Casablanca


Nota: ★★★★

Anotação em 2009: Gilberto Gil certamente andava ouvindo muito Dorival Caymmi, o poeta que esculpia sempre a frase mais perfeita para dizer as coisas simples, quando fez aquele refrão, para o disco de 1981: “Do luar já não há mais nada a dizer a não ser que a gente precisa ver o luar”. Lembrei desse refrão de Gil num dia em que me peguei pensando que tinha que pôr um post sobre Casablanca no site.

É absolutamente inadmissível um site sobre filmes não ter Casablanca.

Não me canso de dizer este site nunca vai ter todos os filmes importantes. Não é uma enciclopédia, nem pretende ser; é só o lugar em que eu juntei as anotações que fui fazendo ao longo da vida sobre alguns dos filmes que vi. Infelizmente, não escrevi sobre muitos filmes importantes logo depois de vê-los, e é o tal negócio, verba volant, scripta manent – ou, em bom português, não anotou, dançou.

Tudo bem – mas não ter Casablanca é demais. Até porque tenho revisto muitos filmes antigos para fazer novas anotações e botar no site.

A questão é que Casablanca é como o luar: já não há mais nada a dizer sobre Casablanca.

A não ser que eu faça uma colcha de retalhos.

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Segue-se uma infindável colcha de retalhos sobre Casablanca.

         Casablanca e eu

Como este site é uma reunião de textos meus, muito pessoais, começo a colcha de retalhos citando a mim próprio. Uns meses atrás, quando resolvi escrever uma pensatinha, uma geléia geral sobre EUA-Europa, uma relação de amor e ódio, claro que falei de Casablanca.

“O filme americano mais cult entre todos os cults, o mais adorado, que, por algum motivo que nossa vã filosofia jamais conseguirá compreender direito, tem a mágica capacidade de seduzir gerações após gerações, incessantemente, é um filme sobre americanos e franceses, em uma época em que um precisava demais do outro: Casablanca, no Marrocos, todos se lembram, estava sob o jugo do governo de Vichy, do Marechal Pétain, marionete dos nazistas na França ocupada e colônias da França ocupada. “Este pode ser o começo de uma grande amizade”, diz, na última seqüência do filme, o capitão Renault (Claude Rains), o francês corrupto, conivente com o nazismo, mas no fundo, no fundo, no fundo, bem no fundo, um francês patriota e até de algum bom caráter, a Rick (Humphrey Bogart), o americano expatriado que um dia já havia sido believer, tinha se transformado em cínico e voltava a ser believer ao perder a amada mais bela que jamais existiu numa tela de cinema, Ilsa, Ingrid Bergman, em nome da luta contra o nazismo. Uma das seqüências mais emocionantes do filme americano mais cult entre todos os cults é aquela em que, no Café Americain do expatriado Rick, todos se põem a cantar “Allons enfants de la patrie, le jour de gloire est arrivé”, a canção raivosa que os franceses cantaram na Revolução que derrubou a monarquia e tentou instalar a igualdade liberdade fraternidade, para em seguida dar espaço a Napoleão Bonaparte, o assassino que só matou menos gente do que Hitler, Stálin e Mao.”

Hum… Nada demais, mas também não chega a ser um texto horroroso.

Em 1995, quando se completava meio século do final da Segunda Guerra, a Agência Estado fez o CD-ROM II Guerra Mundial. CD-ROM era o must, na época, coisa muito moderna. (Era preciso que o micro fosse de 486 para cima para poder tocar! Troço moderníssimo!) Eu estava voltando à Agência depois de três anos e tanto fazendo outras coisas na vida, dois deles como bendito-é-o-fruto – quase o único homem – entre as mulheres da revista Marie Claire, uma redação então gloriosa, sob a direção de Regina Lemos. Estava chegando de volta à Agência Estado, chamado por Sandro Vaia e Elói Gertel para tocar um projeto novo, e projeto novo, enquanto não vai pra rua, sempre tem tempo em que a gente fica meio fazer nada, e uma alma piedosa, com pena do meu ócio – acho que o Elói – sugeriu que eu tocasse a parte dos filmes sobre a Segunda Guerra. Trabalhinho pesado: fazer, para ontem, a sinopse de uns 500 filmes. Vou atrás do que escrevi sobre Casablanca. É o retalho nº 2:

“Com tantos bares no mundo, ela tinha que aparecer justamente no meu?”, pergunta Humphrey Bogart, bêbado de doer. Claro que Ingrid Bergman tinha que aparecer exatamente ali, no Rick’s Café Americain, em meio a nazistas e franceses colaboracionistas, ao lado do marido, um herói da resistência – ou o cinema seria bem menor, sem Casablanca. A Warner Bros. havia comprado os direitos de uma peça de teatro que nem chegou a ser encenada – Everybody Goes to Rick’s, de Murray Burnett e Joan Alison, basicamente pelo local bizarro em que a ação se passava, Casablanca, no Marrocos, então possessão francesa. Os experientes irmãos Julius e Philip Epstein foram contratados para fazer o roteiro do filme, com base na peça, mas o resultado não agradou aos chefões do estúdio, que encarregaram Howard Koch de dar uma recosturada geral no texto. Ronald Reagan, o grande canastrão, chegou a ser sondado para o papel principal, assim como Ann Sheridan (os dois haviam feito muito sucesso no ano anterior com Em Cada Coração Um Pecado/Kings Row). Mas o fato é que o diretor Michael Curtiz teve Humphrey Bogart, de quem ele gostava, e uma jovem estrangeira ainda pouco conhecida do público americano – embora tivesse começado a filmar em 1934, na Suécia, Ingrid Bergman havia feito apenas quatro filmes desde que se mudara para os Estados Unidos. Teve ainda um dos mais perfeitos conjuntos de atores secundários e coadjuvantes da História, uma canção eterna (As Times Goes By, de Herman Hupfeld, na voz de Dolley Wilson), bela trilha de Max Steiner, excelente fotografia de Arthur Edeson – e o resultado foi mágica pura. Ganhou os Oscars de filme, diretor e roteiro. Mas, muito mais que isso, é um filme ao qual o tempo só faz bem. Mereceu diversas tentativas de cópia, nenhuma delas nem de longe do nível do original; e ganhou até um filme-homenagem, o ótimo Sonhos de um Sedutor/Play it Again, Sam, de Herbert Ross, com roteiro de Woody Allen baseado na sua peça.”

casablanca5De novo, hum… Nada sensacional, mas também não chega a ser um texto muito ruim. Acho que, mesmo que a gente não tenha lá muito talento, não consegue fazer texto ruim demais sobre Casablanca.

         Para pular uma história pessoal, vá até o próximo intertítulo

Interessante é lembrar por que, com tanta possibilidade de primeira frase, o lead do lead, escolhi justamente aquela lá – “Com tantos bares no mundo, ela tinha que aparecer justamente no meu?” Na verdade, a frase exata, dita por um Humphrey Bogart fazendo de conta que estava bêbado feito um gambá (ele sabia bem interpretar esse papel), é: “Of all the gin joints, in all the towns, in all the world, she walks into mine”. De todos os botequins de todas as cidades no mundo inteiro, ela entra no meu.

Três anos antes, em abril de 1992, eu tinha passado por uma experiência um pouquinho parecida com a de Rick Blaine ao rever Ilsa Lund. Como parecer com Rick Blaine, ainda que um pouquinho, é um dos maiores orgulhos que um homem pode ter, e como este site é meu mesmo, pessoal e intransferível, vou contar o caso, rapidinho. Eu estava em San Francisco, hospedado no histórico St. Francis, diante da Union Square (a praça que aparece no início de Os Pássaros, de Hitchcock); o St. Francis foi aberto em 1904, tendo sido reconstruído depois do grande incêndio de 1906 – e estar ali era uma glória absolutamente inesperada. Tinha ido cobrir um seminário sobre problemas e perspectivas do Brasil, nas Universidades de Stanford e Berkeley (onde Ben Braddock-Dustin Hoffman vai à procura de Elaine-Katherine Ross, em A Primeira Noite de um Homem/The Graduate).

O seminário foi organizado pela Ruth Escobar, então trabalhando no Consulado brasileiro em San Francisco. A lista de palestrantes chamados por Ruth Escobar era uma coisa impressionante: senador Fernando Henrique Cardoso e Ruth Cardoso; Sérgio Motta e senhora; senador Eduardo Suplicy e Marta; senador José Fogaça; Luiz Antônio Medeiros, representando o sindicalismo (credo); o cientista político Bolívar Lamounier, entre outros. (Evidentemente, nenhum dos brazucas ali tinha idéia de que o sociólogo senador viria a ser presidente da República.)

Ruth Escobar havia oferecido lugar para alguém da Agência Estado cobrir os seminários. Eu estava para sair de lá; o patrão, Rodrigo Mesquita, grande figura, que sempre admirei e a quem devo muito, me escolheu para a tarefa, acho que como prêmio de consolação (ou porque eu não fizesse falta na redação, não sei). E então lá estava eu, bastante sem jeito no meio daqueles figurões todos, peixe inteiramente fora d’água mas fingindo que estava tudo bem, no St. Francis, quando Ruth me diz: “Veja que coincidência: acaba de chegar aqui a sua ex-mulher”.

Regina estava passeando por San Francisco com Lucy Dias; as duas não tinham a mínima idéia de que estava havendo um convescote de brasileiros lá, foi coincidência pura, dessas que Deus usa para se manter anônimo. Eu já estava casado e bem casado com Mary fazia dois anos – mas reencontrar Regina daquela maneira absolutamente inesperada, ali, no St. Francis, foi uma das experiências mais loucas que já tive na vida. De madrugada, depois do jantar com ela e mais um bando de gente no Fisherman’s Wharf, bêbado que nem um gambá, com os dedos trôpegos, escrevi, num laptop pré-histórico que era então moderníssimo: “Com tantos bares no mundo, ela tinha que aparecer justamente no meu?”

casablanca3Mas, Cacilda, isso aqui não é um livro de memórias, é um post sobre Casablanca!

Casablanca e o mundo

Com a palavra, Dame Pauline Kael. O que será que ela diz de Casablanca, com aquela língua ferina dela, sempre ferina? Vejo, surpreso, que Sérgio Augusto não incluiu Casablanca entre os 2.848 filmes comentados pela primeira dama da crítica americana em seu 5001 Nights at the Movies, e que ele editou no Brasil como 1001 Noites no Cinema, pela Companhia das Letras, com 1.200 verbetes. Estranho. Faço eu a tradução, sem a competência do xará de texto melhor:

“Ingrid Bergman virou uma favorita do público quando Humphrey Bogart, como Rick, o mais famoso dono de bar da história do cinema, a tratou como uma puta. Embora o romance deles tenha sido certificado por uma coleção de prêmios da Academia, eles nunca mais teriam a sorte de aparecer juntos de novo. No papel do cínico redimido pelo amor, Bogart se transformou no grande aventureiro-amante do cinema durante os anos da guerra. Neste filme ele estabeleceu a figura do herói rebelde – o lobo solitário que odeia e desafia o oficialismo (e nos filmes ele realizava uma fantasia universal:  dava as costas a ele). Perguntado sobre seu propósito e motivação, ele informa à polícia: ‘Vim a Casablanca por causa das águas’. ‘Águas? Que águas? Estamos no meio do deserto.’ ‘Eu estava mal informado.’ Está longe de ser um grande filme, mas tem um romantismo especialmente atraente, e você na verdade nunca é pressionado a levar a sério suas reviravoltas melodramáticas.”  E aí ela dá o nome dos atores, roteiristas, etc.

“Está longe de ser um grande filme.” Que figura, Dame Pauline Kael!

Estamos em 2009, o filme é de 1942: tem 67 anos de idade. É o número 11 na votação popular do mais abrangente site de cinema do mundo, o iMDB. É o número 3 na lista dos 100 melhores filmes do American Film Institute (depois de Cidadão Kane e O Poderoso Chefão).

“O filme mais amado da América, Casablanca tem todos os ingredientes que fazem um grande filme – ótimas interpretações em todos os níveis, um roteiro inspirado, uma direção sem falhas, e técnicas de produção superlativas”, diz o CineBooks’ Motion Picture Guide. “Desde seu lançamento em novembro de 1942, tem sido o filme, que mistura com perfeição uma turbulenta história de amor com uma intriga pungente, personagens heróicos, e um apelo sentimental que o torna mais agradável a cada nova revisão. Mesmo quando recém-lançado, o filme criou uma nostalgia imediata pelo mundo que existia entre as duas guerras mundiais, um tempo civilizado, cujos valores não poderiam coexistir com a ascensão do fascismo.”

         Casablanca é O Filme

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Roger Ebert fez um ótimo texto. Transcrevo a abertura:

“Casablanca é O Filme.

Há filmes maiores. Mais profundos. De maior visão artística, ou originalidade artística, ou significado político. Há outros títulos que poderíamos pôr acima dele nas nossas listas de melhores filmes de todos os tempos. Mas quando se trata dos filmes de que mais gostamos, quando estamos – vamos imaginar – contando os segredos do nosso coração para alguém em quem podemos confiar, a conversa mais cedo ou mais tarde vai ter estas palavras:

– Adoro Casablanca.

– Eu também.

Este é um filme que transcende as categorias normais. Sobreviveu ao culto por Bogart, sobreviveu ao circuito dos relançamentos, livrou-se daqueles que o ameaçaram com a colorização, saltou através do tempo para ganhar platéias que nasceram décadas depois que ele foi feito. Mais cedo ou mais tarde, em geral antes de fazer 21 anos, todo mundo vê Casablanca, e ele vira seu filme favorito. É O Filme.”

Em outro texto, publicado em seu livro A Magia do Cinema (Ediouro, 2004), Ebert diz:

“Revendo o filme por mais e mais vezes, ano após ano, acho que ele nunca parece se esgotar. Lembra um disco de músicas favoritas: quanto mais o conheço, mais gosto dele. A fotografia em preto-e-branco não envelheceu como a colorida envelheceria. O diálogo é tão econômico e cínico que continua atual até os dias de hoje.”

Eu poderia ir em frente indefinidamente transcrevendo boas frases sobre Casablanca, de livros como 1001 Filmes Para Ver Antes de Morrer, 501 Must-See Movies, Hollywood Picks the Classics, Box Office Hits.

Sim, o filme está até mesmo nesse último livro, sobre os filmes de maior bilheteria da história. Casablanca foi a quinta maior bilheteria de 1942, depois de Bambi, dos Estúdios Walt Disney, Rosa de Esperança/Mrs. Miniver, de William Wyler, A Canção da Vitória/Yankee Doodle Dandy, também de Michael Curtiz (o homem era incansável) e Na Noite do Passado/Random Harvest, de Mervyn LeRoy.

Mas acho que não chega a ser necessário.

No Box Office Hits, no entanto, encontro duas informações bem interessantes que vale a pena citar. Em 1983, o British Film Institute pediu a seus membros que votassem nos 30 melhores filmes de todos os tempos. Dos 2 mil filmes indicados, Casablanca foi o mais votado.

E, segundo uma pesquisa feita pela revista TV Guide “recentemente” (o livro é de 1990), Casablanca foi o filme mais exibido na TV americana.

         Casablanca e os outros

Falta falar um pouquinho dos filmes que tentaram imitar Casablanca, recriar sua atmosfera, tirar uma casquinha de sua mágica. Em 1944, dois anos depois do lançamento de Casablanca, Jean Negulesco fez Os Conspiradores/The Conspirators, em que Paul Henreid, o ator que interpretou Victor Laszlo, o marido de Ilsa, é de novo um herói da resistência, desta vez um holandês. Ele vai à neutra Lisboa atrás de espiões nazistas e se apaixona por uma mulher misteriosa, interpretada por Hedy Lamarr, a primeira atriz a ficar inteiramente nua na tela, em Êxtase, de 1933. Dois outros atores de Casablanca aparecem também em Os Conspiradores, Sydney Greenstreet e Peter Lorre.

casablanca6Também em 1944, e também pela mesma Warner Bros, o grande Howard Hawks fez Uma Aventura na Martinica/To Have or Have Not, que muita gente chamou de “o Casablanca de Hawks”. Bogart, exatamente como em Casablanca, faz um tipo que não quer se meter em encrenca e muito menos na guerra; dono de um pequeno barco, no entanto, é constantemente assediado para trabalhar para os membros da resistência francesa, transportando-os com seu barco. Na história original escrita por Ernest Hemingway, a ação se passava entre Cuba e a Flórida, e o carregamento era de imigrantes ilegais chineses para os Estados Unidos, mas o Comitê de Negócios Americanos, então dirigido por Nelson Rockefeller, sugeriu a Hawks que mudasse a ação para a Martinica, para não criar embaraços com os países latino-americanos e para ficar bem com os aliados franceses. Lauren Bacall tinha 19 aninhos de idade e o olhar e o jeito de fumar mais sensual do mundo quando fez o principal papel feminino – e foi o começo de uma bela amizade e de um longo casamento com Bogart, que o bicho não era de deixar passar em branco uma dame daquelas.

O AllMovie cita vários outros filmes similares a Casablanca, inclusive Horas de Tormenta/Watch on the Rhine. Dirigido em 1943 por Herman Shumlin, tem o luxo de reunir nos créditos o extraordinário casal Dashiell Hammett-Lillian Hellman, ele como co-roteirista, ela como co-roteirista e autora da peça em que o filme se baseou, sobre um infatigável lutador contra o fascismo, interpretado por Paul Lukas; a heroína é Bette Davis.

Esses filmes todos foram feitos pouco depois de Casablanca, nos anos imediatamente seguintes, ainda durante a Segunda Guerra. Uma tentativa de recriar o clima de Casablanca feita bem mais tarde seria Havana, um filme de que tenho excelente lembrança (preciso revê-lo). Dirigido por Sydney Pollack em 1990, numa das várias vezes em que ele uniu seu talento ao de Robert Redford, o filme mostra o belo ator (belo nos dois sentidos, bom e bonito) como um americano sem ligação alguma com a política, jogador cínico, despreocupado e inveterado, que acabará se envolvendo com a revolução que derrubaria o ditador Fulgencio Batista apenas pelo amor de uma bela mulher – e Lena Olin estava no auge, no esplendor de sua beleza ao interpretar Bobby Duran, casada com um revolucionário, Arturo Duran (Raul Julia). Foi um belo filme, sobre uma bela revolução, e o diretor Pollack deu entrevistas na época dizendo que não quis fazer um filme indiferente a ela – quis, sim, fazer um filme claramente pró-revolução cubana. Foi uma bela revolução – que pena, que miséria, que acabaria dando no que deu, uma ditadura apodrecida, caquética.

         Casablanca e a famosérrima frase que não houve

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Bem, e ainda é preciso citar Woody Allen. O jovem Woody, que em 1971 gozou os revolucionários barbudos da América Latina em seu Bananas, em 1972 interpretou em Sonhos de um Sedutor/Play it Again, Sam um sujeito tímido, fã alucinado de Humphrey Bogart, que tem a maior dificuldade em cantar a mocinha, já interpretada por Diane Keaton, na primeira das muitas parcerias do casal. O fantasma de Bogey tem então que aparecer para o nosso herói, para ensinar a ele como é que se faz para conquistar uma dame.

O título original, Play it Again, Sam, é uma das falas mais famosas da história do cinema, constantemente atribuída a Casablanca. O filme tem isso: transforma em histórica até mesmo uma frase que jamais é dita. Até os tapetes mais encardidos e as lanternas que antigamente eram usadas nos grandes cinemas para conduzir os espectadores até suas cadeiras sabem que o diálogo entre Ilsa e o pianista Sam do Café Americain é, na verdade, assim:

Ilsa: – “Play it, Sam. For old times’ sake.” (Toque, Sam. Pelos velhos tempos.)

Sam, mentindo mal pra burro: – “I don’t know what you mean, Miss Ilsa.” (Não sei do que está falando, Miss Ilsa.)

E aí a mulher mais linda a jamais aparecer numa tela de cinema, abrindo aquele sorriso que ninguém, nem o mais belo anjo de pintor renascentista jamais teve, diz: – “Play it, Sam. Play As Time Goes By.”

Casablanca

De Michael Curtiz, EUA, 1942

Com Humphrey Bogart, Ingrid Bergman, Paul Henreid, Claude Rains,

Peter Lorre, Sydney Greenstreet, Conrad Veidt, Dooley Wilson.

Roteiro Julius e Philip Epstein, Howard Koch

Baseado na peça Everybody Goes to Rick’s, de Murray Burnett e Joan Alison

Fotografia Arthur Edeson

Música Max Steiner

Produção Warner Bros.

P&B, 102 min.

R, ****

48 Comentários para “Casablanca”

  1. Antes de mais nada, gostei de ver seu romantismo – luar, música, aquela foto maravilhosa daqueles maravilhosos amantes.Já assisti Casablanca algumas vezes e sempre me encanto e apaixono. Olha aqui- seus RETALHOS
    são ótimos, pode continuar a faze-los sôbre outros filmes, pois cada vez desbrimos mais sôbre eles e sôbre você. Não é bom? Nada de pular história pessoal. Elas são gostosíssimas.

  2. Sérgio, quando fui ver, a sua “infindável” colcha de retalhos tinha acabado. Fiquei com gosto de quero mais. O texto bem-humorado, agradável, rico, preciso, me faria reler Guerra e Paz. Ia pensando ‘será que ele vai esclarecer o Play it again, Sam’, e ali está. Também gosto muito do cuidado de, ao citar que o filme ficou em terceiro lugar, contar quais foram o primeiro e o segundo (ou até o quinto, como você fez).
    Que coisa a Hedy Lamarr ficar peladona na tela em 1933.

  3. Sérgio querido!!!

    Não sei quantas vezes vi Casablanca… no cinema, na TV, em VHS, em DVD (presente de vocês). O que sei é que em todas as vezes me emocionei, como me emocionei agora lendo seu belo texto. Obrigada!!!
    Beijos!!!

  4. Andréa, queridíssima, muito, muito obrigado pela mensagem. Ela me emocionou. Um grande abraço.
    Sérgio

  5. Depois que mandei o agradecimento à Andréa, percebi que fui injusto, porque não registrei agradecimento aos comentários da Dona Lúcia e do Valdir. Bem, ainda que com atraso, agradeço à senhora, Dona Lúcia, e a você, Valdir. Mas acho que preciso dar uma explicação: é que com vocês dois falo com mais freqüência, e já um pouco me acostumei com a atenção que vocês dão ao site – o que me honra muito. Já com a Andréa falo bem menos, e sei que ela não gosta muito de chegar perto de computador. A mensagem dela me surpreendeu, pois ela é assim um pouco como a filha pródiga…

  6. Muito bom! Gostei mais da sua história em San Francisco do que do filme (rs..rs).
    Para mim o Casablanca é curioso por uma sucessão de fatos:
    Quando vi esse filme pela primeira vez foi quando tivemos nosso primeiro video cassete, numa TV de 17 polegadas, e eu não sabia nada sobre a história dos refugiados e etc.. Total ignorância.
    Na segunda tentativa eu tinha uns 22 anos, surfista, não aguentava ficar numa cadeira e assisti em laserdisc sem legenda – quase morri. Até que um dia vi com meu pai, mas já era tarde pra sentir aquele encanto.
    A canção realmente ficou imortalizada; vale lembrar que no filme Sintonia de Amor, com a Meg Ryan, que na ocasião, meados dos anos 90, era a namoradinha da América, a música fez parte da trilha e não impactou tanto; mas era a melhor do disco.
    Com isso tudo eu conclui que sou único.
    Sou o único que não curtiu o Casablanca
    E…
    Sou o único que não viu o filme E.T.
    Acredite!!
    Talvez um dia eu seja lembrado por isso…
    Sabe o Fábio? Sei, aquele que não viu o E.T.?
    Esse mesmo!!..(rs..r..s…).
    Abração.

  7. Alô, pessoal: eu conheço o Fábio, o único cara que não curtiu Casablanca e nunca viu o E.T., tá? Tenho orgulho de dizer que o conheço, e que ele é meu amigo. Tenho orgulho de dizer que o Fábio de Domenico, profissional competentíssimo, conhecedor de som e de música como poucos, o único cara que nunca viu o E.T., é meu amigo; tomamos uísque juntos, trocamos discos de Bob Dylan e Mark Knopfler e outros. Juro que o cara existe!
    Grande Fábio!

  8. é isso ai Sergio, vc. nao deve se lembrar de mim,mas desde garoto, vc. ja tinha o dom, e eu sabia que ia longe,
    parabéns, interessante, tudo sobre casablanca, mesmo porque eu nasci em 1944, e so assisti ao 18 anos, curti muito. um gde abço ninette

  9. Oi, Sérgio,
    Estava lendo no site que o seu amigo Fábio não gostou de Casablanca e nunca viu o filme E.T. Hehehe, que figura, ele existe mesmo? Se bem que se ele não for da minha geração não é tão ET por não ter visto o filme E.T. (ô trocadilho infame!). Só que acho que todo mundo viu esse filme, até minha mãe, que é de três gerações antes de mim.
    Estava agora baixando dois filmes, e nos meus arquivos encontrei esse querido filme, que baixei por estes tempos, acho que antes da correria dos casamentos, tinha até me esquecido. Nem acredito que vou revê-lo depois de tantos anos, nem sei quantos!! Vai merecer sessão especial com pipoca e guaraná. Tb preciso rever O Império do Sol, o primeiro filme adulto que vi no cinema. Era um cinema de rua, um dos únicos que tinha aqui. Fui com minha mãe e alguma professora da escola em que ela trabalhava, não lembro direito.
    Acabei de lembrar que considero quem não viu o filme E.T. tão ET quanto quem nasceu na década de 80 e não viu O Rei Leão. Tenho um primo que nunca viu O Rei Leão (não sei se ele viu E.T., preciso averiguar), mas ele não gosta de Chico Buarque, então a opinião dele não conta, não entra na minha pesquisa, hahaha.

  10. Vi este filme pela primeira vez há quase dois anos e não me encantou. Não vi bem do inicio e isso acho que me dificultou a concentração. Hoje revi-o e, meu deus, um filme mt bom. Não o melhor de sempre nem um dos filmes da minha vida, mas gostei. E o final é magnifico. Bogart está opimo. Ingrid tb está muito e bem e tem razão Sérgio. Ela está linda. Talvez o filme em que esteja mais bonito, se bem que em “Doctor Jekyll and Mister Hyde” também está bem bonita. Eu não a acho a mais bela atriz mas tem qualquer coisa que encanta. O seu ar sereno, frio mas não gelado… O seu mistério, a sua elegância tornam-na única. Quando vi fotos da Ingrid, não me apaixonei por ela. Achei um pouco insípida. Mas quando a vi atuar, meu deus. Aí é que percebi a beleza dela: o seu mistério e o seu magnetismo. Ela não é muito fotogênica mas uma bela e inteligente mulher.

  11. Amo esse filme, ele tem gosto e cheiro de cinema, se que vocês me entendem. Fica difícil dizer porque ele é tão perfeito, mas afinal como não seria perfeito um filme com Humphrey Bogart mais “cool” do que nunca, Ingrid Bergman mais linda do que nunca e o grande Claude Rains, mais cínico do que nunca? E ainda tem ponta do gênio Peter Lorre. Aliás vi um excelente documentário: “Cineastas em Exílio: Do Terceiro Reich a Hollywood”, (Cinema’s Exiles: From Hitler to Hollywood, dirigido por Karen Thomas), que faz uma radiografia do elenco de Casablanca, mostrando que muitas e grandes estrelas do cinema e do teatro europeu, exilados em Hollywood por causa do nazismo, participaram do filme e a maioria em papéis pequenos, quase pontas, uma nota bastante melancólica.

    Aliás recomendo o documentário que pode ser assistido no youtube em nove partes, com audio em francês e legendas em inglês:

    https://www.youtube.com/watch?v=9og6IRlVjh4

    E às vezes reprisa no canal Curta! da net.

    A propósito de Ronald Reagan e Ann Sheridan terem sido escalados parece que foi verdade, o que salvou foi a entrada dos Estados Unidos na guerra por causa do ataque a Pearl Harbor. Reagan e muitos outros atores foram convocadas e a Warner teve que utilizar os atores exilados. Humphrey Bogart era veterano e tinha se machucado na 1ª Guerra, foi dispensado e Ann Sheridan engravidou. Ingrind só aceitou fazer o filme se lhe dessem a protagonista de Por quem os sinos dobram, (For Whom the Bell Tolls de Sam Wood) . No documentário Eu sou Ingrid ela diz que não gosta muito do filme e não entende a sua longevidade. Coisas da vida.

    É uma delícia ler seu blog, voc~e está de parabéns!

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