer (Gillian Lewis), Kathy Baker (Esther Wheeler, irmã de Gillian), Bruce Altman (Paul Wheeler, marido de Esther), Wendy Crewson (Kevin Dollof, amiga de Esther), Laurie Fortier (Cindy, a amiga ninfeta de Rachel)

Roteiro David E. Kelley

Baseado na peça de Michael Brady

Música James Horner

Cor, 93 min

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