Fatal / Elegy


Nota: ★★★½

Anotação em 2009: Muita gente (eu, por exemplo) preferiria fugir dos temas mais dolorosos da vida – a dor em si, física ou moral, as perdas, a doença, a proximidade da morte. A catalã Isabel Coixet, não. Esses são os temas de seus filmes – belos, profundos, imensamente tristes. Todos esses temas estão em Fatal/Elegy, seu filme de 2007.

Lembrando:

Em Minha Vida Sem Mim, uma jovem trabalhadora (a maravilhosa canadense Sarah Poley) fica sabendo que está com uma doença incurável, em estado avançado, e tem poucos semanas de vida. Em A Vida Secreta das Palavras, ela mostra o encontro de uma jovem com as mais profundas feridas que pode haver no corpo e na alma (de novo Sarah Polley) com um sobrevivente de um incêndio que tem queimaduras graves em todo o corpo. No seu episódio de Paris, Te Amo, ela mostra um casal de meia idade que se separa pouco antes de se descobrir que a mulher está com câncer.

Aqui, Isabel Coixet filma o livro O Animal Agonizante, do escritor Philip Roth, com roteiro de Nicholas Meyer. O personagem central, que narra a história, é um professor e crítico cultural inglês, David Kepesh (Ben Kingsley), um hedonista que se mudou para os Estados Unidos para aproveitar a farra da libertação sexual dos anos 60. O meio em que estarão os personagens, portanto, é o da intelectualidade nova-iorquina; conversa-se muito sobre arte, cultura, teatro, música erudita, pintura, fotografia, e o texto narrado pelo protagonista é literário, erudito, elegante.

David Kepesh é um mulherengo inveterado; quando bem mais jovem, num momento de fraqueza, casou-se – o que, para ele, significou uma prisão, da qual fugiu logo. Seu filho, Kenny (Peter Sarsgard), um médico que já beira os 40 anos, ainda culpa por seus problemas psicológicos o pai que o abandonou na infância. Quando a ação começa, o ano escolar na universidade em que dá aula está se iniciando, e David sente uma forte atração por uma de suas alunas, Consuela, interpretada por Penélope Cruz. Vão ter um caso.

Dizer que Penélope Cruz é linda é chover no absoluto molhado. Mas a questão é que, neste filme, ela consegue estar ainda mais linda do que em qualquer outro filme de sua carreira. Não sei bem explicar como foi que sua conterrânea Isabel Coixet conseguiu isso, mas o fato é que ela conseguiu: a atriz está mais estonteamente bela do que o normal. Talvez tenha a ver a elegância com que a diretora montou a personagem, suas roupas clássicas, o cabelo longo com um corte perfeito, o rosto calmo – ao contrário de tantos personagens agitados e nervosos que a atriz já interpretou.

David Kepesh baba pela beleza absurda de Consuela, e é impossível que o espectador não babe também; a câmara de Isabel Coixet (sim, a câmara é operada diretamente pela própria cineasta) também baba por ela, explora, deslumbrada, seu rosto, seus seios, sua bunda. David a compara às majas de Goya, a vestida e a desnuda – e a câmara de Isabel Coixet, ela própria extremamente elegante, sempre se movendo de forma suave, lenta, gentil, faz a mesma comparação por diversas vezes.

“As mulheres belas são invisíveis; ficamos tão deslumbrados pelo exterior que nunca conseguimos enxergar o interior”, diz a David seu maior amigo, o poeta George (Dennis Hopper).

Como está sentindo o avanço da velhice, como percebe perfeitamente a fugacidade de tudo na vida, a começar pela própria vida, David sabe desde a primeira vez que encosta naquela deusa que o caso vai terminar logo, que os mais de 30 anos que os separam logo vão pesar, que um rapaz jovem vai entrar na parada. E quanto mais ele vai se apaixonando, mais perto ele vê o fim de caso.

Incapaz, durante toda a vida, de assumir completamente um caso de amor, de se abrir e cair de cabeça numa relação, e com medo do sempre iminente, dentro de sua cabeça, fim da história, David vai deixando a sorte grande com que os deuses o presentearam escapar entre seus dedos. 

Ben Kingsley é um ator extraordinário, Penélope Cruz é uma atriz extraordinária. Nas mãos dessa diretora de imenso talento, um dos maiores já aparecidos nos últimos anos, eles conseguem se superar. Dão um absoluto show.

É um belo filme, de uma tristeza forte, quase sufocante. Quem não gosta de temas amargos deveria evitá-lo. 

Fatal/Elegy

De Isabel Coixet, EUA, 2008

Com Ben Kingsley, Penélope Cruz, Dennis Hopper, Patricia Clarkson, Peter Sarsgard,

Roteiro Nicholas Meyer

Baseado no livro The Dying Animal, de Philip Roth

Câmara Isabel Coixet

Supervisão musical Isabel Coixet

Produção Lakeshore. Estreou em São Paulo 11/10/2008.

Cor, 112 min.

***1/2

Título em Portugal: Elegia

7 Comentários para “Fatal / Elegy”

  1. Achei esse filme chaaato, assisti morrendo de vontade que ele terminasse logo, mas ele não terminava nunca. Eu não via a hora em que a personagem da Penélope fosse acordar e a qualquer momento falar pro cara: – Oi, tio. Tudo bem que essa diferença de idade é bem comum na “vida real”, nada contra, mas no filme ficou meio estranho. Enfim, acho que não gosto muito dessa diretora, mas antes preciso ver pelo menos mais um filme dela. Mas dos que vi até agora, achei todos arrastados. Acho o sotaque da P. C. altamente irritante e não acho que ela seja uma atriz extraordinária, não.
    A única coisa que não faz o filme cair no marasmo são as cenas com o personagem George. A relação do filho médico com o pai tb ficou mal construída. E como pode um cara chegar naquela idade e não saber lidar ainda com os sentimentos, sempre fugindo de relacionamentos? Enfim, pra mim, o filme ficou longo demais e a história se perdeu. Resumindo: um saco, não veria de novo.

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