007 Contra o Homem com a Pistola de Ouro / The Man With the Golden Gun

Nota: ½☆☆☆

Bond, James Bond, na encarnação de Roger Moore, pula o muro e entra na gigantesca propriedade de um um bilionário chinês, um bandidão chamado Hai Fat (Richard Loo). Na piscina, nada uma bela chinesinha, que convida 007 para entrar. Ele diz que não tem roupa, ela diz que também não. Ele pergunta o nome: – “Chew Me”, ela responde, sorriso aberto.

Um jogo de palavras pavoroso: parece uma palavra chinesa, mas chew me é me masque, me ponha na boca como uma goma de mascar.

Roger Moore, com aquela cara plácida dele, carisma zero, responde: – “Oh, really?”

Essa demonstração de finesse, de elegância, de sutileza, acontece quando 007 Contra o Homem com a Pistola de Ouro está ali pelo meio dos seus 125 minutos. Antes, quando o filme está com uns 30 minutos, James Bond tem uma conversa com Andrea Anders (Maud Adams), uma bond-girl de beleza estonteante, como sempre. Andrea é cúmplice-escrava de Francisco Scaramanga, o homem do título, o da pistola de ouro – o papel de Christopher Lee, o ator de tantos filmes de terror.

James Bond entra no quarto de hotel suntuoso em que Andrea está tomando banho. Lá dentro do boxe ela tem uma arma, que aponta para o agente que tem licença de matar. Ele também tem uma arma, e então estão quites. Depois de algum tempo ele ataca, tira o revólver da mão dela, torce-lhe o braço e ainda dá um tapa no rosto belíssimo. Creio que James Bond na encarnação Sean Connery jamais estapearia uma mulher, mas vamos em frente.

Daí a pouco James Bond está se servindo de um copo de champagne e oferecendo outro para Andrea. Mediante a tortura imposta pelo agente de Sua Majestade, ela havia se comprometido a ajudá-lo, e havia dito onde ele poderia encontrar Scaramanga: na boate Bottoms Up.

James Bond faz o brinde: – “Bottoms Up?”

Aí corta, e vemos, em close-up, ocupando toda a tela, uma bunda. A moça estava ajoelhada em cima da mesa do bar-boate-cassino Bottoms Up, calcinha de renda negra, é claro, e no momento exato em que a câmara a focaliza ela está erguendo a bunda. Bottoms up, bunda para cima.

Finesse, elegância, sutileza.

Bem mais tarde, James Bond está em outro suntuoso quarto de hotel, prestes a comer Miss Goodnight, uma secretária do Serviço Secreto bonitinha demais mas não especialmente inteligente – o papel do bibelô Britt Ekland (na foto abaixo). Mas, exatamente quando a coisa está para acontecer, entra no quarto Andrea Anders – exatamente ela. Oferece-se para James Bond – que, num breve momento de distração de Andrea, enfia Miss Goodnight dentro de um armário, para que a outra não a veja.

Duas horas depois, Andrea tendo já saído do quarto, Double O Seven abre a porta do armário e deixa a pobre Miss Goodnight sair.

Um filme tão grosseiro quanto o seu título no Brasil

Esses três momentos – e mais o título escolhido pelos exibidores brasileiros, a pistola de ouro – definem, na minha opinião, o que é este The Man With the Golden Gun.

Cá pra nós: um filme que tem sequências como essas aí acima bem que merece o título O Homem com a Pistola de Ouro. As gloriosas pornochanchadas brasileiras da mesma época, anos 70, tinham títulos assim: O Bem Dotado (1979), Nos Tempos da Vaselina (1979), A Noite das Taras (1980). Mais tarde, na virada do século, sátiras dos próprios filmes de James Bond com aquele chatérrimo Mike Myers vieram com o mesmo tipo de humor: Austin Powers: O Agente “Bond” Cama (1999), Austin Powers em O Homem do Membro de Ouro (2002).

O nono filme com o agente 007, o segundo com Moore

Algumas informações básicas:

* The Man With the Golden Gun foi o nono filme da fraquia dos produtores Harry Saltzman e Albert Broccoli, que compraram os direitos de filmagem das histórias do agente secreto britânico criadas por Ian Fleming (1908-1964).

* Foi o segundo com Roger Moore no papel de James Bond, depois de Com 007 Viva e Deixe Morrer (1973). Depois deste filme viria 007 – O Espião Que Me Amava (1977).

* E foi o quarto da série dirigido pelo inglês Guy Hamilton, que antes havia feito 007 Contra Goldfinger (1964), 007 – Os Diamantes São Eternos (1971), os dois com Sean Connery, e depois o já citado Com 007 Viva e Deixe Morrer (1973).

* Roger Moore foi o terceiro ator a interpretar James Bond. Entre Sean Connery e ele houve um filme da série – 007 – A Serviço Secreto de Sua Majestade (1969) com George Lazenby.

Depois de Roger Moore viriam Timothy Dalton, Pierce Brosnan e o atual, Daniel Craig.

Maltin elogia sequências de carros

A página de Trivia sobre o filme no IMDb tem nada menos de 135 itens de curiosidades, fatos, coincidências, informações tão inúteis quanto gostosas. Não vou passear por lá. Preguiça demais.

Leonard Maltin deu 3 estrelas para a porcaria: “A segunda dose de Moore como o super agente James Bond é boa diversão, mas o ator ainda teria mais um filme (The Spy Who Loved Me) antes de entrar de fato na pele do personagem; Lee está excelente como o assassino Scaramanga. Boas sequências de carros, filmado em vários locais.”

Sim: os créditos finais dizem que as filmagens foram de fato em Hong Kong, Macau e Bangcoc, onde se passa a ação.

Eis o que diz Pauline Kael: “Passado no Oriente, este é o nono – e um dos mais desanimados – da série James Bond. A produção é um pouco mais ágil do que o anterior vodu (Com 007 Viva e Deixe Morrer, 1973), e desta vez a direção de Guy Hamilton não é exatamente tão grosseira, mas falta ao roteiro insolência satírica, e o filme se arrasta sem o mínimo humor. O sorriso de presas do vilão Christopher Lee é a única atração. Com o iceberg Roger Moore como Bond, Britt Ekland, Maud Adams, Hervé Villechaize, Clifton James, Bernard Lee, Lois Maxwell, Desmond Llewelyn, Marne Maitland, Richard Loo e Marc Lawrence. Escrito por Richard Maibaum e Tom Mankiewicz.”

Anotação em dezembro de 2018

007 Contra o Homem com a Pistola de Ouro/The Man With the Golden Gun

De Guy Hamilton, Inglaterra-EUA-Tailândia, 1974

Com Roger Moore (James Bond)

e Christopher Lee (Scaramanga), Britt Ekland (Mary Goodnight), Maud Adams (Andrea), Herve Villechaize (Nick Nack), Clifton James (xerife J.W. Pepper), Soon-Teck Oh (Hip), Richard Loo (Hai Fat), Marc Lawrence (Rodney), Bernard Lee (“M”), Lois Maxwell (Miss Moneypenny), Marne Maitland (Lazar), Desmond Llewelyn (“Q”), James Cossins (Colthorpe), Chan Yiu Lam (Chula), Carmen Du Sautoy (Saida), Gerald James (Frazier)

Roteiro Richard Maibaum, Tom Mankiewicz

Fotografia Ted Moore e Oswald Morris

Música John Barry

Montagem Raymond Poulton

Produção Albert R. Broccoli, Harry Saltzman, Eon Productions, United Artists.

Cor, 125 min (2h05)

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