El Dorado

Nota: ★★★☆

El Dorado (1967) leva um bom tempo até começar a ficar parecido com seu irmão mais velho Rio Bravo, no Brasil Onde Começa o Inferno (1959).

O primeiro personagem que vemos é o xerife J. P. Harrah, interpretado por Robert Mitchum. Só depois é que vemos John Wayne – e John Wayne, que em Rio Bravo era o xerife, aqui é um experiente pistoleiro que chega à pequena cidade texana que dá o nome ao filme, onde o xerife J.P. está no meio de uma guerra.

Na primeira sequência do filme, o xerife J.P. caminha pela rua principal da pequena Eldorado, em direção ao hotel. Pergunta se tinha chegado ali sujeito grandão, de mais de 1 metro e 90, e o mexicano que está na recepção diz que ele está no banheiro, fazendo a barba.

O grandão Cole Thorton (o papel de John Wayne) está terminando de fazer a barba quando o xerife entra no banheiro. Claro que os dois se conhecem de longa, longa data; eram amigos desde muito antes da Guerra Civil (1861-1865), conforme é mencionado em um diálogo qualquer.

J.P. sabe que Cole chegou a El Dorado para trabalhar para Bart Jason (Edward Asner). Explica então para o velho amigo – e também para o espectador, é claro – qual é a situação ali: esse Bart Jason havia chegado cheio de dinheiro àquela região pouco depois do final da Guerra, quando todo mundo estava quebrado, e tinha começado a comprar terras e mais terras. Era dono agora de uma gigantesco latifúndio, mas tinha um grave problema: suas terras não tinham água.

A terra que tinha nascente e muita água pertencia a um sujeito chamado Kevin MacDonald (R.G. Armstrong), que havia chegado à região dezenas de anos atrás, e ali criara seus quatro filhos – três homens e uma mulher. E então o que acontecia era que o ricaço Jason fazia tudo para comprar a terra de MacDonald, e este não queria saber de vender. E no meio dessa guerra estava ele, o xerife J.P. Harrah.

Se Cole fosse trabalhar para o milionário Jason, estaria entrando na guerra contra ele.

A namorada de um dos grandes amigos tinha sido namorada do outro

Não há western em que ricaço, milionário, grande proprietário de terras seja bom caráter, simpático. Simplesmente não há. É uma cláusula pétrea da Constituição jamais escrita do western que ricaço, milionário, grande proprietário de terras não é mocinho – é bandido.

Portanto, ao ouvir de J.P. a definição da situação, Cole decide que não aceitará o emprego oferecido pelo tal Jason.

Os dois ainda nem tinham bem acabado de conversar quando a porta do banheiro se abre e uma mulher entra e vai logo abraçando Cole. Ela nem tinha visto que J.P. também estava no mesmo aposento – ele estava perto da porta por onde ela entrou.

– “Ah, então vocês já se conheciam, é?” – diz o xerife J.P.

Nos westerns, todo mundo se conhece. É outra das regras do gênero. Embora vivam viajando de um lado para o outro naquela gigantesca área que era conhecida como o Far West, o Oeste distante, o Oeste Bravio, embora os únicos meios de comunicação existentes fossem o telégrafo, os jornais locais e livrinhos com histórias de figuras lendárias, todo mundo se conhece, já se conheceu no passado ou no mínimo já ouviu falar dos outros.

E então a bela Maudie (Charlene Holt) se demonstra um tanto desconfortável com a situação. O espectador percebe que ela e J.P. têm um caso, e que ela não sabia, ao abraçar e tratar Cole com tanto entusiasmo, que o amante estava ali.

Daí a pouco, assim que Cole sai de cena, Maudie conta para J.P. que os dois se conheceram muitos anos atrás, quando ela tinha ficado viúva do marido jogador, e Cole havia dado grande ajuda a ela.

O diretor Howard Hawks, o roteirista Leigh Brackett, a atriz Charlene Holt – tudo parece indicar para o espectador que, diante da chegada de Cole, a velha paixão dela por ele pega fogo de novo.

Ferido, o jovem filho do bom fazendeiro se mata

Logo depois de sua conversa com o xerife J.P. e do reencontro com a bela Maudie, Cole vai até a sede da fazenda de Bart Jason comunicar a ele que não vai aceitar o emprego que havia sido oferecido.

Cole diz a Jason o que tinha que dizer – e com isso atrai a antipatia do milionário e também a dos vários pistoleiros que ele mantém sob contrato.

Depois de falar com Jason, Cole passa perto das terras do fazendeiro MacDonald. Este havia recebido um aviso de que um tal Cole Thorton havia sido contratado por seu inimigo Jason, e tinha posto um de seus filhos, o jovem Luke (Johnny Crawford), para tomar conta da entrada de sua fazenda.

O rapaz dá uma cochilada. Quando acorda, ouve o ruído das patas de um cavalo, e logo atira na direção de Cole. O rapaz erra, mas Cole, não – instintivamente, atira na direção de onde haviam atirado contra ele, e atinge o jovem Luke MacDonald.

Vai até onde o garoto ferido está. Conversam um tempo; Cole se oferece para carregá-lo até em casa, o garoto se recusa terminantemente. Quando Cole se afasta, ele – assim como o espectador – ouve um tiro: o garoto se matou.

E na cena seguinte Cole está levando o corpo do jovem morto para entregar ao pai.

A conversa entre Cole e Kevin MacDonald é dura, pesada – mas o fazendeiro percebe que o outro está falando toda a verdade, que reagiu ao tiro disparado pelo garoto. Embora sofrendo com a morte do filho, MacDonald, um homem de bem, compreende que foi um infortúnio, uma tragédia, mas não um crime.

Mas este não é o entendimento da filha mais jovem de MacDonald, Josephine, que todos conhecem por Joey (Michele Carey, na foto abaixo). Ela vai atrás do homem que atirou no seu irmão – e atira nele. A bala pega nas costas de Cole, um tanto acima da cintura, um tanto perto da coluna vertebral.

O único médico de El Dorado, o dr. Miller (Paul Fix), examina cuidadosamente a ferida, na presença do xerife J.P. e de Maudie. Explica a Cole que a bala está perto da coluna, e que ele não tem condições de mexer nela – estaria pondo em risco a vida do baleado. E sugere a ele que, quando passar por uma cidade maior, procure um médico jovem, mais atualizado com as modernas técnicas da medicina, para retirar a bala.

Cole convalesce um pouco ali em El Dorado, para alegria de Maudie. Um dia, porém, chega dizendo que vai embora para Sonora, atrás de um trabalho. A câmara fixa-se no rosto belo de Maudie, que mostra sua tristeza por ver o homem que ama indo embora.

À tomada do rosto de Maudie segue-se um longo fade out – a tela fica toda preta por uns 2 ou 3 segundos, clara indicação de que um bom tempo vai se passar entre essa seqüência e a próxima.

O herói chega ao saloon, não pede uísque, e joga um joguinho com a señorita!

Todos os fatos que relatei em detalhes acontecem nos primeiros 25 dos 126 minutos de duração do filme de Howard Hawks.

Enquanto a tela fica negra durante 2 ou 3 segundos, passam-se 6 ou 7 meses, segundo ficamos sabendo por uma frase dita pelo próprio Cole, ao chegar a uma cidadezinha perto da fronteira do Texas com o México.

Depois de rápida conversa com o xerife e seu assistente – velhos conhecidos dele, já que no Velho Oeste todos se conhecem –, Cole entra num saloon-cantina.

A longa sequência que vem a seguir, dentro do saloon-cantina, é uma maravilha, uma delícia, um – com perdão pelo trocadalho – um Eldorado para os amantes de western e para os amantes de bom cinema de uma maneira geral.

Ao chegar ao saloon-cantina, ao contrário de tantos mocinhos e bandidos, Cole Thornton não se encosta no balcão para pedir um uísque. Senta-se a uma mesa, onde logo se senta também uma señorita, e os dois, o gringo grandão e a señorita mexicana, passam a… jogar! Não cartas, mas um joguinho com peças de madeira, como se fosse um dominó, ou talvez gamão.

Nunca vi isso em bangue-bangue algum!

Só mesmo Howard Hawks para botar o herói do filme, interpretado pelo Duke em pessoa, jogando com uma señorita de saloon!

É a coisa mais inocente, mais assexuada, menos macha do mundo. O herói, interpretado por John Wayne, sentado em um saloon ao lado de uma mulher… jogando um joguinho!

Não dá para ver claramente que jogo é, mas é com pecinhas de madeira. Dominó, ou ludo real, ou gamão, ou algo parecido. Sei lá o quê exatamente, mas achei absolutamente sensacional. Único. Sui-generis.

Mas o jogo com a señorita é só um detalhe. Delicioso, mas detalhe.

Uma sequência extraordinária, um duelo no saloon – mas um dos tipos não tem revólver

Enquanto o casal está ali jogando, adentram o local quatro homens mal encarados. Bandidos, obviamente. Pedem bebida.

Pouco depois, entra um sujeito sozinho – e sem cinturão, sem revólver – no saloon. Sem revólver, e com um estranhíssimo, horrível chapéu preto. Veremos que tem um nome complicadíssimo, Alan Bedillon Trehearne, Bedillon pronunciando-se com os dois eles à francesa, mas com acento na paroxítona, bedílhon. Mais conhecido pelo apelido de Mississipi, por ter nascido junto do grande rio. Alan Bedillon Trehearne é interpretado por um James Caan com cara de muito garoto.

(Nova-iorquino do Bronx, de 1940, James Caan estava com apenas 27 anos, mas a cara aparentava ainda menos. Além disso, ajuda na impressão de que ele é muito garoto a comparação com os demais atores centrais: John Wayne, de 1907, estava portanto com 60, e Robert Mitchum, de 1917, com 50, mas eram uns cinquentinha extremamente bem vividos, comidos e bebidos.)

O jovem Mississipi dá uma volta completa em torno da mesa em que estão os quatro sujeitos com toda cara de bandidos. Aí se dirige ao sujeito que está bem à frente dele, e diz o nome:

– “Charlie Hagan?”

Charlie Hagan olha para o jovem que o encara, e indica que sim, esse é o nome dele.

– “Você não se lembra de mim.”

Charlie Hagan faz que não, não se lembra. Mississipi tira o ridículo chapéu da cabeça e faz nova pergunta: – “Lembra-se deste chapéu?”

– “Por que raios eu deveria me lembrar desse chapéu?” – retruca o bandido, e dois dos bandidos que estão com ele riem, como se aquilo fosse mesmo muito engraçado.

Mississipi não está vendo graça alguma: – “Porque você matou o homem que estava usando o chapéu”.

Nesse exato momento, na mesa em que está jogando um joguinho e esperando seu jantar, Cole faz um gesto para que as duas señoritas que o acompanham (naquela hora já eram duas) saiam dali, se escondam.

Charlie agora se lembra. Diz que o homem trapaceou no jogo. Mississipi nega, diz que aquele homem jamais trapaceou na vida. (Veremos que o morto tinha sido seu pai de criação.)

– “Ainda bem que você se lembra”, diz Mississipi. “Os outros três também se lembraram.”

– “Os outros três?”

– “É. Eu os encontrei. Você é o último”, conta Mississipi. E, como se fosse mesmo necessário, acrescenta: – “É bom você se levantar.”

Está perfeitamente preparada a cena para o duelo – só que Mississipi não tem cinturão, não tem revólver.

O bandido se movimenta para sacar sua arma – e Mississipi lança uma faca bem no coração dele.

Uma mulher com olhos grandes e tristes, e histórias grandes e tristes

Nos momentos seguintes, enquanto Mississipi se abaixa para retirar do corpo do bandido a sua faca , os dois companheiros do morto se movimentam. Aí Cole se levanta de sua mesa e intervém.

O chefe do bando, que continuava sentado tranquilamente, se identifica como Nelse McLeod (Christopher George). Ele já conhecia a fama de Cole Thornton – é aquela regra: no Oeste, todo mundo conhece a fama de todo mundo.

Tratam-se, naquele momento, com grande gentileza, Nelse McLeod, sentado à sua mesa, e Cole Thornton, de pé junto da mesa. Tomam um uísque, a convite do pistoleiro que está sentado.

McLeod diz que está indo para um lugar chamado El Dorado, para trabalhar para um tal de Bart Jason e… Cole não gostaria de dividir o trabalho com ele?

Cole pergunta quem é o inimigo que McLeod deverá enfrentar, e o bandido responde que é o xerife J.P. Harrah.

– “Dizem que ele era rápido”, diz McLeod.

Cole diz que ele é rápido. McLeod insiste em que ele era – no passado.

– “O que aconteceu?”, pergunta Cole.

– “O que geralmente acontece. Uma mulher.”

Nesse momento, o momento em que Cole fica sabendo que seu grande amigo J.P. virou um bêbado imprestável por causa de uma mulher, e que um habilidosíssimo pistoleiro está indo para El Dorado para acabar com ele e depois com os MacDonald, o filme está com 35 minutos.

Menos de 10 minutos depois, ao chegar a El Dorado e antes mesmo de ir ver o amigo J.P., Cole pergunta a Maudie o que aconteceu. Maudie diz que, depois que Cole foi embora, sete meses antes, ela não viu J.P. com frequência. O que soube foi que…

– “Um dia uma garota desceu da diligência e… Você sabe como é.”

Cole demonstra que sabe muito bem como é: – “Sei. Ela provavelmente tinha olhos grandes e tristes, e uma história grande e triste.”

É só a partir daí, quando o filme já está com uns 45, 50 minutos, que El Dorado vai ficar bem parecido com seu irmão mais velho.

El Dorado não é uma refilmagem de Rio Bravo; é uma nova forma de curtir a história

El Dorado leva quase metade de sua duração para ficar bem parecido com Rio Bravo.

É um grande filme, este El Dorado. Tem uma trama interessante, que envolve o espectador, um roteiro inteligente, esperto, ótimos atores dirigidos por um mestre, personagens bem construídos.

Tem tudo o que um western precisa para ser um belo western: tensão, enfrentamentos, duelos.

Tem diálogos inteligentes, saborosos. Uma trilha sonora de primeira, assinada por um grande músico que foi mais conhecido como maestro e arranjador de dezenas e dezenas de discos da Grande Música Americana, em especial de Frank Sinatra, do que propriamente como compositor de trilhas, Nelson Riddle.

Tem créditos iniciais sobre interessantíssimas, atraentes pinturas reproduzindo cenas, cenários, situações referentes ao Far West, assinadas por Olaf Wieghorst – uma maravilha, uma grande idéia, que foge da obviedade de tantos créditos iniciais de westerns.

Sim, é um grande filme – mas é impossível não fazer comparações entre ele e Rio Bravo, porque El Dorado simplesmente repete as mesmas situações do filme feito pelo mesmo Howard Hawks com o mesmo John Wayne oito anos antes.

E então vamos às semelhanças e discrepâncias entre um e outro.

Para começo de conversa, é necessário frisar bem: El Dorado não é uma refilmagem de Rio Bravo. Toda essa imensa quantidade de fatos que relatei aí acima já demonstram isso. Não é a mesma história. Não é uma refilmagem.

Frank Capra filmou duas vezes exatamente a mesma história, em dois filmes de títulos originais diferentes – Lady for a Day (1933) e Pocketful of Miracles (1961), os dois com o mesmo título no Brasil, Dama por um Dia.

Alfred Hitchcock filmou duas vezes a mesma história, primeiro na Inglaterra, em 1934, depois nos Estados Unidos, em 1956, com o mesmo título, tanto no original quanto aqui, The Man Who Knew Too Much, O Homem Que Sabia Demais.

Não sei por que Capra e Hitch quiseram refazer seus próprios filmes, mas acho que sei que por que Hawks quis não propriamente refazer seu filme anterior, mas fazer um outro parecido com ele: foi porque havia se divertido muito fazendo o primeiro. E quis se divertir de novo, fazendo um outro bem parecido.

Há coincidências em tudo – até no fato de que Martin e Mitchum bebiam bem

Em Rio Bravo, um pequeno grupo de pessoas do lado da lei prende um malfeitor, um assassino, o irmão do sujeito mais rico e poderoso da região – e fica à espera de um ataque do bando do preso, muitíssimo mais numeroso e forte.

O pequeno grupo é formado pelo xerife da cidade (o papel de John Wayne), seu auxiliar, que era extremamente competente, mas virou um bêbado imprestável por causa de uma mulher (o papel de Dean Martin), um jovenzinho que eventualmente aparece (o papel de Ricky Nelson), e, finalmente, um ajudante fiel, mas velhinho (o papel de Walter Brennan).

Neste El Dorado, um pequeno grupo de pessoas do lado da lei prende um malfeitor, o sujeito mais rico e poderoso da região – e fica à espera de um ataque do bando do preso, muitíssimo mais numeroso e forte.

O pequeno grupo é formado pelo xerife da cidade, que naquele momento é um bêbado imprestável por causa de uma mulher (o papel de Robert Mitchum), um auxiliar voluntário (o papel de John Wayne), um jovenzinho que eventualmente aparece (o papel de James Caan), e, finalmente, um ajudante fiel, mas velhinho (o papel de Arthur Hunnicut).

Uma coincidência fascinante: os dois atores escolhidos para fazer o sujeito que se afunda na garrafa – Dean Martin em 1959, Robert Mitchum em 1967 – eram famosos por apreciarem um bom uísque.

Uma coincidência num detalhe: o jovem interpretado por Ricky Nelson em Rio Bravo tem o apelido de Colorado, o jovem interpretado por James Caan em El Dorado tem o apelido de Mississipi – dois nomes de Estados americanos.

Os dois filmes têm muito humor, o que é bem típico do realizador. Howard Hawkis (1896-1977) fez de tudo, e fez bons filmes em todos os gêneros, de policiais a westerns, de musicais a filmes de guerra, mas era um mestre da comédia.

Uma piada se repete de maneira praticamente idêntica nos dois filmes: o momento em que o bêbado, já se regenerando, lutando para permanecer sóbrio, toma um banho numa grande tina de madeira na delegacia. Nos dois filmes, no exato momento em que o bêbado está ali naquela situação meio ridícula, sentado na tina, se ensaboando, não pára de entrar gente na delegacia. E o bêbado fala mais ou menos as mesmas frases, nos dois filmes: – “Tá parecendo a estação de diligências de Santa Fé, sempre movimentada”, “Se eu cobrasse entrada ficaria rico”.

Os dois filmes se distanciam bastante, na minha opinião, na forma de tratamento do bêbado. Rio Bravo trata o alcoolismo de Dude com mais seriedade. Dean Martin interpreta de forma mais dramática, pesada, tensa, doída, sofrida o personagem. Robert Mitchum também mostra o sofrimento físico que é o “cold turkey”, a falta da droga – mas me pareceu que, em El Dorado, o alcoolismo é tratado de forma mais leve, mais zombeteira, enquanto no anterior a coisa toda é mostrada de forma muito dura.

De resto, o motivo que leva Dude-Dean Martin e J.P.-Robert Mitchum a se afundarem no vício é descrito exatamente da mesma forma nos dois filmes – uma bela mulher que desce da diligência, deixa o sujeito absolutamente apaixonado, e depois vai embora com outro.

O poema que o jovem Mississipi recita é de Edgar Alan Poe!

Não me lembrava nem da personagem feminina, Maudie, nem da atriz que a interpreta, essa bela, simpática Charlene Holt (1928-1996). Nunca teve grande fama, nem diversas boas oportunidades. Parece que El Dorado foi o filme em que ela mais brilhou.

Venceu alguns concursos de beleza, foi modelo. Hawks a viu num anúncio de batom da Revlon em 1958 e deu a ela o papel de Maudie. Depois a dirigiu de novo na comedinha romântica O Esporte Favorito dos Homens (1964).

Aprendo no IMDb que o poema que Mississipi recita para Cole Thornton é de Edgar Alan Poe! Fantástico.

O grande site enciclopédico ainda informa que a segunda estrofe do poema não é recitada. Mississipi recita as outras três:

 

Gaily bedight,

 A gallant knight,

In sunshine and in shadow,

 Had journeyed long,

 Singing a song,

In search of Eldorado.

 

 But he grew old—

 This knight so bold—

And o’er his heart a shadow—

 Fell as he found

 No spot of ground

That looked like Eldorado.

 

 And, as his strength

 Failed him at length,

He met a pilgrim shadow—

 ‘Shadow,’ said he,

 ‘Where can it be—

This land of Eldorado?’

 

 ‘Over the Mountains

 Of the Moon,

Down the Valley of the Shadow,

 Ride, boldly ride,’

 The shade replied,—

‘If you seek for Eldorado!’     

“Hawks se dá conta de que o western envelheceu”, diz o Guide de Tulard

Leonard Maltin dá 3 estrelas em 4 ao filme: “Continuação de Rio Bravo mostra pistoleiro já envelhecendo Wayne ajudando amigo xerife Mitchum a enfrentar uma guerra contra um bando. Um Hawks tipicamente suave, que mistura comédia e ação, com saboroso roteiro de Leigh Brackett e interpretações exemplares, especialmente de Mitchum, de Caan como o jovem jogador que não consegue atirar, e George como o ultra-tranquilo pistoleiro de aluguel.”

Pauline Kael desce a lenha sem piedade. “John Wayne e Robert Mitchum fazem paródia deles mesmos, e parecem exaustos. Quando o filme começa, você tem a sensação de estar vendo um episódio de uma série de TV que começou faz tempo”, diz ela – e é só o começo.

Pauline Kael tem um texto brilhante – mas na maior parte do tempo é uma chata de galocha.

O Guide des Films de Jean Tulard dá 3 estrelas, algo raro entre os 15 mil filmes que resenha. Define o filme como uma “variação sobre o tema de Rio Bravo”. “Hawks se dá conta de que o western envelheceu e, ao contrário daqueles que fabricam antiwesterns, ou westerns ‘novos’, ele mostra seus heróis retirando de dentro de suas fraquezas e enfermidades a força para vencer. Essa crítica implícita do intelectualismo dos anos 60 não está magnificamente expressa quando Bull Harris diz ‘Vamos agir antes de pensar demais’?”

É uma absoluta maravilha como os franceses, além de fazer bom cinema, sabem escrever sobre os filmes com amor e inteligência.

Anotação em agosto de 2017

El Dorado

De Howard Hawks, EUA, 1967

Com John Wayne (Cole Thornton), Robert Mitchum (xerife J.P. Harrah), James Caan (Mississippi), Charlene Holt (Maudie), Arthur Hunnicutt (Bull), Michele Carey (Josephine MacDonald, a Joey), Paul Fix (Dr. Miller), R.G. Armstrong (Kevin MacDonald), Edward Asner (Bart Jason), Christopher George (Nelse McLeod), Marina Ghane (Maria), Robert Donner (Milt), John Gabriel (Pedro), Johnny Crawford (Luke MacDonald), Robert Rothwell (Saul MacDonald)

Roteiro Leigh Brackett

Baseado em novela de Harry Brown

Fotografia Harold Rosson

Música Nelson Riddle

Montagem John Woodcock

Figurinos Edith Head

Direção de arte Hal Pereira e Carl Anderson

Produção Howard Hawks, Paramount Pictures, Laurel Productions.

Cor, 126 min (2h06)

R, ***

4 Comentários para “El Dorado”

  1. Se a Pauline Kael fosse um filme, seria um filme bem chato. Estaria aqui com meia estrela, sendo chamado de abacaxi.

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