Compramos um Zoológico / We Bought a Zoo

Nota: ★★★☆

Um gostoso filme para ser visto por toda a família. Não precisa, não tem que ser diversão de toda a família – não é um filme infanto-juvenil, e é perfeitamente aconselhável para adultos desacompanhados de filhos –, mas é  também uma boa pedida para a família inteira, algo não muito comum hoje em dia.

Compramos um Zoológico se baseia em uma história real, conforme anunciam os cartazes e a capa do DVD, e a narrativa é bem humorada, embora parta de uma perda, e a perda esteja sempre presente ao longo do filme. O protagonista, Benjamin Mee (o papel de Matt Damon), ficou viúvo, e tem que enfrentar – além da tristeza pela morte da mulher muitíssimo amada – a barra duríssima de criar sozinho os dois filhos, Dylan (Colin Ford), um problemático garoto de 14 anos, e Rosie (Maggie Elizabeth Jones), uma deliciosa menininha de uns seis, sete anos.


Benjamin é um profissional bem sucedido. É um repórter de aventuras, um repórter aventureiro: mostra como se praticam esportes radicais, viaja com cientistas que investigam tornados para perto do olho do furacão, esse tipo de coisa – suas matérias fazem sucesso, ele é extremamente benquisto pelo editor. Mas, seis meses depois da morte de Katherine (Stephanie Szostak), ele continua afastado do tipo de reportagem que fazia antes: o chefe, amigo, camarada, quer que ele fique próximo dos filhos, até se restabelecer.

O irmão mais velho, Duncan (Thomas Haden Church), insiste em que ele deve circular, ir aos lugares, conhecer pessoas, voltar a namorar. As mães dos colegas da escola dos filhos o paqueram abertamente – mas Benjamin não está preparado para paqueras. Pensa constantemente em Katherine, lembra-se dela em cada lugar onde foram juntos – e foram juntos para todos os lugares da cidade.

E o garoto Dylan vai cada vez pior na escola; é desatento, não participa, não se anima por nada – a não ser por desenhar. Desenha coisas pavorosas, imagens de extrema violência, que expressam profunda dor, angústia brava. Depois de três advertências, vem a quarta, porque Dylan foi flagrado furtando alguma coisa na escola. A expulsão do garoto da escola é a gota d’água: Benjamin resolve se mudar de casa, de bairro, de vida. Pede demissão, e sai à procura de uma nova casa.

Tudo se baseia numa história real, mas, como é filme, a chefe do zoo tem a beleza de Scarlett Johansson

Quando o corretor, Stevens (interpretado, com imensa graça, por J.B. Smoove, uma figuraça), afinal o leva a uma propriedade no campo, e Rosie se mostra encantada com o lugar, Benjamin resolve comprá-la. O corretor Stevens desaconselha, mostra que há muitos problemas: o lugar só pode ser vendido se o novo proprietário assumir a responsabilidade de manter todos os animais que estão ali – e há todo tipo de animal, é de fato um zoológico que acabou sendo abandonado.

A lógica, a razão, o irmão Duncan, tudo e todos são contra a compra do lugar, mas Benjamin aferra-se à idéia. Compra o zoológico, e muda-se para a casa que há dentro dele, com uma filhinha felicíssima e um filho adolescente mais mal humorado do que nunca.

A compra da propriedade inclui a compra do passe de uma equipe de tratadores dos animais.

A história é real, o roteiro do filme se baseia no livro escrito pelo Benjamin Mee da vida real – mas, como é um filme, é, afinal, showbusiness, temos que a chefe da equipe de tratadores dos animais, Kelly Foster, vem na pele de Scarlett Johansson, aquele espanto de beleza jovem.

É tudo previsível, mas feito com competência, simpatia, bom humor

Dá para imaginar o que virá a partir daí. Muita dificuldade, muito trabalho duro, muita despesa para botar tudo aquilo de acordo com as exigências da agência federal que cuida de vida animal, o Ibama deles, de forma a se obter a licença para reabrir o zoológico.

É tudo previsível; não há surpresa, não há reviravoltas – mas é tudo feito com tanta competência, simpatia, bom humor, que só os mais empinados narizes dos que só admiram os “filmes de arte” não se divertirão com o filme do diretor Cameron Crowe.

Cameron Crowe veio do jornalismo. Fanático por rock e pop desde cedo, foi repórter da revista Rolling Stone; dessa experiência resultou Quase Famosos, de 2000, um gostoso filme sobre um garoto que – como o próprio autor – teve a chance de escrever uma matéria para a Rolling Stone sobre a turnê de uma banda de rock.

As ligações de Crowe com a música permanecem, e assim temos, neste filme aqui, como músicas incidentais, canções de Bob Dylan (“Buckets of Rain”), Cat Stevens, e muitos outros, além de canções feitas especialmente para o filme por um bom compositor e cantor que eu não conhecia, Jónsi. É uma delícia de trilha sonora.

Scarlett Johansson é aquele colírio, aquela bênção para os olhos. Matt Damon está à vontade – e simplesmente não consegue trabalhar mal. Mas a maior surpresa do bom elenco, uniformemente bem dirigido (saber dirigir atores é uma das grandes qualidades de Cameron Crowe), é a garotinha Maggie Elizabeth Jones (na foto acima), que faz Rosie, a filhinha de Benjamin. A menina rouba todas as cenas em que aparece. É uma deliciosa versão anos 2010 de Shirley Temple. Ela me fez lembrar a Dakota Fanning bem jovem; tem talento igual.

E eis que o filme tem também Elle Fanning, a irmã mais jovem de Dakota. Elle é de 1998 – Dakota é de 1994 –, e sua filmografia no IMDb já tem absurdos 46 títulos. Nunca tinha visto um filme da menina. Não parece ter o talento da irmã, mas é de uma beleza que chega a assustar. Elle Fanning (na foto abaixo com Dylan-Colin Ford)  faz o papel de Lily, uma sobrinha de Kelly Foster-Scarlett Johansson que trabalha com os animais na fazenda-zoológico, e, obviamente, vai se interessar por Dylan, o garotinho que chega da cidade.

Nos especiais do DVD, um presente especial: um filmete sobre a “atuação” dos bichos

Ao final de Compramos um Zoológico, Mary e eu estávamos contentes, satisfeitos por ter visto um filme simpático, gostoso, bem feito, com boas interpretações, correto nos valores, nos princípios.


Mas em momento nenhum me ocorreu que no filme, além de Matt Damon, Scarlett Johansson, a ótima Maggie Elizabeth Jones, o engraçadíssimo J.B. Smoove, a lindinha Elle Fanning, também trabalham um urso, um leão, três tigres, um macaquinho, um pavão… e mais algumas dezenas de bichos.

O complemento do DVD, o especial, espécie de making off, é quase totalmente dedicado a eles, aos bichos – e a seus treinadores. Claro, os atores, produtores falam – mas o foco principal são os animais e os profissionais que os treinam. E é uma delícia esse filmete que acompanha Compramos um Zoológico. Me abriu os olhos para uma parte importante da produção para a qual eu não tinha prestado a menor atenção.

Fiquei imaginando que as crianças devem adorar ver aquilo.

É, de fato, um bom filme para toda a família.

Anotação em julho de 2012     

Compramos um Zoológico/We Bought a Zoo

De Cameron Crowe, EUA, 2011.

Com Matt Damon (Benjamin Mee), Scarlett Johansson (Kelly Foster), Colin Ford (Dylan Mee), Maggie Elizabeth Jones (Rosie Mee), Thomas Haden Church (Duncan Mee), Angus MacFadyen (Peter MacCready), Elle Fanning (Lily Miska), Patrick Fugit (Robin Jones), John Michael Higgins (Walter Ferris), Carla Gallo (Rhonda Blair), J.B. Smoove (Mr. Stevens), Stephanie Szostak (Katherine Mee)

Roteiro Aline Brosh McKenna e Cameron Crowe

Baseado no livro de Benjamin Mee

Fotografia Rodrigo Prieto

Música Jónsi

Produção Twentieth Century Fox, LBI Entertainment, Vinyl Films, Dune Entertainment. DVD Fox.

Cor, 124 min

*** 

7 Comentários para “Compramos um Zoológico / We Bought a Zoo”

  1. Olá Sérgio!
    Também gostei bastante do filme.
    Mas você está errado, já viu um filme com a Elle Fanning sim! Ela faz a personagem da Cate Blanchett novinha no curioso caso de Benjamin Button. Não vi muitos filmes dela, mas em A menina no país das maravilhas ela atua bem pequenininha e é de tirar o chapéu! Recomendo!
    Abraço e parabéns pelo site.

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