Desejo de Ser Mãe / Nordeste

Nota: ½☆☆☆

Anotação em 2011: “Os argentinos também sabem fazer filmes ruins.” A frase brincalhona, irônica, seriíssima, definitiva, de Mary veio lá pelo meio dos interminááááááááááveis 104 minutos de Desejo de Ser Mãe/Nordeste.

E bota ruim nisso. O filme é espantosamente, gigantescamente, ciclopicamente ruim.

Gastaram dinheiro de quatro países para fazê-lo. É uma co-produção de Argentina-França-Espanha-Bélgica.

O filme conta a história de Hélène (interpretada por Carole Bouquet), uma bem sucedida executiva de uma grande empresa da área de medicamentos da França que vai à Argentina à procura de um bebê para adotar. Em paralelo à história de Hélène, há a história de Juana (Aymará Rovera), uma mulher extremamente pobre que mora na zona rural do Nordeste da Argentina – daí o título original. Não se diz explicitamente onde Juana vive, mas parte do filme foi rodada na província de Corrientes, que fica entre os rios Paraná e Uruguai, a oeste do Rio Grande do Sul – é a área argentina mais a Nordeste.

É para aquele interior bravo, distante de todas as grandes cidades, aquele lugar perdido no meio do nada do Tiers Monde, que vai a executiva francesa bem sucedida, depois que se revela infrutífero um encontro em Buenos Aires com um sujeito que lhe prometera um bebê.

Enquanto fica hospedada num hotel fazenda à espera de um bebê para adotar, Hélène conhece a pobre Juana e o filho dela, um garoto de 13 anos chamado Martín (Ignacio Jiménez).

Bem mais tarde, quase ao final do filme que não termina nunca, aquele local do Nordeste argentino será referido por um personagem secundário como a capital mundial do tráfico de crianças.

Atores pessimamente dirigidos, um roteiro todo descosturado

Os atores todos estão pessimamente dirigidos. A atuação de Carole Bouquet – que deixou a carreira de modelo pelo cinema, estreando sob a direção de ninguém menos que Luis Buñuel em Aquele Obscuro Objeto de Desejo, de 1977 – é absolutamente lamentável.

Mas o pior do filme é o roteiro – ou a falta de um roteiro. É tudo absolutamente descosturado, solto. As peças não se unem, não se encaixam, a história não fica de pé, os personagens não se definem.

E, para quem tentar enxergar alguma lógica naquela barafunda, as questões se avolumam. Por que raios essa francesa rica não tentou adotar uma criança legalmente, sem precisar atravessar o Equador e o Atlântico e se aventurar no interior da miséria terceiro-mundista? Por que raios tentou estabelecer uma negociação paralela com um esquema baseado em Buenos Aires? Por que viajar até uma província do Nordeste argentino em busca de um bebê, sem antes negociar, estabelecer contatos?

De intenções óbvias o inferno dos maus filmes está cheio

Ah, a intenção é denunciar que existe um esquema mafioso de adoção de crianças num miserável lugar da província de Corrientes? Dar uma lição de moral nas mulheres ricas da Europa, tentar fazê-las compreender – como faz uma freira que conversa com Hélène depois de infindáveis 90 minutos de filme chato e descosido – que por muito menos dinheiro do que pagariam para uma adoção através dessa máfia poderiam ajudar a dar conforto a 50 crianças?

Ah, faça-me o favor.

Vejo o seguinte comentário de um sujeito da Suécia no IMDb:

“Fiquei profundamente tocado por este filme. Há duas histórias principais. Uma sobre uma mulher francesa, Hélène, vivendo no mundo moderno, indo à Argentina para adotar um bebê. A outra é sobre Juana, uma mulher vivendo num mundo rural com seu filho, desesperadamente deixada para trás pela modernização e o capitalismo em seu país natal. As vidas das duas mulheres vão se cruzar e elas tentam encontrar conforto e ajuda na miséria uma da outra.”

Então tá. Um retrato da injustiça para sueco descobrir que existe injustiça. Ah, faça-me o favor…

Esta porcaria foi a estréia de Juan Solanas na direção. Solanas, nascido em Buenos Aires em 1966, filho do grande diretor Fernando E. Solanas, autor do maravilhoso Tangos – O Exílio de Gardel, de 1985, teve parte de sua educação na França, onde o pai se exilou da ditadura militar argentina a partir de 1977. Trabalhou como diretor de fotografia, fez filmes comerciais, depois alguns curta-metragens.

Pelo que mostrou neste filme, não tem nada do talento do pai. Talento não é necessariamente hereditário.

Desejo de Ser Mãe/Nordeste

De Juan Solanas, Argentina-França-Espanha-Bélgica, 2005.

Com Carole Bouquet (Hélène), Aymará Rovera (Juana), Mercedes Sampietro (Sor Beatriz), Ignacio Ramon Jiménez (Martín), Emilio Bardi (Teodoro), Juan Pablo Domenech (Gustavo), Jorge Román (Alberto)

Argumento e roteiro Eduardo Berti e Juan Solanas

Fotografia Félix Monti e Juan Solanas

Música Eduardo Makaroff e Sergio Malakoff

Produção Onyx Films, K2 SA, Montfort Producciones, Polar Films, France 2 Cinéma

Cor, 104 min

1/2

5 Comentários para “Desejo de Ser Mãe / Nordeste”

  1. Eu vi esse filme e considero sim cheio de problemas, achei apenas interessante por fugir daquele ar Buenos Aires é Europa da maioria dos filmes argentinos. Enfim, não considero o filme tão ruim, mas também não é algo bom.

  2. O filme é muito ruim. A história é interessante, mas foi mal interpretada, o enredo ficou péssimo. A sensação é de que o filme não vai acabar, e quando acaba você se pergunta: o que diabos foi isso?!

  3. O filme se passa na província argentina
    de Formosa, uma das mais pobres do país.
    E ñ achei o filme tão ruim assim. O que
    para nós terceiro-mundistas parece óbvio,
    pode ñ ser para europeus alienados e
    individualistas.

  4. Péssimo filme. Que final horrível. Ainda me pergunto como ficou aquele menino? Sinceramente perdi o tempo.

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