Antoine et Colette

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Nota: ★★★½

É preciso dizer de imediato: o conjunto de cinco filmes de François Truffaut com o personagem Antoine Doinel não é apenas uma das melhores obras do cinema, mas de toda a arte.

As aventuras de Antoine Doinel são um patrimônio da humanidade à altura do David de Michelangelo, de Guernica de Picasso, de Guerra e Paz de Liev Tolstói, a Nona de Beethoven, As Quatro Estações de Vivaldi.

Exagero? O eventual leitor tem todo o direito de achar. Eu acho as afirmações acima a mais pura expressão da verdade dos fatos.

Revimos quatro dos cinco filmes (com a exceção do primeiro deles, Os Incompreendidos/Les Quatre-Cents Coups), em um único dia, um sabadão. Foi um dia de imersão total no universo de Antoine Doinel e seu criador – que fez o personagem bem à sua própria imagem e semelhança.

Se tivesse mais, teríamos visto mais. Ao final do dia estávamos plenamente felizes, satisfeitos com aquele banquete só de iguarias finas.

A série de filmes mostra o crescimento do personagem dos 15 aos 35 anos

zzantoine2Antoine et Colette é o segundo filme da série. Na verdade, não é um filme inteiro – é como se fosse um curta-metragem, a rigor um média-metragem. Com 35 minutos de duração, faz parte de O Amor aos Vinte Anos/L’Amour à Vingt Ans, um filme composto por cinco episódios sobre o mesmo tema, cada um passado em um país, cada um dirigido por um diretor – os outros episódios são assinados por Shintarô Ishihara  (Japão), Marcel Ophüls (Alemanha), Renzo Rossellini (Itália) e Andrzej Wajda (Polônia).

O jovem François Truffaut aproveitou a oportunidade para, no episódio que lhe coube de O Amor aos Vinte Anos, retomar o personagem de seu longa-metragem de estréia, Os Incompreendidos/Les Quatre-Cents Coups. Naquele filme, lançado em 1959, com extraordinária receptividade pela crítica do mundo inteiro, contava-se a triste história de Antoine Doinel, um adolescente parisiense infeliz, com uma mãe infiel, de muitos amantes. Propenso a mentir para a mãe e o padrasto, o garoto cabulava as aulas, dava as costas para os estudos e iniciava um flerte com a marginalidade, indo parar num reformatório.

Para interpretar Antoine Doinel – um garoto, repito, bastante parecido com seu criador –, Truffaut encontrou Jean-Pierre Léaud, que, naquele ano de 1958, tinha 14 anos de idade. (Ele próprio, Truffaut, estava com 26.) Os pais do garoto eram do ramo: a mãe, Jacqueline Pierreux, era atriz, e o pai, Pierre Léaud, era roteirista e assistente de direção. Nascido em Paris em 1944 – o ano em que a cidade foi enfim libertada dos invasores nazistas, que por pouco não a incendiaram – Jean-Pierre Léaud já havia feito um filme, La Tour, prends garde!, um capa-e-espada estrelado pelo grande astro Jean Marais, lançado em 1958.

Les Quatre-Cents Coups seria o segundo filme do garoto – e o personagem o marcaria para sempre.

Se levarmos em consideração a data de nascimento de Léaud, Antoine Doinel surge pela primeira com 15 anos de idade. Neste Antoine et Colette, lançado em 1962, ele estava portanto com 18 anos. Quando o vemos pela última vez, em O Amor em Fuga/L’Amour en Fuite, de 1979, Antoine Doinel estava com 35 anos.

Nos cinco filmes (ou quatro e meio, já que este Antoine et Colette é como um curta-metragem), acompanhamos o desenvolvimento de um personagem – sempre interpretado pelo mesmo ator, é claro – ao longo de 20 anos, dos 15 aos 35!

Isso é absolutamente sensacional, extraordinário, magnífico!

E é ainda mais fascinante quando sabemos que o personagem que o cineasta expõe diante de nós é inspirado nele mesmo. Ao ver Antoine Doinel, sabemos que estamos vendo também François Truffaut.

Não há muitas obras tão absolutamente maravilhosas quanto estas aqui, não.

Este não é o único conjunto de filmes que acompanha personagem ao longo de décadas

zzantoine3Detalhinhos. Em 1986, sete anos, portanto, depois do último dos filmes com Antoine Doinel, Claude Lelouch lançaria um filme com os mesmos personagens de um outro feito 20 anos antes, interpretados pelos mesmos dois maravilhosos atores, Jean-Louis Trintignant e Anouk Aimée. Lelouch é um cineasta que os críticos de cinema adoram detestar, mas ninguém poderia acusá-lo de plagiar seu conterrâneo e contemporâneo: em 1966, quando Um Homem, uma Mulher conquistou a Palma de Ouro no Festival de Cannes, ele anunciou que dali a 20 anos voltaria a Cannes para apresentar um filme contando o que havia acontecido aos dois personagens, Jean-Louis Duroc e Anne Gauthier.

Parecia uma boutade, uma frase de efeito, mas, em 1986, Lelouch apresentou em Cannes, fora de competição, seu Um Homem, Uma Mulher 20 Anos Depois.

Essa coisa fascinante de seguir personagens ao longo de muitos anos tem motivado belos filmes de um outro realizador francês, Cédric Klapisch, que, em 2002, lançou Albergue Espanhol, com um elenco que parecia um Who’s Who de jovens atores. Os mesmos personagens, interpretados pelos mesmos atores, voltaram em Bonecas Russas, de 2005, e em O Enigma Chinês, de 2013. Quando anotei sobre este último, escrevi que não é improvável que a trupe de Albergue Espanhol ainda volte a aparecer num quarto filme. Tomara que Klapisch faça isso.

Um diretor americano nascido em Houston, Texas, em 1960 (o ano em que Os Incompreendidos, em inglês com o título tradução literal do original, The Four Hundred Blows, recebeu indicação ao Oscar de melhor roteiro), também se especializou nessa coisa de acompanhar personagens ao longo dos muitos anos e dos vários filmes. Richard Linklater já seguiu Jesse e Celine ao longo de 19 anos – quase exatamente o mesmo número de anos das aventuras de Antoine Doinel e também do casal Jean-Louis Duroc e Anne Gauthier.

zzantoine4Jesse (Ethan Hawke) e Celine (Julie Delpy) primeiro apareceram em Antes do Amanhecer/Before Sunrise, de 1995. Depois se reencontraram em Antes do Pôr-do-Sol/Before Sunset (2004) e mais uma vez em Antes da Meia-Noite/Before Midnight, de 2013.

No ano seguinte, 2014, Linklater lançou um filme que deixou meio mundo fascinado: para fazer Boyhood, ele filmou, ao longo de 12 anos, algumas sequências por ano, mostrando o mesmo par de atores como marido e mulher, o Ethan Hawke de sempre e Patricia Arquette, e um garotinho escolhido para fazer o filho deles, Ellar Coltrane. É uma experiência fantástica, de fato, algo extremamente raro, um achado – mostrar o desenvolvimento de um garoto desde a infância até a adolescência.

Uma experiência fantástica, um achado – mas não propriamente algo inédito. Quando a gente vê algo que parece absolutamente inédito, é bom lembrar que o cinema já fez de quase tudo, ao longo destes cento e tantos anos de existência. E em geral o que achamos inédito já havia sido feito antes.

Como acompanhar o desenvolvimento, o amadurecimento de um personagem ao longo de 20 anos.

Aos 18 anos, Antoine tem um emprego e mora em Montmartre

Aos 18 anos de idade, Antoine Doinel, que aos 15 tinha tido amargas experiências em um reformatório para adolescentes problemáticos, quase marginais ou já caídos na marginalidade, não está muito mal de vida, não. Quando Antoine et Colette começa, o jovem tem um emprego – na fábrica de discos da Philips, na épóca uma das maiores gravadoras do mundo – e mora em Montmartre, o bairro da boemia, dos artistas, não muito distante da belíssima Basílica do Sacré Coeur.

(A Basílica vai aparecer em tomadas gerais de Antoine et Colette e também nos três filmes seguintes das aventuras de Antoine Doinel.)

ZZantoine5Claro, o apartamentozinho em que ele mora é muito pequeno, de dois cômodos só, e fica num prédio bastante detonado. Mas, pô, não é nada mau para um garoto de 18 anos que não estudou e está começando a vida. O jovem Sérgio Vaz, quando chegou a São Paulo para começar a vida, aos 18 anos, teve que morar alguns meses por favor na casa de um irmão, longe pra cacete, antes de poder pagar um quarto de pensionato dividido com outro rapaz.

Aos 15 anos, conforme se vê em Les Quatre-Cents Coups, Antoine, rebelde, inquieto, instável, mentiroso, gazeteiro, tinha uma grande qualidade: era um leitor voraz. Lia Balzac, adorava Balzac.

É uma das muitas características que Antoine tem em comum com François Truffaut. Truffaut sempre foi apaixonado por livros, por literatura. Em praticamente todos os seus filmes fala-se de livros, leêm-se livros, escrevem-se livros. A grosso modo, dá para dizer que metade dos filmes de Truffaut contam histórias originais escritas por ele, em geral em colaboração com amigos, enquanto a outra metade é a transposição para o cinema de obras literárias. Não é à toa que sua única experiência na ficção científica tenha sido Fahrenheit 451 (1966), o livro de Ray Bradbury em que os bombeiros não apagam incêndios, naquele mundo do futuro em que não havia mais incêndios, e sim queimam livros – como os nazistas faziam.

Antoine não tem família, Colette tem. Antoine só trabalha, Colette só estuda    

Antoine et Colette não se dá ao trabalho de explicar para o espectador o que aconteceu com Antoine Doinel desde o final da narrativa de Les Quatre-Cents Coups e até este momento em que o revemos morando num apartamentozinho pequeno, bem simples, mas em Montmartre, e com um emprego, provendo seu próprio sustento. Truffaut certamente não achou que isso fosse necessário.

O fato é que o jovem Antoine continua sendo um leitor voraz, e é também absolutamente apaixonado por música. É frequentador assíduo dos concertos para a juventude, juntamente com seu velho amigo René (Patrick Auffay). É num desses concertos – um em que a orquestra apresenta, se não me engano, a Sinfonia Fanástica de Berlioz – que pela primeira vez Antoine vê Colette (o papel de Marie-France Pisier, então também com 17 para 18 aninhos; ela é de 1944, o mesmo ano de Jean-Pierre Léaud).

zzantoine6Colette é bem diferente de Antoine. Ele vive sozinho, jamais visita a mãe, que ainda estava viva naquela época; Colette vive com a mãe (Rosy Varte) e com o padrasto (François Darbon). Ele não estuda, só trabalha; ela só estuda, não trabalha. Ela tem a vida bem mais estruturada que a dele, mais certinha, mais ajustada, mais confortável, mais – para usar o termo que os franceses adoram usar e detestar – burguesa.

Talvez seja um spoiler adiantar isso, mas o fato é que Antoine se apaixona perdidamente por Colette, enquanto Colette gosta demais de Antoine – como amigo, simplesmente, nada mais, para lembrar o verso de “Chuvas de verão”.

Truffaut adora histórias de amor tristes, trágicas. As aventuras de Antoine são exceção

François Truffaut tem predileção por histórias de amor que não são felizes. Que, ao contrário, são miseravelmente infelizes (como As Duas Inglesas e o Amor/Les Deux Anglaises et le Continent, 1971, O Último Metrô, 1980), ou trágicas (A Sereia do Mississipi, 1969, A Mulher do Lado, 1981), ou então que levam à tragédia (Jules et Jim, 1962, Um Só Pecado/La Peau Douce, 1964).

Antoine et Colette é uma história de amor que não é feliz, já que o amor não correspondido é uma das grandes infelicidades que pode haver na vida. Mas está muito longe da carga de tristeza de outros filmes do cineasta, como os citados no parágrafo acima.

Na verdade – e isso ficou muito claro para mim ao rever agora em seguida, de uma vez só, este Antoine et Colette e mais Beijos Proibidos/Baisers Volés (1968), Domicílio Conjugal (1970) e O Amor em Fuga (1979) –, as aventuras amorosas de Antoine Doinel são isso, são aventuras, sem tragédia. Os relacionamentos têm problemas, é claro – afinal, não existe um relacionamento afetivo que não tenha problemas. Mas não há tristezas gigantescas, apavorantes. E há muito amor, companheirismo, alegria, bom humor.

Em Antoine et Colette há a tristeza do amor não correspondido – mas as histórias de amor dos três filmes seguintes são certamente as menos tristes, e mais distantes da tragédia, de todas as histórias de amor que este cineasta genial escolheu para nos contar.

zzantoine7O maior problema dos relacionamentos de Antoine mostrados a partir de Baisers Volés existe por causa dele mesmo, por causa do jeito de Antoine ser, seu caráter, sua personalidade.

Antoine – seguramente como seu criador – é um sujeito apaixonado pelas mulheres, e apaixonado pelo fato de estar apaixonado. Por isso amou muitas. A questão é que ele é assim uma espécie de menino que não amadureceu direito. Como sintetiza Liliane (interpretado por Dani), uma das mulheres da vida dele, falando para Christine (a personagem de Claude Jade), a ex-mulher dele, em L’Amour en Fuite, o filme que encerra o ciclo: “Antoine está sempre num estado terrível. Ele precisa de esposa, amante, irmãzinha, babá e enfermeira. Não consigo interpretar todos esses papéis de uma vez.”

Uma família que funciona, que vai bem – ao contrário do filme anterior   

Uma característica de Antoine que aparece neste Antoine et Colette e vai reaparecer nos filmes que virão a seguir é muito interessante: ele consegue conquistar os pais das amigas e/ou namoradas. A mãe e o pai de Colette afeiçoam-se a ele, o convidam sempre para jantar com eles. Para um garoto que cresceu longe dos pais, isso é reconfortante: ele encontra na casa das amigas e/ou namoradas a companhia familiar que sempre faltou na sua vida – assim como faltou na vida do cineasta que o criou.

O próprio Antoine diz e repete ao longo dos filmes que, quando gosta de uma moça, tem que gostar também do pai e da mãe dela.

Os pais de Christine vão se afeiçoar por ele exatamente como os pais de Colette. Mas Christine só vai aparecer em 1968, seis anos depois deste Antoine et Colette.

O próprio Truffaut, numa entrevista reproduzida no esplendoroso livro Truffaut par Truffaut, de Dominique Rabourdin, diz que, diferentemente do que acontecia em Les Quatre-Cents Coups, em Antoine et Colette há adultos muito simpáticos: “Não se fala mais do garoto, nem de sua família. São apresentados os pais da moça – dessa vez montei uma família diferente, uma família que vai bem. É por isso talvez que eu ame este filme: é porque ele é mais leve e ao mesmo tempo simples. Acho mesmo que ele seja mais próximo da vida. Eu o fiz num momento descuidado: Jules et Jim tinha acabado de sair e tinha sido muito bem recebido, o que me fez trabalhar para fazer L’Amour à Vingt Ans com muita alegria.”

As canções têm importância enorme nos filmes sobre Antoine Doinel

Jules et Jim (1962) foi o terceiro longa-metragem de Truffaut, depois de Les Quatre-Cents Coups e Atirem no Pianista/Tirez Sur Le Pianiste (1960). Depois do segmento Antoine et Colette viriam Um Só Pecado/La Peau Douce (1964) e Fahrenheit 451 (1966).

zz20ansÉ impressionante, mas, com apenas três longa-metragens, Truffaut já era um nome respeitadíssimo. Sua participação em L’Amour à Ving Ans não foi apenas fazer o seu segmento. O produtor Pierre Roustang pediu a ele que indicasse jovens cineastas estrangeiros para dirigir os demais segmentos. E foi Truffaut, juntamente com Claudine Bouché, que ficou responsável pela montagem final dos cinco segmentos.

E a junção de um segmento e outro é um luxo só: Truffaut e Bouché reencheram os intermezzos com fotos de pessoas nas ruas de paris feitas por ninguém menos que o mestre Henri Cartier-Bresson.

Segundo diz o livro François Truffaut, de Robert Ingram e Paul Duncan, L’Amour à Vingt Ans “teve pouco sucesso e foi rapidamente retirado dos cinemas”.

Dizem os autores (a edição que tenho é portuguesa): “Apesar da fraca aceitação, Antoine e Colette era um filme fascinante, inteligente, magnificamente realizado e impregnado com canções de (Georges) Delerue e uma evocativa melodia de Yvon Samuel. (…) O filme usa os mesmos recursos de Os 400 Golpes: mais uma vez há um aguçado realismo contemporâneo e uma Paris rapidamente reconhecível pela audiência francesa. A profunda afeição do realizador pela cidade na qual vive é tangível: as suas avenidas, cafés, autocarros, cinemas, edifícios e apartamentos são evocações que conferem ao filme, sobretudo no aspecto retrospectivo, um aspecto quase de documentário. A cultura jovem dos anos 1960 é fielmente recriada: a música (clássica e pop), o gramofone, as ‘festas-surpresa’, chamadas telefónicas, conversas de café, idas ao cinema, um primeiro gosto de independência e, inevitavelmente, o amor.”

zzantoine8É importante essa referência dos autores do livro sobre a obra de Truffaut às canções. Há canções marcantes em cada um dos filmes das aventuras de Antoine Doinel. Este Antoine et Colette termina ao som de uma canção que leva o nome do filme, “L’Amour à Vingt Ans”, cantada por Xavier Despras, enquanto na tela vamos parisienses clicados por Cartier-Bresson.

Baisers Volés, o tomo seguinte, vai começar ao som da canção de onde foi tirado o próprio título do filme, a encantadora, maravilhosa, sensacional “Que reste-t-il de nos amours”, de Léo Chauliac-Charles Trenet na voz do próprio Trenet. “Bonheur fané, cheveux au vent, baisers volés, rêves mouvants, Que reste-t-il de tout cela, Dites-le-moi” – meu Deus do céu e também da terra, que absoluta maravilha. Felicidade murcha, cabelos ao vento, beijos roubados, sonhos mutantes – o que resta de tudo isso?

E “L’Amour en fuite” é, além do título do último filme do ciclo, também o título da canção que encerra a narrativa, de Laurent Vouzy-Alain Souchon.

Que eu saiba, O Amor aos Vinte Anos nunca foi lançado no Brasil, nem em VHS nem em DVD. Em 2001, uma pequena empresa lançou, com o selo Silver Screen Collection, um DVD com Antoine et Colette e mais Les Mistons, um delicioso curta-metragem que Truffaut dirigiu em 1957, quando tinha apenas 25 anos

Segundo Truffaut, o filme ilustra aquela moral: quem tudo quer tudo perde

Em algum momento esta anotação terá que ter um fim.

É fundamental registrar ainda que essa garotinha de 17 anos – bela, de uma beleza um tanto estranha, fora de padrão –, essa Marie-France Pisier, descoberta por um agente de casting a quem Truffaut pediu para encontrar uma jovem de rosto “fresco e alegre”, viria a ser uma maravilhosa atriz com mais de 90 títulos na filmografia, com experiência na direção de dois longa-metragens, e participação em quatro roteiros – entre os quais o de L’Amour en Fuite!

zzantoine99Marie-France Pisier vai reaparecer em Baisers Volés e em L’Amour en Fuite. No primeiro deles, Colette aparece numa única sequência. No outro, o filme que encerra o ciclo, e do qual a atriz foi uma das roteiristas, Colette é uma das personagens mais importantes.

E, para encerrar, transcrevo uma frase de Truffaut. Ele escreveu, em 1962, num texto sobre o filme a ser distribuído para a imprensa, que aquela primeira história sentimental de Antoine Doinel “ilustra esta moral: arriscamos perder tudo quando tentamos ganhar demais”.

“On risque de tout perdre à vouloir trop gagner.”

O que significa o mesmo que aquela máxima da sabedoria popular: quem tudo quer tudo perde.

Anotação em abril de 2015

Antoine et Colette

De François Truffaut, França, 1962

Com Jean-Pierre Léaud (Antoine Doinel), Marie-France Pisier (Colette),

e Patrick Auffay (René), Rosy Varte (a mãe de Colette), François Darbon (o padrasto de Colette), Jean-François Adam (Albert Tazzi)

Roteiro Françoise Truffaut

Fotografia Raoul Coutard

Música Georges Delerue

Montagem Claudine Boucher

Produção Les Films du Carrosse. DVD original Fox Lorber, no Brasil Silver Screen Collection

P&B, 35 min

***1/2

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