A Caça / Jagten

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Nota: ★★★½

A Caça, do dinarmarquês Thomas Vinterberg, de 2012, é um belo filme. Um danado de um drama pesado, denso, extremamente doído, angustiante, apavorante, como os nórdicos sabem fazer melhor do que ninguém.

É um estudo sobre a injustiça. Vinterberg analisa, esmiúca, disseca, com a precisão de um cirurgião com seu bisturi, um caso de injustiça, cometido não pelo Estado, por um poder constituído, mas por toda uma comunidade – os habitantes de uma cidade do interior da rica, evoluída, civilizada Dinamarca, gente letrada, instruída, que não passa por falta de coisa alguma.

Como um cirurgião com seu bisturi, o realizador expõe o drama, o calvário, a descida ao inferno de um homem inocente julgado e condenado por seus pares sem prova alguma.

O espectador sabe o tempo todo que Lucas, o protagonista da história, é inocente. Não há dúvida possível – tudo é mostrado às claras. Com isso, o bisturi com que Vinterberg corta a carne de Lucas faz doer o coração do espectador. Só quem tiver sangue de barata não sentirá terrível aflição com os absurdos que vão se sucedendo na vida de Lucas a partir do momento em que ele é acusado de ter abusado sexualmente de Klara, uma menininha aí de uns cinco anos de idade.

É uma comunidade gregária, e Lucas é uma pessoa benquista

zzcaça2Quando a narrativa começa, Lucas (magistralmente interpretado por Mads Mikkelsen, do extraordinário Depois do Casamento, de Susanne Bier, de 2006, e do extremamente bem realizado O Amante da Rainha, de Nikolaj Arcel, de 2012) é um homem benquisto na sua cidade. É uma pessoa solidária, prestativa, disposta a ajudar os outros. O filme abre com um letreiro que nos avisa que é novembro – e sabemos que novembro, na Dinamarca, é frio pacas. Mas os nórdicos são meio neuróticos – como diria Obelix, batendo com o nó dos dedos na testa –, adoram brincar de enfrentar as temperaturas geladas, e então, numa das primeiras sequências de A Caça, um grande número de pessoas está junto de um lago próximo à cidade em que vivem, e um bobalhão tira toda a roupa e mergulha.

Mas, assim que pula n’água, começa imediatamente a gritar que está com câimbra, que está doendo demais – e quem primeiro pula na água para ajudar o pândego é Lucas.

O que o filme mostra em seus primeiros momentos é que aquela é uma comunidade de pessoas que gostam de convivência. São gregários, aqueles dinamarqueses do interior, gostam de se reunir em grandes grupos, todo mundo conhece todo mundo, todo mundo é amigo de todo mundo.

Lucas ficou sozinho faz pouco tempo. O roteiro – escrito por Tobias Lindholm e pelo próprio Thomas Vinterberg – faz questão de não explicar muito sobre o passado do protagonista. Só mostra que a separação dele e da ex-mulher é recente; aparentemente, quem decidiu cascar fora foi ela, e ela levou embora o único filho do casal, Marcus (Lasse Fogelstrøm), um adolescente de 15 anos. Quer que Marcus veja o pai somente uma vez por semana – essa coisa pavorosa que algumas mulheres fazem, e que só prejudica os filhos.

A ex-mulher de Lucas – que o espectador não vê em momento algum, só ouve a voz dela ao telefone – cobra dele o fato de ele ser apenas um professor de jardim de infância.

Lucas é feliz no que faz, adora crianças e as crianças o adoram

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Este é apenas um pequenino, ínfimo detalhinho do filme, mas me impressionou demais. Numa conversa por telefone, a ex-mulher joga na cara de Lucas o fato de ele ser apenas um professor de jardim de infância –como se isso fosse um crime, fosse uma confissão de fracasso na vida. Como se o estivesse acusando do gravíssimo crime de ser um “loser”, um perdedor – uma das expressões mais abjetas de que uma língua humana já foi capaz, usada para descrever, na sociedade americana, alguém que não conseguiu juntar uma boa quantidade de dinheiro no banco.

Ah, a humanidade que se preocupa muito mais com o ter do que com o ser, como dizia o professor de Lucy, o maravilhoso filme de Luc Besson!

A mulher de Lucas certamente gostaria que ele fosse um corretor da bolsa de valores, o dono de uma empresa em crescimento acelerado. Alguém com um alto salário ou rendimentos polpudos. Não importa que ele fosse feliz ou infeliz no que fizesse.

Ao contrário do que parece pensar a idiota da ex-mulher, não é preciso ter uma profissão de prestígio ou muito dinheiro no banco para ser feliz. Lucas é feliz no que faz – o filme deixa isso absolutamente claro. Lucas adora crianças, as crianças o adoram.

Lucas é uma boa pessoa, uma boa alma.

Mas sobre ele recairá a injustiça perfeita.

Acusar sem provas um inocente é tão hediondo quanto o crime em si

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Klara (interpretada por Annika Wedderkopp, uma criança com um rosto absolutamente angelical, de quem o diretor Vinterberg consegue extrair, sei lá eu como, expressões fantásticas, de medo, insegurança, pavor) é filha de Agnes (Anne Louise Hassing) e Theo (Thomas Bo Larsen), que é o maior amigo de Marcus. Klara gosta muito do grande amigo do pai, que é professor exatamente no jardim de infância que ela frequenta. Muitas vezes os dois caminham juntos entre a casa dela e a escolinha.

Klara tem um irmão mais velho, um adolescente, Thorsten (Sebastian Bull Sarning), que, como todo adolescente, pensa em sexo mais do que em qualquer outra coisa. Klara, bem criança, percebe coisas, sem compreender bem, é claro.

Um dia, na escolinha, no meio de brincadeiras absolutamente inocentes, Klara pula em cima de Lucas, e encosta seus lábios nos lábios dele.

Lucas, muito sério, diz a Klara que ela só deve beijar na boca o pai e a mãe.

Klara se isola dos colegas naquele dia. E, para a diretora da escolinha, Grethe (Susse Wold, na foto acima), que a encontra no final do período sentada no escuro, Klara, tipo cinco anos de idade, loura e linda como um anjo, mente, inventa, cria: diz que Marcus mostrou para ela o seu pau – coisa, o pau, que ela havia visto em foto no telefone celular do irmão adolescente.

A acusação de abuso sexual de criança é coisa séria demais, seriíssima. O crime me abusar sexualmente de uma criança é um dos mais absurdos, mais cruéis que pode haver.

Acusar sem provas um inocente é tão hediondo quanto o crime em si, e é isso que Grethe faz. Grethe chama Lucas para conversar, mas não dá a ele o direito de se defender – ela já prejulgou, já condenou. Afasta-o da escola, comunica aos professores e aos pais que Lucas cometeu o crime de abuso sexual contra Klara.

Quando Agnes, a mãe de Klara, a mulher do melhor amigo de Lucas, conversa com ela, ouve da garotinha a seguinte frase (estamos aí com exatos 52 minutos de filme): – “Ele não fez nada. Fui eu que falei bobagem.”

Agnes, a mãe, ouve a frase, pensa dois segundos, e diz algo tipo: – – – – “Sei, Klara: você quer afastar da sua cabeça essa lembrança ruim”.

É a injustiça perfeita.

Mesmo diante da frase clara, direta, simples, límpida da filha, não passa pela cabeça de Agnes que ela pode estar naquele momento dizendo a verdade. Agnes já tomou a decisão, já deu o veredicto: Lucas, o maior amigo de seu marido, é de fato um tarado, um doente, um louco.

As crianças não falam a verdade o tempo todo. As crianças mentem

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Não creio que Thomas Vinterberg tenha tido conhecimento do caso da Escola de Base, acontecido num país periférico, do quinto mundo. Mas seu filme parece ter se inspirado no caso da Escola de Base.

Mais recentemente, em 2014, houve também na Grande São Paulo um caso de acusação de abuso sexual que teria sido perpetrado por um tio, um professor de uma escola de ricos, se não me engano em Alphaville. Foi uma história polêmica: muitos dos pais saíram em defesa do acusado, mas ele foi mantido preso.

Crianças só falam a verdade? O filme de Vinterberg bota isso em questão. E é óbvio, é claro como água da fonte que criança não fala apenas a verdade. Quem acha que criança fala apenas a verdade jamais chegou perto de uma criança.

O filme de Vinterberg mostra às claras que Klara mentiu, inventou, ficcionou, fugiu da realidade dos fatos. As crianças fazem isso.

O apavorante é que toda aquela comunidade de pessoas ricas, evoluídas, civilizadas, letradas, instruídas, tenham agido como bois no momento do estouro de boiada, tenham quase todos (com raríssimas exceções) julgado e condenado aquele homem até então sempre tão bem

considerado.

O filme pode ser visto, creio, como uma parábola sobre o nazismo

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Estranho: eu não tinha pensado nisso enquanto via o filme, mas pensei agora, ao escrever esta anotação sobre ele. De alguma forma, Vinterberg parece estar falando sobre o nazismo, fazendo uma parábola sobre o nazismo.

Uma das maiores questões da História me parece que é esta: como um povo rico, evoluído, civilizado, letrado, instruído como o alemão pôde, em sua maioria, em sua imensa maioria, apoiar Hitler?

Talvez o filme de Vinterberg queira dizer que há momentos em que as comunidades – mesmo as letradas – agem insensatamente.

Meu, se uma comunidade dinamarquesa consegue ser tão idiota, o que pensar dos povos que habitam os países mais periféricos de toda a periferia?

Um ator extraordinário, uma interpretação impressionante

Boa parte da qualidade deste filme se deve a Mads Mikkelsen, o ator que interpreta Lucas. Mads Mikkelsen tem as características físicas perfeitas para fazer o papel daquele homem bom, de bom coração, que adora crianças, que jamais seria capaz de cometer qualquer tipo de abuso contra uma criança – e de repente se vê acusado pelos antigos amigos, isolado, agredido de todas as formas possíveis e imagináveis.

Mikkelsen é um homem bonito, alto, forte. Mas ele tem um jeito, uma expressão um tanto infantil, de garotão. Ele transmite – através de seu olhar, dos movimentos da boca – inocência, pureza, e um espanto absurdo, amazônico, colossal, diante da acusação que cai sobre seus ombros.

Todo o elenco é afiadíssimo, mas Mads Mikkelsen se sobressai. É uma interpretação magnífica. Ela faz com que o espectador sofra juntamente com o personagem.

A Caça ficou entre os cinco indicados ao Oscar de melhor filme estrangeiro. (Perdeu para o italiano A Grande Beleza.) Ao todo, teve 41 prêmios e outras 53 indicações em festivais ao redor do mundo.

Atenção: spoiler. Quem não viu o filme não deve ler a partir daqui

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Confesso que não compreendi o que Vinterberg quis dizer no final deste belo filme. E aqui vou reveler o final do filme. É spoiler total, colossal.

Depois de passar por todo tipo de tortura, de humilhação, de ser agredido fisicamente, depois de perder seu cachorro de estimação, morto por alguém de sua cidade, Lucas é enfim inocentado do crime que não cometeu por Theo, o pai de Klara. A garotinha repete para o pai o que já havia dito para a mãe, sem que ela acreditasse: “Fui eu que falei besteira. Ele não fez nada” – e então Theo procura Lucas, e eles se reconciliam.

Há então um corte no tempo. Um letreiro avisa que estamos agora um ano depois; Marcus, o filho de Lucas, fez 16 anos e pôde ganhar a autorização para caçar – a caça é um dos passatempos prediletos dos moradores do lugar.

E então, um ano depois, Lucas já vive normalmente com os membros de sua comunidade. Aparentemente, todos se convenceram da inocência dele, e ele foi capaz de perdoar a todos os que o agrediram, insultaram, ofenderam.

É um tanto difícil aceitar essa realidade que o filme mostra em seu finalzinho, mas dá para compreender: Vinterberg está defendendo o perdão, o esquecimento das mágoas do passado. É bonito. É cristão, é budista – é nobre, admirável.

(Cristão: como não notar que os nomes de pai e filho, Lucas e Marcus. são nomes ligados à Bíblia, e que Theo, afinal de contas, é Deus?)

Mas, na última sequência do filme, durante a caça que comemora a maioridade do garoto Marcus, alguém atira na direção de Lucas.

Não pega nele – mas ele se assusta, e aí Vinterberg encerra seu filme.

Como assim: então alguém na comunidade ainda mantém a crença de que Lucas, afinal, abusou das crianças? E fez questão que ele soubesse disso?

Fiquei com a sensação de não ter compreendido o que o realizador quis dizer exatamente.

Mas isso não importa muito, e não diminui as qualidades e a importância deste belo filme.

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Anotação em fevereiro de 2015

A Caça/Jagten

De Thomas Vinterberg, Dinamarca-Suécia, 2012

Com Mads Mikkelsen (Lucas),

e Thomas Bo Larsen (Theo), Annika Wedderkopp (Klara), Lasse Fogelstrøm (Marcus), Susse Wold (Grethe),

Anne Louise Hassing (Agnes), Lars Ranthe (Bruun), Alexandra Rapaport (Nadja), Sebastian Bull Sarning (Torsten), Daniel Engstrup (Johan), Troels Thorsen (Bent)

Argumento e roteiro Tobias Lindholm e Thomas Vinterberg

Fotografia Charlotte Bruus Christensen

Música Nikolaj Egelund

Montagem Janus Billeskov Jansen e Anne Østerud

Produção Danmarks Radio, Det Danske Filminstitut, Eurimages,

Film i Väst. DVD Califórnia Filmes.

Cor, 115 min

***1/2

31 Comentários para “A Caça / Jagten”

  1. Eu gostei muito desse filme. O que a cena final me fez pensar (mas isso não quer dizer que seja isso que o realizador quis dizer) é que, muitas vezes, não importa a verdade ou os motivos. Que nós, humanos, somos ambíguos e, por vezes, temos prazer na humilhação, no sofrimento do outro. Nem todo mundo que julgou o Lucas e o maltratou o fez pelo motivo alegado. Alguns fizeram pela humilhação em si, pelo sofrimento em si, para causar dor e desassossego. E que por mais que as comunidades sejam instruídas e pacíficas e tal, ainda são constituídas por pessoas, nós, humanos, capazes do mais belos, altruístas e generosos gestos e, ao mesmo, tempo, do seu contrário.

  2. Concordo com a Luciana e também acho que sempre haverá uma desconfiança sobre o protagonista. É como se fosse dado o recado “vc não nos engana, estamos de olho em vc…”…

    Não encontraria melhor jeito de encerrar esse filme. É muito bom. Acho, aliás, que merece nota 4! Rs

  3. Amigos do 50anosdefilmes,
    O final remete àquela parábola do caluniador que sobe ao topo de uma montanha e rasga um travesseiro de penas, lançando todas as penas ao vento.
    Depois mesmo reconhecendo a calúnia, não se tem mais como recuperar todas as penas e restaurar a originalidade do travesseiro, ou da honra vilipendiada.
    Abraços. Excelente filme. Assisti-o por duas vezes. Para perceber as nuances de como se desenvolve essas falsas acusações, como age os propagadores de calúnias, com um sorriso no rosto e a máscara do altruísmo.

  4. Achei o filme muito bom e impressionante. Mads Mikkelsen tem uma interpretação de grande nível. O final também me deixou um tanto perplexo mas penso que Jefferon C. S. Silva tem razão no seu comentário. Ao ver este filme lembrei-me de um outro que vi na TV baseado num caso verídico; aqui fica o endereço da Wikipedia que o descreve: https://en.wikipedia.org/wiki/McMartin_preschool_trial

  5. Oi, Sérgio! Esse filme é mesmo muito bom! Pensei tb no caso da escola em SP e em como uma vida pode ser mudada simplesmente pelo julgamento de outros. Concordo quando vc fala que a gente sofre com o Lucas, sim , o tempo todo e chega a dar raiva da gracinha loira!!! Penso que o final é isso mesmo q vc achou q é, a ponta da desconfiança que fica… sem provas, nada pra bem, mas muita coisa pra mal, acreditaram só nela! triste…
    abraço

  6. O filme só demonstra o que é a mente humana:Uma ficção em todo o seu fluxo de condicionamentos.Sendo uma ficção, tudo pode ser inventado.Todos serão vítimas.O que mais me impressionou foi a menina. Trabalho notável de direção sobre sua interpretação.Só isso.O final, cômodo.O cinema chamado moderno adora terminar os filmes assim, pondo uma dúvida no espectador, que fica matutando como o roeirista foi criativo(ou o Diretor),inventando aquela”saída”.

  7. Eu só achei estranho a questão de a casa de um dos amigos de Lucas que na prisão dele acolheram o filho (marcus) na casa tinha um porão cheio de quadros com fotos do Lucas assim como as crianças relatavam. E acredito que esse mesmo amigo que tenha tentado atirar nele no dia da caça comemorativa de Marcus. Analisem. E acredito que o filme seja pra mostrar que nem tudo é 100% esclarecido e que ninguém confia nos outros o bastante é nem devem.

  8. Só o final do filme deixar a desejar, o sofrimento não acabou. Deu a impressão de ter continuação.

  9. Eu acho que desde a igreja ele está morto pois o amigo acha que o vou.
    Quando o filho recebe o rifle de família o padrinho deixa claro que o pai dele gostaria de entrega- lo.
    Ele não fica com o filho durante a caçada, e a caça não foge dele como seria normal.

  10. E se na realidade o luccas fosse mesmo o abusador é isto está sendo refletida pela direção o tempo todo ? Revejam o filme com essa perspectiva e principalmente olhando para o irmão da Klara, na cena inicial um dos primeiros diálogos é Lucas revelando que já deu aula ao garoto antes da escola dele fechar, é a cena final se explicaria pois foi o irmão de Klara que atirou, e errou de propósito, depois mirando pra avisar “eu sei o que vc fez” , desde o começo do filme ele encara Lucas com desconfiança mesmo antes das acusações, e na cena com a mãe de Klara conversando com a diretora ele está em enquadramento virando o rosto quando falam de abuso. Mais crianças relatavam o porão que não existia na casa de Lucas, mas n necessariamente ele levava as crianças pra lá, tem um vídeo no YouTube que mostra com cenas essa teoria que e realmente faz sentido principalmente pela atuação de Mads, vale a pena reassistir e ver o vídeo da teoria depois, fica a dica

  11. O filme é falsamente ambíguo, pois dá indícios claros de que o abuso realmente aconteceu. O irmão da Klara chora copiosamente em determinado momento do filme, o que alude à ideia de que ele também foi abusado em determinado momento da sua infância, e agora tem a consciência de que ocorreu o mesmo com a sua pequena irmã. É ele quem tenta atirar no Lucas no final, deixando claro que a verdade está com ele.
    O porão na casa do amigo, da mesma forma como as crianças o descreveram, o medo da Klara quando Lucas tenta encostar em seu braço, e os trejeitos do protagonista quando o assunto é abordado, reforçam e consolidam essa tese. Pra mim é inconteste e o filme é brilhante!

  12. O filme é ótimo e o final nos deixa sem chão. Só vi um ator excepcional viver um personagem nobre e claro, mostrando seu caráter bom e religioso, seguidor de tudo q é nobre, mostrou sentimentos em atitudes q poucas pessoas o entenderiam, onde o “não fiz essa barbaridade” não convence aqueles todos q não acreditaram nele. simples assim .Pessoa rara q quando viu o servo galante e altivo de cabeça erguida …foge do tiro q o mataria…Ele se identificou com a força da maldade dos homens Foi isso q entendi

  13. Bem, em resumo aos outros comentários, vejo que realmente tudo indica que a tentativa de assassinato do Lucas se dá ao ódio nutrido pelo irmão da garota, não acredito que ele tenha sido abusado e que a outra casa fosse a verdadeira casa citadas nos abusos, todavia em todas as cenas em que o garoto aparece junto a irmã, por não ter contato com a verdade e entender que a verdade seja o próprio abuso da irmã, a situação e a perspectiva que nós acompanhamos para ele se inverte, então alguém tão sujo quanto Lucas ser inocentado é um absurdo, então por isso a pedra atirada na casa e a morte do cachorro. Na cena final quando Lucas olha para todos ao redor, alguns olhares de constrangimento e indiferença podem ser notados, mas o único que olha com algum semblante de insatisfação é esse garoto. Acredito que o tiro dado no final não foi um aviso, foi um erro, e não retornou a atirar porque se errasse novamente poderia gerar uma confusão sem um álibi ou mesmo uma desculpa rasa, pois outros próximos ouviriam dois tiros ou até mesmo o próximo tiro também poderia dar errado… Enfim, o genial do final é a ironia construída para a narrativa de que afinal quem deu a munição para a garotinha inventar a história disfuncional foi o próprio irmão retirando a sua inocência como é mostrado na cena antes da mentira.

  14. Minha interpretação da última cena foi a mesma. Sim, ao que parece, sua inocência no caso não foi plenamente aceita pela comunidade em que vive. Há pessoas que por mais que se prove a inocência de alguém, ficaram sempre inseguras e até mesmo irão insistir na culpa. A mensagem é que, manchar a reputação é uma injustiça irreparável.

  15. Coisas que me chamaram a atenção no início do filme. Os irmãos mostram um pênis ereto no tablet para menina. Os pais estão brigando e ela está fora de casa, o cara inicialmente se sente desconfortável ao segurar a mão dela para levar pro colégio.

  16. Com certeza foi a ex-mulher dele (ela fugiu com o açougueiro) kkkkkk.

    Brincadeira a parte, o filme é fantástico (um pouco irreal para a nossa realidade latina) e talvez compreensiva para uma cultura européia.

    Ainda assim, acho impossível alguém ser tão compreensível e submisso frente a tais acusações (apesar da excelente interpretação do ator).

    Se ele não fosse tão pasmado, mostrasse indignação e revolta possivelmente seria mais fácil da população acreditar nele, ou pelo menos ficar um dúvida, mas a reação (falta de reação) transpareceu quase uma confissão de culpabilidade.

    O diretor “viajou na maionese”. Seria menos pior não acontecer nada (e ele ter perdoado a todos) do que quase levar um tiro de raspão vindo sei lá da onde.

    Agora, bom mesmo teria sido ele mirar inicialmente no cervo e depois virar para o grandalhão que lhe “mostrou o dedo ” e o espancou (já que o açougueiro não participou da caçada). Depois eu “fecharia o plano” com o dedo no gatilho e cortaria a cena deixando no ar e na imaginação de cada expectador se ele iria realmente atirar ou não.

    Aí sim eu teria ganho o Oscar de melhor filme estrangeiro. Fica para a próxima! snif… (rs).

  17. Tem um cado em Itapema SC que ocorreu com um professor de escola infantil, talvez devesse ser melhor investigado, recentemente ele foi condenado, penso em escrever o caso em algum inocense Project.

  18. Excelente filme, e o final ser aberto desse jeito para mostrar parte da dualidade da opinião pública, assim como ele nunca ficou sabendo quem matou a cachorrinha de extimação dele. É interessante ver todo o processo e saber que nós como sociedade podemos julgar e condenar um inocente sem provas contundentes, e mesmo que as tenha, não podemos agir como pessoas ruins e não está em nosso poder isso. Ao menos não deveria estar.

  19. Interessante… acabei agora de ver o filme, tive uma percepção sobre a cena final… mas, quando vim ler a resenha e os comentários, vi que só eu estou pensando assim.

    Acho que esse tiro, no fim, não aconteceu na realidade. Foi apenas na mente dele, e o que ratificar isso é que, quando ele foca mais a vista pra reconhecer o atirador, não tem ninguém lá. A intenção com esse corte final seria pra mostrar que, mesmo tendo havido o perdão dele para com as pessoas, uma reparação na vida comunitária e uma aceitação, tudo não tinha ficado exatamente bem para ele. Que as torturas e injustiças tinham deixado um trauma profundo, e que ele nunca mais teria uma vida normal naquela comunidade podendo ser a qualquer momento um alvo sem nada ter tido feito.

    Filme muito bom, Mads Mikkelsen, pra variar, mostrando a que veio. Abraços!

  20. Eu fui o único que pensou que quem atira no Lucas no final do filme é o próprio filho dele, que esperou todo esse tempo para se vingar de um possível abuso sexual na sua infância? Ele pode ter aguardado todo esse tempo ate poder virar um caçador e transformar o seu abusador, no caso seu pai, na caça.

  21. Eu li todos os comentários e a real é que não dá para descartar nada. O cinema por si é maravilhoso a esse ponto, e o filme soube trabalhar bem isso. O filme afirma que é uma mentira, mas será mesmo? Reduzir o filme a uma injustiça feita com um cara inocente é fácil. E por mais que possam achar que é viagem quem pensa o contrário(e tem razão), tudo é válido. O filme ser “vago” em desfechos buga nossa mente total. Se fosse algo fácil eu nem procuraria resumos na internet

  22. Eu acho que a mensagem que fica é que em tudo o que acontece, por mais que tenha havido esclarecimento e perdão, deixa marcas.
    Nada será exatamente como antes, é como uma cicatriz.
    Um adendo: não vou superar a morte da cachorrinha, triste demais.

  23. Li todos os comentários, e um que me surpreendeu foi o do Fel Thimoteo. Principalmente pelo fato que na noite que o menino dorme na casa do Padrinho ele encontra o Porão.

  24. Não sei o que pensar. Mas acho que o pai deveria dar a arma pro filho, certo? Tipo, coisa de família e tals. Talvez ele tenha morrido com a pedrada na cabeça ao invés da cachorrinha que morreu e por isso o filho tava chorando. Sem falar que na cena do mercado, a klara vê ele e pergunta: “cadê a fani?” nem sempre ele saia com a cadela, então é provável que a fani estava sozinha na rua. Mas ao mesmo tempo esse teoria não faz sentido. Não sei o que pensar :v

  25. O filme só tem valor se interpretado como metáfora (ao nazismo, à loucura humana, etc.)
    Entender o filme de outra forma, é pura “forçação” de barra . O enredo evidencia uma série de injustiças que só traz revolta. É tudo sem pé, nem cabeça. É aquele filme que te faz passar raiva e desacreditar na humanidade.
    Resumo do filme: uma criança acusa um adulto de abuso sexual em uma comunidade interior da Dinamarca. Tudo isto sem nenhuma prova, apenas com base na sua versão de uma história. Todos acreditam na ‘mentira’ da menina, onde o inocente é crucificado sem piedade durante todo o filme. Há, nisto tudo, o inconfessável prazer de acusar e apedrejar o acusado. Contudo, ao final, ele parece ter sido inocentado. Todo mundo é perdoado pelo injustiçado, mas o tiro de raspão na direção do protagonista faz perdurar a dúvida de que ainda existe alguém na comunidade que acredita na sua culpa. Fim.
    Sinceramente, o cinema cada vez mais se parece com a vida. Não tem nada a explicar e cada um acredita no que quiser.

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