Como Agarrar um Milionário / How to Marry a Millionaire


Nota: ★★½☆

Anotação em 2007, com complemento em 2008: É impossível deixar de ver que a comedinha de 1953, que eu vi pela primeira vez em Belo Horizonte, lá por volta de 1962, envelheceu, que é datadíssima. Mas isso não a desmerece.

Tem boas idéias, boas piadas; uma das melhores é sem dúvida um diálogo entre a personagem de Lauren Bacall, a mais empedernida e firme alpinista social das três personagens centrais, com o homem de meia idade que está namorando em busca de fortuna; ela diz que gosta de homens mais velhos, e cita Roosevelt, Churchill “e aquele ator que fez African Queen” – Humphrey Bogart, o Bogey, seu marido na vida real.

E, afinal de contas, é uma comédia para gozar as alpinistas sociais, o que é e sempre será bem-vindo.

Lauren Bacall, Betty Grable e Marilyn Monroe fazem as moças pobres que alugam um apartamento caríssimo em Manhattan e saem à caça de homens ricos. Lauren Bacall interpreta a mais experiente e ativa das três; desde o início do filme, é perseguida por um sujeito com toda a aparência de um pobretão (Cameron Mitchell); naturalmente, ela se interessa por ele, mas esconde a atração dele, das outras e de si mesma, empenhada em conquistar o milionário mais velho que a corteja (William Powell).

zzhow1A personagem de Betty Grable topa passar um fim de semana na montanha com um executivo casado (Fred Clark), mas se apaixona por um guarda florestal pobre e bonitão (Rory Calhoun). Marilyn faz a garota avoada, sonsa, míope a não mais poder, que tem a chance de sair com um playboy internacional, mas acaba se envolvendo com o dono do apartamento em que as três moram, um sujeito que foge da Receita Federal como o diabo da cruz.

A história já havia sido filmada antes, em 1933, com o título de The Greeks Had a Word for Them. Foi a primeira comédia a ser lançada em CinemaScope, a arma que Hollywood criou no início dos anos 50 para combater o terrível inimigo que ameaçava as salas de cinema, a televisão – antes deste filme aqui, a Fox havia lançado em CinemaScope dramas históricos, épicos, tipo O Manto Sagrado/The Robe, cheios de panorâmicas e planos gerais com centenas de extras, para mostrar do que era capaz a nova tela grande.

Como arma adicional para demonstrar ao distinto público as características do CinemaScope, o filme abre com um número musical que não tem nada a ver com a história em si. Um letreiro informa que a 20th Century Fox apresenta uma produção CinemaScope (esta palavra em letras garrafais), e outro diz que a Twentieth Century Fox Symphony Orchestra apresenta Street Scene, composto e conduzido por Alfred Newman. Abrem-se as cortinas (não as da sala de cinema, mas as cortinas na tela), e temos, num plano que fica entre o geral e o de conjunto, a orquestra sinfônica inteira, com um conjunto de colunas gregas ao fundo – cafonice é isso aí. E lá está o compositor Alfred Newman (nove Oscars por melhor trilha sonora – nove!) regendo a grande orquestra.

Só depois que termina a peça sinfônica surgem magníficos planos gerais de Nova York. Aí, sim, vai começar a ação.

zzhow2Fascinante é ver que, por coincidência, ou pura ironia, foi também o primeiro filme a ser apresentado no programa semanal da rede NBC Noite de Sábado no Cinema, em 1961, quando os dois meios, TV e cinema, começavam a procurar uma forma de convivência pacífica.

O DVD, naturalmente, preservou toda a abertura com a orquestra regida por Alfred Newman. Várias das capas dos diversos lançamentos em DVD do filme realçam Marilyn, e relegam Lauren Bacall e Betty Grable a um segundo plano que mais parece um décimo. Nada mais natural – qualquer marqueteiro que fizesse diferente disso seria chamado de louco e perderia o emprego. Na época do lançamento do filme, no entanto, Marilyn ainda não tinha o status de estrela maior, total e absoluta – era uma das três atrizes, apenas. Betty Grable, na verdade, era muito mais estrela, na época, que as outras duas.

A rigor, 1953 foi o ano em que Marilyn virou estrela. Já havia aparecido em vários filmes, mas sempre em papéis bem secundários. Em 1952, ainda era uma atriz bem coadjuvante em O Inventor da Mocidade/Monkey Business, de Howard Hawks; no mesmo ano, teve um papel importante em Almas Desesperadas/Don’t Bother to Knock, mas as estrelas do filme eram Richard Widmark e Anne Bancroft.

Em 1953, além deste Como Agarrar um Milionário, foram lançados também Torrentes de Paixão/Niagara, e Os Homens Preferem As Louras/Gentlemen Prefer Blondes, também de Hawks, em que Marilyn dividia o centro das atenções com Jane Russell, à época uma estrela já bem reconhecida. A partir daí, Marilyn seria a grande estrela incontestável em todos os filmes de que participaria – oito, apenas, até sua morte em 1962. O suficiente para consagrá-la como um dos maiores mitos do século XX.

Como Agarrar Um Milionário/How to Marry a Millionaire

De Jean Negulesco, EUA, 1953.

Com Lauren Bacall, Marilyn Monroe, Betty Grable, Cameron Mitchell, Rory Calhoun, William Powell, Fred Clark

Roteiro Nunnally Johnson

Baseado em peças de Zoe Akins, Dale Eunson e Katherine Albert

Música Alfred Newman

Produção 20th Century Fox

Cor, 95 min.

14 Comentários para “Como Agarrar um Milionário / How to Marry a Millionaire”

  1. Realmente, o filme ficou datado, decepciona um pouco quem sempre ouviu falar sobre ele, mas até que passa rápido, a direção é menos lenta do que costumava ser na época. E tem algumas piadas boas, como a que você cita, da personagem de Lauren Bacall se referindo ao Humphrey Bogart.

    Não há muito o que falar, então falemos de Marilyn Monroe, e da sua personagem: apesar de cegueta, ela não usava óculos em lugares públicos, e pelo que entendi, ao fim e ao cabo devia ser pelo mesmo motivo que persegue qualquer um que tem que usá-los: as pessoas não se sentem atraentes com eles (vide o hit “Óculos”, do Paralamas). Eu tive que começar a usar óculos com 13 anos, imagina como ficou a auto-estima? Mas isso por causa dos outros, sempre os outros, infernais, como já disse Sartre; porque eu mesma não ligava, pelo menos no início, até começarem a encher o saco (mas não sofri bullying nem ganhei apelidos, ainda assim, só quem usa/usou óculos sabe como é).
    Hoje óculos são hype, existem modelos bonitos, e tem até quem curta usá-los. Só não admito os que usam óculos sem grau, sem nenhuma necessidade, apenas como acessório. Vai tomar chuva com óculos pra ver se é legal, tentar praticar um esporte, assistir a um show de rock, com aquele monte de gente pulando em volta.

    Okay, dito isso, eu super entendo a personagem da Marilyn não querer usar óculos em algumas situações (até rendeu cenas engraçadas), embora hoje eu veja que é uma tremenda besteira. Eu não deixaria de olhar para um homem por ele usar óculos, nem nunca deixei; pelo contrário, alguns ficam até mais bonitos, mas devia fazer parte da personagem.

    Não tinha ninguém que entendesse um pouco de espanhol pra dizer que Loco é masculino, e que o certo seria a personagem de Betty Grable se chamar Loca? (A personagem de M.M. diz que não é nome, é o apelido dado a ela pelas outras modelos, mas não me lembro de alguém tê-la chamado pelo nome em nenhum momento).

    Só eu achei a Pola parecidíssima com a Garota de The Seven Year Itch? Só era menos sensual, mas até o jeito de falar era igual. Vai ver os papéis é que pediam a mesma interpretação…

    *faltou a ficha completa do filme, ou estou estou ficando exigente? #aquelas

  2. Comédia Deliciosa, sim é um Típico Filme da Década de 1950. Mas as três Brilham, embora a Publicidade deu Preferência á Marilyn Monroe. Por ela estar ascendendo, ah vai!!!!!! Como não se Encantar com essas Alpinistas e a Burrinha da Monroe, que acaba ficando com o Melhor dos Caras?! Ela sabia usar essas personagens tolas e Moldá-las á seu favor.

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