Tiros, Garotas e Trapaças / Guns, Girls and Gambling

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Nota: ★★½☆

A começar pelo título, Guns, Girls and Gambling, aqui Tiros, Garotas e Trapaças, eis um filme que não se leva a sério. Escancara desde logo, desde sempre, que é uma comédia escrachada, mais pastelônica do que os antigos pastelões, mais exageradamente sarcástica do que os momentos mais exageradamente sarcásticos dos western spaghetti de Sergio Leone.

Sim, é um filme que tem um pé no western. Fala bastante de índios x brancos nos vastos territórios da América do Norte que pertenciam aos primeiros e foram tomados pelos últimos. Tem um pé no western, mas é também um policial, um thriller, um filme de ação. Tem muito tiro, conforme promete o título, e muita, mas muita porrada, pancadaria. Pra quem gosta de porrada, pancadaria, é um prato cheio.

Tem também um certo gostinho de road movie. Um carrão vermelho gigantesco é abandonado junto de um grande canyon – uma citação, talvez, de Thelma e Louise?

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De uma certa forma, pode-se até dizer que Guns, Girls and Gambling é assim uma espécie de sátira de outros filmes, do tipo Alta Ansiedade (1977), Apertem os Cintos… O Piloto Sumiu (1980), S.O.S. Tem um Louco Solto no Espaço (1987), ou esses bem mais recentes, como uma gozação absurda da série Jogos Vorazes.

A diferença é que, ao contrário desses citados aí – que gozam um ou dois filmes especificamente -, este aqui generaliza: goza tudo e todos, sem preferência por nenhum tipo.

Uma penca de personagens que são – propositadamente – estereótipos escancarados

Não se passa em Las Vegas – como o protagonista e narrador, que conhecemos como sendo John Smith (Christian Slater), volta e meia afirma –, mas, como em Las Vegas, tem jogo de cartas, cassino e essa mania americana que é concurso de imitadores de Elvis Presley.

Bem no início da ação, esse John Smith interpretado por Christian Slater chega a um cassino construído na reserva indígena chefiada pelo Chefe (Gordon Tootoosis). No cassino, ele tromba com um sujeito que passava, conhece uma mulher gostosa, Vivian (Heather Roop), que surrupia sua carteira (com os documentos todos, mas sem o dinheiro, que ele guarda numa bolsinha grudada na barriga, como os turistas brasileiros costumavam fazer durante viagens ao exterior antes de haver aqui cartões de crédito internacionais), e participa de um concurso de imitadores de Elvis.

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Além de John Smith, participam do concurso de imitadores de Elvis um gay (Chris Kattan), que exagera na veadice, um anão (Tony Cox), que exige ser chamado pela forma politicamente correta de pessoa pequena, um asiático (Anthony Brandon Wong), que está sempre protestando contra os estereótipos que se fazem a respeito dos asiáticos, e, finalmente, um sujeito cheio de caretas e bocas e exageros, e uma roupa de Elvis de parar até o desfile das escolas de samba do Rio, um Elvis com jeitão de Elvis (e é interpretado por Gary Oldman, esse grande ator que parece se divertir em fazer papéis exagerados demais).

Vão entrar ainda na história o Rancheiro (Powers Boothe), estereótipo perfeito do branco rico grande fazendeiro que nos westerns tomava as terras dos colonizadores trabalhadores, devotados, o Cowboy (Jeff Fahey), o Índio (Matthew Willig), a Garota da Casa ao Lado (Megan Park, se não estou enganado), e os dois Xerifes Corruptos, um deles vendido ao Chefe, o outro vendido ao Rancheiro (interpretados por Sam Trammell e Dane Cook, eu não saberia dizer se respectivamente ou se estão fora de ordem).

Todos esses personagens são – como mostra o fato de que eles sequer nome têm – estereótipos escarrados. De maneira absolutamente intencional, é claro. E a cada vez que um deles surge na tela pela primeira vez, um grande letreiro, supercolorido, como se fosse uma história em quadrinhos, explode na tela para identificar o óbvio: o Rancheiro, o Chefe, O Cowboy!

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Naturalmente, toda a narrativa é pontuada por piadas politicamente incorretas, gozando a mania do politicamente correto. E elas se repetem à exaustão. Os dois xerifes corruptos andam sempre juntos, e um deles sempre diz “índios” – ao que o outro replica: “nativos americanos!”

Essa piada é repetida umas dez vezes.

Lá pela décima-primeira, alguém diz “indian” – e o personagem não contesta. É indiano mesmo.

A mesma piada se repete com o anão – anão, não, pessoa pequena.

John Smith-Christian Slater leva porrada ao longo de todo o filme. Apanha dos índios, dos brancos, dos imitadores de Elvis. Lá pelas tantas ele diz: – “Não tem hispânicos nesta cidade? Porque agora esse é o único grupo étnico que não deu porrada em mim.”

Todos os personagens estão atrás de uma antiquíssima máscara indígena  

Todos esses personagens estão atrás de um objeto de desejo, uma Taça Jules Rimet, o Santo Graal, um falcão maltês – a coisa de que são feitos os sonhos. No caso específico, é uma antiquíssima máscara indígena, que, segundo reza a lenda secular, traz toda sorte ao grupo que a possui, e leva muito azar ao grupo que já a possuiu e agora não possui mais.

A máscara, no momento em que a ação começa, pertence ao Chefe – e a verdade é que, coincidindo com o que reza a lenda, o grupo do Chefe naquele momento está muito bem de vida, ganhando muito dinheiro dos brancos com o cassino.

(Nem só de piadinha anti–politicamente correta são feitos os diálogos, e a voz em off de John Smith-Christian Slater fala até boas coisas a respeito de uma das várias doença que os brancos trouxeram da Europa para os índios – a cobiça.)

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Todos suspeitam que John Smith roubou a máscara do Chefe – e por isso gente de todo tipo vai atrás dele e tenta matá-lo e o enche de porrada.

Suspeita-se também do Elvis Elvis, o interpretado, com muito exagero, pelo exagerado Gary Oldman.

Elvis Elvis aparece bem no início da narrativa – que vai pra trás e vai pra frente no tempo, como 90% dos filmes do cinemão comercial hoje fazem. Está quase morrendo de calor no meio do calor infernal do deserto. Seu carro, a tal lancha vermelha maior que um ônibus, parou junto de um grande canyon e faleceu para sempre. Elvis espera um ônibus no meio do nada – mais ou menos como aquelas figuras mal encaradas esperavam a chegada de um trem no início de Três Homens em Conflito/Il Buono, il Brutto, il Cattivo (1966). Ou seria no início de Era uma Vez no Oeste (1968)? Preciso rever os dois maravilhosos filmes de Leone para anotar sobre eles aqui.

Chega finalmente um ônibus. O motorista sai, como se fosse fazer necessidade no meio do deserto. Elvis entra, o ônibus está absolutamente vazio. Elvis senta-se lá atrás, põe sua grande mala na poltrona ao lado – estaria nela a preciosa máscara indígena?

E aí…

Bem, aí surge o melhor da história: a Loura.

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Só pelo prazer de ver a Loura este filme já valeria a pena. É bem divertido

A Loura se veste toda de negro. Parece até que a calça e o blusão da loura são de couro negro, ou talvez até borracha – dá pra imaginar roupa de couro, ou de borracha, e negra, naquele calor do deserto que está matando Elvis Elvis de insolação?

A Loura tem dois grandes, reluzentes revólveres nos coldres, e a câmara do diretor (e autor do argumento e do roteiro) Michael Winnick focaliza a Loura por trás, a bunda da Loura bem no centro da tela, em close up. É exatamente como o diretor Heitor Dhalia fez com a bunda de Paula Braun em O Cheiro do Ralo (2006): a bunda em primeiro plano, em close-up. A bunda avança, a câmara vai atrás, babando.

A bunda de Paula Braun era uma bunda tropical, coberta por um shortinho colorido, arrochado, atachado.

Devia estar fazendo um calor muito maior naquele deserto do Oeste americano do que na São Paulo de O Cheiro do Ralo, mas a bunda da loura está coberta por uma grossa calça preta de couro (ou de borracha).

É linda, a bunda, e é absolutamente, espantosamente linda a Loura, interpretada por Helena Mattsson.

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Eu nunca tinha ouvido falar em Helena Mattsson. Numa madrugada, estava zapeando, e dei com este filme exatamente nessa sequência em que Gary Oldman fantasiado de Elvis entra num ônibus vazio no meio do deserto, e uma loura lindérria (que, naquela visão rápida, me fez lembrar muito Diane Kruger) aparece em seguida. Foi por isso, por ter visto durante uma zapeada essa cena, que quis ver o filme inteiro. Claro, tudo indicava que seria uma bobagem, mas talvez fosse uma grande diversão, e tinha Gary Oldman e Christian Slater, bons atores, e aquela loura lindíssima, e então fui atrás.

A Loura de Tiros, Garotas e Trapaças, Helena Mattsson, é lindíssima, é absurdamente linda. Nasceu na Suécia de Greta Garbo, Ingrid Bergman, Ingrid Thulin, Bibi Andersson, Lena Olin, só que muito, muito depois de todas elas, outro dia mesmo, em 1984. Seguiu o caminho óbvio: modelo, escola de artes dramáticas. Em 2015, aos 31 anos de idade, tem 41 títulos na filmografia, que incluem Substitutos (2009), um bom filme de ação, e a série Desesperate Housewives.

A Loura mata um monte de gente ao longo do filme – e sempre aparece, linda e loura, recitando os versos de “Annabel Lee”, o poema de Edgar Allan Poe. A Loura, ao contrário do estereótipo dos louras, não é nada burra.

Só pelo prazer de ver a Loura já valeria este filme. Bobo, desnecessário, facilmente esquecível… Bem, não é fácil esquecer a Loura, mas vamos lá: bobo, desnecessário, sem novidades – mas engraçado, divertido, bem humorado. Um bom divertissement.

Anotação em fevereiro de 2015

Tiros, Garotas e Trapaças/Guns, Girls and Gambling

De Michael Winnick, EUA, 2012

Com Christian Slater (John Smith)

e Powers Boothe (o Rancheiro), Jeff Fahey (o Cowboy), Helena Mattsson (a Loura), Chris Kattan (o Elvis gay), Gary Oldman (o Elvis Elvis), Tony Cox (o Elvis anão), Anthony Brandon Wong (o Elvis asiático), Megan Park (Cindy), Sam Trammell (xerife Cowley), Dane Cook (xerife Hutchins), Matthew Willig (o Índio), Gordon Tootoosis (o Chefe), Heather Roop (Vivian)

Argumento e roteiro Michael Winnick

Fotografia Jonathan Hale

Música Jeff Cardoni

Montagem Robert A. Ferretti

Produção Freefall Films, Hollywood Sky Entertainment, Releaseme Productions.

Cor, 90 min.

**1/2

2 Comentários para “Tiros, Garotas e Trapaças / Guns, Girls and Gambling”

  1. e é um dos piores filmes de minha vida
    hahahaha !!!
    só me diga uma coisa ?
    que diabos gary oldMAN TÁ FAZENDO AQUI ???!!!!!

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