Pegar e Largar / Catch and Release


Nota: ★★½☆

Anotação em 2008: Embora seja produzido por um dos maiores estúdios, a Columbia, hoje pertencente ao conglomerado Sony, este filme tem todas as características dos independentes americanos – o que, em si, já é uma grande bênção.

Quando há tantos diretores talentosos que saem dos seus países de origem para trabalhar dentro das regras do cinemão de Hollywood, ver filmes que percorrem o caminho inverso é uma maravilha. Faz lembrar o tal do “tentar mudar o Sistema pelo lado de dentro” de que fala Leonard Cohen.

Não é uma produção cara; bem ao contrário. A diretora Susannah Grant – em seu primeiro longa-metragem – é quem assina o argumento e o roteiro. Não tem montes de efeitos especiais; não trata do mundo dos muitíssimo ricos; não fala de bandidos, mafiosos, serial killers; não tem um tiro sequer; não tem perseguições de carro. Aleluia! Trata de gente comum, gente como a gente – encontros, desencontros, perdas, amor, amizade, traição, segredos não contados e enfim revelados. Seus personagens – basicamente, um grupo de cinco pessoas – são todos jovens adultos na faixa dos 30 e poucos anos.

O filme começa com um não-casamento e um funeral, na cidade de Boulder, Colorado. A algumas horas da cerimônia de seu casamento, Grady morre – o espectador nem fica sabendo de quê; não importa. Na abertura da ação, na reunião para o enterro, sua noiva, Gray (Jennifer Garner), está narrando, não para o espectador, mas para o morto, a dor e os incômodos pelos quais está passando. “Por que você me deixou sozinha com essa multidão? Você sabe que eu detesto multidões”, ela diz, voz em off, enquanto recebe as condolências dos amigos, parentes e conhecidos.

zzcatch1Grady, o morto, dividia uma casa com dois grandes amigos, Dennis (Sam Jaeger), seu sócio numa pequena empresa, e Sam (Kevin Smith). Sem dinheiro para pagar o aluguel da boa casa que Grady havia alugado para morarem depois de casar, Gray vai morar com os dois amigos do noivo morto. Na mesma casa, hospeda-se Fritz (Timothy Olyphant), outro grande amigo do morto, que se deu bem na vida, em termos materiais; mora em Malibu, Los Angeles, e trabalha como fotógrafo e diretor de filmes comerciais.

Gray está ainda tentando entender a tragédia que se abateu sobre ela quando surgem revelações inesperadas sobre o noivo morto. Primeiro, ela fica sabendo que ele tem uma poupança de cerca de US$ 1 milhão, sobre a qual jamais havia falado com ela ou com os amigos. Depois, descobre que ele enviava mensal e religiosamente US$ 3 mil para uma pessoa em Los Angeles. Logo em seguida, essa pessoa surge em carne e osso diante dela, e a carne bem à mostra em sainhas curtas: chama-se Maureen, é massagista terapêutica (Juliette Lewis, loura, bonita e gostosa), e tem um filho de Grady – motivo pelo qual recebia o dinheiro todos os meses.

Saia justa é isso aí. E estamos ainda na primeira metade do filme.

A diretora e roteirista Susannah Grant aborda essas trapaças do destino com bom humor, mas um bom humor um tanto contido. Só o personagem de Sam, o amigo de Grady gordão interpretado por Kevin Smith – ator de grande sucesso nos Estados Unidos, figurinha fácil da TV, diretor, roteirista, produtor, montador – roça pelo escrachado, pelo abertamente cômico. Tirando ele, todo o tom do filme é uma caminhada no fio da navalha entre o drama e o bom humor suave.

zzcatch2Apesar de ter estreado na direção com este filme, Susannah Grant tem currículo para mostrar, embora ainda não extenso. Nascida em 1963, já assinou nove roteiros, incluindo 28 Dias/28 Days, que aborda um tema importantíssimo, o alcoolismo, o bom Erin Brockovich, Uma Mulher de Coragem, de Steven Soderbergh, e Em Seu Lugar/In Her Shoes, de Curtins Hanson.

Fiquei com a impressão de que ela ainda tem o que aprender na direção de atores. Há momentos em que alguns deles fazem gestos um tanto falsos, um tanto teatrais, ou simplesmente não sabem direito o que fazer com as mãos. Mas ela acertou em cheio ao escalar a grande atriz irlandesa Fiona Shaw para interpretar a mãe do morto; o papel é pequeno, mas ela está ótima – assim como Juliette Lewis no papel da massagista terapêutica, uma pós-hippie cheia de papo-furado sobre aura, alimentação natureba, fluidos positivos e quetais.

Juliette Lewis é uma daquelas atrizes que mereceriam ter mais e melhores papéis – assim como Bridget Fonda e Winona Ryder. Uma menina que teve desempenhos brilhantes sob a direção de Woody Allen (Maridos e Esposas/Husbands and Wives, de 1992) e Martin Scorsese (Cabo do Medo/Cape Fear, de 1991) mereceria mais do que tem tido ultimamente.

 Pegar e Largar/Catch and Release

De Susannah Grant, EUA, 2006.

Com Jennifer Garner, Timothy Olyphant, Sam Jaeger, Kevin Smith, Juliette Lewis, Fiona Shaw

Argumento e roteiro Susannah Grant

Produção Columbia

Cor, 124 min (iMDB); 112 min (Cinemax)

**1/2

2 Comentários para “Pegar e Largar / Catch and Release”

  1. Eu achei esse filme meio estranho, mas no final acabei gostando. Pra mim, quem está melhor é a personagem principal, que me lembra um pouco a atriz brasileira Ingrid Guimarães (me identifiquei logo no começo quando ela disse que não gosta de multidões nem de saltos, rs). O cara que faz o galã de última hora, Fritz , achei meio canastra, assim como a mãe do morto. O personagem do Kevin Smith tb é irritante, muito bem humorado, solícito demais. Acabou ficando chato. A Juliette Lewis tem um rosto esquisito e uma voz de bêbada, mas atua bem, e merecia mesmo mais e melhores papéis.
    O filme tem mesmo características de independente, como vc disse; acho que aí está a graça dele, pq é um filme meio chatinho, que foi levado pela atuação segura da Jennifer Garner.

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