Grande Demais Para Quebrar / Too Big to Fail

Nota: ★★★☆

Anotação em 2011: Para bem mais de 99% da humanidade, economia é um troço de difícil compreensão, assim como física quântica, ou sânscrito; mesmo para a parcela de bem menos de 1% que estudou economia a sério, não é um assunto simples. Assim, Grande Demais Para Quebrar/Too Big to Fail, de Curtis Hanson, não é propriamente um filme que se deixa ver com facilidade, como uma comedinha romântica ou um aventura de super-heróis.

Ben Bernanke, o economista que presidia o Federal Reserve, Fed, o Banco Central americano, na época em que a ação se passa, e preside até hoje, diz lá pelas tantas, no filme, que passou toda a sua vida acadêmica tentando estudar e compreender os fatores que levaram à grande crise financeira iniciada em 1929, a origem da Grande Depressão, a maior crise da história do capitalismo.

Grande Demais Para Quebrar – uma beleza de produção, com um elenco cheio de grandes atores – tem a ousadia de retratar como se deu a grande crise financeira de 2008, aquela cujos efeitos perduram até hoje, e que só encontra paralelo com a de 1929.

É uma ousadia e tanto.

É mais ou menos como fazer um filme de ficção com Einstein como personagem central em que se tenta explicar a teoria da relatividade.

Imagino que quem não sabe absolutamente nada a respeito das origens da crise – e de como, à semelhança do dominó, ou de uma bola de neve que vai rolando montanha abaixo, o que começou como uma bolha no mercado imobiliário americano foi levando à quebra de bancos, até ameaçar destruir todo o sistema financeiro do país mais rico do mundo – continuará sem entender coisa alguma, depois de ver o filme. Aqueles bem menos de 1% que entendem de economia certamente terão mais motivos que o resto da humanidade para apreciar o filme.

Aqueles que têm absoluta certeza de tudo, que têm posições firmes, monolíticas, imutáveis, aconteça o que acontecer, para estes é simples: os bancos deveriam ser todos estatais, assim como deveriam ser estatais todas as fábricas, as plantações; o capitalismo é o mal em si, vive em crises cíclicas e vai se destruir, permitindo finalmente nossa chegada gloriosa ao paraíso comunista.

Deve ser confortável ter certezas firmes, monolíticas, imutáveis.

Mas vamos em frente.

Cada vez mais filmes que reconstituem fatos históricos recentes

Filmar histórias reais é algo que tem praticamente a mesma idade do cinema, mas nos últimos anos tem virado uma tendência mais forte que antes. Em especial o cinema americano – mas não só ele – tem feito diversos filmes que reconstituem, recontam fatos históricos importantes, fundamentais – e bem recentes. Os atentados terroristas do 11 de setembro de 2001 deram origem a diversos filmes, mas dois deles, em especial, seguiram essa linha de reconstituição, a mais acurada possível, dos eventos. Vôo United 93, de Paul Greengrass, de 2006, baseou-se no levantamento dos fatos, das conversas de passageiros e tripulação, para reconstituir o que aconteceu em um dos aviões tomados pelos terroristas. As Torres Gêmeas, de Oliver Stone, também de 2006, se baseou nos relatos de policiais que ficaram soterrados durante horas nos escombros do World Trade Center para reconstituir como foi a derrubada das torres.

Para não ficar apenas nos filmes americanos: A Rainha, de Stephen Frears, reconstituiu a letárgica, insensível reação da família real inglesa à morte da Princesa Diana – e a ajuda que o então jovem e recém-empossado primeiro-ministro, o trabalhista Tony Blair, deu à monarquia inglesa ao mostrar à rainha Elizabeth II que sua postura frígida poderia se transformar numa ameaça ao trono.

Recontagem/Recount, de Jay Roach, de 2008, mostrou como foi o processo de votação e de apuração dos votos na Flórida, quando George W. Bush, candidato à reeleição, teve menos votos que seu oponente, o então vice-presidente Al Gore, mas acabou sendo declarado vencedor – um escândalo digno da mais miserável república de bananas.

Jogo de Poder, de Doug Liman, de 2010, reconstituiu a história pessoal do diplomata Joe Wilson e da agente secreta da CIA Valerie Plame (que os dois contaram em livros autobiográficos) para demonstrar que o governo Bush mentiu ao mundo a respeito do programa nuclear e das armas de destruição em massa do regime de Saddam Hussein para justificar a invasão do Iraque.

Todos esses filmes reconstituem fatos de imensa importância histórica; todos se baseiam em relatos dos participantes dos fatos; e todos tratam de fatos recentes, ainda quentes no noticiário e na memória das pessoas.

Filmes feitos sem dinheiro dos estúdios – e com mais liberdade

 

 

 

 

 

 

 

 

Como Recontagem e Jogo de Poder, Grande Demais Para Quebrar é um filme feito sem o dinheiro dos grandes estúdios. Sem o dinheiro – e com muito mais liberdade do que os grandes estúdios teriam, já que são todos eles, hoje, ligados às maiores corporações do mundo. Com Recontagem, este filme tem ainda mais um elemento em comum: são produções originais da HBO.

É preciso tirar o chapéu para a HBO. Que maravilhoso trabalho essa empresa tem feito. São, os dois – da mesma forma que diversas outras produções da HBO, como o panfletaço pró-direito ao aborto O Preço de uma Escolha/If These Walls Could Talk – filmes corajosos, fortes, sem medo da polêmica, sem medo de enfrentar a direita conservadora. E, além disso, são muito, muito bons.

Informação demais nos primeiros minutos do filme

Da mesma forma que todos os filmes citados aí anteriormente, mas em especial como Recontagem e Jogo de Poder, o filme parte do princípio de que o espectador tem as informações básicas a respeito do episódio que está sendo mostrado. Assim, a ação do filme começa em maio de 2008, quando a bolha imobiliária já havia estourado, e vai até setembro do mesmo ano, até os dias apavorantes após a falência do Lehman Brothers, o quinto maior banco de investimento dos Estados Unidos, quando havia indicações de que o quarto e o terceiro também poderiam quebrar, arrastando, como um tsunami, todo o sistema financeiro.

As informações sobre os acontecimentos anteriores a maio de 2008 são despejadas rapidamente, através de reproduções de trechos do noticiário de TV, ao mesmo tempo em que são apresentados os créditos iniciais, os nomes dos diversos bons atores surgindo como nas telas dos terminais das agências de notícias que dão informações e cotações em tempo real, tipo Reuters, Bloomberg ou, no Brasil, a Broadcast da Agência Estado. Despejam-se ali, então, sobre a cabeça do espectador, como se fossem gotas d’água caindo das Cataratas do Iguaçu, além dos nomes dos atores e da equipe técnica, flashes a respeito da bolha imobiliária e seu estouro – e mais considerações sobre a falta de regulamentação do mercado financeiro, que permitiu que a situação chegasse àquele ponto.

Basicamente, bem basicamente, em termos leigos, de quem não entende patavina alguma de física quântica, sânscrito e economia, o que houve foi que, durante as duas administrações Bill Clinton, entre janeiro de 1993 e janeiro de 2001, os Estados Unidos tiveram um período de crescimento, com desemprego relativamente baixo e as contas do governo federal em dia. Com emprego, milhões de americanos compraram imóveis, reformaram imóveis; os bancos iam emprestando dinheiro a rodo; os preços dos imóveis foram inflando feito balões de gás; sem regulamentação, sem regras, selvagemente, os bancos foram criando novos produtos a partir das hipotecas, e vendendo papéis e obtendo lucros fabulosos, absurdos, irreais – uma bolha inflada.

O problema das bolhas é que um dia elas estouram.

Veio o governo George W. Bush, veio o 11 de setembro, vieram os gastos biliardários do governo com as guerras no Afeganistão e no Iraque – e plóft, a bolha estourou.

É quando começa a ação do filme. A narrativa se centra inicialmente em Richard Fuld, o CEO do Lehman’s Brothers, interpretado por James Woods (foto acima). O Lehman’s estava atolado de papéis que de repente perdiam o valor – e as ações do banco não paravam de despencar. Fuld pede ajuda a Henry Paulson (o papel do grande William Hurt, na foto abaixo), ex-CEO da concorrente Goldman Sachs, e naquele momento secretário do Tesouro – o equivalente ao nosso ministro da Fazenda.

E a partir daí a narrativa ficará focada em Paulson, sua equipe, seus auxiliares diretos, as pessoas com quem ele tem contato, como Ben Barnanke, o presidente do Fed (ele é interpretado maravilhosamente por Paul Giamatti, que está fisicamente muito parecido com o personagem da vida real), os representantes da SEC, a CVM, Comissão de Valores Mobiliários deles, e os presidentes dos demais maiores bancos americanos, o JP Morgan, o Citi, o Bank of America, o bilionário investidor Warren Buffett (Edward Asner).

Ninguém é mal intencionado – mas ninguém sabe o que fazer

Nenhum desses personagens – as pessoas que estiveram no olho do furacão, no momento em que a bolha imobiliária estourou – é descrito, no roteiro de Peter Gould (com base no livro de Andrew Ross Sorkin) e no trabalho de direção do sempre ótimo Curtis Hanson, como mau caráter, mal intencionado ou abertamente incompetente. Claro, os banqueiros são banqueiros: tinham se aproveitado do bom momento da economia, enchido o rabo de dinheiro até não mais poder, e não queriam perder nada; um ou outro se mostraria disposto a – no máximo – entregar um anelzinho para não perder os demais anelões.

Mas ninguém no governo manobra em benefício próprio, ou de um grupo. Mostra-se que havia críticas a Paulson exatamente pelo fato de ele ter sido CEO do Lehman’s, e, portanto, ter sido contra qualquer tipo de regulação do mercado. Mas mostra-se que Paulson não fez nada para tentar beneficiar nem o Lehman’s, nem qualquer outro banco, nem a si próprio.

O secretário do Tesouro americano que o filme constrói e mostra é um profissional de mercado experiente, que tenta fazer o que é possível, que se esforça, passa noites em claro, não consegue dormir – mas é simplesmente incapaz de qualquer ação que contenha o estouro da boiada. Porque quando a boiada estoura ninguém e nada consegue contê-la. Se em vez de Ben Bernanke fosse presidente o Fed o incensado Alan Greenspan, se em vez de Henry Paulson o secretário de Finanças fosse qualquer grande sumidade, se houvesse um gabinete de guerra com 37 Prêmios Nobel de Economia reunidos, não seriam capazes de conter o estouro da boiada, uma vez iniciado o estouro.

O autor do livro é jornalista experiente do New York Times

Uma palavrinha sobre Andrew Ross Sorkin, o autor do livro que deu origem ao filme. O livro tem o mesmo título do filme, Too Big to Fail, e um subtítulo imenso: The Inside Story of How Wall Street and Washington Fought to Save the Financial System – and Themselves – por dentro da história de como Wall Street e Washington lutaram para salvar o sistema financeiro e eles mesmos.

Garotão jovem (nasceu em 1977), Andrew Ross Sorkin é jornalista experiente do New York Times; tem uma coluna e, como repórter, cobre especificamente a área de fusões e aquisições de empresas. Trabalha também como âncora em um programa da rede de TV CNBC. O livro, lançado em 2010, foi um best-seller.

Incrível: é quase tempo real. A crise aconteceu em 2008, em 2010 foi contada em livro, em 2011 virou filme.

A direita é osso duro de roer – Obama que o diga

 

 

 

 

 

 

 

 

Para mim, o que o filme pretende dizer é isto: o governo (e não só a administração Bush, mas também a de Clinton, assim como as anteriores) errou em não tentar regulamentar, lá atrás, as ações do mercado financeiro. Sem regulamentação, sem regras, sem efetiva supervisão pelos organismos do Estado, o sistema financeiro é um touro indomável, uma boiada que a qualquer momento pode estourar, um tsunami, uma avalanche que se destrói e destrói tudo o que está à frente e atrás.

Costuma-se dizer que, se houver cem pedagogos reunidos numa sala, haverá ali cem linhas diferentes de pensamento. A mesma coisa com os ambientalistas. Com os economistas é mais ou menos a mesma coisa – mas, a rigor, a rigor, se for filtrar bastante, há três correntes. Há a defesa do mercado soberano, quanto menos regra, lei, regulamentação, melhor – é a posição da direita, nos Estados Unidos representada pelos republicanos. Já se viu no que isso dá – já se viu isso em 1929 e em 2008. Há a defesa do Estado todo poderoso que manda em tudo e regula tudo – é a posição mais à esquerda. Já se viu no que isso dá – desde 1917 até lá por 1990. Ainda se está a ver se é possível uma posição intermediária, de boa regulamentação, ordem no terreiro. Ainda não se chegou lá. A esquerda é cega, mas a direita é osso muito duro de roer – como Barack Obama está muito bem experimentando na carne exatamente neste mês de julho de 2011 em que vi este belo filme.

A opção foi errada. Mas ninguém apareceu com nenhuma outra

Hoje – e faço um pequeno adendo em setembro de 2011 –, passados três anos daquele pavoroso setembro de 2008, é fácil perceber que foi errada a opção escolhida pelo secretário Henry Paulson, e portanto pela administração Bush, de injetar milhões e milhões de dólares do dinheiro público nos bancos gigantescos para impedir que a quebradeira em série pusesse em risco todo o sistema financeiro. Os bancos vão muito bem. Seis dos principais bancos ajudados com o dinheiro dos americanos pagadores de impostos na crise lucraram, somados, em 2010, US$ 42,4 bilhões, ou 40% a mais que em 2009. Voltaram a pagar bônus milionários para seus principais executivos.

Já a economia global não vai nada bem. A dívida bruta dos sete países mais ricos do mundo – Estados Unidos, Alemanha, Itália, França, Japão – cresceu de US$ 35,3 trilhões em 2009 para US$ 41,26 trilhões em 2011, um aumento de 16,7%, segundo reportagem de O Globo com base em dados do FMI, o Fundo Monetário Internacional. No mesmo período, o PIB desses países, a riqueza total produzida por eles, cresceu apenas 1,36%. Os países ricos não estão em profunda recessão, mas estão estagnados; o desemprego não diminui, e, para tentar regularizar suas contas, os governos estão tendo que cortar os programas de assistência social – o que espalha insatisfação, protestos, ondas de indignação.

A opção de enfiar montes de dinheiro nos bancos – radiografada no filme – foi errada, vê-se hoje. Mas o que o filme também mostra, maravilhosamente, é que, na hora do tsunami, ninguém apareceu com uma outra idéia. Certamente porque não existia outra idéia para se ter.

O duro é ver que, passados três anos, ninguém aprendeu nada com a tragédia. Os bancos continuam fazendo o que bem entendem, e lucrando como nunca. E não se fez qualquer regulação mais séria, profunda, para tentar evitar novas tragédias.

Grande Demais Para Quebrar/Too Big to Fail

De Curtis Hanson, EUA, 2011

Com William Hurt (Henry Paulson), James Woods (Richard Fuld), Paul Giamatti (Ben Bernanke), Kathy Baker (Wendy Paulson), Tony Shalhoub (John Mack), Bill Pullman (Jamie Dimon), Matthew Modine (John Thain), Edward Asner (Warren Buffett), John Heard (Joe Gregory), Erin Dilly (Christal West), Cynthia Nixon (Michele Davis)

Roteiro Peter Gould

Baseado no livro de Andrew Ross Sorkin

Fotografia Kramer Morgenthau

Música Marcelo Zarvos

Produção HBO Films, Spring Creek Productions.

Cor, 98 min

***

27 Comentários para “Grande Demais Para Quebrar / Too Big to Fail”

  1. Caro Servaz, tem toda razão, a HBO tem coisas incríveis mesmo. A série “Treme”, sobre Nova Orleãs pós-Katrina (a trilha sonora é incrível, e tem a participação de bluseiros de primeira), a série “The Wire”, “Mad Men”, e tantas outras. Sobre o “Too Big to Fail”, estou com ele gravado, mas ainda não vi, pois sei que vai me deixar ainda mais enraivecida com esse povo de Wall Street. Mas tem um outro filme que é extremamente didático – ganhou o Oscar de documentário – chamado “Trabalho Interno”, narrado pelo Matt Damon. E tem mais um,
    bem mais simples (sem recursos, mezzo documentário, mezzo ficção, chamado “Cleveland versus Wall Street”, disponível para download na internet, exibido na Mostra de Cinema. Esse trio mostra a real dimensão das sacanagens que levaram os EUA à recessão de hoje e seus autores. “Trabalho Interno” é imperdível pelo didatismo.

  2. Claudia, agradeço pelo ótimo comentário, cheio de informações. Se tiver oportunidade, veja o filme, está em cartaz na HBO. É muito bom. Um abraço.
    Sérgio

  3. Eu sou uma daquelas que entende pouco e ficou um tanto quanto confusas. Apesar de ter um pouco de conhecimento das origens da crise, fiquei perplexa quanto à forma como ela foi “contornada”. Bem, neste ponto é que eu fiquei confusa, será que a crise foi realmente contornada. Será que os banqueiros utilizaram os valores a eles repassados como deveriam, ou o que vemos hoje é reflexo da má utilização daqueles valores? Pelo menos nos instiga a pensar e pesquisar um pouco mais, mesmo que não tenhamos a menor noção de economia. Muito bom o filme, vale a pena vê-lo.Da mesma forma que Recontagem também nos coloca para pensar. Grata

  4. Gostei do que vc escreveu sobre o filme.
    Sou estudante de economia e entendo quando você diz que é como física quantica, pois tenho colegas que classe que assistiram esse filme e passaram desapercebido por muitas informações. Eu sinceramente penso que uma maior compreensão da economia por parte da população e consequente um povo mais organizado… pressionaria o país para uma melhor política, mas infelizmente nossa educação é deficitária. E há tantos problemas estruturais no país que isso acaba por sendo um sonho meu.

    Só uma correção: O Henry Paulson não fui CEO da Lehman Brother’s e sim da Goldman Sachs (o maior concorrente na época da Lehman Brother’s) e a crítica feita a ele era que ele tinha deixado que a Lehman quebrasse por “ainda trabalhar para a Goldman”.

  5. Manoela, muito obrigado por seu comentário – e também pela indicação do meu
    erro. Vou consertá-lo imediatamente no texto.
    Sérgio

  6. Excelente o filme e também excelente o seu texto. Elucidou muitas questões. O mais incrível (e perturbador…) é sabermos que tudo pode voltar a acontecer… Interessante o momento quando, na reunião em que o governo oferece ajuda aos banqueiros e estes (com a corda no pescoço) ainda fazem exigencias. É bem o retrato dos mercados financeiros mundo a fora…

  7. O problema é equação usada: impressão de papel ($) (às vezes apenas dígitos numa tela de computador) + Fé (em que o papel tem valor) + Juros + Especulação + desigualdade + avanço tecnológico = dívida (dos que não tem ($) e são incentivados a emprestar pra estudar ou comprar uma casa + desemprego (função do avanço tecnológico iniciado pela produção em massa de Henry Ford somado à eficiência da Toyota) + mais desigualdade + crimes (função do desemprego, da desigualdade, da depressão – que induz ao uso de antidepressivos, do abuso de álcool e outras drogas). Pois é claro que a primeira parte da equação só pode ser igual a um grande desastre) só não vê quem não quer, quem nunca teve uma educação regular ou quem encontrou uma forma de se beneficiar e ficar do lado da minoria – rica (acho que é o caso do Henry Paulson, Ele não teve medo de fazer seu marketing pessoal (ser político) para conseguir chegar ao “topo”. Não quis perceber, ou sempre soube – vai saber, que a economia atual não tem lógica ou tinha aquele pensamento americano de que se você não é um vencedor você é um perdedor, e por isso, não se deu conta do problemão, não agiu preventivamente, pois se tivesse entendido a situação e tentado agir não seria escolhido para ser o Secretário do Tesouro (Caso ele tenha se dado conta desde o início, o que duvido, este é um grande conflito de interesses – Tentar achar uma solução efetiva para a economia, ou ganhar dinheiro e prestígio político). Não acho que este seja o caso de Paulson. Acho que ele é do tipo “sem noção”, “sem pensamento crítico” que acha que Deus está ao seu lado e para obter sucesso na vida. Uma destas pessoas que fala tudo o que vem a mente para agradar as pessoas com o intuito de se beneficiar, sem se preocupar se está se contradizendo, se suas afirmações são comprovadas, se há lógica em seu raciocínio, uma pessoa que acha que convence, e com certeza convença muitas pessoas (também sem senso crítico), pois convence mais pelo tom de voz do que pela lógica do raciocínio. Um tipo de gente que não pensa no coletivo só pensa em benefício próprio – manter a imagem ganhar cargos, um tipo de pensamento que só contribui para uma maior degradação de um sistema que só visa o Lucro (que nada mais é do que colecionar aqueles papeis que foram impressos do nada (na origem da equação), e que só tem valor se você acreditar que tem). O sistema econômico atual foi naturalmente se moldando ao longo da história e hoje gera pensamentos como estes, de pessoas que, durante toda sua vida, pelos mais variados motivos (cultura familiar, educação, propagandas e telejornais que alienam) nunca se questionaram em toda sua vida de como o dinheiro é criado, nosso sistema gera pensamentos que distinguem pessoas entre “Vencedores” e “Perdedores”, ou “Abençoados pois têm fé” e “Vagabundos” que na maioria das vezes também tem fé, vejo estes pensamentos em todos os lugares. Tá na hora de quebrarmos esse paradigma.
    Dica de filmes interessantes: Oh Canada (internet), Capitalismo – Uma história de Amor, Trabalho Interno como já mencionado, e Zeitgeist III (também pela internet), JFK.

  8. Sérgio,
    primeiro gostaria de lhe dar os parabéns pelo excelente texto!
    segundo, peço permissão para usar parte do texto para publicar uma indicação para este filme em meu blog.
    Agradeço desde já,
    At.

  9. Sérgio,

    Excelente sua resenha. Acabei de assistir o filme (não conhecia; cheguei até ele pela chamada da Veja desta semana) e gostei demais da abordagem do tema.

    Fui ator no mercado financeiro durante algum tempo, e esse tema me atrai. Recentemente, assisti o Margin Call, indicação do pessoal do Manhattan Connection, que aborda essa mesma crise de 2008 no que teria sido seu início. Elenco estelar, atuações memoráveis, também merece bastante atenção, até porque igualmente usa linguagem do ramo, nem sempre cordial, bem pelo contrário. Iniciados vão se sentir dentro do filme e da situação.

    Finalizando, não poderia deixar de elogiar imensamente seu blog, que descobri exatamente procurando críticas sobre esse ótimo Too Big To Fail. Vou marcá-lo em meus favoritos.

    Grande abraço,

    Alex

  10. A crítica está muito bem fundamentada, e apesar de o filme realmente incitar o questionamento da regulamentação no mercado, o que culminou no estouro da bolha (como também na de crise 1929) foram as reservas fracionárias, endossadas pelo banco central. O poder de um banco fazer o que bem entende com o dinheiro alheio, partindo do pressuposto que a soma de seus clientes não retiram o dinheiro ao mesmo tempo, o fim do lastro material do dinheiro e esse novo sistema totalmente fiduciário (partindo da garantia do FED que o dinheiro emitido é válido) foi o que culminou na falta de liquidez iminente dos bancos. Peter Schiff um economista da escola austríaca, já fazia essas previsões catastróficas sobre a fatia da economia baseada no consumo, e que ela não era sustentável, assim como os preços alavancados dos imóveis.

    Bom faço essa crítica baseada num argumento seu utilizado no texto, sobre as coisas imutáveis, e esse argumento que é a falta de regulamentação no mercado que causa estragos, têm se tornado uma verdade absoluta.

    Um abraço.

  11. Excelente interpretação. Bom, eu como leiga no assunto gostaria que me respondesse algumas questões que me deixaram confusas.
    O Banco Central dos EUA agiu contra a “quebra” das empresas? E quem foi o maior culpado pela crise: os “bancos”,os consumidores ou o Banco Central do dos EUA?

  12. Só queria chamar a atenção como economista aqui de Portugal que quando você diz “que é fácil perceber que foi errada a opção escolhida pelo secretário Henry Paulson, e portanto pela administração Bush, de injetar milhões e milhões de dólares do dinheiro público nos bancos gigantescos para impedir que a quebradeira em série pusesse em risco todo o sistema financeiro” não podia estar mais errado. Sem essa intervenção o mundo tinha mesmo ruído todo.

    Como uma década antes já tinha acontecido o mesmo com a crise asiática. E como pode voltar a acontecer tudo de novo outra vez a qualquer momento. A banca de investimento tem que voltar a ser muito mais regulada como foi em todo o mundo até à dupla Theatcher/Reagan a conselho dos monetaristas de Chicago. Uma escola económica. Aliás, bolhas a rebentar vai sempre acontecer mas as consequências do crash do subprime só foram possíveis depois de os EUA abolirem uma das últimas leis de Roosevelt que obrigava à separação da banca comercial, a de todos os dias, da banca de investimento. A lei Standard de Roosevelt que foi quem apanhou com o crash de 1929 que entre muitas outras coisas também levou a Alemanha para a II Guerra.

    E não se pense com isto que estou a defender a banca ou os mercados financeiros que dominam completamente o mundo hoje e obrigaram os contribuintes por todo o mundo a pagar o buraco que da banca. Caso contrário os sistemas financeiros ruíam todos e atrás deles todas as nações do mundo. Mas com a regulação financeira que já existiu no mundo até digamos à década de oitenta do Sec. XX esta crise financeira nunca se tinha transformado numa crise económica que começou por destruir poupanças, empresas, empregos e chegou às pessoas. Na UE se o BCE não tem pretendido também só salvar os grandes bancos nem nunca tinha havido a crise das dívidas soberanas que obrigou a vários resgates – intervenções do FMI para evitar bancarrotas. Na Irlanda e em toda a periferia do euro, Portugal inclusive. Que antes do crash tinha um dívida pública só na ordem dos 60% perfeitamente dentro da média da UE. Depois as agências de rating – que só obedecem aos mercados financeiros – subiram os juros da dívida pública e Portugal chegou a 130%. I.e., deixou de ter capacidade de se continuar a financiar nos mercados. E também foi esta crise que levou à queda de Dilma no Brasil. Para citar um exemplo que mexeu e de que maneira com o Brasil até levar um genocida como o Bozo até Brasília. Tudo de bom para vocês aí.

  13. E já agora 3 exemplos simples para todos compreenderem como passámos de um mundo com regulação financeira para um mundo completamente insustentável financeiramente como existe hoje e que pode implodir a qualquer momento. Como se também não existissem leis penais e cada um fizesse o que lhe apetecesse. Até matar o vizinho e ir dormir descansado para casa. E que também conduziu inclusive ao capitalismo selvagem e a uma sociedade de consumo completamente desenfreado que por sua vez conduziu à actual crise climática que pode acabar por destruir o planeta. Porque todos querem ganhar cada vez mais e não há nenhuma mão invisível que equilibre um mundo completamente desequilibrado. Em poucas palavras somos todos governados pela ganância dos mercados financeiros e de meia dúzia de grandes investidores. Que juntos, como no tempo do feudalismo, já detêm mais de 70% da riqueza mundial. Resumindo e concluindo, tem que haver regras claras em todas as áreas da actividade. Sob o risco de até o pináculo da nossa civilização que se alcançou na Europa depois da II Guerra com a criação do chamado Estado Social Europeu – que também precisa de fundos – poder implodir se os países falirem como aconteceu com Portugal em consequência do crash que estamos a falar aqui.

    E o mesmo acontecia a qualquer família que pedisse um empréstimo a um banco para comprar uma casa e passado pouco tempo o banco começasse a subir os juros de uma forma absolutamente unilateral. E quando falo do estado social europeu falo da segurança da saúde pública grátis, fundo de desemprego quando as pessoas caem no desemprego assim como as reformas da Segurança Social na velhice. E também bastava que estes fundos da Segurança Social de cada país saíssem da órbitra do Estado para a lógica do casino dos fundos privados que fizeram este crash, como os neoliberais gostavam, para também terem desaparecido neste crash. E lá ficavam as pessoas sem direito a fundos de desemprego, reformas na velhice e inclusive a saúde pública grátis quando mais precisavam. Algo que os EUA nem nunca conseguiram alcançar. Uma nação que sempre viu na Guerra e no seu enorme complexo industrial militar o grande motor da sua economia. Uma economia portanto muito mais virada para a morte. Como no Iraque. Já para não falar do terrorismo internacional todo que criaram de tanto desestabilizarem zonas do globo como o Médio Oriente. Quase sempre por causa do petróleo.

    Mas voltando aos exemplos, até há relativamente pouco tempo a grande moeda mundial que é o dólar tinha uma equivalência, um padrão chamado ouro. I.e., consoante as reservas de ouro da reserva Federal é que criavam a quantidade de moeda. Ora esse padrão ou essa equivalência já não existem hoje. Acabou essa regra! E no resto das nações quem criava moeda também eram os bancos centrais e assim se controlava a economia dentro de balizas definidas. Hoje quem cria a moeda são os bancos comerciais. Quando alguém vai pedir dinheiro emprestado a um banco ele já não tem que verificar se tem essas reservas seja em depósitos ou em disponibilidades. Cria o dinheiro no computador e já está. Claro que os bancos também têm que obedecer a alguns rácios de solvabilidade. Mas se não fosse da natureza humana furar as leis nunca havia crimes. E nunca vai haver um polícia para cada pessoa nem auditores do banco central em todos os bancos a toda a hora. E na área financeira como este crash também mostrou depois da bolha rebentar…

    Finalmente os mercados financeiros, as bolsas e Wall Street. Ate aos anos 80 quem detinha os títulos das empresas – que correspondiam sempre o valor real das empresas – era basicamente a classe média. Que não andava a transacionar os seus títulos todos os dias. Eram muito mais encarados como poupanças que como investimentos especulativos propriamente ditos. Hoje as ações em muitos casos não têm qualquer correspondência com o valor real da empresa. São simplesmente transacionados com a ilusão de quando podem valer daqui a 5 anos. E podia citar o nome das empresas mais conhecidas em todo o mundo. Tipo a Tesla que vale mais que qualquer concorrente mesmo que nunca tenha produzido 1/10 dos carros. E está-se mesmo a ver que basta Musk adoecer para aqueles títulos valerem zero de um dia para o outro porque não têm qualquer adesão ao valor real da empresa mas sim à expectativa do que Musk pode vir a criar. E com estes três exemplos só quis mostrar no mundo virtual em que todos vivemos hoje. Até nas empresas onde a maior preocupação de qualquer CEO era criar um produto e pagar os salários aos seus trabalhadores passou a ser unicamente engordar cada vez mais os seus accionistas. Muitas vezes do outro lado do mundo que nem sonham com o que cada empresa – onde investem – produz. Como já disse em termos financeiros que é quem comanda o mundo hoje é como se nós na sociedade também não tivéssemos leis. E claro que nenhum investidor vai deixar de ganhar 10 se puder ganhar 100. Quando você diz no seu artigo que nenhum dos grandes bancos quis criar o crash, todos eles sabiam há muitos anos que os seus títulos já não tinham qualquer adesão à realidade. O problema é que nenhum dos grandes bancos de investimento quis ficar para trás do outro e continuaram a encher a bolha. E depois basta uma contração da economia para acontecer o que acontece ao mundo.

  14. Só lamento não ser possível o espaço entre parágrafos, o que torna qualquer texto mais longo completamente ilegível. Se por acaso admitir a sua publicação recomendava a divisão em parágrafos. Obrigado e mais uma vez tudo de bom para o Brasil.

  15. Olá, Paulo!

    Meus textos no site têm espaço entre os parágrafos! Que estranho você ter lido num acessório que comeu os espaços! De onde foi que você acessou o texto? iPad? Celular? Gostaria de entender o que aconteceu…

    Um abraço, e muito obrigado!

    Sérgio

  16. Boa noite Sérgio,

    Entrei no seu site, não sei se é blogue, quando procurava o filme online free c/ legendas com o mesmo nome do seu post: Too big fo fail. Acabei por ler e apreciar o seu post e atrevi-me a comentar. Tudo no meu pc em Lisboa. Muito obrigado pela atenção.

    Um abraço.

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