Louco Amor / Legaturi bolnavicioase

Nota: ★★½☆

Anotação em 2011: Um pequeno bom filme do novo cinema da Romênia, esse país pobre que, uma década e meia depois de emergir dos escombros do império soviético, tem maravilhado o mundo com um cinema supreendentemente diversificado e maduro.

Ao contrário de várias outras obras romenas – Polícia, Adjetivo e A Leste de Bucareste, ambos de Corneliu Porumboiu, Casamento Silencioso, de Horatiu Malaele, Como Eu Festejei o Fim do Mundo, de Catalin Mitulescu – , este Louco Amor passa longe da política. Propositadamente, firmemente, não quer saber de nada que tenha a ver com a herança deixada pelo ditador Nicolae Ceauşescu, ou as dificuldades da reconstrução depois da queda do comunismo.

Conta, simplesmente, a história de amor de duas garotas, Kiki e Alex – as duas com cerca de 20 anos, interpretadas por Maria Popistasu e Ioana Barbu, duas jovens atrizes belas e de talento.

É Kiki que narra a história, com a voz em off. Bem no início da narrativa, ela conta que conheceu Alex na faculdade. Apenas umas três ou quatro vezes a voz em off voltará, fazendo uma ou outra consideração sobre o relacionamento das duas.

Duas jovens em tudo diferentes uma da outra

São duas moças muito diferentes uma da outra, em alguns aspectos até opostas. Kiki (à direita na foto) é urbanóide, da capital, Bucareste; Alex é de uma pequena cidade distante, de área rural, Pietrosita. As relações na família de Kiki são tensas, nervosas; os pais de Alex são pessoas tranquilas, adoram a filha, cuidam dela com carinho. Alex é uma pessoa estudiosa, calma, serena, sem grandes dramas. Kiki é o drama em si: nervosa, inquieta, agitada, insatisfeita – e tem uma relação incestuosa com o irmão, Sandu (Tudor Chirila). Uma estranha relação, conflituosa, de dominação, uma coisa absolutamente neurótica, neurotizante.

O diretor Tudor Giurgiu conta essa história ao mesmo tempo simples e estranha de uma forma direta, sem fogos de artifício, sem invencionices. Há longas seqüências de diálogos sobre coisas banais, triviais, do dia-a-dia. Numa determinada altura, por exemplo, Alex vai almoçar na casa dos pais de Kiki; a seqüência é bastante longa, para descrever em detalhes ao espectador como é a relação da moça com os pais, como é a relação do pai com a mãe.

Todos os atores estão muito bem dirigidos, numa prova de maturidade tanto do diretor quanto do elenco.

Para não dizer que os romenos não falam de flores

É um filme bem realizado, correto. Um pequeno bom filme, em suma.

Mas, ao fim e ao cabo, eu me pergunto: sei, mas por que mesmo foi que resolveram contar essa pequena história? O que ela quer dizer, o que ela pretende mostrar?

Talvez a intenção tenha sido exatamente fazer um filme sobre vidas comuns, pessoas comuns, gente como a gente; dar uma prova de que o novo cinema romeno, que tem encantado júris de festivais, críticos e espectadores comuns do mundo inteiro, também sabe fazer obras que não tratam de política.

Um bom motivo para se fazer um filme. Digno, justo.

Vejo no IMDb que Tudor Giurgiu, nascido em 1972, já produziu oito filmes, e dirigiu quatro, sendo um deles um curta-metragem e outro, um documentário. Este aqui foi o terceiro filme dirigido por ele.

Louco Amor foi selecionado para participar do Festival de Berlim – o que por si só já é um feito.

Louco Amor/Legaturi bolnavicioase

De Tudor Giurgiu, Romênia, 2006

Com Maria Popistasu (Kiki), Ioana Barbu (Alex), Tudor Chirila (Sandu), Catalina Murgea (Mrs. Benes), Mircea Diaconu (sr. Dragnea), Virginia Mirea (sra. Dragnea), Tora Vasilescu (sra. Parvulescu), Valentin Popescu (sr. Parvulescu)

Roteiro Razvan Radulescu e Cecilia Stefanescu

Baseado no livro de Cecilia Stefanescu

Fotografia Alexandru Sterian

Música Vlaicu Golcea

Produção Libra Film. DVD Califórnia

Cor, 86 min

**1/2

Título em inglês: Love Sick

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