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Resenha na coluna O Melhor do DVD, no site estadao.com.br, em 2000: Erin Brockovich, o personagem central do mais recente filme de Steven Soderbergh, é uma mulher que foge do padrão. Tem algumas características que a diferenciam do convencional; é o oposto da pessoa formal. Extremamente desbocada, fala tanto palavrão quanto um personagem de Quentin Tarantino ou um estivador, seja em que ocasião for. E se veste de forma ousada, agressiva, que muita gente chamaria de vulgar; usa saltos altíssimos, minissaias curtíssimas, e blusas sempre apertadas, justíssimas, decotadas, parecendo que os seios grandes não cabem ali e a qualquer momento vão saltar para fora.
Claro, não é por isso que se fez um filme sobre a vida dela. Erin Brockovich, três filhos para criar, dois divórcios, pouca ajuda dos ex-maridos e muita dificuldade para arranjar um emprego, é uma mulher comum, como milhares de outras, sem diploma universitário, profissão ou uma especialidade funcional qualquer – a não ser uma dose aparentemente infinita de perseverança, tenacidade, disposição, força de vontade. Graças a isso, fez com que um advogado de um escritório modesto de Los Angeles enfrentasse na Justiça, representando um grupo de 600 e tantas pessoas humildes, uma gigantesca corporação de US$ 28 bilhões. É uma daquelas pessoas que fazem a História avançar.
Em entrevista numa das muitas apresentações especiais do DVD, a verdadeira Erin diz esperar que o filme passe esta mensagem: a certeza de que não existe desculpa para o mal (à saúde das pessoas, ao ambiente) que algumas grandes corporações fazem.
A mensagem que o diretor Soderbergh quer passar é mais explícita do que a frase de Erin – e uma das felizmente mais recorrentes do bom cinema americano: a de que pessoas simples, humildes, sem poder, podem, e mais que isso, devem, têm o dever de enfrentar os Golias, os gigantes, o sistema corrompido e, em especial, o que para elas é a própria personificação do mal – as corporações bilionárias.
E, nisso, Soderbergh faz um filme na linhagem nobre de tantas belas obras, como Silkwood – o Retrato de uma Coragem, de Mike Nichols, Julgamento Final, de Michael Apted, A Qualquer Preço, de Steven Zaillian, para ficar só em alguns exemplos de temática bem próxima.
Por baixo dessa grande mensagem, Soderbergh quer passar outra, menor, talvez, mas na verdade tão fundamental quanto – e foi por isso que este comentário começou falando de palavrões e roupa: a de que é um total absurdo o julgamento que tantas pessoas fazem sobre os outros a partir de aparências externas, a partir de tipos de comportamento que se afastam do que é tradicionalmente aceito pela sociedade. Não é por aí que se medem caráter, estofo, importância, seriedade, sequer responsabilidade – ao contrário do que pensam e fazem tantas pessoas.
Tanto o filme em si quanto as apresentações especiais do DVD dão muita ênfase a esse estilo pouco convencional de Erin. A produtora executiva Carla Santos Shamberg descreve em detalhes a roupa espalhafatosa que a futura filmebiografada vestia quando se encontraram para começar a discutir o filme que viria a ser feito. O verdadeiro advogado Ed Masry, o patrão de Erin (interpretado no filme pelo grande Albert Finney), comenta, brincalhão, o memorando interno da firma proibindo saias mais curtas do que quatro polegadas acima do joelho – e o dia em que uma secretária levou para ele uma régua para verificar que a saia de Erin ultrapassava o limite.
A Erin verdadeira (a da foto) – como se pode ver no próprio filme, em que ela faz uma ponta, e nas entrevistas nos bônus do DVD – é uma mulher bonitona, atraente, grande, de gestos largos, uma presença forte, marcante. O diretor Soderbergh, vindo do cinema independente (em que estreou com sexo, mentiras e videotape, de 1989) para fazer blockbuster com alma, conta, candidamente, no making of, que quando foi chamado para dirigir, o projeto já estava andando e Julia Roberts, a estrela número 1 de Hollywood hoje (2000), já era a atriz que interpretaria Erin; e então Soderbergh diz que, se ele pudesse fazer a escolha, seria exatamente Julia Roberts: “Ela tem um carisma, uma energia similar à da verdadeira Erin, a mesma luz nos olhos”.
Seguramente não haveria escolha melhor.
Julia Roberts deixa muito nítido como deve ter sido absolutamente fantástico essa mulher moderna, liberada, pós-revoluções dos 60 e 70 (a comportamental, a sexual, a feminista), falando três palavrões em cada frase, vestida espalhafatosamente, entrando nas polidas, caretíssimas salas de um bilionário escritório de advocacia, ou nos tribunais sisudos, ainda profundamente machistas, lutando contra Golias, a corporação de US$ 28 bilhões, toda a empáfia do mundo concentrada.
Não poderia haver David mais irresistivelmente charmoso.
Erin Brockovich – Uma Mulher de Talento/Erin Brockovich
De Steven Soderbergh, EUA, 2000
Com Julia Roberts, Albert Finney, Aaron Eckhart
Roteiro de Susannah Grant e Richard LaGravanese
Música Thomas Newman
Produção Jersey Films
Cor, 130 min
Estamos precisando urgentemente de trilhões de mulheres como esta Erin Brockovich ela é demais eu mesma gostaria de ser pelo menos 50% como ela amei o filme. Isto sim é uma mulher de talento.
Hoje, 16/7/2021, vou realizar um ‘AO VIVO’ sobre ‘Erin’ e na minha pesquisa cheguei ao seu site. Que feliz encontro! Já o salvei e vou voltar por aqui outras vezes! O filme é um tema encorajador, desejo muito que pessoas se inspirem com ele e, assim, possam enfrentar seus “Golias” que, na maioria das vezes nem é uma organização bilionária, mas, dramas mais pessoais! Julia mereceu o oscar à época! Sérgio, este seu trb tem alguma rede social? Como posso entrar em contato para convidá-lo para um ‘ao vivo’? — Desejo que todos estejam bem!