No Calor da Noite / In the Heat of the Night

Nota: ★★★½

Um filmaço, este No Calor da Noite, drama policial e sobre racismo de Norman Jewison, com Sidney Poitier e Rod Steiger. Não me lembrava de que era tão bom. Na verdade, não me lembrava de quase nada do filme, que, pelas minhas anotações, só vi uma vez, quando estreou, em 1968, meu primeiro ano em São Paulo.

Foi o grande ganhador do Oscar de 1968, com os filmes lançados nos Estados Unidos em 1967. Teve sete indicações, e levou cinco prêmios, os de melhor filme, ator para Rod Steiger, roteiro adaptado, montagem e som. Não levou os prêmios de direção e efeitos sonoros.

No total, foram 22 prêmios e 12 outras indicações, inclusive os Bafta para melhor direção e ator não britânico para Rod Steiger, mais os Globos de Ouro na categoria drama para melhor filme, ator para Steiger e roteiro.

Não tem sentido ficar discutindo se os Oscars foram justos ou não, mas, de qualquer forma, é bom lembrar que concorriam ao prêmio de melhor filme Bonnie and Clyde – Uma Rajada de Balas, de Arthur Penn, A Primeira Noite de um Homem/The Graduate, de Mike Nichols, Adivinhe Quem Vem para Jantar, de Stanley Kramer, e o menos badalado O Fabuloso Dr. Doolitle, de Richard Fleisher (que seria refilmado em 1998 com Eddie Murphy).

Três grandes filmes – vencidos por No Calor da Noite.

Interessantíssimo que, entre os cinco indicados para melhor filme naquele ano, houvesse dois sobre racismo, e os dois com Sidney Poitier – este No Calor da Noite e Adivinhe Quem Vem Para Jantar.

E é interessantíssimo também lembrar que o realizador de Adivinhe…, Stanley Kramer, havia dirigido o mesmo Sidney Poitier em outro poderoso drama sobre racismo, Acorrentados/The Defiant Ones, de 1958, nove anos antes.

Sidney Poitier – aquele sujeito de rosto belíssimo, um deus Apolo, e que parece ter uma integridade à la Atticus Finch – havia sido a primeira pessoa de pele negra a levar para casa aquela estatueta de gesso de um camarada careca nas categorias de melhor ator/atriz, por Uma Voz nas Sombras/Lillies of the Field, de 1963. (Antes dele, apenas Hattie McDaniel havia levado o Oscar de atriz coadjuvante, por … E o Vento Levou, de 1939.)

Eppur si muove. Há quem não acredite, mas a Terra se move, sim.

Nos créditos iniciais, um desfile de nomes importantes

Me assustei, durante os créditos iniciais, com a quantidade de nomes importantes. Pra começo de conversa, ao longo dos créditos iniciais Ray Charles canta a música composta para o filme, com o mesmo título dele, “In the Heat of the Night”. Sidney Poitier, Rod Steiger, dois grandes, dois gigantes – e ainda Warren Oates, que participaria de uma longa lista de filmes importantes, de Meu Ódio Será Sua Herança, de Sam Peckinpah, a Terra de Ninguém/Badlands, de Terrence Malick.

Trilha sonora de Quincy Jones, o grande maestro Quincy Jones. É dele a melodia da canção-título cantada por Ray Charles, com letra do casal Alan & Marilyn Bergman, autor, por sua vez, de diversas pérolas, entre elas a versão em inglês de “Les Moulins de mon Coeur”, “The Windmills of my mind”, do filme Crown, o Magnífico/The Thomas Crown Affair.

Montagem de Hal Ashby! Hal Ashby, que depois, como diretor, assinaria uma série de filmes marcantes dos anos 70, Ensina-me a Viver, A Última Missão, Shampoo, Esta Terra é Minha, Amargo Regresso, Muito Além do Jardim.

Fotografia de Haskell Wexler, mais um gigante, dois Oscars, outros 14 prêmios e 9 indicações, 70 títulos na filmografia.

E ainda Norman Jewison, é claro. Canadense de Toronto (nasceu em 1926), tem mais de 40 títulos como diretor, numa filmografia que começou em 1950 e se estende até os anos 2000, e inclui, entre tantos outros, Crown, o Magnífico, de 1968, Um Violonista no Telhado, de 1971, Justiça para Todos, de 1979, Agnes de Deus, de 1985, Feitiço da Lua, de 1987, Com o Dinheiro dos Outros, de 1991, e Hurricane, de 1999.

Como se vê por este último título – Hurricane –, racismo foi tema de mais de um dos filmes do diretor. De Sidney Poitier a Denzel Washington, o cara não se furtou a enfrentar de frente esse tema difícil.

O filme foi feito apenas três anos depois que os Estados Unidos aboliram as leis segregacionistas

O filme abre ao som da voz de Ray Charles cantando o primeiro verso que é o título da obra – in the heat of the night. A fotografia do mestre Haskell Wexler mostra imagens um tanto impressionistas – às vezes as luzes que aparecem na tela distorcem um pouco o que se vê. É de noite, e um trem está chegando a Sparta, no Mississippi – Sul Profundo, de racismo profundo.

Um homem apenas desce do trem na pequena estação da cidadezinha igualmente pequena. A câmara mostra o homem dos pés até pouco abaixo da cintura, e é preciso que o espectador seja bastante atento para notar, no meio dos letreiros com os nomes dos atores e da equipe, que as mãos do homem, único pedaço visível de seu corpo, e que carregam uma mala, são negras.

E aqui é preciso lembrar alguns fatos e datas. No Mississippi, assim como em diversos outros Estados do Sul, havia leis que asseguravam a segregação racial. A segregação era lei – assim como foi na África do Sul do apartheid. Havia escolas para brancos e escolas para negros; a segregação dentro dos ônibus era garantida por lei, negros só na parte de trás. Havia banheiros separados para brancos e negros. Bebedouros separados para brancos e negros.

Apenas em 1964, no governo de Lyndon Johnson, o vice que assumiu após o assassinato de John F. Kennedy, o Civil Rights Act extinguiu as legislações estaduais segregacionistas.

O filme é de 1967. Três anos apenas depois que a segregação foi tornada ilegal.

O policial Sam faz a ronda pela cidadezinha; vê uma moça nua e em seguida um homem assassinado

Fim dos créditos, e o rosto de um homem branco enche a tela, num close-up. O homem, Ralph (Anthony James, na foto), o único empregado de um bar vagabundo, tem a cara cheia de suor – é verão bravo em Sparta, Mississippi -, uma expressão nojenta de mau caráter, e se dedica a matar moscas com uma borrachinha dessas de enrolar dinheiro, enquanto Sam Wood, policial (o papel de Warren Oates), toma um refrigerante. O homem demonstra desprezo, até ódio por Sam.

Sam sai do bar vagabundo, entra na sua viatura policial, e faz uma ronda pelas ruas da pequena cidade. A ronda inclui uma passagem por uma ruazinha residencial, de casas humildes. Diante de uma delas, Sam pára seu carro; há uma luz acesa na casa, e lá dentro, atrás da janela mal protegida por uma cortina fina, há uma moça de pé, nuazinha. A moça, Delores (Quentin Dean, na foto abaixo), vê Sam parado na viatura olhando para ela, enquanto, completamente nua, ela anda pela sala da casa, diante da janela, tomando uma Coca-Cola.

Depois de algum tempo – o que é bom dura pouco –, Sam, embora sem vontade alguma de sair dali, dá a partida no carro, acende os faróis e prossegue sua ronda pelas ruas vazias da cidade.

Numa esquina de uma ruazinha com a Main Street, topa com uma cena raríssimas vezes vista em Sparta: um homem morto, atingido por um objeto na cabeça. Um assassinato, provavelmente o primeiro em muitos e muitos anos ali.

E, pior ainda: o morto é Colbert, um milionário de Chicago que estava para construir uma fábrica em Sparta, que daria emprego para pelo menos mil pessoas.

O chefe da polícia de Sparta é Gillespie (o papel de Rod Steiger), sujeito mal-humorado, ranzinza, que faz cara feia para todo mundo e gosta de dar ordens aos berros para os infelizes subalternos. Enquanto um médico da cidade examina o corpo de Colbert, Gillespie manda Sam dar uma geral pela cidade.

Um desconhecido, de pele negra, com dinheiro no bolso. Conclusão: é o assassino

Na pequena sala da estação ferroviária, Sam encontra um homem vestido de terno – o homem que havia aparecido pouco antes, descendo do trem, o papel de Sidney Poitier. É desconhecido, tem a pele negra e sua carteira contém várias notas. Pronto, simples como 1 + 1 é igual a 2: Sam leva o assassino de Colbert para a delegacia.

A sequência que vem a seguir, Gillespie interrogando o suspeito número 1 em seu gabinete, é extraordinária, sensacional. O diretor Jewison não tem pressa – ao contrário. Estão ali dois grandes atores, Rod Steiger e Sidney Poitier. O roteirista Stirling Silliphant escreveu diálogos esplendorosos.

Sam havia jogado a carteira de dinheiro do preso sobre a mesa do chefe de polícia – vêem-se várias notas de US$ 20, outras de menor valor. Na época, uma pequena fortuna.

Gillespie é violento, autoritário, cheio de si. Está diante do possível assassino – e ele é negro.

Gillespie: – “Tem um nome, garoto?”

Não importa que o homem seja um absoluto adulto. Se é negro, para um branco, quanto mais um branco que é autoridade, e autoritário, será sempre boy.

O preso: “Virgil Tibbs”.

O chefe de polícia dá uma imensa risada, goza o nome do outro, um nome muito imponente para um nigger boy.

Virgil Tibbs aparenta muita calma. Não parece apavorado por estar sendo acusado de assassinato em uma cidadezinha racista de um Estado racista.

O trecho do diálogo que vem em seguida perde bastante na tradução, por isso transcrevo o original:

Gillespie: – “Whatcha hit him with?” Algo próximo de “Com que cê bateu nele?”

O outro: – “Hit whom?” Algo tipo “Bater em quem?”, dito em inglês perfeito, educado. Pessoas mais simples, sem muito estudo, diriam “Hit who?”, e não “Hit whom?”

Gillespie:  – “Whom”? Are you a Northern boy? What’s a Northern boy doing down here? “Em quem? Você é um garoto do norte? O que um garoto do norte está fazendo aqui?”

A sequência é lenta, e longa. Rod Steiger dá um show de interpretação. O diálogo é brilhante, e não resisto à tentação de transcrevê-lo.

Gillespie: – “Por que você não me conta como matou Mr. Colbert? Garanto que você se sentirá muito melhor.”

Tibbs (a voz firme, pausada): – “Eu estava visitando minha mãe. Cheguei no trem das 12h35, de Brownsville. Estava esperando para pegar o das 4h05.”

Gillespie (depois de longa pausa): – “E enquanto isso, você matou um homem branco, o mais importante que temos por aqui, e pegou uma boa quantidade de dólares dele.”

Tibbs: – “Ganhei esse dinheiro trabalhando 10 horas por dia, 7 dias por semana.”

Gillespie: – “Preto não ganha tanto dinheiro. É mais do que eu ganho em um mês. Onde você ganhou isso?”

Tibbs: – “Filadélfia.”

Gillespie: – “Mississippi?”

Tibbs: – “Pensilvânia”

Gillespie (berrando): – “E o que você faz lá para ganhar tudo isso?”

Estamos com 16 minutos de filme quando Virgil Tibbs responde:

– “Sou policial”. A frase vem pausada, escandida sílaba por sílaba: – “I’m a po-li-ce of-fi-cer”.

“Um filme que possui a imagem e o som da realidade e a batida palpitante a verdade”

“Baseado no primeiro dos três romances de John Ball cujo personagem principal é o detetive negro Virgil Tibbs, foi rodado em Illinois e no Tennessee”, informa Fernando Albagli no seu ótimo livro Tudo Sobre o Oscar, da Zit Editora. “Poitier repetiu o personagem em Noite Sem Fim (They Call Me Mr. Tibbs), 1970, com direção de Gordon Doulgas e sua própria nas cenas finais, e em A Organização (The Organization), 1971, dirigido por Don Medford.”

É também do livro de Fernando Albagli que reproduzo este trecho da crítica de Bosley Crowther, publicada no New York Times na época do lançamento do filme:

“Norman Jewison pegou um roteiro forte e direto de Stephen Silliphant, adaptado de um romance mediano de John Ball e, com a contribuição das pugentes atuações de Rod Steiger e Sidney Poitier, ele o converteu num filme que possui a imagem e o som da realidade e a batida palpitante da verdade.”

Poitier fez vários personagens íntegros, honestos, educados, como este Virgil Tibbs

No Calor da Noite apareceu em 75º lugar na lista de 2007 dos Maiores Filmes de Todos os Tempos do American Film Institute. Está presente nos livros 501 Must-See Movies e 1001 Filmes para Ver Antes de Morrer. Leonard Maltin dá cotação máxima, 4 estrelas.

Consta que Sidney Poitier o considera o favorito dos filmes em que trabalhou.

O policial Virgil Tibbs tem muito a ver com diversos outros personagens que Poitier interpretou – inclusive com o professor John Prentice, de Adivinhe Quem Vem para Jantar, daquele mesmo ano. Em vários de seus filmes, Poitier fez personagens íntegros, honestos, educados, seguros de si, fortes, capazes de enfrentar, com seu talento, seu trabalho, o racismo daquela sociedade.

Virgil Tibbs não é apenas um policial de uma cidade grande do Norte mais rico e desenvolvido, preso sob acusação de um assassinato que obviamente não cometeu por um bando de policiais sem grande experiência, de uma cidadezinha pequena no Sul Profundo.

É também – como informa seu chefe, por telefone, a um apatetado, atônito, perplexo chefe de polícia Gillespie – o melhor detetive de homicídios da Filadélfia.

Gillespie tem nas mãos para resolver o assassinato de um homem rico, importante, que iria criar mil empregos naquela cidade. Sabe que não tem a expertise para solucionar o caso. É racista, é autoritário – mas se vê obrigado a pedir a ajuda do homem que havia tentado humilhar num interrogatório imbecil.

É realmente fascinante como o roteirista Stirling Silliphant e o diretor Norman Jewison conseguiram juntar várias camadas de temas no filme. Há a investigação policial sobre o assassinato de Colbert – e a trama policial é rica, bem estruturada. Encaminha-se numa determinada direção, quando estamos aí pela metade do filme, mas depois se volta em outra direção completamente diferente.

Mas, permeando a trama policial, há toda a questão racial, mostrada de forma forte, densa, poderosa.

E há um cuidadoso estudo psicológico a partir do relacionamento entre o policial negro do Norte, bem preparadíssimo, e o chefe de polícia local racista, prepotente. Rod Steiger expressa com brilho o conflito em que Gillespie mergulha – a necessidade da ajuda do homem que ele despreza, o respeito que vai sendo obrigado a ter por ele.

Gillespie-Rod Steiger vai sendo forçado a engolir sua repulsa pelo policial mais bem preparado do que ele próprio. É forçado a engolir sua repulsa, sua inveja, e a admiração pelo outro que vai crescendo apesar de ele não querer admitir isso.

Um brilho de filme. Um filmaço.

Anotação em abril de 2012

No Calor da Noite/In the Heat of the Night

De Norman Jewison, EUA, 1967.

Com Sidney Poitier (Virgil Tibbs), Rod Steiger (Bill Gillespie), Warren Oates (Sam Wood), Quentin Dean (Delores Purdy), James Patterson (Purdy), William Schallert (Webb Schubert), Anthony James (Ralph)

Roteiro Stirling Silliphant

Baseado em novella de John Ball

Fotografia Haskell Wexler

Música Quincy Jones

Letras da canção título Marilyn & Alan Bergman

Montagem Hal Ashby

Produção Walter Mirisch, United Artists. DVD MGM.

Cor, 109 min

R, ***1/2

11 Comentários para “No Calor da Noite / In the Heat of the Night”

  1. Caro Sergio Vaz:
    Aí por fins dos anos 60, acredito que perto da época de unne homme une femme ou vivre pour vivre, assisti a um filme acho que produção francesa que tinha uma música muito parecida com a batida da bossa nova e também tinha um citroen cara de sapo, lançamento da época, que me marcou pela música e pela mulher que era muito bonita. Nunca mais consegui vê-lo. Será que seria possivel encontrá-lo?
    Grato.

  2. Um filme realmente notavel. Um duelo de gigantes contracenando e fazendo de No Calor da Noite uma excelente pedida para assistir.

  3. Ontem tive oportunidade de rever este filme e fiquei encantadíssimo com ele, como já tinha ficado antes.
    É mesmo um grande filme e deveria ser visto por toda a gente – ainda anda por aí muito racismo.
    Grandes actores, realização sem falhas, secundários certos e um argumento muito bem trabalhado e em que os conlitos rácicos estão muito bem apresentados.
    Adorei a cena em que o Sidney Poitier devolve a bofetada que um branco importante lhe dá.

  4. sem duvidade nenhuma um grande filmaço policial merecedor de todos os premios, grande direçao e grande interpretaçao de todos os atores na epoca.

  5. Um detalhe interessante: a cena do diálogo entre Gillespie e Tibbs na casa do xerife foi toda improvisada por Steiger e Poitier.

  6. Filmaço mesmo!
    Fiquei com o coração na mão várias vezes ao longo do filme, temendo pela vida do personagem de Poitier.
    Senti antipatia pelo tal Ralph desde a primeira vez em que ele apareceu, e a frase “uma expressão nojenta de mau caráter” não poderia descrever melhor a cara dele, não só nessa cena, como no filme todo. Chega a causar repulsa.
    Confesso que vibrei quando Tibbs devolve o tapa em Endcott, assim como quando ele responde “They call me Mr. Tibbs”, ao ser perguntado como o chamavam na cidade onde trabalhava.
    Li no IMDb que esse foi o primeiro grande filme em cores onde houve preocupação com a luz, para que não prejudicasse o tom de pele dos atores negros. Li também que Poitier teve que dormir com uma arma debaixo do travesseiro, por medo de ataques racistas durante a produção no Tennessee.

    Num ano em que Sidney Poitier fez 3 filmes importantes , este “No Calor da Noite”, “Adivinhe Quem Vem para Jantar”, e “Ao Mestre, Com Carinho” não ter sido indicado por nenhum dos papéis ‘será’ que diz algo sobre racismo? Ao menos Rod Steiger se lembrou dele em seu discurso no Oscar. Quem apresentou os indicados foi Audrey Hepburn, e me parece que ela ficou legitimamente feliz quando viu que Steiger era o ganhador (fiquei com dó do fofo Paul Newman, pois ele também estava muito bem em “Cool Hand Luke”, e tem até uma história sobre ele não querer mais ir às cerimônias do Oscar, de tanto ser indicado e não levar; mas acho que Rod Steiger ter vencido foi importante, por causa do tema abordado, e porque ele também mereceu, claro; não foi indicado à toa). O discurso dele foi rápido mas bonito (primeira vez que vi um ator agradecendo ao público); agradeceu também ao diretor, por dar liberdade ao ator de cometer erros, e por último, e mais importante, segundo ele, agradeceu ao Poitier “pelo prazer da sua amizade”, que deu a ele conhecimento e entendimento do que é o preconceito (será que era politicamente incorreto falar racismo?), ajudando-o a melhorar sua performance. E terminou com um “We Shall Overcome”. Me arrepiei na primeira vez em que assisti, e acabei vendo o vídeo várias vezes seguidas. Até hoje quando revejo dou uma emocionadinha.
    Para quem ainda não viu, vale a pena.

    E por falar em integridade a la Attichus Finch, lembrei de uma historinha que li: em meados dos anos 1960, Jane Fonda deu uma festa em comemoração ao 4 de Julho. A festa estava cheia de famosos, com direito a toda a loucura daquela década. Estavam lá Andy Warhol, Lauren Bacall, Henry Fonda (reclamando da música muito alta). George Cukor numa conversa sem fim sobre filmes com Marlon Brando e Sam Spiegel. Peter Fonda, Jack Nicholson, Dennis Hopper doidões. Fumaça espessa de maconha no ar. No meio disso tudo, um Sidney Poitier começa a vagar aturdido pra lá e pra cá, assim como ninguém menos que Gene Kelly. Os dois acabaram parando num canto pra ver Natalie Wood tentando ensinar sapateado a Nathalie Vadim.
    Eu ri ao ler isso, pois apesar de não saber muito da vida de Sidney Poitier, ele passa mesmo essa imagem de pessoa correta e íntegra, e foi sempre elogiado pelos colegas nesse aspecto. Mas sobre Gene Kelly eu já li o suficiente pra saber que ele era “careta” (acho essa palavra pejorativa, por isso está entre aspas) e também muito certinho, então fiquei pensando que os dois devem ter se sentido de fato deslocados na tal “festa estranha, com gente esquisita”.

  7. Não curto Poitier. Sempre faz o mesmo papel de bonzinho indignado. Mas não há como negar que está excepcional nesse drama policial anti-racista. A história é banal, mas são tantos grandes talentos envolvidos que elevam o filme. Sem contar o show da performance de Rod Steiger, um grande ator que nem sempre acerta, muita vezes exagera no estilo Jack Nicholson ou Marlon Brando.

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