Grand Hotel

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Nota: ★★★☆

Não dá para dizer que Grand Hotel é um filmaço, nem mesmo um filme muito bom. O roteiro tem algumas coisas bastante risíveis, bobas. Mas há grandes qualidades também, em especial um extraordinário trabalho de câmara – e, sobretudo, o filme tem uma importância história fantástica.

Foi o primeiro filme a reunir um grande elenco de astros. Juntou vários dos maiores astros de seu tempo, os maiores do estúdio que o produziu, em 1932, a MGM, Metro-Goldwyn-Mayer: Greta Garbo, Joan Crawford, os irmãos Lionel e John Barrymore, o hoje pouco lembrado mas na época badalado Wallace Beery.

Depois dele, Hollywood usou diversas vezes essa fórmula all-stars – e, a cada vez que um filme all-star era lançado, dizia-se que ele era do tipo Grand Hotel. Grand Hotel virou referência, uma espécie de subgênero.

Pode-se até dizer que foi um pioneiro do subgênero de narrativa multiplot, ou narrativa mosaico, tipo Short Cuts, hoje extremamente comum. São diversos personagens, uma grande galeria de tipos humanos, que têm em comum o fato de estarem hospedados ou trabalhando no fictício Grand Hotel, tido como o mais caro e elegante na Berlim do início dos anos 30 – e a Berlim do início dos anos 30 era uma das capitais do mundo, uma das metrópoles de vida cultural mais intensa, mais cosmopolita do planeta.

A autora do livro teria se baseado em casos que viu trabalhando como camareira

zzgrand000O filme se baseia num livro publicado na Alemanha em 1930, Menschen im Hotel, de autoria de Vicki Baum – que, segundo um dos especiais do DVD lançado no Brasil pela Warner, se inspirou em histórias que viu nos hotéis berlinenses em que trabalhou como camareira.

O livro deu origem a uma peça de teatro encenada na Broadway. O todo-poderoso Irving Thalberg (1899-1936), o chefe de produção da MGM que inspiraria o personagem central do romance inacabado O Grande Magnata/The Great Tycon de F. Scott Fitzgerald, viu naquela história cheia de personagens a oportunidade para produzir um filme estrelado pelos maiores nomes do estúdio.

Para dirigir o filme, Thalberg escolheu o inglês já radicado em Hollywood Edmund Goulding (1891-1959), realizador experiente, que havia começado a carreira como roteirista em 1921 e em 1927, o ano em que começou a transição do cinema mudo para o falado, havia dirigido Greta Garbo em uma adaptação de Anna Karenina, de Liev Tolstói, com o título de Love. (A própria Greta faria o papel de Anna Karenina no filme homônimo de 1935, uma das diversas adaptações do extraordinário romance para o cinema.)

Mais tarde, Goulding dirigiria melodramas com Bette Davis – Vitória Amarga/Dark Victory (1939), Eu Soube Amar/The Old Maid (também de 1939) e A Grande Mentira/The Great Lie (1941) – e também com Joan Fontaine – De Amor Também se Morre/The Constant Nymph (1943).

Greta Garbo era, na época, uma das maiores estrelas do cinema de Hollywood, provavelmente a maior. Estava, no início de 1932, com 26 anos. Havia chegado aos Estados Unidos em 1925, após participar de filmes publicitários na Suécia natal e de um filme com o mitológico G.W. Pabst na Alemanha, The Joyless Street. Naqueles poucos anos entre sua chegada a Hollywood e a filmagem de Grand Hotel, já havia se tornado a personificação do star system, com uma imagem cuidadosamente trabalhada pela MGM, que a contratara.

Garbo interpreta uma estrela cheia de chiliques, e diz a frase famosérrima

zzgrand4A Garbo coube o papel de Grusinskaya – assim, com um nome só, sem necessidade de prenome e sobrenome –, uma famosíssima bailarina russa que se apresentava em um teatro berlinense e se hospedava em uma das mais caras suítes do Grand Hotel. Grusinskaya é uma grande estrela, uma diva, cheia de idiossincrasias, vontades e chiliques. É acompanhada por todo um séquito, que inclui uma camareira, Suzette (Rafaela Ottiano), um empresário, Pimentov (Ferdinand Gottschalk) e chofer.

Greta Garbo interpreta a estrela Grusinskaya como se estivesse interpretando a persona criada pelo estúdio para ela: uma prima donna chiliquenta, exagerada, over do over. Parece uma autêntica PMD, de psicose maníaco-depressiva, hoje suavizada para portador de distúrbio bipolar: passa do mais profundo baixo-astral à maior euforia de um momento para outro. Quando aparece pela primeira vez na tela – já passados 20 exatos minutos de filme, que é para os espectadores ficarem se perguntando mas e cadê Greta Garbo? –, está na maior deprê do mundo. Lança a mão sobre a cabeça num gesto largo, teatral, e reclama da vida, diz que não vai dançar naquela noite, que o teatro estava vazio na noite anterior, que o público já não gosta mais dela.

E então Grusinskaya, com aquela voz grave, quente, um tanto rouca de Greta Garbo, diz a frase que se tornaria famosa e acompanharia a estrela até sua morte, muitas décadas depois, em 1990:

– “I want to be alone!”

Repete a frase uma vez. Repete outra.

Pouquíssimo tempo depois, conhece o barão von Gaigern, apaixona-se imediata e perdidamente por ele, e, do fundo do poço da depressão bravia, passa a levitar de felicidade.

Gilda pode até ter havido duas, mas nunca houve uma estrela como Greta Garbo. Quando estava para ser lançado seu primeiro filme falado, o bordão criado pela MGM foi “Garbo talks!” – Garbo fala. Quando fez comédia após uma série de dramas, o bordão repetido incansavelmente era “Garbo laughs!” – Garbo ri.

Greta Garbo adotaria depois, na vida real, o roteiro desenhado para ele pelo estúdio: no auge do sucesso, após interpretar outra russa, a férrea comunista Lena Yakushova, aliás Ninotchka, abandonaria para sempre o cinema em 1941, e viveria reclusa em Nova York – sozinha, como pediu três vezes em seguida em Grand Hotel. Consta que, ao longo de toda a carreira, deu apenas 14 entrevistas.

John, “o mais brilhante e mais belo dos Barrymores”, faz um barão falido

zzgrand2O barão von Gaigern, que com uma noite de amor levou a estrela Grusinskaya do fundo dos infernos ao paraíso da alegria levitativa, estava na verdade falido, apesar do título e de toda a aparência. Devia uma fortuna, e, não se explica por que, é constantemente ameaçado por um serviçal, aparentemente um chofer, que exige que ele roube um colar de pérolas da bailaria Grusinskaya.

Apesar de acossado por um escroque, o barão passeia pelo gigantesco e belíssimo lobby do hotel, pelos bares, pelos elegantes corredores, com excelente bom humor, magnífico fair-play. Faz amigos, como Otto Kringelein, e atrai as atenções de Flaemmchen, a bela secretária. Mas, antes de falar de Kringelein e da bela Flaemmchen, é preciso falar um pouco de John Barrymore, o ator que faz o barão.

John Barrymore (1882-1942) era, como diz o banco de dados Baseline, “o mais jovem dos Barrymores e, dos três, o mais brilhante e o mais belo”.

Os três – Lionel Barrymore, Ethel Barrymore e John Barrymore – eram filhos de um casal de atores de teatro, Maurice Blyth, que adotou o nome artístico de Maurice Barrymore, e Georgie Drew, esta, por sua vez, também filha do ator John Drew. Se Hollywood fosse uma realeza, os Barrymore seriam príncipes. A dinastia continua aí, décadas e décadas depois: Drew Barrymore – que aos 7 anos de idade estrelou E.T. – O Extra-Terrestre, de Steven Spielberg, já esteve no fundo do inferno das drogas e saiu dele – é neta de John, o ator que faz o barão von Gaigern.

John Barrymore trabalhou em mais de 60 filmes. Mas, paralelamente, teve uma carreira sólida no teatro; foi um respeitado ator shakespeariano nos palcos americanos.

Um humilde funcionário esbanja toda o dinheiro suado que juntou na vida

zzgrand7Lionel Barrymore, o irmão mais velho e menos bonitão de John, tem uma filmografia com mais de 200 títulos – 218, segundo o IMDb –, numa carreira iniciada em 1908 e que se estendeu até 1952; morreu em 1954, aos 76 anos. Não dá para saber como ele arranjava tempo, mas, além de atuar em 218 filmes, Lionel Barrymore foi também compositor, pintor, escritor e diretor. Para mim, ele será sempre lembrado por suas interpretações em duas obras-primas de Frank Capra, Do Mundo Nada se Leva (1938) e A Felicidade Não se Compra (1946).

Em Grand Hotel, coube a Lionel o papel de Otto Kringelein, um obscuro funcionário de uma empresa gigantesca, comandada pelo diretor-geral Preysing. Kringelein foi diagnosticado com uma doença fatal e desenganado pelos médicos. Como tinha passado toda a longa vida poupando cada suado centavo de marco, agora quer aproveitar o pouco que lhe resta de vida. Juntou toda a sua poupança e está esbanjando em poucos dias o que levou a vida inteira para juntar. Por isso está hospedado no Grand Hotel, o mesmo onde está seu odiado patrão, o tal diretor-geral Preysing.

Esse Preysing é mostrado pelo diretor Goulding e pelo ator Wallace Beery como o estereótipo do prussiano mandão, de maus bofes, iracundo, antipaticíssimo.

Wallace Beery (1885-1949), para mim o menos conhecido dos atores principais, começou a carreira no circo, cantou no teatro de variedades em Nova York e em 1913 foi parar em Hollywood, onde fez dezenas de comédias curtas, inclusive com Mack Sennett. Trabalhando sob as ordens de Sennett, conheceu a colega Gloria Swanson (a estrela do antológico Crepúsculo dos Deuses/Sunset Boulevard, de Billy Wilder), com que se casou. Sua filmografia tem 234 títulos.

Joan Crawford, jovem e bela, faz uma personagem fascinante – e rouba a cena

zzgrand6E, finalmente, há a bela Flaemmchen, já citada en passant aí acima. A bela Flaemmchen é interpretada por Joan Crawford (1904-1977).

Ahn… Seria 1904 o ano do nascimento da estrela que, além de tudo, ainda seria conhecida como a mulher do presidente da Pepsi-Cola e porta-voz oficial da empresa?

Joan Crawford é uma estrela tão grande que até o ano de seu nascimento é uma questão problemática. O Cinemania e o livro Leading Ladies – The 50 Most Unforgettable Actresses of the Studio Era dizem 1904. O livro 501 Movie Stars e a Wikipedia dizem 1905. O IMDb diz 1906. O grande site All Movie e o livro Actors & Acretesses dizem 1908!

Bem, então a mulher nasceu entre 1904 e 1908. Em 1932, estava com algo entre 24 e 28 anos. Era bela – quem só viu os filmes mais recentes, quando ela já estava mais velha, não poderia imaginar como era bela aos 24, talvez 25, talvez 26, talvez 27, talvez 28 anos – e tinha já forte presença diante da câmara.

Algum olheiro competente havia reparado em Joan Crawford no meio da multidão de figurantes contratadas pela MGM e o estúdio ofereceu a ela um contrato em 1925. No seu 21º filme como coadjuvante, Our Dancing Daughters, de 1928, virou estrela – e estrela foi até morrer, uma das maiores que já houve.

O papel dela em Grand Hotel é interessantíssimo, fascinante. É uma mulher trabalhadora, treinada, preparada – algo não propriamente muito comum em 1932, convenhamos. Flaemmchen é uma competente secretária – e, detalhe interessante, o filme a chama o tempo todo de estenógrafa, embora ela não seja propriamente uma taquígrafa, e sim uma datilógrafa. Carrega sua máquina de escrever para os aposentos do diretor-geral Preysing, e datilografa as cartas que o industrial dita carrancudo.

Carrancudo, mas vivo, Preysing repara as pernas da moça. A câmara mostra as pernas de Joan Crawford. A saia, claro, é comportada, abaixo do joelho. Mas a câmara mostra as pernas da moça.

Mais tarde, Preysing se oferecerá, sem qualquer sutileza, para pagar um bom preço para que a secretária o acompanhe em uma viagem de negócios a Liverpool. Fica bastante claro que, durante a viagem, serão exigidos outros serviços da bela Flaemmchen além dos de secretária.

A moça pensa bastante antes de responder. O filme mostra que a idéia provoca nela repugnância. Mas ela precisa de dinheiro para sobreviver, e o preço oferecido é alto. Ela acabará aceitando.

“As pessoas chegam, as pessoas saem. Nunca acontece nada”

Segundo um dos especiais que acompanham o filme no DVD, as primeiras exibições de Grand Hotel para audiências fechadas – as previews para testar as reações dos espectadores – mostraram que o público ficava mais impressionado com a atuação de Joan Crawford do que com a da diva Greta Garbo. Foram então providenciados novos diálogos para a personagem de Garbo, e feitas tomadas adicionais.

zzgrand9Não adiantou muito. Ao ver o filme agora, 80 anos depois de seu lançamento, fica muito nítido que a melhor interpretação é de Joan Crawford, que a personagem mais forte, mais consistente, mais interessante, é o da bela secretária Flaemmchen.

Greta Garbo é Greta Garbo – bela, fascinante, diva. Mas quem rouba a cena é Joan Crawford.

Outro personagem interessantíssimo é o do médico, ferido gravemente na Primeira Guerra Mundial, que tem uma queimadura horrorosa em um lado do rosto. O dr. Otternschlag (Lewis Stone), sempre mal humorado, sorumbático, diz, no começo e no fim da narrativa, uma frase que ficou famosa:

– “Grand Hotel… Sempre o mesmo. As pessoas chegam, as pessoas saem. Nunca acontece nada.”

Um filme avançado, à frente de seu tempo, quanto aos costumes

Em termos de costumes, comportamento, há muita coisa impressionante em Grand Hotel. Era muito ousado, para um filme de 1932, mostrar que a personagem de Greta Garbo passava a noite inteira com o personagem de John Barrymore na suíte dela. E fica muito claro que os dois não ficaram conversando a noite toda. Ora, mostrar que um homem e uma mulher não casados treparam era imensa ousadia.

É sempre bom lembrar alguns trechos do Código Hays, o rígido conjunto de normas de autocensura que os estúdios tinham que seguir à risca:

zzgrand3“Nenhum filme será produzido que possa fazer abaixar os princípios morais daqueles que irão vê-lo. Desta forma, a simpatia da audiência jamais deve ser jogada para o lado do crime, do fazer errado, mal ou pecado. Princípios corretos de vida, sujeitos apenas às exigências do drama e do entretenimento, devem ser apresentados. A lei, natural ou humana, não será ridicularizada, nem simpatia pela sua violação será criada. (…) A santidade da instituição do casamento e do lar será preservada. (…) O adultério, às vezes material necessária para a trama, não deve ser tratado explicitamente, ou justificado, ou apresentado de forma atraente.”

Toda a personagem da secretária Flaemmchen, tudo que a cerca é um atentado ao Código Hays. É muito avançado para a época, muito à frente do tempo. Um empregador que olha as pernas da trabalhadora! Que comete assédio sexual!

Uma câmara que, em 1932, fazia movimentos de deixar Hitchcock babando

Avançado, à frente de seu tempo, moderno – e prodigiosamente belo – é também o trabalho da câmara de Edmund Goulding e seu diretor de fotografia William H. Daniels. Assim como a direção de arte de Cedric Gibbons.

Esse Cedric Gibbons construiu um cenário espetacular para fazer o papel do fictício Grand Hotel de Berlim. O lobby é gigantesco, com um piso moderno em um quadriculado de preto e branco que antecipa a op-art. Há uma imensa área vazia interna sobre o lobby lá embaixo, cercada por um corredor redondo que leva aos quartos. As tomadas dessa área interna são impressionantes.

E, no gigantesco lobby, a câmara passeia no meio dos astros e das dezenas e dezenas de figurantes com uma agilidade impressionante. Nos primeiros 10, 15 minutos do filme, enquanto vamos sendo apresentados aos personagens que passam pelo lobby, se dirigem à área de recepção, entram nos elevadores, entram e saem pela porta giratória, há longos planos-seqüência de deixar os cinéfilos arrepiados. Meu, a câmara dos caras fazia, em 1932, movimentos de deixar Alfred Hitchcock e Brian De Palma babando!

Diante de tudo isso, a falta de melhor definição de um ou outro personagem, a inconsistência de várias situações no roteiro, as bobagens de algumas sequências e diálogos ficam menores. Coisa pouca.

“O melhor exemplo do que era glamour naqueles tempos”

A anotação já está gigantesca, mas é preciso dar uma passada pelos alfarrábios.

zzgrand00Leonard Maltin dá 4 estrelas, a cotação máxima: “A novela de Vicki Baum sobre chique hotel de Berlim onde ‘nunca acontece nada’. As estrelas provam o contrário: Garbo como uma bailarina solitária, John Barrymore seu amante ladrão de jóia, Lionel Barrymore um homem à beira da morte, Crawford como uma ambiciosa estenógrafa, Beery um homem de negócios endurecido, Stone como um observador. Roteiro de William A. Drake. Vencedor do Oscar de melhor filme; imperdível. A trama foi retrabalhada diversas vezes (em Hotel Berlin, Weekend at the Waldorf, etc.)

Sim, Grand Hotel ganhou o Oscar de melhor filme. Um dos especiais do DVD observa que este foi o único filme a vencer na principal categoria ser ter tido qualquer outra indicação – nem direção, nem ator, nem atriz, nem roteiro, sequer uma indicaçãozinha para algum quesito técnico. Embora seja estupidamente bom, como já foi dito, no mínimo em fotografia e direção de arte.

A ver o que diz Dame Pauline Kael, a língua mais ferina do Leste.

“Desde sua primeira fala, ‘Nunca me senti tão cansada em toda a minha vida’, Greta Garbo põe o filme em ressonância com sua extraordinária presença sensual. (…) Garbo tinha apenas 26 anos quando fez este papel (Barrymore tinha 50), mas a fadiga e o desespero dela parecem autênticos. (…) Qualquer um que vá ver este filme esperando um roteiro inteligente, ou mesmo uma ‘boa atuação’, deve fazer um exame da cabeça. A maioria dos atores tem atuações incrivelmente ruins – parecem morder a câmara. Mas se se quer ver o que era glamour na tela antigamente, e o que eram, originalmente, os ‘astros’, este é talvez o melhor exemplo de todos os tempos.”

O CineBooks’ Motion Picture Guide dá a cotação máxima, 5 estrelas: “Este foi o arrasa-quarteirão da MGM, um projeto acalentado por Irving Thalberg, que estabeleceu pela primeira o filme multi-estelar. Até hoje o filme crepita com inteligência, temperamento e vitalidade, saindo dos melhores talentos do estúdio na época. Grand Hotel permanece um clássico.”

O livro Hollywood Picks the Classics coloca o filme entre os dez maiores dramas. E traz um daqueles detalhinhos fascinantes sobre os bastidores: para evitar uma explosão de egos, um duelo de titãs, o diretor Goulding tomou o cuidado de evitar que as personagens interpretados por Garbo e Crawford aparecessem juntas. Não há uma única cena com as duas.

O IMDb traz mais de uma dúzia de trivialidades como essa aí. Mas não vou transcrever nenhuma: esta anotação precisa ter um fim.

zzgrand5Precisa ter fim, mas não dá para deixar de fora o seguinte: em 1933, um ano depois da estréia de Grand Hotel, uma subsidiária da Warner Bros. – concorrente, é claro, da MGM – produziu um filmete de 18 minutos, E Nunca Acontece Nada, que é uma corrosiva, virulenta, arrasadora, deliciosa sátira da obra. É sensacional, hilariante, de rachar de rir. A bailarina joga sapatos nas pessoas enquanto fala e repete e repete: “I want to be alone!”. Aí aparece o barão e diz: “Eu ouvi da primeira vez”. Daí a pouquinho a bailarina diz: “Eu tenho um coração quebrado”. O barão diz: “Eu estou quebrado”.

Por uma dessas peripécias do destino, os filmes da MGM estão sendo lançados (pelo menos no Brasil) pela Warner, e então o DVD de Grand Hotel traz a virulenta sátira feita ao filme pelo estúdio então rival da produtora.

Mas a verdade é que o fato de a Warner ter investido uma boa grana – há dezenas e dezenas e dezenas de figurantes no filmete E Nunca Acontece Nada, incluindo mais de uma dúzia de bailarinas, todas de coxinhas bem grossinhas, como mandava o figurino da época – para gozar o filme do estúdio rival só mostra mesmo a importância que Grand Hotel teve em sua época.

Anotação em dezembro de 2013

Grand Hotel

De Edmund Goulding, EUA, 1932

Com Greta Garbo (Grusinskaya), John Barrymore (Barão Felix von Gaigern), Joan Crawford (Flaemmchen), Wallace Beery (Preysing), Lionel Barrymore (Otto Kringelein),

e Jean Hersholt (Senf), Robert McWade (Meierheim), Purnell Pratt (Zinnowitz), Ferdinand Gottschalk (Pimenov), Rafaela Ottiano (Suzette)

Roteiro William A. Drake

Baseado na novela Menschen im Hotel, de Vicki Baum, e na versão do livro para o teatro, escrita por William A. Drake

Fotografia William H. Daniels

Montagem Blanche Sewell

Direção de arte Cedric Gibbons

rodução Metro-Goldwyn-Mayer. DVD Warner.

P&B, 113 min

R, ***

10 Comentários para “Grand Hotel”

  1. quando eu penso em Greta Garbo e Joan Crawford atuando no mesmo filme, me arrepio! Preciso revê-lo.

  2. Acabei há pouquinho de ver o filme e sinceramente não gostei. Eu concordo com o que o aSérgio diz. A história tem coisas bobas mas a parte técnica é óptima. Mas a história é de tal maneira secante que eu estava ansioso para que acabasse. Por mais que goste dos movimentos de câmara ou dos cenários, eu preciso apreciar o plot, caso contrário dificilmente gosto do filme. A interpretação de Garbo é muito artificial. Eu apenas tinha visto antes de Grande Hotel o filme Ninotcha e pareceu-me que ela tinha uma atuação boa. Talvez seja só deste filme, mas Garbo aborrece-me. Crawford está bem melhor

  3. Revi ontem. Boa cópia da coleção Folha Apresenta.
    Cá pra nós, Sérgio, com esse elenco fabuloso a Metro bem que poderia ter feito um bom filme. Não entendo como ganhou Oscar: chato, arrastado, inconvincente! Fiquei com a sensação de que os atores e, sobretudo Garbo, não se sentiram à vontade. Salvam- se Joan Crawford, William Daniels e Cedric Gibbons. Na minha opinião um mega-abacaxi! A descartar.

  4. Concordo plenamente com você no que diz respeito à Joan Crawford. Ela rouba a cena no filme, forte, ousada, sensualíssima, uma coisa! Essa semana vou lançar uma resenha do filme no meu blog.

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