Uma Garota Dividida em Dois / La Fille Coupée en Deux


Nota: ½☆☆☆

Anotação em 2009: Este filme é uma grande, gigantesca bobagem. Só irredutíveis fãs de carteirinha de Chabrol podem ter algum interesse por ele.

Não sou fã de Chabrol. Muito ao contrário. Reconheço sua óbvia competência como artesão, mas seu estilo não é o que me agrada. (Volto ao tema mais adiante.) No entanto, me disponho a ver seus filmes, como me dispus a ver este aqui.

Com meia hora de filme, eu já torcia para que ele acabasse logo.

Me lembrei, enquanto via este filme aqui, de Angel, de François Ozon; em Angel, Ozon, propositadamente, propositadíssimamente, cria uma atmosfera de continho de fadas, ou melhor, de continho de livrinho barato para mocinhas tolas, essas histórias das revistas tipo Sabrina, das aventuras de suave heroína e seu romântico herói.

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A história que Chabrol conta aqui vai indo nesse tom de livrinho barato para mocinhas tolas até quase o final – quando aí o diretor assume seu estilo Chabrol típico.

É assim: temos uma mocinha para quem tudo, mas absolutamente tudo na vida é róseo, mas róseo até demais. A mocinha é Aurore (Ludivine Sagnier, de, entre outros, Swimming Pool e 8 Mulheres, por coincidência, ou não, dois filmes de François Ozon), uma jovem apresentadora de meteorologia num canal de TV. O diretor da emissora adora Aurore, tem planos para ela, quer ajudá-la a ser mais que a moça do tempo. A mãe dela, Marie (Marie Bunel), que trabalha numa livraria, a adora, vive para ela. O escritor rico e famoso e charmoso, Charles (François Bérleand), que vai falar de seu livro num programa na emissora onde Aurore trabalha, e depois vai lançar o livro na livraria onde a mãe dela trabalha, se encanta por ela à primeira vista; é verdade que ele é casado há 25 anos, mas ele se encanta por Aurore. Ao mesmo tempo, também encanta-se por Aurore, baba por ela, derrete-se por ela Paul Gaudens (Benoît Magimel), um playboy milionário, herdeiro de uma fortuna construída pelo pai que criou um império na área farmacêutica.

Então o mundo está aos pés de Aurore. Só faltam os anjinhos tocando flautas e harpas para Aurore.

Mas – oh, céus, oh, tristeza -, entre o coroa charmoso e o playboy mimado, intragável, Aurore fica com o primeiro. Apaixona-se, tadinha – e o ingrato a come, e a come bem, e a leva para uma vida de grande desregramento, mas não quer saber de abandonar a esposa, de viver feliz para sempre só com ela. Desgostosa da vida, Aurore vai ficar então com a segunda opção: casar sem amor com o sujeito podre de rico.

E aí o conto de fadas implode como uma bolinha de sabão, vira um dramalhão, um filme triste de fazer as donzelas românticas chorarem.

         ***

Definitivamente, não gosto de Chabrol. Chabrol passa a vida fazendo, um atrás do outro, filmes sobre pequeno-burgueses ou burgueses não tão pequenos, como é o caso aqui, que ele despreza, de quem ele tem raiva e, sobretudo, nojo. Na verdade, o que seus filmes passam é que ele despreza não é apenas o burguês, pequeno ou não, mas o ser humano, a humanidade como um todo. Todas as pessoas, nos filmes de Chabrol, são desonestas, gananciosas, vis, egocêntricas, pequenas, fracas, desprezíveis.

Não é uma visão de mundo que me agrade. Não me agradam os maniqueísmos. Prefiro os filmes (e os livros) que mostrem amor pela humanidade, ou, no mínimo, por uma parte dela. Não precisa ser um endeusamento, uma fascinação. Mas, no mínimo, um respeito, ou até alguma piedade pelas pessoas.

Posso estar redondamente enganado, mas acho que nem todas as pessoas que passam por este planeta são nojentas como os personagens desse sujeito chato.

Uma Garota Dividida em Dois/La Fille Coupée en Deux

De Claude Chabrol, França-Alemanha, 2007

Com Ludivine Sagnier, François Bérleand, Benoît Magimel, Marie Bunel, Mathilda May, Caroline Sihol, Valeria Cavalli

Argumento e roteiro Claude Chabrol e Cécile Maistre

Música Matthieu Chabrol

Produção Alicéleo. Estreou em São Paulo 18/7/2008

Cor, 115 min.

1/2

Título em Portugal: A Rapariga Cortada em Dois

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