Bravura Indômita / True Grit

Nota: ★★★☆

Anotação em 2011: Bravura Indômita/True Grit – o original, feito por Henry Hathaway em 1969 – é um filme interessantíssimo, fascinante, por um bom número de razões. Ver John Wayne interpretando um herói que tem uma grande quantidade de defeitos, que às vezes até parece um bandido, é só uma delas.

Outra: o verdadeiro herói deste western que já virou um clássico – tanto que foi refilmado em 2010 pelos irmãos Coen, com o grande Jeff Bridges fazendo o papel que no original foi do Duke – é uma garotinha de 15 anos. Não consigo me lembrar de outro western é que o herói é uma menina adolescente.

Também não tenho conhecimento de outro filme em que alguém manda um personagem interpretado por John Wayne calar a boca. Pois a garotinha Mattie (Kim Darby, na foto abaixo) manda o delegado federal Rooster Cogburn (este é o nome do personagem do Duke) calar a boca não uma vez, mas várias – e algumas vezes ele até obedece!

Mais uma característica que torna o filme fascinante: poucas vezes se vê num western tanta importância dada a detalhes, digamos, caseiros: a necessidade de lavar as mãos, as diversas referências ao tipo de comida que se come – biscoitos, bolinhos de milho, o preparo de alimentos, como o tirar as penas de um peru. O western é, por excelecência, uma coisa de machos, e, portanto, esse tipo de assunto nunca, ou no mínimo quase nunca, é tratado. Mas eles aparecem em Bravura Indômita – talvez porque o roteiro do filme seja obra de uma mulher, Marguerite Roberts, uma autora de imenso talento.

Uma bela reunião de gente talentosa

Gente de imenso talento era o que não faltava, na produção de Bravura Indômita. O diretor de fotografia é o grande Lucien Ballard (1904-1988), requisitado por cineastas de peso, Jacques Tourneur (Expresso para Berlim/Berlin Express), Stanley Kubrick (O Grande Golpe), Sam Peckinpah (Meu Ódio Será Tua Herança, Os Implacáveis).

Este aqui é um dos westerns de visual mais absolutamente esplendoroso que me lembro de ter visto. É um luxo só. As paisagens – o filme foi todo rodado no Colorado, junto das Montanhas Rochosas – são belíssimas, impressionantes, e, nas lentes de um mestre, com gigantescos planos gerais, tornam-se literalmente de tirar o fôlego.

Roteirista de primeira, diretor de fotografia de primeira – e compositor de primeira. O autor da trilha sonora é o mestre Elmer Bernstein (1922-2004), um Oscar, dez outras indicações ao prêmio da Academia, 70 trilhas sonoras no currículo, inclusive a de Sete Homens e um Destino/The Magnificent Seven, a música que foi adotada como trilha sonora da campanha publicitária do Marlboro, o Marlboro Man, talvez o tema mais clássico, mais definitivo da história do western.

O estilo Elmer Bernstein de músicas para westerns está presente ao longo dos 128 minutos de duração de Bravura Indômita.

Gigantescos, imensos planos gerais de uma paisagem belíssima, soberbas montanhas ao fundo, ao som da trilha de Elmer Bernstein, e, lá no meio da tela, pequeninos como formigas diante do cenário esplendoroso, cavaleiros à procura de justiça – algum fã de western pode sonhar em querer algo mais?

Mais uma característica interessante do filme: em papéis pequenos, aparecem Robert Duvall e Dennis Hopper. O papel de Hopper é mínimo, mal dá para perceber que é ele – e o filme é de 1969, o mesmo ano de Sem Destino/Easy Rider, um marco fundamental do cinema independente americano, e da contracultura que se espalhava pelos Estados Unidos e pelo mundo. O papel de Duvall é um pouco maior – ele faz um bandido sinistro. Cinco anos mais tarde, ele brilharia no primeiro tomo da trilogia O Poderoso Chefão como o conseglieri de Don Vito Corleone. (Depois ele ficou bobo: pediu dinheiro demais para aparecer no terceiro filme, e dançou, perdeu a oportunidade de participar do conjunto daquela obra-prima. Babaca. Deve ter se arrependido muito.)

Nem contei quantas razões já enumerei para tentar demonstrar que este é um filme fascinante, mas aqui vai mais uma: foi por sua interpretação como o delegado federal Rooster Cogburn que John Wayne recebeu seu único Oscar de melhor ator.

E é absolutamente impressionante pensar que, ao filmar Bravura Indômita, o Duke estava com 61 anos, lutando contra o câncer que já o fizera perder um pulmão inteiro e mais uma parte do outro.

O empregado do fazendeiro mata o patrão e foge com o dinheiro

John Wayne demora exatos 13 minutos para aparecer na tela. (Sei disso com tamanha precisão por um motivo trivial: revi agora o filme em Blu-ray, e com o Blu-ray pode-se saber exatamente, a cada cena, quantos minutos já foram decorridos e quantos faltam até o fim. Não estou fazendo comercial, mas posso dizer que os majestosos cenários e a esplêndida fotografia de Lucien Ballard ficam ainda mais belos em Blu-ray.)

Nos primeiros 13 minutos, vemos a história da garotinha Mattie, que, afinal de contas, é a grande heroína do filme. Mattie é a mais velha dos três filhos de um casal de fazendeiros trabalhadores e prósperos. Quando a ação começa, o pai de Mattie, Frank Ross (John Pickard) está de partida para o Texas, onde pretende comprar o maior número de cavalos que conseguir. Junto com ele viajará seu empregado Tom Chaney (Jeff Corey). Apesar de tão jovem, Mattie é a “contadora”, a book-keeper da fazenda; é ela que faz a contabilidade, que guarda o dinheiro. Entrega ao pai, para a longa viagem dele, a fortuna de US$ 150,00 (uma diária de pensão, na época, conforme se verá em seguida, custava US$ 0,25), mais algumas moedas de ouro.

Enquanto Frank Ross vai embora com seu empregado Tom Chaney, Mattie comenta com a mãe que não gosta, nunca gostou de Tom, um sujeito sem-vergonha que seu pai acolheu quando estava passando fome.

Corta, e Frank e Tom estão em um saloon de uma cidade no meio do caminho. Tom, o empregado, está bêbado, perdendo no jogo, e quer brigar com os outros homens da mesa, a quem acusa de ladrões. Frank o tira de lá, antes que ele faça uma besteira maior. Na rua, discutem: Tom quer voltar ao bar e brigar, Frank diz que ele está bêbado e seria besteira voltar lá. No meio da discussão, Tom atira em Frank, pega a fortuna que o fazendeiro levava para comprar cavalos, e foge.

Corta, e a jovem Mattie está chegando àquela cidadezinha, com outro dos empregados da fazenda, para cuidar do enterro de seu pai. Para cuidar do enterro e, sobretudo, para contratar alguém que possa prender o assassino e levá-lo a julgamento, que seguramente terminaria com o assassino pendurado em uma forca.

Mattie faz uma rápida pesquisa. Dizem a ela que Rooster Cogburn é um sujeito de true grit, o título original do filme – que, a rigor, significa verdadeira bravura, ou exatamente o que diz o título brasileiro, bravura indômita.

É aí que, aos exatos 13 minutos de filme, aparece na tela Rooster Cogburn, delegado federal. Mattie irá atrás dele, tentará contratá-lo para prender e levar à forca o assassino de seu pai.

A personalidade de Rooster Cogburn é absolutamente fascinante

Num dos extras que acompanham o filme no Blu-ray, alguém sintetiza uma verdade fantástica: John Wayne tornou-se tão conhecido, na grande mitologia do Velho Oeste, quanto Billy The Kid, ou Jesse James.

É uma síntese maravilhosa, impressionante.

O western teve grandes atores, desde sempre. Tom Mix, Buck Jones, William Boyd, Roy Rogers, para lembrar de alguns da primeira metade da história do cinema, e depois Gary Cooper, James Stewart, Audie Murphy, William Holden, e muito depois o então jovem Clint Eastwood. Ms nunca houve ninguém que personificasse tão perfeitamente o herói do Velho Oeste quanto John Wayne.

John Wayne, mais até que Gary Cooper, é um mito americano tão gigantesco quanto Billy The Kid ou Jesse James.

Na maior parte de seus westerns, John Wayne interpretou heróis que eram quase super-heróis. Quase sempre esteve do lado da lei – fosse como oficial da Cavalaria, como em Legião Invencível/She Wore a Yellow Ribbon, de John Ford, fosse como xerife lutando com poucos amigos contra bandos poderosos, como em Onde Começa o Inferno/Rio Bravo e El Dorado, de Howard Hawks, fosse ainda como um fazendeiro temido pelos bandidos, como em O Homem Que Matou o Facínora, de John Ford. Mesmo nas raras ocasiões em que interpreta um bandido, é um bandido diferente: em O Céu Mandou Alguém/3 Godfathers, outro filme de John Ford, ele é um ladrão de bancos, mas, como diria Brecht, o que é um asssalto a banco, comparado com a fundação de um banco? – e, além de tudo, é ladrão, sim, mas com o coração gigantesco, um herói autêntico.

A mais fascinante das muitas características fascinantes deste Bravura Indômita, me parece, é o caráter, a personalidade de Rooster Cogburn.

Ele é um delegado federal – mas é ao mesmo tempo um pistoleiro, um assassino. Matou 23 homens, nos quatro anos em que trabalhou como agente da lei. É pago, com o suado dinheiro dos contribuintes, para localizar e prender os acusados e levá-los às barras dos tribunais – mas, por 23 vezes, executou a tiros os que nem chegaram a ser réus diante de um juiz. De uma certa maneira, Rooster Cogburn é um tipo de justiceiro tão fascista quanto o Dirty Harry que Clint Eastwood interpretaria nos anos 70.

E aqui poderia se abrir uma imensa, interminável discussão a respeito da Justiça, da Lei, da Ordem, e dos meios para obtê-las. O filme traz à tona a necessidade dessa discussão, e este é mais uma de suas qualidades. Mas eu não vou entrar nela, em parte porque ela é de fato interminável.

O maravilhoso é que Rooster Cogburn, o delegado que tem true grit, a quem a garotinha Mattie recorre em procura de justiça para o assassinato de seu pai, é um assassino, um bêbado, um sujeito nada ético. Seus olhos brilham à menção de um pouco de dinheirinha – e brilham mais ainda à menção de uma quantidade maior de dinheirinha. Pior: ao contrário dos heróis de qualquer tipo de filme, ele tem momentos de hesitação. Ah, e é machista até a medula, quase misógino.

O herói é um ser humano cheio de defeitos. Meu Deus do céu e também da terra, não são muitos os westerns que mostram heróis que são seres humanos cheios de defeito.

Mostrar um herói que tem defeitos como os seres humanos – só isso, só essa coragem fantástica – já faria de Bravura Indômita um grande filme.

Uma seqüência magistral: o velho herói de um olho só contra quatro bandidos

Não dá para saber, é claro, de quem foi a idéia – se da roteirista Marguerite Roberts, se do fotógrafo Lucien Ballard, se do próprio Henry Hathaway, diretor prolixo e eclético, já então veterano –, mas a sequência em que o velho e gordo e de tapa-olhos Rooster Cogburn enfrenta quatro bandidos é absolutamente memorável, antológica. Há um plano geral feito do alto – o enfrentamento se dá numa clareira, no meio de uma floresta. Como fizeram aquele plano geral visto tão do alto? Não há grua capaz de levar uma câmara para uma altura tão grande. Teriam usado um helicóptero? Sei lá.

E aí começa o enfrentamento, o duelo – embora a palavra seja inadequada, porque duo indica dois, e no caso temos um contra quatro. E o veteraníssimo Henry Hathaway usa câmara de mão para fazer as vezes dos olhos, ou melhor, do olho de Rooster Cogburn – e aí dá vontade de aplaudir em cena aberta, como na ópera.

Há algumas coisas que são tão óbvias que é até cansativo falar sobre elas. A forma tem que seguir o conteúdo. O conteúdo vem primeiro, o conteúdo é o mais importante; a forma é secundária. Algumas tomadas feitas em câmara de mão, se expressam algo importante, podem ser brilhantes. Se se abusa da câmara de mão, sem necessidade, sem que isso realce algo que está sendo dito, que faz parte da história, então é só bobagem, é coisa de diretor novo querendo impressionar júri de festival ou platéia da Mostra de Cinema.

Henry Hathaway, velhinho, usa câmara de mão no momento certo, exato. Os dinamarqueses do Dogma, os jovens que querem dizem que são brilhantes e independentes, como John Cassavetes em Faces, usam câmara de mão para chamar a atenção para seu próprio umbigo, para dar dor de cabeça no coitado do espectador.

Epa. Acho que tergiversei.

Mas o fato é que, revendo agora, em 2011, a extraordinária sequência do enfrentamento de Rooster Cogburn com os quatro bandidos, uma seqüência que mistura planos gerais com a câmara no céu com alguns planos feitos com câmara de mão para mostrar como o caolho herói-anti-herói via as coisas, não pude deixar de me lembrar das cenas de batalha que Stanley Kubrick criou em Spartacus, seguramente algumas das cenas mais impressionantes, mais memoráveis, mais brilhantes que já foram feitas, neste cento e tantos anos de cinema.

Um ou outro probleminha de falta de lógica. Tudo pequeno, pêlo em ovo

E então é isso. Diante de tanta coisa boa, não teria muito sentido questionar alguns problemas do filme.

Tsc, tsc. Problemas. Há falta de lógica no início mesmo da trama. Se Tom Chaney é tamanho bandidaço, por que raios teria ficado trabalhando para o fazendeiro Frank Ross? Por que teria matado o patrão depois de se embebedar tanto? Por que não poderia ter matado o patrão, pego o dinheiro e fugido no meio do caminho, sem ser visto por ninguém, ao invés de cometer o crime na rua principal da cidade, onde seria visto por testemunhas?

E a heroína, nossa jovem Mattie? Onde foi que ela aprendeu tanta coisa sobre tudo o que o conhecimento humano abrangia, se vivia isolada numa fazenda, longe de qualquer escola, de qualquer tipo de socialização?

Tudo coisinha menor. Pêlo em ovo. Bravura Indômita é um belo western, um belo filme, um filme diferenciado, único.

E aí me pergunto: por que raios será que resolveram refilmar?

Para que refilmar um clássico? Qual é o sentido de refilmar uma coisa que já havia sido muito bem feita?

O cinemão comercial americano costuma refilmar obras feitas fora das fronteiras do Império; eles entendem que o que não feito dentro das fronteiras do Império não existe, e então refilmam coisas velhas, coisas recentíssimas, refilmam tudo, porque é uma indústria, e indústria precisa sempre ter alguma coisa na linha de montagem.

E aí eles refilmam a Trilogia Millennium, pouco depois que os suecos, os donos da história, a haviam filmado com imenso talento. Refilmam o francês Tudo por Amor/Pour Elle, de 2008, parcos dois anos depois que o filme maravilhoso foi feito.

Mas… refilmar um grande filme feito em 1969 por eles mesmos? Por que, meu Deus do céu e também da terra?

Só para dar um exemplo: teria sentido um autor de hoje reescrever The Great Gatsby?

Meu amigo Elói Gertel, fâ de bons filmes, apaixonado por westerns, encantou-se com a refilmagem de True Grit pelos irmãos Coen, com Jeff Bridges no papel que foi de John Wayne.

Tenho grande admiração pelos irmãos Coen. Mas tenho imensa preguiça de ver o Bravura Indômita que eles refizeram. Assim como tenho imensa preguiça de ver 72 Horas, a refilmagem do ótimo Tudo por Amor.

Para que refazer, como refizeram, 12 Homens e uma Sentença?

Alguém aguentaria uma refilmagem de Cidadão Kane? De Casablanca?

Com tanto livro novo para virar filme…

Bravura Indômita/True Grit

De Henry Hathaway, EUA, 1969.

Com John Wayne (Rooster Cogburn), Glen Campbell (La Boeuf ), Kim Darby (Mattie Ross), Jeremy Slate (Emmett Quincy), Robert Duvall (Ned Pepper), Dennis Hopper (Moon), Alfred Ryder (Goudy)

Roteiro Marguerite Roberts

Baseado no livro de Charles Portis

Fotografia Lucien Ballard

Música Elmer Bernstein

Produção Paramount Pictures. Blu-ray e DVD Paramount.

Cor, 128 min

R, ***

Título na França: Cents Dollars pour un Shérif

18 Comentários para “Bravura Indômita / True Grit”

  1. Sérgio,
    Não tenha preguiça de ver o filme dos irmãos Coen. Já saiu em blu-ray e você terá uma boa surpresa. Os irmãos disseram, em entrevistas quando o filme foi lançado, que não se basearam no primeiro filme – ou seja, longe deles qualquer idéia de competir com Henry Hataway. Não fizeram uma refilmagem. Foram, sim, mais fiéis ao livro de Charles Portis, cuja leitura recomendo ao amigo e a todos que gostam de uma boa história e um bom texto. Alguns dizem que é difícil um filme ser melhor do que o livro em que se baseia. Não sei, mas achei que os irmãos, ao seu estilo, acertam em cheio na releitura do livro. Veja o filme, Sérgio, e não se arrependerá. Os atores são ótimos e a fotografia, também, é maravilhosa. Depois, coloque sua opinião aqui nos 50 anos de filmes.
    ps.: Marlon Brando pode entrar na sua lista de grandes atores de westerns e eu incluiria também, esquecendo de outros, Randolph Scott, Warren Oates, Ernest Borgnine, Robert Ryan, Jack Palance…

  2. Grande, caríssimo Elói, depois dessa sua mensagem, não tem jeito: verei o filme dos irmãos Coen.
    Grande abraço, e obrigado!
    Sérgio

  3. Eu dos irmãos Coen gosto muito pouco, não me lembro de um filme deles que me agradasse mesmo, agora este, o original, gostava muito de ver porque nunca vi.

  4. Lá vem um comentário imenso. Eu vi a refilmagem dos irmãos Coen e, se não tivesse visto o original, teria gostado bastante. Com a sombra de Wayne, achei apenas agradável, embora competente.

    Wayne é um dos motivos do western ser o meu gênero favorito. Ele é uma das razões de eu amar tanto o cinema, uma das razões por eu ser quem sou, uma das minhas principais lentes pra ver o mundo. Fiquei comovida com seu texto, este filme tem alma, assim como seu post. Eles, ambos, vão além do óbvio, do que é dado e esplendoroso num primeiro momento. E fazem isso, filme e texto, sem esquecer o que são.

    Este é daqueles posts que vou voltar muitas e muitas vezes, como quem passeia nos lugares preferidos. Ah, qdo estive ai comprei 01 box da Audrey e, veja só, Bravura Indômita numa versão Clássicos Paramount com direito a fotinha extra e tudo.

  5. Aqui vai o meu post de discordância quanto ao Duke. Sempre o achei um actor medíocre, cujos bons momentos se ficaram a dever aos bons realizadores que teve a sorte de encontrar ao longo da sua carreira. Sobretudo John Ford, claro. E neste particular filme o Óscar foi-lhe parar às mãos devido ao lado sentimental da Academia (por causa da doença que o minava). Não nos esqueçamos que em 1970 Dustin Hoffman e Jon Voight (“Midnight Cowboy”) e Peter O’Toole (“Goodbye Mr. Chips”) eram também candidatos – com interpretações largamente superiores à de John Wayne. Tratou-se, até, de uma das maiores injustiças de que a Academia de Hollywood sempre foi pródiga.

  6. Perfeita sua colocação, Sérgio. Não tenho nenhuma vontade de ver o novo “Bravura Indômita”, apesar do grande Jeff Bridges. Os irmãos Coen já fracassaram na refilmagem de um clássico – The Ladykillers – e insistem repetir essa tolice. Há tantas histórias a serem filmadas ou mesmo refilmadas, por que
    fazê-lo com os filmes que se tornaram clássicos? Normalmente, são medíocres e retumbantes fracassos. Além de Ladykillers, vale lembrar Spartacus, A volta ao Mundo em 80 dias, An affair to remember, Charade, a tentativa de prosseguir a serie Pantera Cor de Rosa após a morte de Peter Sellers, etc.
    Além do que, no caso, busca-se emular o incomparável John Wayne que, até onde sei, jamais teve seus filmes refilmados (à exceção de Onde Começa o Inferno, que voltou como Eldorado, e depois como Rio Lobo, mas sempre com ele como herói e com o mesmo diretor, o notável Howard Hawks), e tal é feito justamente naquele em que teve uma atuação notável que lhe valeu o merecido e consagrador Oscar de melhor ator.
    E aqui, permito-me, com a devida vênia ao comentário do Rato, discordar sobre o merecimento de
    Wayne, especificamente sobre os atores que aponta: Dustin Hoffman tem atuação inferior a várias outras de sua carreira em Midnight Cowboy, o mesmo ocorrendo com Peter O’Toole, um tanto overacting, numa refilmagem inferior à original estrelada por Robert Donat (que era o filme favorito de meu pai). Entrevejo na manifestação de Rato uma certa má vontade com os westerns e com John Wayne em particular, Perdoe-me se estou errado. Mas para nós que amamos o faroeste, John Wayne é o seu rei indisputado, tendo Gary Cooper e Clint Eastwood como seus príncipes. Não irei assistir o novo “Bravura Indômita”, assim como não vi as refilmagens que enumerei.
    P.S. Sobre os irmãos Coen, adoro Fargo, mas acho que são muito irregulares e fazem muita porcaria também.

  7. Epa, mas agora a coisa está ficando boa demais! Alto nível nos comentários sobre “Bravura Indômita”! Um delicioso debate, gente finíssima, com boas argumentações de parte a parte. Pô, isso me deixa entusiasmado. Do Guarujá, Elói elogia a reflmagem dos Coen, segundo ele não propriamente uma refilmagem, mas uma nova versão do livro. Do outro lado do Atlântico, na terra-mãe, José Luís diz que não vai muito com os Coen, e o Rato ataca o Duke – que Mario defende com conhecimento de causa, citando até as interpretações concorrentes ao Oscar. De Mossoró, a cearense Luciana Borboleta se derrama com o original.
    Olhem, não há como agradecer a vocês, mas eu tento: muito obrigado, Elói, Luciana, José Luís, o Rato, Mário!

  8. Caro Mário
    Sou grande fan do western, havendo mesmo um punhado de títulos que incluo facilmente numa qualquer lista dos filmes da minha vida: “Johnny Guitar”, “Once Upon a Time in the West”, “Rio Bravo”, “High Noon”, “The Good, The Bad & The Ugly”, “The Man Who Shot Liberty Valance”, eu sei lá…tantos, tantos outros.
    Portanto, nenhuma “má vontade” contra o género, muito pelo contrário. Só que relativamente ao Duke, você tem toda a razão na sua conjectura – nunca suportei o personagem. Nem como actor (acho que passou a carreira a interpretar-se a ele próprio) e muito menos como homem, por causa da sua ideologia e mau carácter. E não o considero “rei” do western coisa nenhuma. Esse título, se alguma vez tivesse algum sentido, não poderia ser atribuído a outro actor que não o grande Gary Cooper. Mas como não sou lá muito partidário dessas atribuições, prefiro distribuir as minhas preferências por um punhado de grandes actores que conferiram ao género toda a sua arte: James Stewart, Randolph Scott,Clint Eastwood…
    Mas também existem muitos filmes protagonizados por John Wayne de que gosto muito: “Hatari”, “The Searchers”, “Rio Bravo”, “El Dorado”… Mas como referi no meu anterior comentário, tal ficou a dever-se a outros factores que não propriamente à interpretação do actor.
    Quanto ao novo filme dos Coen (que o Elói aí de cima tem toda a razão quando diz que foi inspirado directamente no romance original, não sendo portanto qualquer tentativa de recriar o filme de Hathaway) vale mesmo a pena ver, como aliás já tive ocasião de referir quando fiz um comentário ao filme no Blog do Rato.
    Cumprimentos cinéfilos

  9. Prezado Rato,

    Sem pretender polemizar – e feliz
    pelo fato de vc ser um cultivador do western – mas não aceito suas restrições a
    John Wayne, como ator. Obviamente, foi inaceitável sua defesa da participação dos
    EUA na guerra do Vietnã (“Boinas Verdes”, etc), mas é inquestionável – e sua postura
    isolada confirma a regra – que ele foi o rei
    do western. Por maior que seja minha admiração por Gary Cooper e Clint Eastwood, ele foi o grande nome do western, não só
    pela quantidade de filmes da categoria, mas
    pela qualidade: Stage Coach, Rio Bravo, Rio
    Grande, Red River, The Searchers, True Grit,
    The man who shot Liberty Valance (meu favorito), etc. Enquanto Gary Cooper teve apenas Matar ou Morrer, Legião de Heróis e
    Jornadas Heróicas nesse nível.
    P.S. – Gosto muito de James Stewart, mas creio que, em relação aos três citados, ele
    está um degrau abaixo, ao lado de Henry Fonda, Gregory Peck, Burt Lancaster e Randolph Scott. E vc sabia que ele
    foi, durante anos, informante do FBI? O q me
    parece mais reprovável do que a postura do
    Duke que agia às claras. Aliás, aspecto ideológico à parte, ao contrário do q vc afirma, jamais li qualquer menção a mau caratismo de John Wayne. Ao contrário, sempre foi citado como um profissional muito querido e amado em Hollywood, mesmo entre
    os liberais e democratas.

  10. Caro Mário:
    Permita-me introduzir aqui parte do comentário que escrevi sobre o filme “High Noon”, no Blog do Rato:

    “High Noon” é um filme visualmente belo, severo e lacónico no estilo e na narrativa, com um fundo musical inesquecível (a canção-título, com música de Dimitri Tiomkin e letra de Ned Washington, é interpretada por Tex Ritter várias vezes ao longo do filme, tendo sido a vencedora do Oscar para a melhor canção original) e consegue ser um clássico do western apesar de fugir aos estereotipos do género. Para irritação de John Wayne, o actor-fétiche de John Ford, que na altura chegou a organizar um movimento de protesto contra a exibição de “High Noon”, na qualidade de presidente da Motion Picture Alliance for the Preservation of American Ideals. Não conseguiu a interdição do filme mas contribuiu decisivamente para que o argumentista, Carl Foreman fosse parar à “lista negra” de Hollywood e por causa disso visse aruinada a sua carreira, tendo tido de se exilar em Inglaterra. Sete anos mais tarde, enquanto filmava “Rio Bravo” para Hawks, ainda Wayne conservava todo o fel que destilara contra este filme excepcional ao comentar que “Rio Bravo” era um filme anti-“High Noon”. Mesmo muitos anos depois, numa entrevista dada à revista Playboy em Maio de 1971, Wayne ainda não se tinha esquecido deste particular filme. Nessa altura reafirmou a convicção de se tratar de um filme anti-americano por mostrar Gary Cooper a pisar a estrela de marshal (cena inexistente, Kane limita-se a atirar a insígnia para o chão) e, mais grave, confessou nunca se ter arrependido de ter conseguido a inclusão de Carl Foreman na “lista negra” de má memória. Enfim, nada que não fosse de esperar de alguém que politicamente sempre foi conotado com a extrema-direita americana

  11. Prezado Rato,

    Desconhecia esse episódio e essa nódoa imensa na biografia de John Wayne. E,
    sem dúvida, High Noon está folgadamente entre
    meus 10 westerns preferidos.

  12. Caros Rato e Mario,

    li com muito interesse toda a discussão sobre Wayne e acho que tal debate só enriquece o já interessantíssimo blog do Sérgio. De minha parte, continuo achando Wayne mais que um excelente ator no que se propõe, um ícone de tanto que me comove nos faroestes. Lamento, com intensidade, suas convicções políticas, mas não consigo entendê-las como desabonadoras de seu talento, carisma e presença nas telas. Eu sei – com a mais absoluta precisão – que eu não seria quem sou, não amaria como amo, se não tivesse Wayne, The Seachers, Big Jack, Rio Bravo…e as imensas paisagens dos faroestes de minha infância e juventude.

  13. Bravura Indômita dos Irmãos Coen: Excepcional.
    Quero ver o original. Consegue imaginar John Wayne na pele de Cogburn?

  14. Comentário tardio, mesmo assim quero postá-lo.
    Sergio, espero que a esta altura tenha assistido à versão dos Irmão Coen, acredito que tenha gostado. Quanto a mim, credito-o superior à versão de Henry Hathaway, com uma linguagem muito mais realista e grandes atuações, tanto dos atores principais como dos coadjuvantes. Me inserindo na discussão das qualidades artísticas de John Wayne, quase concordo com o Rato, sem ser tanto radical (rsrs), mas coloco o Duke como intérprete de um personagem único (em todos seus filmes). Quanto ao Mário Silva, desculpe-me, mas nunca podemos colocar atores como Gregory Peck ou Henri Fonda num segundo time.

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