Doutor Jivago / Doctor Zhivago

Nota: ★★★★

Tudo, absolutamente tudo em Doutor Jivago, tanto o romance de Boris Pasternak escrito entre 1945 e 1955 quanto o filme de David Lean de 1965, é gigantesco, grandioso, impressionante. Como as duas coisas que eles retratam: o grande amor e a Rússia.

Doutor Jivago é um afresco, um painel monumental que se espalha pelas cinco primeiras décadas do século XX, os 50 anos mais violentos, perturbados e perturbadores da História da Rússia, e seguramente de toda a História da humanidade, englobando duas guerras – a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e a guerra civil russa (1917-1923) – e uma revolução, muito provavelmente a mais importante de todas as que já houve, a Revolução Russa de 1917.

A revolução que mudou inteiramente a face do mundo. Que levou à rápida transformação de um país agrário, praticamente feudal, pré-capitalista, em uma das duas superpotências planetárias. A revolução que prometeu o paraíso e entregou os gulags.

A mais apaixonada declaração de amor a um país que jamais foi feita, o romance Doutor Jivago não pôde ser publicado em russo e lida pelos russos. Quando Pasternak submeteu seu original aos órgãos do governo soviéticos, em 1956, foi decretado que o livro “representa de forma difamatória a Revolução de Outubro, as pessoas que a fizeram e a construção social na União Soviética”.

Com o manuscrito contrabandeado para fora da União Soviética, o livro foi primeiramente publicado em italiano, em 1957, pela editora Feltrinelli, de Milão, pertencente a Giangiacomo Feltrinelli – por ironia, ou coincidência, um ex-membro do Partido Comunista Italiano. A primeira edição em língua inglesa saiu em 1958, após a obra ter sido traduzida para 18 outras línguas.

Naquele mesmo ano de 1958, a Academia Sueca concedeu a Boris Leonidovich Pasternak o Prêmio Nobel de Literatura. Pasternak vinha escrevendo livros de poemas desde 1917, e também escrevera memórias, mas sem dúvida foi o romance Doutor Jivago que pesou na decisão da Academia Sueca.

A reação na URSS à escolha de um russo para a mais importante láurea literária do mundo foi a expulsão de Pasternak da associação dos tradutores – tendo sido impedido de publicar seus poemas havia algum tempo, ele ganhava a vida com traduções de Shakespeare, Goethe, os românticos ingleses, Paul Verlaine, Rainer Maria Rilke. Sem poder continuar traduzindo, não teria mais como trabalhar e pagar sua subsistência.

Movimentos pediam sua deportação. Informado de que, se viajasse à Suécia para receber o prêmio, não poderia voltar à Rússia, renunciou ao Nobel, com um telegrama à Academia Sueca: “Devido ao que significa esse prêmio na sociedade em que vivo, eu devo renunciar ao prêmio imerecido que me foi atribuído. Por favor, não se ofendam pela minha recusa voluntária.”

Pasternak morreu apenas dois anos depois, em 1960, aos 70 anos de idade. Cinco anos depois, quando o filme de David Lean foi lançado, o livro continuava proibido na Rússia. Só seria publicado em russo em 1988, durante a glasnost promovida por Mikhail Gorbachev. O filme só seria lançado na Rússia em 1994, depois que a União Soviética havia desabado como um castelo de cartas.

Em 2006, a televisão russa realizaria uma minissérie baseada no romance de Pasternak, com Oleg Menshikov como Yuri Andreevich Jivago e Chulpan Khamatova como Lara, o grande amor de sua vida.

Tinha 6h56.

O filme de David Lean faz o serviço – maravilhosamente – em 3h17.

Seu único “defeito”, se é que essa palavra tão forte pode ser usada, é que aqueles russos todos falam em inglês.

David Lean vinha de Rio Kwai e Lawrence da Arábia

Doutor Jivago é uma co-produção Itália-Inglaterra-EUA. A Itália entrou com o produtor, o mítico Carlo Ponti, um dos maiores produtores europeus do século XX, o sujeito que, além de ser casado com Sophia Loren, botou as mãos em filmes como A Estrada da Vida (1954), de Federico Fellini, Guerra e Paz (1956), de Henry King, O Desprezo (1963), de Jean-Luc Godard, Blow-up (1966), de Michelangelo Antonioni, Os Girassóis da Rússia (1970), de Vittorio De Sica, e Um Dia Muito Especial (1977), de Ettore Scola, para citar só uns pouquíssimos.

Os Estados Unidos entraram com Rod Steiger (na foto abaixo), que faz o papel de Victor Komarovsky, o sujeito esperto, melífluo, que se dava bem nos tempos do czar e consegue se dar bem nos tempos dos camaradas bolcheviques, o amante de Amelia (Adrienne Corri), a mãe de Lara, e que seduz a própria Lara – e com a grana da Metro-Goldwyn-Mayer. Bem, a grana e mais a grife, a cadeia de exibição no maior mercado de cinema do mundo, e um excelente departamento de marketing, que se mostraria extremamente útil.

A Inglaterra entrou com todo o resto. A começar pelo diretor, David Lean, o sujeito que pouco tempo antes havia feito os gigantescos, grandiosos, impressionantes A Ponte do Rio Kwai (1957) e Lawrence da Arábia (1962). O épico sobre a Segunda Guerra Mundial tinha tido oito indicações aos Oscars – e levado sete. O épico sobre os últimos anos do colonialismo inglês no Oriente Médio tivera dez indicações aos Oscars – e levara sete.

Depois de Lawrence da Arábia, David Lean, que estava, naquele início dos anos 60, com 50 e tantos anos, mergulhou na leitura do romance de Boris Pasternak. No começo de 1963, ao saber que Doutor Jivago estava em fase de pré-produção. um ator egípcio que havia interpretado um sheik em Lawrence da Arábia, um tal Omar Sharif, leu também o livro de mais de 600 páginas de densa prosa do poeta russo, à procura de um personagem que pudesse interpretar, e se ofereceu para o agente de Lean para fazer Pasha Antipov, o jovem estudante idealista que namorava Lara na Moscou de meados da segunda década do século XX.

Omar Sharif conta isso no documentário Doutor Jivago: Filmando Um Épico Russo, de 1995, feito para comemorar os 30 anos do lançamento do filmaço. Ele é o narrador do documentário, de 60 minutos de duração, que traz entrevistas com Rod Steiger, Geraldine Chaplin, que faz Tonya, a mulher de Jivago, o compositor Maurice Jarre, o diretor de arte John Box e a autora dos figurinos Phyllis Dalton.

Em vez de Pasha Antipov, David Lean resolveu oferecer para Omar Sharif o papel central, o papel título, o de Yuri Andreevich Jivago – que, na verdade, tinha muito, mas muito do sujeito que o criou, o poeta Boris Pasternak.

A vida é assim: não basta ter talento – é preciso também ter sorte, uma quantidade razoável de sorte. Woody Allen fala dessa verdade em vários de seus filmes.

E então Omar Sharif ganhou o papel de sua vida – e faria chorar de emoção milhões e milhões e milhões de pessoas mundo afora interpretando o dublê de médico e poeta Yuri Andreevich Jivago, com aqueles olhões enormes, lindos e em geral muito tristes.

É extremamente importante a coisa dos olhos, do olhar

Sim, os olhões enormes, lindos e em geral muito tristes do egípcio Omar Sharif interpretando o russíssimo Yuri Andreevich Jivago. Os olhos de Omar Sharif são um elemento fundamental do filme.

Os dele e também os de Julie Christie, a Lara.

No documentário, Omar Sharif fala longamente da coisa do olhar. David Lean disse para ele que o filme seria todo, todinho, o relato de uma história contada através da visão do personagem dele, o protagonista, o personagem-título. O realizador – famoso por ser um absoluto perfeccionista, um chato incansável que filmava 50 vezes cada tomada até achar que agora tinha feito a cena perfeita – insistiu em que o ator deveria se esforçar para não fazer nada em cena, não aparentar nada, nenhuma emoção. Deveria apenas olhar o que estava à sua frente.

Omar Sharif conta até que, lá pelas tantas, no meio das filmagens – que duraram quase um ano, entre dezembro de 1964 e outubro de 1965 –, ficou preocupado, entrou em parafuso, porque sempre havia elogios a este ator por uma bela cena, ou àquele outro, ou àquela outra – e nunca havia um elogio para ele. Pediu uma conversa com Lean – e o diretor reafirmou para ele que era isso mesmo que ele queria. Que o ator não demonstrasse emoções – que apenas olhasse.

É bem interessante ouvir esse depoimento de Omar Sharif, porque tudo isso faz sentido, tem lógica. De fato, o filme todo mostra a história pessoal de Jivago, e os eventos fabulosos da Grande História, sempre através de seu olhar, de sua visão.

Senti falta, ao ver o documentário de 60 minutos, que acompanha o filme no DVD lançado pela Warner Bros., foi de alguma menção à forma com que os olhos – não apenas de Jivago-Omar Sharif, mas também os de Lara-Julie Christie – são mostrados ao longo do filme.

É uma característica fundamental do filme: a câmara do diretor de fotografia Freddie Young focaliza os olhos do casal central, Jivago-Omar Sharif e Lara-Julie Christie, com uma iluminação especial. Em diversas tomadas, há uma luz voltada diretamente para os olhos de um ou de outro.

Não é uma vez, nem duas. São várias, várias, várias.

Quando, por exemplo, já estamos bem depois da metade das 3h17 minutos de duração do filme, e vai acontecer o primeiro encontro de Jivago e Lara após a Grande Guerra, anos e anos após eles terem trabalhado juntos como médico e enfermeira no front da Ucrânia, ou seja, no momento em que Jivago vai pela primeira vez até Iuriatin – a cidade perto dos Urais, para onde Lara e Pasha Antipov haviam ido morar depois do casamento –, vemos, mais que tudo, os olhos daquele azul absurdamente claro, límpido, forte da moça.

É uma daquelas sequências que demonstram a genialidade do realizador. Jivago está à esquerda da tela, distante, chegando à biblioteca da de Iuriatin. Lara está bem no fundo da biblioteca, á direita da tela. Ela vê que o sujeito que está chegando é Jivago. A primeira tomada que a mostra tem uma luz forte iluminando especificamente os seus olhos, aquela coisa maluca daquele azul absurdamente claro, límpido, forte.

Os dois saem depois da biblioteca e caminham pela cidadezinha, conversando. O espectador não ouve o que estão falando – não é necessário.

Claro que o espectador não precisa saber disso, mas há um elemento fascinante aqui: logo após o triunfo da Revolução Comunista de outubro de 1917, Boris Pasternak, então com 27 anos de idade, muitos poemas escritos, um livro para publicar, trabalhou na biblioteca do comissariado soviético para a educação. Lara trabalhava na pequena biblioteca da cidade de Iuriatin – assim como o autor havia também trabalhado em biblioteca pós-Revolução.

Muita, muita coisa em Doutor Jivago tem a ver com a vida de Boris Pasternak.

O protagonista do épico e seu autor têm muito em comum

Yuri Jivago e seu criador nasceram mais ou menos na mesma época. Pasternak nasceu em 1890. No romance, o autor não faz nenhuma questão de ser específico quanto a datas. Às vezes cita o ano, mas em geral não é tão claro. Mas, como o livro começa com o enterro de Maria Nikolaievna, a mãe de Yuri Jivago, que estava com 10 anos, e o primeiro ano citado é 1903, dá para calcular portanto que ele teria nascido ali por 1892, 1893.

Tanto Jivago quanto Pasternak vinham de famílias bem de vida. Jivago, tendo ficado órfão de pai e mãe muito cedo, foi criado por um casal de parentes de sua mãe que era bastante rico. (No filme, Alexander Gromeko, o pai adotivo, é interpretado pelo grande ator inglês Ralph Richardson, e Anna, sua mulher, pela irlandesa Siobhan McKenna.) Os pais de Pasternak, moscovitas judeus, não eram tão ricos, mas viviam com conforto. Eram ambos artistas: Leonid era pintor e professor de artes, e Rosa era pianista. O garoto Boris cresceu numa casa frequentada por Liev Tolstói (Leonid Pasternak ilustrou edições de livros do grande escritor), Sergei Rachmaninoff, o alemão Rainer Maria Rilke e, eventualmente, Vladimir Ilyich Ulianov, o Lênin. (Esta última informação está na Encyclopaedia Britannica, por isso não há como duvidar dela.)

Não consta que Pasternak tenha sido um czarista ou um contra-revolucionário. Ao contrário: como já foi dito, trabalhou numa biblioteca do comissariado soviético para a educação, era um fã declarado do colega Vladimir Maiakóvski, o porta-voz oficioso do novo regime na poesia russa.

Da mesma maneira, Yuri Jivago nunca foi um contra-revolucionário, e o filme, assim como o livro, demonstra isso em várias passagens – em especial na bela sequência em que, ao voltar de uma longa temporada no front ucraniano na Primeira Guerra Mundial, onde trabalhou exaustivamente cuidando de dezenas e dezenas de feridos, Jivago entra na mansão que era a dos pais adotivos, da filha deles, Tonya, agora sua mulher, e também dele mesmo – e a encontra dividida entre dezenas de famílias.

Recebido com clara hostilidade pelos comissários do povo que administram aquela agora moradia popular, Jivago diz e repete: – “É mais justo assim”.

E continua seu trabalho de médico com a mesma dedicação com que trabalhava nos tempos do czar e no front de batalha.

Tão bela e impressionante quanto essa sequência da volta de Jivago ao lar, depois da vitória da Revolução, é outra que vem pouco depois – a sequência em que seu meio-irmão Yevgraf (o papel do grande Alec Guinness) observa o irmão cometendo o bárbaro crime de roubar madeiras de uma cerca para usar como lenha no pedacinho da antiga mansão que sobrou para sua família.

Por obra do grande roteirista Robert Bolt, Yevgraf se tornou no filme o narrador da epopéia de Yuri Jivago. Não é assim no livro – que é escrito em terceira pessoa por um narrador onisciente que não pertence à história, como acontece na imensa maioria das obras de ficção.

Foi de Robert Bolt (1924-1995), respeitadíssimo dramaturgo e roteirista, a idéia de narrar a história de Jivago em flashback, começando ali pelo final dos anos 1940 ou começo dos 1950, quando Yevgraf, então um poderoso general soviético, procurava pela sobrinha, a única filha de Yuri e Lara, que havia se perdido da mãe no extremo Leste do país, perto de Vladivostock, durante um dos muitos conflitos ocorridos no país.

Numa sala de controle de uma gigantesca hidrelétrica, Yevgraf faz perguntas a uma trabalhadora – moça aí de uns 20 a 25 anos – que, segundo suas pesquisas, poderia ser sua sobrinha perdida. A garota – que no filme não tem nome, e no romance se chama Tânia, é referida também pelos apelidos e diminutos de Tanka, Tatiana, Taniucha    – é interpretada por Rita Tushingham, o rosto mais lindamente feioso do novo cinema que se fazia na Inglaterra no início dos anos 60.

Yevgraf mostra para ela um livro de poemas de Yuri Jivago, mostra uma foto dele, e uma foto da mulher que inspirou aqueles poemas, Lara – e diz que ela, a garota, pode ser a filha daqueles dois.

É assim que começa o filme – e tudo o que se segue é o relato que Yevgraf faz para a garota.

O filme de 3h17 está ali pela metade quando acontecem as duas sequências de que eu estava falando – a da chegada de Jivago de volta a Moscou depois do fim da guerra e da vitória da Revolução, e a de Jivago roubando madeira para esquentar o trecho da antiga mansão reservado à sua família.

Sequências esplendorosas, diálogos que ficam para sempre

É uma sequência esplendorosa.

Yevgraf, bolchevique desde sempre, já era um oficial importante. Ele segue o meio-irmão pelas ruas, afasta com um simples estalar de dedos uns 20 dos novos habitantes da mansão da família de Alexander Gromeko que haviam presenciado a chegada de Jivago carregando madeira roubada, e, no trecho da mansão reservada à família, começa a conversar com Yuri, na presença do sogro e da mulher dele.

Nessa sequência, ouvimos a voz de Yevgraf-Alec Guinness em off relatando aquela cena para a garota, muitos anos depois, na gigantesca hidrelétrica que mostra como a União Soviética estava se desenvolvendo. Ele está contando como foi o encontro com o irmão para a garota que – tudo indica – é a filha que ele não conheceu, e está contando também, é claro, para o espectador. Mas parece que a rigor ele está rememorando aquele momento para si mesmo.

– “Eu disse para mim mesmo que seria pouco digno prender um homem por roubar madeira para pôr na lareira. Mas nada do que o Partido ordena é pouco digno, e o Partido estava certo. Um homem desesperado por um pouco de lenha é patético. Cinco milhões de pessoas desesperadas por lenha destruiriam uma cidade. Aquela foi a primeira vez que vi meu irmão, mas eu sabia que era ele. E sabia que eu desobedeceria ao Partido. Talvez fossem os lanços de sangue, mas duvido. Éramos apenas meio-irmãos, e irmãos traem uns aos outros. Nem era admiração por um homem melhor que eu. Eu o admirava, sim, mas não achava que ele fosse melhor que eu. Além disso, já havia executado homens melhores do que eu como um pequena pistola.”

Uau, meu! Que texto!

Vemos Yevgraf no cômodo que agora acomodava Yuri, Tonya e o pai dela. A voz de Yevgraf, em off, continua:

– “Contei para eles quem eu era. O velho estava hostil, a moça cautelosa. Meu irmão… parecia muito contente. Penso que a moça era a única que entendia direito a situação. Ele estava andando com um laço no pescoço e não sabia. Então contei para ele o que eu tinha ouvido sobre seus poemas.”

E Jivago, expressão atônita no rosto:

– “Eles não são apreciados? Não são apreciados por quê? Por que eles não os apreciam?”

Yevgraf, a voz falando em off, muitos anos depois: – “E então eu contei para ele.”
E Jivago, atônito, chocado: – “E você? Você acha que são pessoais, pequeno-burgueses, auto-indulgentes?”

Yevgraf, a voz em off, narrando: – “Eu menti. Mas ele acreditou em mim.”

Meu Deus, que brilho de diálogo, que brilho de sequência, que brilho de grande cinema!

É nesse encontro, logo depois que revelar àquele atônito poeta que sua poesia não era apreciada pelo Partido, por ser tida como pessoal, pequeno-burguesa, auto-indulgente, que Yevgraf sugere que a família deixe Moscou e procure algum lugar bem afastado para viver – longe do centro do governo, longe da exposição nas ruas, um lugar em que Yuri Jivago não fosse tão conhecido. E é Yevgraf que fornece ao irmão, a Tonya, ao velho Alexander e ao pequeno Sasha, o filho do casal, os passes para viajarem para a distante região de Varikino, perto dos Montes Urais, que separam a Rússia européia da Rússia asiática, onde a família possuía terras e uma belíssima casa.

A viagem de trem através de meia Rússia dura uma imensidão de tempo, e tem uma série de sequências chocantes, impressionantes. O trem viaja absolutamente abarrotado de gente, o vagão fede, é um horror. Atravessa regiões em que vilarejos inteiros foram destruídos ora pelo Exército Vermelho, ora pelos Brancos, os czaristas, os contra-revolucionários.

No meio da viagem, acontece de Yuri Jivago ficar frente a frente com Strelnikov, então um dos comandantes do Exército Vermelho, o exército oficial do governo comunista, que enfrentava os Brancos, os contra-revolucionários.

Strenilkov era a nova identidade de Pasha Antipov, aquele jovem idealista que, lá no início da narrativa, anos antes da Revolução Comunista de 1917, era o namorado de Lara. O papel para o qual Omar Sharif inicialmente se ofereceu – e que acabou ficando com o inglês Tom Courtney (na foto abaixo). Havia se casado com Lara, tinham tido uma filha, Katya – mas separaram-se ainda durante a Primeira Guerra Mundial, e nunca mais haviam voltado a se ver.

O diálogo entre Strelnikov, um comandante do Exército Vermelho, e Yuri Jivago, o poeta que fugia de Moscou para bem longe, é outro ponto extraordinário deste filme extraordinário.

– “Eu admirava sua poesia”, diz o hoje comandante que dizima vilarejos inteiros se acontecer de um de seus habitantes ajudar o exército inimigo. “Não a admiro mais. É absurdamente pessoal. Não concorda? Sentimentos afetivos. Isso agora é insignificante. A vida pessoal morreu na Rússia. A História a matou.”

Me permito exclamar de novo: ah, meu, mas é muito brilho!

Que texto! Que sequência!

Diz o pai da filha de Lara para o homem que mais tarde fará poemas e mais poemas para ela – e também uma filha: “Eu admirava sua poesia. Não a admiro mais. É absurdamente pessoal. A vida pessoal morreu na Rússia. A História a matou.”

Uma história de amor que leva 2h de filme para começar

A Rússia é o país mais extenso do planeta, com seus 17 milhões de km2. Nela quase cabem dois Brasis, este paisão absurdo que não tem fim – mas a imaginação de Boris Pasternak, assim como tantas vezes a vida real, faz com que duas pessoas estejam sempre se encontrando. E bem pertinho de Varikino, onde Yuri Jivago se instala com a mulher, o filhinho e o sogro, fica Iuriatin, a cidade em que moram Lara e sua filhinha Katya (Lucy Westmore).

17 milhões de km2 – e no entanto a cama em que Jivago dormia com Tonya em Varikino ficava a umas poucas léguas tiranas da cama de Lara em Iuriatin. Não mais que algumas dezenas de verstas – a medida russa para distâncias.

E aqui me permito uma digressão.
Desde adolescente tenho profunda fascinação por essa coisa de coincidências, encontros, desencontros, reencontros – uma fascinação que veio através do cinema, dos filmes de Claude Lelouch e Jacques Demy, dois cineastas que criaram e filmaram histórias feitas de coincidências, encontros, desencontros, reencontros. Muito mais tarde, nos anos 90, Krzysztof Kieslowski me encantaria com suas trapaças do destino em A Fraternidade é Vermelha/Trois Couleurs: Rouge (1994), em que ele repete a idéia de Lelouch em Toda Uma Vida (1974) – a história de um homem e uma mulher que passam perto um do outro várias vezes ao longo de anos e anos, para só finalmente se conhecerem no finalzinho da narrativa.

Pois é. Uns bons 20, 25 anos antes de Lelouch e Demy criarem suas histórias de coincidências, encontros e desencontros, esse poeta russo que mergulhou na prosa havia inventado uma trama em que o grande amor só iria de fato acontecer muitos e muitos anos depois na vida do homem e da mulher.

Omar Sharif fala dessa coisa de os dois protagonistas só finalmente ficarem juntos depois que já se passaram duas horas de filme, no documentário Doutor Jivago: Filmando Um Épico Russo. Ele fala da coisa de já na sequência de abertura o espectador ver a foto de Yuri Jivago-Omar Sharif e Lara-Julie Christie, no livro de poemas que Yevgraf mostra para a garota interpretada por Rita Tushingham – é uma forma de avisar ao espectador que aqueles dois vão ficar juntos, diz o ator. Tenham paciência, vai demorar, muita coisa vai acontecer antes, mas eles vão ficar juntos – é isso que ele pretende dizer…

Em um momento do documentário, Omar Sharif se refere ao livro dizendo que ele não é de leitura fácil. Nada mais verdadeiro.

Quando li o Doutor Jivago, já velho, em 2007, depois de ter visto sei lá quantas vezes o filme, fiz diversas anotações para mim mesmo. Fui anotando os nomes dos personagens, na tentativa de não me perder. E anotei as vezes em que Deus, o destino, o acaso, o que quer que tenha sido, faz com que os passos de Yuri Jivago e Lara se cruzem. Transcrevo aqui com uma ou outra explicação:

Primeiro encontro – página 83. É quando a mãe de Lara tenta se matar, por suspeitar que seu amante, Komarovsky, a esteja traindo com sua própria filha. O professor Kurt, chamado por Komarovsky, leva seu aluno predileto da Faculdade de Medicina, Yuri, para atender a suicida.

Segundo encontro – também na página 83. Numa festa de véspera de Natal, Lara atira em Komarovsky. Diante do choque de todos, Pasha Antipov entra no salão de lugar frequentado apenas pelos riquíssimos, e retira Lara de lá. Yuri vai cuidar da ferida de Komarovisky – o tiro de Lara pegara o braço dele de raspão, apenas.

Terceiro encontro – página 145. É na Primeira Guerra, no front Oeste, na Ucrânia.

Quarto encontro – página 152. Em um hospital no front, Lara enfermeira, Yuri ferido. Pouco depois, trabalham juntos como médico e enfermeira, pouco antes da Revolução e também depois dela.

E o quinto encontro vem só página 334, quando ele vai a Iuriatin.

Lean queria uma história de amor, não de um filme político

Com seu imenso talento, Robert Bolt transformou com brilhantismo “as 700 páginas do livro em 284 páginas de roteiro”, como diz Omar Sharif no documentário. E permitiu, assim, que o filme mostrasse quase exatamente essa ordem de encontros dos dois protagonistas, antes de finalmente virarem amantes.

Bolt se permitiu um primeiro encontro/não encontro entre Yuri e Lara que não há no livro – algo puramente cinematográfico. Os dois andam num mesmo bonde, por algumas quadras do centro de Moscou, bem no início da narrativa. Um deles se senta na fileira de trás do outro; um deles desce primeiro. Não se vêem – o espectador os vê quase juntos, mais de duas horas antes de eles finalmente ficarem juntos.

Não me lembro se no livro há exatamente esse diálogo, mas Robert Bolt criou uma maravilha para o momento em que Yuri e Lara se despedem ao final da longa temporada no hospital no front. Haviam trabalhado junto durante vários meses. Ela sabia de Tonya, ele sabia de Pasha – e nunca haviam sequer feito um carinho um no outro. Na véspera da despedida, quando estão os dois loucos para se pegarem, finalmente, Lara diz para ele algo assim: – “Você não tem nada o que esconder de Tonya. Vamos continuar assim.”

Quando foi chamado por David Lean para fazer o roteiro de Doutor Jivago, Robert Bolt já era bem conhecido dele: havia feito o roteiro de Lawrence da Arábia. Por Lawrence da Arábia, recebera uma indicação ao Oscar. Venceria o Oscar por Jivago – e no ano seguinte venceria de novo o Oscar de roteiro adaptado por O Homem Que Não Vendeu Sua Alma/A Man for All Seasons, a biografia de Thomas More, ou Thomas Morus, o filósofo, escritor, diplomata, canonizado santo pela Igreja Católica, o sujeito que pela primeira vez descreveu o que é a utopia.

David Lean pediu a Robert Bolt que escrevesse o roteiro de uma história de amor, não de um filme político.
O extraordinário diretor de arte John Box – o sujeito que, entre muitas outras coisas, foi fundamental na decisão de que boa parte do filme fosse rodado na Espanha, com algumas sequências na gelada Finlândia – conta que perguntou para Lean, assim que foi chamado para trabalhar na pré-produção: – “Qual é a verdadeira essência desse filme:?” Ao que Lean respondeu: – “John, fundamentalmente é uma história maravilhosa sobre seres humanos. Não quero fazê-la como um filme político. Quero tratá-la da forma como eu sei que posso fazer, ou seja, considerando os fatores humanos.”

Sir David Lean, um dos melhores realizadores da História do cinema, fez um filme extraordinário, uma obra-prima. Um filme que é politico, sim, como não? Um filme que é profundamente político, mas que é, sobretudo, sobre seres humanos. E os seres humanos – é isso que venho aprendendo na vida, desde que fui deixando para trás o jovem comunista que fui – são muito, mas muito mais importantes que qualquer ideologia.

Não é ofensivo, grosseiro, o herói ter duas mulheres

Geraldine Chaplin aborda uma característica fascinante do filme em uma das suas falas no documentário. O documentário, aliás, inclui uma absoluta pérola: o teste de tela feita pela filha de Charlie Chaplin para poder ser aceita no filme. Tinha 20 aninhos em 1964, quando o filme estava em pré-produção; foi vista na capa de uma revista por David Lean, que se interessou pela possibilidade de tê-la no papel de Tonya, a moça que foi criada junto com Yuri Jivago e acabaria se casando com ele. Ela mesmo diz, no documentário, que ter a filha de Chaplin estreando no cinema seria um bom ponto de venda do filme.

Pois Geraldine, a filha de um dos maiores gênios do cinema, que, muitos anos depois de estrear como Tonya em Doutor Jivago haveria de se casar com Carlos Saura, o grande nome do renascimento do cinema espanhol pós-franquismo, diz o seguinte (vai sem aspas porque não é a fala ipsis litteris dela):

O filme mostra o protagonista na cama com sua mulher, e logo depois o protagonista na cama com sua amante – e isso não é, de maneira alguma, ofensivo, grosseiro.

Absoluta verdade. Vemos como a coisa mais natural do mundo Jivago ora na cama com Tonya, ora na cama com Lara.

É tudo tão bem conduzido – a forma com que a trama foi sendo levada, a forma com que vamos conhecendo os personagens, a interpretação dos três atores, os diálogos – que não é algo que espante as platéias, que as deixe chocadas.

E é muito impressionante pensar que era 1965, e o cinema americano apenas acabava de se livrar do Código Hays, o código de autocensura dos estúdios, que proibia mostrar cama de casal, mesmo nas casas de casais casados.

Sem coragem de prender Pasternak, a ditadura prendeu a mulher

Mais uma vez a vida de Yuri Jivago imitava a vida de Boris Pasternak.

Eu não sabia disso (ou não me lembrava, o que dá no mesmo), mas Pasternak teve uma amante que inspirou a personagem Lara.

Aprendi isso com esse belo documentário que acompanha o filme no DVD. A segunda mulher do poeta, Zenida, foi a base para a personagem de Tonya. Ele estava casado e bem casado com Zenida quando  surgiu na vida dele uma outra mulher.

Diabo, essas coisas acontecem, e não é que a gente queira – sei muito bem, porque aconteceu comigo.

Olga Ivinskaya, chamava-se ela – e há depoimentos gravados dela em filme, e alguns deles aparecem no documentário Doutor Jivago: Filmando Um Épico Russo. Pasternak apaixonou-se inteiramente, perdidamente por Olga Ivinskaya, escreveu poemas e mais poemas para ela. E foi ela que retratou quando resolveu deixar os versos e mergulhar na prosa, e escrever um caudaloso, interminável, difícil romance sobre si mesmo e a Grande História de seu país.

Olga Ivinskaya, diz o documentário, foi presa duas vezes em campos de trabalho forçado, os gulags. A ditadura soviética não teve coragem de prender o poeta dos relatos “pessoais, pequeno-burgueses, auto-indulgentes” – e então prendeu a amante dele, para ver se ele calava a boca.

Já foram feitos muitos relatos sobre os absurdos da ditadura soviética, mas este aqui – o de que, além de tudo, era covarde, e preferiu prender a mulher que inspirou o poeta em vez de prender o poeta – só vim a conhecer agora, depois de ver Doutor Jivago pela… Diacho, que vez?

“Um dos grandes livros da História da humanidade”

Haveria ainda umas trocentas coisas para falar de Doutor Jivago.

Quero transcrever aqui um trechinho do que anotei ao ler o romance de Boris Pasternak.

O livro havia sido lançado aqui nos anos 1960 pela Editora Itatiaia, de Belo Horizonte, traduzido do italiano, creio. Em 2006, foi lançada uma nova tradução, pela Editora Record, feita diretamente do russo por Zoia Prestes, filha de Luiz Carlos Prestes; Zoia cresceu na Rússia e foi alfabetizada lá, quando o pai e a família se exilaram fugindo do golpe militar de 1964. Foi essa edição que li.

“Reclamei bastante do Pasternak, ao longo destes três meses e meio (que levei para ler o romance). O livro tem mais personagem do que muita lista telefônica de cidades de cem mil habitantes, e ele ainda faz questão de ser confuso nos nomes. Não apenas ora usa o nome inteiro e ora usa apenas os primeiros nomes, como ainda mistura um, dois, três diminutivos para cada personagem, ou dá a cada um deles cinco ou seis formas diferentes. Além disso, os personagens surgem muitas vezes aos borbotões, um grupo grande ao mesmo tempo; um deles poderá vir a ser importante, os outros poderão desaparecer por completo, e é difícil distinguir uns dos outros. Tentei fazer, quase desde o início, uma relação deles, para me entender melhor; mesmo com esse guia, fica difícil o entendimento. Sem ele, acho que seria impossível.

“Pasternak cita mais lugares do que o número de municípios existentes em Minas Gerais, e muitos deles não adianta tentar localizar em mapas porque são nomes inventados, como explica a tradutora, Zoia Prestes, em uma nota de pé de página.

“Há os imensos diálogos sobre filosofia – mas isso Tolstói e Dostoiévski também têm demais.

“O que a prosa dele tem de diferente é que é texto de poeta, não de prosador. E isso vale nos dois sentidos – por um lado, há achados lindíssimos, maravilhosos, mas, por outro, tem também longas descrições, especialmente de paisagens, em que ele simplesmente voa longe.

“Nada disso, é claro, me impediu de perceber, desde o início, que este é um dos grandes livros da História da humanidade.”

Este é um dos grandes livros da História da humanidade.

E este é um dos grandes filmes da História da humanidade.

Seria ainda necessário registrar, pelo menos, que o filme ganhou cinco Oscars e mais 16 prêmios, fora outras 13 indicações. Os Oscars foram para melhor roteiro adaptado para Robert Bolt, melhor fotografia em cores para Freddie Young, melhor direção de arte em cores para John Box, Terence Marsh e Dario Simoni, melhor figurino em cores para Phyllis Dalton e melhor trilha sonora para Maurice Jarre.

Diabo! Seria preciso falar sobre o “Tema de Lara”, uma das canções mais tocadas no rádio, mais regravadas, mais lembradas dos anos 60…

Seria preciso registrar que as primeiras críticas foram bastante divididas, que houve muita gente que meteu o pau violentamente no filme.

Assim como seria preciso registrar que, com um orçamento de US$ 15 milhões, o filme foi a segunda produção mais cara da Metro-Goldwyn-Mayer, depois de … E o Vento Levou (1939). E, apesar das críticas violentas, acabaria sendo a segunda maior bilheteria de 1965 – e, até hoje, um dos filmes de maior bilheteria da História, descontada a inflação.

O problema é que o texto está grande demais, mesmo para os meus padrões. Está gigantesco como um romance russo, como um Guerra e Paz, como um Doutor Jivago.

Mas aí vem um bom mote para terminar este texto.

Doutor Jivago, eu ouso dizer, é o Guerra e Paz do século XX.

Anotação em dezembro de 2020

Doutor Jivago/Doctor Zhivago

De David Lean, Itália-Inglaterra-EUA, 1965

Com Omar Sharif (Yuri Jivago),

Julie Christie (Lara)

e Alec Guinness (Yevgraf), Geraldine Chaplin (Tonya), Rod Steiger (Komarovsky), Ralph Richardson (Alexander Gromeko, o pai de Tonya), Siobhan McKenna (Anna, a mãe de Tonya), Tom Courtenay (Pasha Antipov/Strelnikov), Rita Tushingham (a garota)

e Adrienne Corri (Amelia, a mãe de Lara), Geoffrey Keen (Prof. Kurt), Jeffrey Rockland (Sasha, o filho de Yuri e Tonya), Lucy Westmore (Katya, a filha de Lara e Pasha), Noel Willman (Razin, partisan vermelho), Gerard Tichy (Liberius), Klaus Kinski (Kostoyed), Jack MacGowran (Petya, de Varikino), Tarek Sharif (Yuri aos 8 anos), Mercedes Ruiz (Tonya aos 7 anos), Klaus Kinski (o intelectual prisioneiro), Inigo Jackson (Major), Virgilio Texeira (capitão), Mark Eden (jovem engenheiro), Gerhard Jersch (David, o namorado da garota), Wolf Frees (camarada Yelkin), Gwen Nelson (camarada Kaprugina), Luana Alcaniz (Mrs. Sventytski)

Roteiro Robert Bolt

Basedo no romance de Boris Pasternak

Fotografia Freddie Young

Música Maurice Jarre

Montagem Norman Savage

Direção de arte John Box

Figurinos Phyllis Dalton

Produção Carlo Ponti, Metro-Goldwyn-Mayer. DVD Warner Bros.

Cor, 197 min (3h17)

Disponível em DVD

R, ****

14 Comentários para “Doutor Jivago / Doctor Zhivago”

  1. Bem você disse tudo, esse filme é de uma beleza encantadora, todos os envolvidos estão ótimos, só vou fazer um adendo, ao produtor Carlo Ponti, que é de um dos raros produtores que amavam aquilo que faziam. Hoje infelizmente, ele é mais conhecido como o marido de Sophia Loren, ele ganhou dois Oscar pelos filmes ”Na Estrada da Vida” de Federico Fellini e ”Ontem, Hoje e Amanhã” de Vittorio De Sica, como curiosidade sua esposa Loren, também tem dois Oscar, que chique para Loren, ter em sua casa quatro Oscar.

  2. Sensacional! Análise impecável dessa obra-prima. Revi ontem depois de mais de quinze anos e novamente me emocionei profundamente. E que belos eram Julie, Sharif e Geraldine!

  3. Eu me encantei pelo filme desde a primeira vez em que o assisti, com um dia a menos de 16 anos.. Foram 5x no total. E assistiria mais, se o encontrasse para assistir. Até estudei a língua russa, na USP, nos anos 1990, de tão impregnada que fiquei com a história do filme.

  4. Eu sou suspeito de failar deste filme,pois assisti ele pela primeira vez em 1989 ,acho eu.E deste tempo pra ca acabei me apaixonando pelo filme,tanto e que possuo dois dvds originais e fora isso fico torcendo pra que passe em algum canal ,pois os dvds que eu tenho sao legendados .

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