Coisas de Família / The Thing About My Folks


Nota: ★★☆☆

Anotação em 2009: Mais um dos tantos filmes sobre relações familiares – e não vai aí nada contra a existência de muitos deles. São sempre bem-vindos, ao contrário dos milhares de filmes sobre violência, serial killers, com dez tiros por segundo e nenhum pingo de inteligência ou sensibilidade.

Este aqui focaliza a relação entre um filho adulto, casado e por sua vez com duas filhas, e o pai, já passado dos 70. O pai – e esta é a grande característica do filme – é interpretado por Peter Falk, o veteraníssimo ator que durante 32 anos (32!!!) interpretou o sargento Columbo, da Divisão de Homicídios da Polícia de Los Angeles, num dos mais aclamados seriados de TV da história. O filme acaba sendo assim uma espécie de homenagem a Peter Falk – que já havia sido homenageado por Wim Wenders em Asas do Desejo, de 1987.

Não poderia dar outra: interpretado por Peter Falk, o Sam Kleinman da história – sujeito cheio de pequenas manias, um pequeno empreendedor que começou do nada e construiu uma sólida empresa de venda de material de construção em Nova Jersey, que sempre se dedicou muito mais a sustentar a família do que a dar atenção e afeto a ela – se transforma… no Columbo! Os trejeitos são exatamente os mesmos: o apertar os olhos para demonstrar que está pensando, os gestos largos com as mãos e os braços, um jeitão italianado (embora o Sam Kleinman do filme seja um judeu), o botar a mão na testa, os passos larguinhos com as pernas curtas para lá e para cá quando está falando, é tudo Columbo – só faltam o eterno charutinho barato e a capa marrom amarfanhada.

Lá pelas tantas, o roteirista Paul Reiser – que interpreta Ben, o filho de Sam – criou até um jeito de Sam Kleinman exclamar: “Ah, eu quase esqueci…”, um dos bordões do sargento Columbo.   

É divertido, é gostoso de ver Peter Falk imitando Peter Falk, aos 78 anos de idade (ele é de 1927, o filme foi feito em 2005). Quem curte Columbo vai aproveitar mais, é claro, mas, mesmo para quem nunca viu sequer um episódio da série, vale a pena.

Quando a ação começa, Sam, o pai, está chegando, à noite e inesperadamente, à casa do filho Ben, para susto dele e de sua mulher, Rachel (Elizabeth Perkins). Filho e nora se mostram muito preocupados com o fato de Sam ter aparecido sozinho – como se ele estivesse senil, incapaz de se movimentar sozinho. E, nos primeiros momentos, Sam até que dá alguns sinais de senilidade – depois se verá que ele não está senil, não, é só um sujeito cheio de cacoetes, mesmo.

Depois de algum tempo sem dizer exatamente a que veio, e sempre insistindo em que está muito bem, está muito bem, Sam apresenta para o filho e a nora um bilhete de Muriel, sua mulher faz 46 anos, dizendo que ela está indo embora de casa.

Pânico geral na família; a nora Rachel telefona para as três irmãs de Ben; ninguém estava sabendo de nada, ninguém tem qualquer notícia da mãe. Todos irão sair procurando informações que levem ao paradeiro de Muriel.

Estamos com uns dez minutos de filme.

No dia seguinte, com a nora e as três filhas se incumbindo da busca por Muriel, Sam e Ben entram no carro deste último para irem até uma fazenda no interior do Estado de Nova York, que Ben pretende comprar, e o filme vira um road movie, com algumas situações previsíveis a não mais poder e meio sentimentalóides, e outras nem tanto, e gostosas e divertidas. Teremos, é claro, a tradicionalíssima difícil porém inevitável reaproximação entre pai e filho, que na verdade nunca tinham estado tão próximos, em quatro décadas de vida, do que naquela viagem.     

Nada sensacional, nada extraordinário – a não ser Peter Falk. Grande Peter Falk. Salve ele.

Coisas de Família/The Thing About My Folks

De Raymond De Felitta, EUA, 2005

Com Peter Falk, Paul Reiser, Elizabeth Perkins, Olympia Dukakis

Roteiro Paul Reiser

Produção Nuance Productions

Cor, 96 min.

**

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