Columbo – A Segunda Temporada


Nota: ★★★☆

Anotação em 2008: Esse Columbo é um belo personagem – e Peter Falk está estupendo no papel. Na verdade, Peter Falk incorporou o personagem, virou o personagem, que, afinal, viveu ao longo de absurdos 32 anos, entre 1971 e 2003.

Acho que nenhum outro ator, em lugar algum, viveu o mesmo personagem durante tanto tempo.

Foi uma coisa tão absolutamente marcante que Wim Wenders fez uma homenagem a ele em seu Asas do Desejo/Der Himmel über Berlin, de 1987.

Columbo se veste sempre igual, de um jeito desajeitado, mondrongo, amassado – terno vagabundo, gravata vagabunda, sempre com um sobretudo cáqui velho e amassado, sapatos velhos e sujos. Está sempre fumando um charutinho barato e fedorento; é cheio de tiques, anda meio encurvado. Dá toda a impressão de uma pessoa desorganizada – às vezes faz anotações enquanto interroga as pessoas, às vezes não anota nada; volta e meia puxa de dentro de algum dos vários bolsos (depois de procurar um pouco e não achar) uma prova, um documento, a anotação de uma frase dita anteriormente.

E tem o carro dele. Em Los Angeles – Columbo se apresenta como Tenente Columbo, LAPD, a sigla de Departamento de Polícia de Los Angeles, Homicídios -, a cidade que tem mais carro que gente, no país que adora carrões, Columbo tem um carro velho, pequeno, feio, sujo, que volta e meia não pega.

Columbo não tem nada do cerebral de um Sherlock Holmes ou um Poirot ou um Nero Wolf. Está mais próximo dos detetives hard-boiled de Raymond Chandler ou Dashiell Hammett, embora não se meta em lutas corporais como eles. Sua principal característica é o faro: ele observa, ouve, vê, e sobretudo fareja. Ganha mal, e faz questão de dizer isso a cada momento. As referências à esposa – que jamais aparece -, várias em cada episódio, são ótimas, engraçadíssimas.

Nos personagens das séries de TV atuais, há muito dele. O tal do Monk, com os seus trejeitos e manias, é evidentemente calcado na figura do Columbo.

O personagem Columbo, e a série como um todo, têm ainda a grande vantagem de serem bem-humorados. Não se levam muito a sério, fazem piada. Não chega a ser um humor escrachado e beirando o nonsense, de A Gata e o Rato/Moonlightning, mas está longe da seriedade de Lei e Ordem Unidade de Vítimas Especiais, para citar outras séries de que gosto.

Os assassinos são sempre pessoas ricas, famosas, bem sucedidas. É um contraste gritante com o policial com salário baixo, e a série realça sempre que pode esse contraste. É uma demonstração inequívoca da luta de classes – o macarthismo seguramente não permitiria a existência da série.

Cada episódio focaliza uma área de atividade, sem repetição – ao menos nesta temporada que a gente viu, a segunda produzida, um pacote de 4 DVDs emprestado pelo Anélio Barreto.

Todos os episódios têm em comum o fato de que não têm nada a ver com o whodunit, o quem-foi-que-matou, que é o estilo de Agatha Christie e de tantos outros autores de novelas policiais. Aqui, o espectador sabe muito bem quem matou. Em geral, os episódios começam com o assassino planejando ou executando seu crime.

Os roteiristas e diretores têm sempre o cuidado de não mostrar explicitamente a violência dos assassinatos – nunca há banhos de sangue. Afinal, a série começou nos anos 70, numa época em que ainda valia o implícito, o não mostrado abertamente, antes que a explicitude total tomasse conta do cinema americano e o tornasase mais sem graça.

E Columbo sempre acerta quando suspeita de alguém, e não demora nada para ter o seu suspeito – a questão é saber como ele vai achar as provas para acusar o assassino. Há sempre um pequeno detalhe que o assassino deixa passar, e que será a chave para a solução do caso; depois de ver vários episódios, o espectador ficará atento para tentar perceber qual é esse pequena falha.

Em geral, cada episódio tem um ou dois atores convidados – e bons atores, nomes consagrados do cinema, ou bem conhecidos na época: Anne Baxter, Martin Landau, Ray Milland, Mel Ferrer, Leonard Nimoy, Dean Stockwell, John Cassavetes, Blythe Danner, Bradford Dilman, Julie Newmar, Honor Blackman, Laurence Harvey, para citar só atores que trabalharam nos episódios da segunda temporada.

Ao longo das diversas temporadas, alguns diretores de peso assinaram episódios. O jovem Steven Spielberg, então iniciante e empregado da Universal, dirigiu um. Richard Quine fez outro.

E todos os episódios têm em comum um detalhe fantástico: deve seguramente ser proposital, mas os figurinos são grotescos. É verdade que os anos 70 foram uma época de roupas um tanto grotescas, mas a série exagera nisso. Os ternos dos ricaços assassinos são sempre espalhafatosos, com cores ou listras berrantes; as golas são gigantescas, absurdas; as camisas e paletós são sufocantemente apertados; os vestidos das mulheres também são sempre exagerados. Edith Head jamais assinaria aqueles figurinos.

Aliás, Edith Head, uma figura sensacional, autora de 11 figurinos em cada dez filmes da Paramount durante décadas, vencedora de oito Oscars e outras 28 indicações para o prêmio da Academia e outros, faz papel dela mesma num dos episódios desta segunda temporada, o de número quatro.

No primeiro episódio, Pontos do Crime/A Stitch in Crime, a área é a medicina. Um importante cirurgião (Leonard Nimoy, o dr. Spock do Jornada nas Estrelas/Star Trek) planeja matar seu mestre para ficar com as honras da pesquisa que estão realizando conjuntamente; ao ser descoberto por uma enfermeira, ele a mata.

No segundo, The Most Crucial Game, é o mundo dos esportes, do futebol americano. O administrador dos bens do filho de um milionário da área, dono de time, assassina o rapaz, interpretado por Dean Stockwell.

No terceiro, Estudo em Bemol/Étude in Black, o maestro de uma orquestra (John Cassavetes, ganhando algum pra poder tocar seus filmes independentes) mata a pianista, com quem teve um caso, e que passou a ameaçar tornar público o caso, o que destruiria seu casamento com a herdeira de uma grande fortuna. A mulher do maestro é interpretada por Blythe Danner, magrinha, lourinha, olhos azuis claríssimos, meia asséptica demais. Ela trabalhou várias vezes com Woody Allen – em A Outra/Another Woman, Simplesmente Alice/Alice e Maridos e Amantes/Husbands & Wives. Trabalhou também com James Ivory em Mr. & Mrs. Bridge, com o casal Newman-Woodward.

No quarto episódio, Requiem por uma Estrela Decadente/Requiem for a Falling Star, Anne Baxter interpreta a estrela cadente do título, e tenta matar o jornalista (Mel Ferrer) que a chantageia e acaba matando sua própria secretária, que sabe um segredo que não pode ser revelado.

No quinto episódio, A Farsa/The Greenhouse Jungle, um homem rico (Ray Milland) forja, com o sobrinho (Brandford Dilman), o seqüestro deste, para que a mulher do rapaz possa retirar, para pagamento do resgate, o dinheiro de um fundo deixado pelo pai.

No sexto, Duplo Choque/Double Shock, há dois irmãos gêmeos, inimigos da vida inteira (ambos interpretados por Martin Landau), sobrinhos e únicos herdeiros de um juiz milionário, que é assassinado. Este foi o único episódio da temporada em que no final há uma revelação de algo que o espectador não sabe desde o início.

O sétimo, Uma Adaga na Mente/A Dagger of the Mind, é o único que se passa fora de Los Angeles; Columbo está em Londres, e se envolve na investigação da morte de um milionário, que está produzindo uma encenação de Macbeth por um casal de atores; a atriz (Honor Blackman, num overacting de doer) finge estar apaixonada pelo milionário; quando ele descobre que é tudo encenação, é morto pelo casal, acidentalmente, numa briga.

No oitavo, Partida Mortal/The Most Dangerous Match, Laurence Harvey faz um campeão de xadrez, que, por temer a disputa com um gênio da Cortina de Ferro (ainda existia isso, naquele início dos anos 70), o mata.

Depois de ver estes oito episódios da segunda temporada, Mary e eu ficamos viciados em Columbo. Veríamos depois várias outras temporadas, emprestadas ou presenteadas pelo Anélio ou alugadas na 2001. É uma total delícia.

Columbo – A Segunda Temporada

Série criada por Richard Levinson e William Link, EUA.

Oito episódios, produzidos em 1973, dirigidos por Richard Quine, Hy Averback, Jeremy Kagan e outros

Com Peter Falk

Produção Universal TV

Os episódios da segunda temporada:

1 – Pontos do Crime/A Stitch in Crime

Com Leonard Nimoy

2 – The Most Crucial Game

Com Dean Stockwell

3 – Estudo em Bemol/Étude in Black

Com John Cassavetes, Blythe Danner

4 – Requiem por uma Estrela Decadente/Requiem for a Falling Star

Com Anne Baxter, Mel Ferrer

5 – A Farsa/The Greenhouse jungle

Com Ray Milland, Bradford Dilman

6 – Duplo Choque/Double Shock

Com Martin Landau, Julie Newmar

7 – Uma Adaga na mente/A Dagger of the mind

Com Honor Blackman

8 – Partida Mortal/The Most Dangerous Match

Com Laurence Harvey

15 Comentários para “Columbo – A Segunda Temporada”

  1. gostaria de saber onde estão a venda columbo e kung fu,pena e que eles muita vezes ,perderam a dublagem original,pois ás vozes dos dubladores são melhores que a original

  2. Onde consigo encontrar as legendas e filmes para as seguintes temporadas?

    9: 6 filmes
    10: 14 filmes
    11: 3 filmes
    12: 8 filmes

    Obs.: as legendas podem ser em qualquer idioma, que as traduzirei através de um programa.

    Muito obrigado

    Neryo

  3. Uma maraviha esta série.
    Vou comprar as duas primeiras temporadas.
    DVDs usados está claro, aqui na minha terra parece que é a única maneira.

  4. Já tenho os DVDs (já usados como disse antes)das duas primeiras temporadas e já vi alguns episódios.
    Que prazer!
    Logo que possa compro mais desde que encontre DVDs usados, até porque no site da horrorosa Fnac aparecem várias temporadas mas estão todos “indisponíveis”.
    Nunca percebi o que é que eles lá fazem e já perguntei e deram-me uma explica sem nexo.
    Aliás qualquer pesquisa lá dá sempre resultado – se eu procurar Coppola aparecem uns tantos que eles têm e outros tantos dos tais “indisponíveis”.

  5. Obrigado,assisti muito a esta série , tenho saudades… Agora posso encontrar e comprar alguns DVDs

  6. Já comprei mais DVDs desta série e só me faltam os de uma temporada; tenho-me deliciado a vê-los.

  7. Eu era adolescente e assistia Columbo. Pura diversão. Não me dava conta do quão diferente era esta Série. Hoje eu entendo. Tenho 12 temporadas guardadas com carinho. Não sou saudosista, mas esta série é uma das que fazem parte de minha adolescência.

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