Malu de Bicicleta

Nota: ★★½☆

Comédia romântica gostosinha, mezzo paulista, mezzo carioca, com produção caprichada, excelente fotografia, bossinhas bem feitas, baseada no livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva.

A garota Fernanda de Freitas, que faz a Malu de Bicicleta do título, é uma absoluta gracinha.

A história é simples, simpática, divertida. Luiz (o papel de Marcelo Serrado) é um rapagão paulista bem de vida, bon-vivant, don juan. A família tinha uma indústria, que faliu – e então Luiz herdou o prédio grande da fábrica. Os amigos o aconselham a demolir o prédio, vender o imóvel e encher o bolso de dinheiro. Mas Luiz tem dinheiro – e vontade de empreender. Transforma o prédio da fábrica em um point, bar, casa noturna. Põe os amigos para trabalhar com ele, a coisa dá certo.

Bonitão, solteiro, com grana, Luiz come tudo quanto é mulher que passa pela frente.

Uma delas periga virar um caso à la Atração Fatal, e então os amigos o aconselham a viajar, ficar fora de São Paulo por uns tempos.

 

Luiz vai para o Rio. Está andando no calçadão, diante daquele mar maravilhoso na Cidade idem, vendo aquele monte de mulher gostosa de biquíni. Dá um passo em falso, entra na ciclovia – e é atropelado por Malu de Bicicleta.

Paixão imediata, furiosa: o paulista gama na carioca.

Fica uma semana por ali, tomando água de coco, esperando uma hora em que Malu passe de novo. Ela passa. Conversam, ele a convida para tomar uma água de coco. O rapaz do quiosque entrega: – “Ele ficou aqui uma semana esperando você passar de novo”, enquanto Luiz pensa – e a gente ouve a voz dele falando alto: “Fica calado, veado!”

Começam a namorar.

O don juan, o conquistador de mil mulheres abre mão de tudo– seria possível não lembar do personagem de Paulo José em Todas as Mulheres do Mundo? – por Malu. Apaixonado pela primeira vez na vida, enfrenta, como diria Caetano, a monstruosa sombra do ciúme.

E pior: algum dia, terá que voltar pra São Paulo. Malu topará deixar o Rio – desde que possa voltar sempre à sua cidade para rever os amigos.

A monstruosa sombra do ciúme lança sua flecha preta.

O chocante contraste entre a beleza esfuziante do rio e a selva de concreto paulista

O diretor Flávio Ramos Tambellini se permite várias brincadeiras. Põe Luiz para depor diante de uma câmara de vídeo – ecos de sexo, mentiras e videotape, de Steven Soderbergh? Talvez – e por que não? No início da narrativa, antes de ser atropelado por Malu de Bicicleta, Luiz tem sonhos, vertigens, com imagens de mulheres – e vemos close-ups de pedaços de corpos maravilhosos de cariocas mis, em belo efeito, montagem rápida, dinâmica.

Por três ou quatro vezes, vemos na tela coisas que Luiz gostaria de estar fazendo, mas na verdade não está – como, por exemplo, atacar o ex-caso, agora amiga e colaboradora no bar-casa naturna Mari (Daniela Galli) em plena mesa de trabalho.

Como não poderia deixar de ser, mostra o chocante contraste entre a beleza esfuziante do Rio e a selva de prédios que não acaba nunca de São Paulo. Malu leva Luiz para o alto da Pedra da Gávea, e a paisagem que vemos é aquela coisa extraordinariamente bela – mas Luiz só tem olhos para Malu.

Mas o filme não espezinha São Paulo. A fotografia – magnífica – escolhe belos ângulos da cidade que não tem belezas naturais. O filme teve apoio da Rio Filme e da Prefeitura do Rio, mas não é – ao contrário do que se poderia temer – uma ode de amor ao Rio e de desprezo por São Paulo. Mostra a cara das duas maiores cidades do país.

O terceiro filme do diretor – e o terceiro baseado em obra literária recente

E há uma fascinante brincadeira, que só fui perceber depois de ver o filme, no making of que o acompanha no DVD: Fernanda de Freitas, que faz a carioquíssima Malu de Bicileta, é paulista, enquanto Marcelo Serrado, que interpreta o paulistaníssimo Luiz, é carioca.

Confesso que não conhecia nenhum dos dois. Falha minha, uma das minhas muitíssimas. Marcelo Serrado, carioca de 1967, é veteraníssimo: começou a carreira na TV em 1987, participou de dezenas de minisséries da Globo.

Fernanda de Freitas, paulista de São José do Rio Preto, de 1980, também é experiente; está na TV desde 2002, atuou em várias séries e novelas. No cinema, esteve no elenco de Cidade Baixa, Zuzu Angel, Tropa de Elite, A Casa de Mãe Joana. Este aqui foi seu primeiro papel como protagonista.

Flávio Ramos Tambellini, mais de 30 títulos como produtor, tinha dirigido antes Bufo & Spallanzini, de 2001, com base no livro de Rubem Fonseca, e O Passageiro – Segredos de Adulto, baseado em obra de Cesario Melo Franco, de 2006. Este aqui, seu terceiro longa como diretor, é também o terceiro baseado em obra literária recente.

Malu de Bicicleta foi o sétimo livro publicado por Marcelo Rubens Paiva, lançado em 2004. O próprio autor escreveu o roteiro do filme, com a colaboração de João Avellino e Bruno Mazzeo.

O resultado foi, de fato, um filme com grandes qualidades nos quesitos técnicos – uma comedinha romântica gostosa como têm que ser as comedinhas românticas. Que venham muitas outras como esta.

Anotação em setembro de 2011

Malu de Bicicleta

De Flávio Ramos Tambellini, Brasil, 2010

Com Marcelo Serrado (Luiz Mário), Fernanda de Freitas (Malu), Daniela Galli (Mari), Otávio Martins (Cássio), Marjorie Estiano (Sueli), Maria Manoella (Cris), Lívia de Bueno (Rê)

Roteiro Marcelo Rubens Paiva, com a colaboração de João Avellino e Bruno Mazzeo

Baseado no livro de Marcelo Rubens Paiva

Fotografia Gustavo Hadba

Música Dado Villa-Lobos

Produção Tambellini Filmes. DVD Paris Filmes. Estreou em 4/1/2011.

Cor, 90 min

**1/2

Um comentário para “Malu de Bicicleta”

  1. eu li o livro na epoca em q foi lancado e na epoca gostei muito, foi uma leitura gostosinha.
    quero ver o filme em dvd.

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